Discurso durante a 165ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o futuro do Brasil ante as irregularidades envolvendo a Petrobras e as tensões no cenário político; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CORRUPÇÃO. PRESIDENTE DA REPUBLICA. ATIVIDADE POLITICA. ELEIÇÕES, POLITICA PARTIDARIA. :
  • Preocupação com o futuro do Brasil ante as irregularidades envolvendo a Petrobras e as tensões no cenário político; e outros assuntos.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Luiz Henrique.
Publicação
Publicação no DSF de 14/11/2014 - Página 44
Assunto
Outros > CORRUPÇÃO. PRESIDENTE DA REPUBLICA. ATIVIDADE POLITICA. ELEIÇÕES, POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • APREENSÃO, RELAÇÃO, SITUAÇÃO, FUTURO, BRASIL, REGISTRO, GRAVIDADE, FATO, IRREGULARIDADE, GESTÃO, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), COMENTARIO, IMPORTANCIA, INVESTIGAÇÃO.
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ATIVIDADE POLITICA, RESULTADO, ELEIÇÕES, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXPECTATIVA, DIFICULDADE, GESTÃO, GOVERNO FEDERAL, NECESSIDADE, ENTENDIMENTO, CONGRESSO NACIONAL.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, AMPLIAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, SOCIEDADE, ATIVIDADE POLITICA.
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), RELAÇÃO, UTILIZAÇÃO, INTERNET, OBJETIVO, DEFESA, ELEIÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, CANDIDATO, OPOSIÇÃO.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srs. Senadores, é impressionante a gente acompanhar o noticiário de jornal, rádio e televisão e verificar como o ambiente, a tensão que se impõe ao povo brasileiro, em vez de desanuviar - passada a eleição, passada a agitação, passada a radicalização da busca pelo voto, terminada sem incidentes -, o normal seria não digo uma pacificação, porque não houve guerra, mas, eu diria, um esfriamento das tensões, e que o povo se encaminhasse rumo ao seu destino.

            Houve a eleição: um ganhou, os outros perderam. E a quem ganhou cumpre organizar o esquema do futuro Governo, que não é futuro, mas é a continuação do Governo que foi reeleito. Aos outros cumpre se prepararem, para fazer uma boa oposição.

            Mas o que vê hoje, nas páginas dos jornais e nas manchetes de rádio e de televisão, é um ambiente de imprevisibilidade com relação ao futuro. A saída da Ministra da Cultura, um fato normal, terminou a eleição, S. Exª resolveu sair de seu Ministério, veio para esta Casa, tudo bem. A forma como saiu poderia ser estranha, sair dizendo: “Espero que, no seu novo Governo, a Presidente, que foi reeleita, encontre nomes na área econômica que restabeleçam a credibilidade do seu Governo” - restabeleçam, quer dizer, que havia, e não há mais.

            O importante de ser ver, numa manchete como a de anteontem, não se tem notícia, ao longo do tempo, de um escândalo tão intenso, tão grave como o que vem acontecendo no Brasil, lá na Petrobras. Aliás, desse título, em relação a esse assunto, o interessante é que se fez uma campanha política, em que se debateu praticamente tudo, mas esse assunto não chegou a ser debatido. Creio que isso que aconteceu na Petrobras deverá atingir o Brasil inteiro, na busca de se encontrarem os responsáveis, a forma como foi feito e restabelecer - isso é o mais importante!

     A Petrobras era uma empresa que tinha a credibilidade, o respeito, a simpatia, o apoio, a torcida de toda a sociedade brasileira. Acho que, dificilmente, no mundo, haja um caso como esse. No Brasil, não há dúvida nenhuma, era uma empresa que o Brasil acompanhava o seu crescimento, o seu desenvolvimento, desde o início, quando o Presidente Getúlio Vargas enviou ao Congresso, e o Congresso votou uma lei criando uma empresa como a Petrobras, permitindo a exploração do petróleo, inclusive de forma estatal.

