Discurso durante a 160ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque para a necessidade de manifestação da Presidente Dilma Rousseff sobre as propostas do Governo para o agronegócio brasileiro.

Autor
Fleury (DEM - Democratas/GO)
Nome completo: José Eduardo Fleury Fernandes Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.:
  • Destaque para a necessidade de manifestação da Presidente Dilma Rousseff sobre as propostas do Governo para o agronegócio brasileiro.
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2014 - Página 99
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
Indexação
  • REGISTRO, APREENSÃO, SETOR, AGROPECUARIA, PRODUTOR RURAL, EMPRESA AGROINDUSTRIAL, RELAÇÃO, AUSENCIA, PLANO, ATIVIDADE AGRICOLA, BENEFICIO, PRODUÇÃO AGRICOLA, AUTORIA, GOVERNO FEDERAL, COMENTARIO, CARENCIA, CHUVA, RESULTADO, PREJUIZO, PRODUTIVIDADE, AUMENTO, CUSTO DE PRODUÇÃO, DIFICULDADE, OBTENÇÃO, EMPRESTIMO, FECHAMENTO, USINA AÇUCAREIRA, DEFESA, NECESSIDADE, APOIO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, SETOR PRIMARIO.

            O SR. FLEURY (Bloco Minoria/DEM - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Paim, Srª Senadora Ana Amélia, hoje quero fazer uma reflexão sobre os dias em que nós temos aqui lutado em função da nova etapa de governo que teremos.

            Ando muito preocupado, Senador Paim, porque tenho recebido de vários lugares do País, do centro-sul, que é a região onde mais atuo, Goiás, Mato Grosso, Tocantins, a preocupação dos produtores e empresários com o novo Governo que está se instalando. Existe uma preocupação muito grande com as medidas propostas, a serem tomadas, apesar de ainda tudo ser especulação. Poucas coisas nós sabemos na realidade e, quando é especulação, eu tenho muita preocupação de falar, porque esta Casa tem ressonância nacional. Às vezes uma preocupação expressa aqui pode provocar um transtorno para as pessoas do interior, para os que nos veem, principalmente estando V. Exª na Presidência desta Casa, desta Mesa neste momento, um homem que tem uma credibilidade ímpar neste País.

            Os produtores estão muito preocupados, o pessoal do campo, da zona rural, os micro, pequenos e grandes produtores. Aliás, eu enquadro essas três classes numa mesma. Para mim, o micro, o pequeno e o grande produtor produzem alimentos e dão subsídios a várias outras mercadorias, criam empregos e somam-se ao superávit nacional. Mas os boatos estão muito grandes. Eu acho que a Presidente deveria fazer urgentemente um pronunciamento para que ficássemos mais tranquilos. Desta Casa não pode sair boato, eu jamais falaria em boato. Tenho certeza de que o senhor jamais aceitaria boato. O senhor, quando fala, o faz com dados, com conhecimento, com provas e é respeitado, volto a falar.

            Reitero que estou muito preocupado, porque recebo ligações de pecuaristas, de proprietários de usinas, de fornecedores de cana, de agricultores.

            Por exemplo, no centro-sul, nós estamos há sessenta e dois dias sem chuva, já era para ter sido iniciado o plantio de soja. Essa situação já significa uma perda de produtividade em torno de 2 a 6% em função do período de claridade, do tamanho do dia. Nós não temos soja para plantar depois de 15 de novembro. A soja plantada após 15 de novembro sofre uma grande queda de produtividade na nossa região - a Embrapa, que é um grande órgão, mas que tem pouco apoio do Governo, ainda não conseguiu elaborar variedade de soja para esse período maior. O que nós temos ouvido de grandes conhecedores é que teremos um índice pluvial bem menor este ano. Então, poderemos ter perdas, o que significa custo elevadíssimo para os produtores, porque há o custo fixo com inseticidas e adubo. Nós já estamos contanto com mais de 35% de aumento no custo.

            Então, há essa preocupação que os produtores têm me passado. Eu quero aqui dizer ao Brasil que existem pessoas como nós preocupadas com isso, mas não podemos levar boato, nós temos que levar fato. E só podemos levar fato no dia em que nós tivermos um plano agrícola, porque o que o Brasil tem não é um plano agrícola. Nós temos sempre um plano de safra, que é anunciado após o plantio - nunca o plano de safra é anunciado na hora certa.

            O plano de safra vem com recursos elevados até, só que os pequenos e médios produtores que têm renegociação com o Banco do Brasil - não por serem caloteiros, mas por terem perdido safra - não têm acesso a esse dinheiro. E esse dinheiro que o Governo anuncia, 80% dele... Posso até estar exagerando, digamos que seja 70%... O Banco do Brasil, que é o maior financiador da agricultura no interior, não aplica, porque as pessoas que têm renegociação com o Banco, quem fez a renegociação, quem devia e pagou, é eliminado - o Banco não volta a emprestar porque consta um risco de aplicação.

            E neste País, onde o produto deveria garantir o financiamento, as propriedades já foram todas hipotecadas uma, duas vezes. Nós temos propriedade rural que está hipotecada no Banco do Brasil em décimo grau, sendo que a dívida às vezes não corresponde a 5% do valor da propriedade, ou corresponde a 20% do valor da propriedade, mas ela fica inteirinha garantindo aquela dívida. No manual de crédito rural, a garantia para que se plante é uma vez e meia o valor do financiamento, mas no Banco do Brasil, nas agências bancárias, no sistema financeiro, não se aceita trabalhar assim, eles querem 100%, 150% do valor da dívida.

            Então, essa é uma preocupação que eu, como homem do campo, produtor que sou, venho trazer a esta Casa. Mas não quero que o que estou dizendo seja interpretado como boato. Tenho aqui sempre pedido a bandeira branca que a Presidenta Dilma estendeu e pedido que se olhe para o agronegócio, principalmente para as usinas.

            Nós temos usinas fechando de norte a sul no País, mas ela não tem sensibilidade nenhuma com o setor sucroalcooleiro, com as usinas que produzem açúcar, que é uma commodity. O mundo inteiro está atrás de açúcar, mas está ficando difícil produzi-lo. Os proprietários e diretores de usinas com quem tenho conversado estão todos trabalhando no vermelho, no gargalo. A produtividade da cana em São Paulo foi muito baixa e tudo indica que no centro-sul do País será baixa também. Em São Paulo, nós sabemos do problema da falta de chuva, que foi muito grande, atrapalhando totalmente a produtividade das usinas. No sul de Goiás, onde hoje temos grandes áreas, mais de 90 mil hectares de cana, a seca já está comprometendo a nossa próxima safra.

            Por isso, venho aqui dizer aos agentes do Governo, ao pessoal ligado ao Governo e à Presidente Dilma, que necessitamos dessa bandeira branca e que é importante o diálogo com o setor produtivo, com o agronegócio deste País.

            Muito obrigado a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2014 - Página 99