     Desde ali, o tempo caminhando, andando, pesquisas e mais pesquisas dando sinais negativos, e, lá pelas tantas, alguns sinais positivos no Recôncavo Baiano e, de repente, essa das águas profundas que já apresentava o Brasil na expectativa de grande produtor e até possível que seja exportador de petróleo. Nós até votamos. Fico encabulado, porque participei, apresentei um projeto, uma emenda ao projeto do Deputado Ibsen Pinheiro, tratando dessa matéria, com relação a seu futuro, aos lucros e a quem seriam destinados. No entanto, está aí, está aí o mundo assistindo.

            O Sr. Luiz Henrique (Bloco Maioria/PMDB - SC) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Já darei a V.Exª.

     O Presidente do Tribunal de Contas da União, ilustre amigo gaúcho, ex-Deputado Federal, disse que é o maior escândalo que já foi examinado pelo Tribunal de Contas da União.

            Pois não.

            O Sr. Luiz Henrique (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Senador Pedro Simon, fiz um pronunciamento nesta Casa, quando a imprensa noticiou a ascensão à Presidência da Petrobras da funcionária de carreira, antiga integrante do quadro daquela companhia, a Srª Graça Foster. E, naquela ocasião, saudei aquela nomeação como o início do fim de loteamento político das estatais. Eu saudei aquele momento, aquela nomeação, como uma guinada à profissionalização das empresas estatais da União. Só que eu não imaginava que as coisas fossem andar do jeito que andaram. Hoje, fiquei estarrecido, quando vi que foi aberto um processo criminal na Holanda, apurando a propina na Petrobras, em relação a aluguel ou compra de plataformas de petróleo. Eu espero, Senador Simon, que esse escândalo...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - A Holanda querendo punir quem fez aqui?

            O Sr. Luiz Henrique (Bloco Maioria/PMDB - SC) - É, o corruptor.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - E nós, brasileiros, tranquilos, não há problema.

            O Sr. Luiz Henrique (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Eu espero que esse episódio seja o último daqueles que ocorrem por loteamento político de empresa estatal. Segundo, que ele sirva de balizamento para uma nova etapa de condução ética na condução deste País. Parabéns a V. Exª por seu pronunciamento.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Veja V. Exª, a Holanda busca punir uma empresa que corrompeu, alguém lá na Petrobras.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - E punir o corruptor é algo que não existe no Brasil. Há 30 anos, apresentei um projeto, criando uma Comissão Parlamentar de Inquérito, para apurar os corruptores de outra CPI que cassou vários Parlamentares federais que foram corrompidos. A CPI foi criada e cumpriu sua finalidade, com relação aos Parlamentares que foram corrompidos, apesar de, até hoje, não se ter conseguido instalar, neste Congresso, uma CPI que invocasse a imensidão de corruptores que existe em nosso País.

            Mas disse bem o nobre Senador Luiz Henrique. Eu também - eu também! - saudei desta tribuna, Senador, a escolha da nova Presidenta. A biografia de S. Exª, a história da vida de S. Exª toda ela dedicada à Petrobras, técnica da Petrobras, conhecedora de todos os setores da Petrobras, sem uma vírgula, sem uma interrogação, sem uma mácula a qualquer ato seu - fui aplaudido por todos. Foi tomado como uma das atrações da Presidente da República que visava exatamente dar a orientação e a determinação à Petrobras.

            Nós todos sabíamos e a imprensa publicava que havia uma disputa em termos de Petrobras, em termos do Ministério de Minas e Energia, uma disputa de Parlamentares, inclusive Senadores, e a então Chefe da Casa Civil, aliás, na época, Ministra de Minas e Energia, a então hoje Presidente Dilma. A Presidente Dilma, Sr. Presidente, dizia à imprensa que iria dar um sentido de técnico aos membros da Petrobras, lutava no sentido de fazer isso, e não conseguia. E foi derrotada, porque a Petrobras foi loteada - loteada! -, entre, não apenas dirigentes partidários, entre empresas sociais como CUT, federação disso e daquilo, as várias entidades cada uma pegou o seu quinhão dentro da Petrobras.

            Infelizmente, a Srª Dilma chegou à Presidência da República, e as coisas continuaram iguais. Nomeou a Srª Graça, Presidenta da Petrobras, e estoura este escândalo, incompreensível sob todos os ângulos. Grave de todas as maneiras com que se analisa.

            O Diretor que se afastou, foi nosso colega, Senador lá do Ceará. Foi determinado o desligamento dele, e a Petrobras contratou uma empresa estrangeira, para fazer a inquirição interna. E essa empresa disse que só aceitaria se esse Diretor Presidente dessa subsidiária saísse, pois ele era tido como o principal implicado, o principal responsável, pelas coisas que estavam acontecendo.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Então, a empresa não aceitou, não faria a vistoria com ele Presidente. Em vista disso, ele pediu por 30 dias licença. E a Presidenta não o afastou, porque, quando se cobrou da Presidenta que o afastasse, ela disse que não o afastaria, caso não houvesse prova concreta inabalável - ele saiu à revelia da Presidenta.

            Olha, sinceramente, eu não vejo momento mais grave e mais dramático, na sociedade brasileira, do que esse que estamos vivendo. Uma reeleição num país democrata?

(Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - O povo não foi reeleito, mas acontece exatamente o que estamos vendo.

            Eu não tenho dúvida, Deus me perdoe - eu não tenho dúvida! -, se pudéssemos fazer um recall, uma nova eleição agora, a D. Dilma não iria para o segundo turno, diante dos fatos que estão acontecendo agora. Na hora, no Rio Grande do Sul, ganhou o Sartori, nosso candidato a Governador, e todo mundo disse para ele:

Sartori, aproveita - aproveita! -, de hoje até o dia 31 de janeiro, aproveita para viver feliz, para te alegrar, para passear, porque quando tu pegares o Governo, vai ser uma bomba. E aí é que tu vais dar duro. Aproveita agora que é o melhor momento da eleição, é o momento, depois da vitória, antes de tomar posse,

            Mas, no caso da Presidenta, parece que o céu caiu em cima dela. O seu Partido diz, permanentemente... Quando vejo o Senador Luiz Henrique dizer que saudou, quando foi indicado o Presidente da Petrobras, porque, quando terminou o leilão político, o PT deu a nota dizendo que os cargos têm que ser entregues aos políticos que têm mais voto, e não à gente desconhecida, não a esses técnicos que não têm responsabilidade, que não têm compromisso...

            Olha, sinceramente, eu não vejo momento mais grave e mais dramático na sociedade brasileira que este que nós estamos vivendo.

            Uma reeleição em um país democrata. O povo que foi reeleito. Mas o que acontece? Acontece exatamente o que nós estamos vendo. Eu não tenho dúvida. Deus me perdoe, eu não tenho dúvida. Se a gente pudesse fazer um recall, uma nova eleição agora, a D. Dilma não iria para o segundo turno, diante dos fatos que estão acontecendo agora.

            Lá no Rio Grande do Sul, ganhou o Sartori, nosso candidato a governador. E todo mundo diz para ele: Sartori, aproveita. Aproveita de hoje até o dia 31 de janeiro, aproveita para viver feliz, para te alegrar, para passear, porque, quando tu pegares o governo, vai ser uma bomba. Aí é que tu vais dar duro. Aproveita agora, que é o melhor momento da eleição; é o momento depois da vitória, antes de tomar posse.

            Mas, no caso da Presidenta, parece que o céu caiu em cima dela. O seu partido... Mas diz permanentemente... Quando vejo o Senador Luiz Henrique dizer que saúda, saudou, quando foi indicado a presidente da Petrobras, porque terminou o leilão político, o PT deu um a nota dizendo que os cargos têm de ser entregues aos políticos que têm mais votos, e não a gente desconhecida, não a esses técnicos que não têm responsabilidade se não têm compromisso.

            Olha, há uma interrogação muito grande com relação ao futuro do Brasil. Há perguntas que se cruzam no ar com relação ao que vai acontecer ao que vai acontecer.

            Lá na outra Casa, o ilustre Líder reconduzido à Liderança da Bancada dos Deputados do MDB se apresenta como candidato à Presidência da República... Perdão! Por enquanto, candidato à Presidência da Câmara. E há um tumulto em torno disso, com relação às suas ligações, às simpatias e antipatias entre S. Exª e a Presidenta da República.

            Não sei se são 18 ou vinte e tantos líderes partidários que haverá na Câmara dos Deputados no ano que vem.

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco Maioria/PMDB - SC. Fora do microfone.) - Serão 28.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Obrigado a V. Exª.

            Serão 28 partidos. Na hora da votação de um projeto importante, se o projeto é importante... São 28 comunicações de líderes para dizerem se vão votar a favor ou contra o projeto.

            Mas isso não existe! É só dizer esse fato para a gente determinar que a vida partidária, a vida política, a vida do Congresso não tem realidade, foge da realidade.

            Eu creio que, nesse tempo que antecede a posse, devia haver uma reunião, um entendimento de alto estilo entre as forças que compõem a política brasileira - a própria Presidência, a OAB e outras entidades - para preparar o ambiente para um novo governo e preparar o Congresso para o que ele vai enfrentar.

            Se nós ficarmos como estamos até aqui, as reformas que se cobram, que se exigem, tanto e tanto e tanto, não virão, como não vieram nestes 32 anos em que estou nesta Casa.

            Sr. Presidente, V. Exª, pela sua liderança, pela sua capacidade, pela sua história, como grande líder dos grandes momentos, dos mais difíceis da história deste País, quer no nosso partido, quer na vida política, como presidente nacional do Partido, como Ministro de Estado, como governador; V. Exª será um dos grandes responsáveis neste Congresso para se tentar uma saída com respeito, para se tentar uma fórmula através da qual a gente consiga defender um profundo entendimento.

            Eu disse e repito: isso é viável. Primeiro, a Presidenta tem que querer, ter que ter essa intenção. E eu não vejo na Presidente Dilma chance nenhuma de avançar, positivamente, sem uma crise no primeiro dia que ela assumir, se Sua Excelência não tiver a preocupação de dialogar e de buscar o entendimento. Não na busca de uma maioria, dando e comprando, oferecendo e recebendo apoio em troca de votos, em troca de ministério, em troca de emendas parlamentares. Mas, se Sua Excelência reunir as Lideranças, ainda que sejam as 28, dos partidos todos, e estabelecer uma meta de trabalho, um projeto de futuro e um plano comum de ação, isso pode acontecer.

            Repito o que já disse mais de uma vez aqui: isso aconteceu em uma hora mais grave que essa de hoje. Grave não no sentido de irresponsabilidade geral, mas grave no seu contexto. Esta Casa, o Congresso Nacional, afastou o Presidente da República, tirou-o da Presidência da República e colocou no seu lugar o Vice, algo que nunca tinha acontecido.

            Aconteceram muitos golpes de Estado. Os generais fecharam o Congresso, os generais derrubaram o Presidente, os generais estabeleceram a ditadura. Mas este Congresso Nacional uma vez fez o seu papel, cassou o mandato de um Presidente. Uma Comissão deste Congresso, depois uma sessão histórica deste Senado, presidida pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal, disse que ele era culpado e deveria ser cassado. E ele foi cassado. E assumiu o vice.

            A D. Dilma está aí com 28 partidos. O Vice não tinha nenhum partido. Tinha assinado ficha no PRN, um partido que o Presidente criou por faz de conta e que ganhou a eleição. E ele, Vice-Presidente, já tinha saído, porque tinha rompido com o Presidente. Assumiu e, no dia seguinte, reuniu todos os presidentes de partido, do maior, o MDB, ao menor.

            Todos no Palácio, todos reunidos em torno de uma mesa, e ele afirmou: a situação é grave. Nós estamos aqui vivendo uma dura realidade. Eu não estou aqui representando o povo brasileiro. O povo brasileiro escolheu outro. E o Presidente eleito pelo povo, o Congresso Nacional cassou o seu mandato. Eu estou aqui porque a Constituição diz que cabe ao Vice-Presidente substituí-lo, mas eu estou aqui não representando o povo; eu represento a vontade do Congresso Nacional. Por isso, vocês partidos, vocês Líderes do Congresso Nacional e eu temos de fazer um entendimento, que eu proponho aqui: vamos nos acertar em torno de comandar, vamos ter um entendimento de buscar o diálogo e a continuidade. A minha primeira proposta é que, de hoje até o último dia do meu mandato, quem tiver algum problema, alguma questão referente a uma crise nacional, que diga respeito ao Brasil, um presidente, do menor ao maior partido, convoque uma reunião que nem essa, e eu chamo todos para nós debatermos. E eu quero ter o mesmo direito. Se eu achar que há um problema de repercussão nacional, eu os convoco para nós debatermos.

            Todos aceitaram, todos concordaram. E o Presidente enviou para esta Casa o projeto que criou o Plano Real. Foi a fórmula, foi o entendimento. O Brasil estava em uma crise avassaladora, uma inflação intransponível; o mundo econômico e financeiro sob dúvidas e mais dúvidas; um desemprego, uma falta de credibilidade.

            O Presidente reuniu os grandes técnicos, junto com o seu Ministro da Fazenda, Fernando Henrique, fez um projeto e mandou para esta Casa. Não fez uma medida provisória, não! Não reuniu os técnicos, como se faz agora, e baixou medida provisória tal, mais isso e mais isso. Reuniu o Congresso e entregou ao Congresso.

            Quando ele assumiu, quando nós já tínhamos feito o debate, a sua medida foi o seu projeto. E se discutiu e se debateu. E todos falaram e todos discutiram.

            Depois da Constituinte, da votação da Constituição brasileira, Senador Luiz Henrique, quando esta Casa viveu o ambiente mais democrático, mais espetacular de que eu tenho conhecimento, na história do mundo afora - nunca se fez um debate tão extraordinário, com a presença tão constante do povo inteiro, como aqui -, o Plano Real foi debatido por toda a sociedade: pelas Assembleias Legislativas, pelas Câmaras de Vereadores, pela OAB, pela CNBB, por comissões e mais comissões. Os Ministros vinham diariamente a esta Casa, aqui e lá na Câmara dos Deputados, discutindo, debatendo, modificando, alterando, e se chegou ao Plano. E se votou e se executou o plano mais importante da história deste País.

            Reparem que o Plano Real foi votado lá no governo Itamar, que substituiu o Sr. Collor. E veio o Fernando Henrique; e, depois, veio de novo o Fernando Henrique, reeleito. E veio o Lula; e, depois, veio de novo o Lula, reeleito. E veio a Dilma; e, agora, está voltando a Dilma, reeleita. E o Plano Real está aí, na sua importância, no seu significado.

            Pois esse Plano foi votado sem um Deputado, um Senador poder dizer que ganhou um copo d’água, ganhou uma emenda, ganhou um favor, ganhou um pedido, ou que lhe bateram nas costas pedindo: “por favor, faça este projeto”. Este Congresso votou livremente esse projeto. Alterou, modificou, divergiu.

            Mas eu digo - eu era Líder do Governo -, aqui, olhando cara a cara cada um dos Parlamentares deste Congresso: o Presidente ou qualquer Ministro do seu governo não tomou qualquer providência de cantar, de conseguir maioria, de buscar favor, de reunir aqui, de reunir lá. Nada! O Congresso votou livremente. Votou, foi aprovado e está aí até hoje.

            A Presidenta que faça algo! A Presidenta que bote no papel, que chame os Líderes. Todo mundo, qualquer Deputado, qualquer presidente de partido está dizendo: “Não, porque tem de ter um novo pacto social; não, porque tem de ter uma reforma política; não, porque tem de ter a reforma tributária; não, porque isso, porque aquilo”.

            Reúna, faça uma grande reunião; indo à sua Presidência tomar um café com os Líderes de partido - e não apenas com aqueles que ela gosta ou deixa de gostar. Convoque todos, aberta, e debata: como fazer nessa hora em que vou iniciar o novo Governo? Nessa hora tão grave e tão séria? Vamos nos reunir e vamos estabelecer uma pauta dos próximos seis meses.

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - O que é importante? O que é necessário? O que temos que fazer? Faça isso ou então vá tentar conseguir maioria. Vai ter que comprar 28 partidos. Ou, melhor dito, uns ela compra, outros ela aluga e não sabe por quanto tempo pode alugar. Essa saída, Sr. Presidente, ela tem. Ela precisa fazer isso. Ela tem condições de fazer, e nós temos condições de aceitar.

            Nós vamos para esse debate. Deus nos livre. Dá para imaginar o que vai acontecer na eleição do Presidente da Câmara dos Deputados, se for uma guerra histórica, com uma candidatura do lado de cá e a Presidente da República do lado de lá?

            O que vai acontecer na composição dos ministérios, com 28 partidos a serem contemplados?

            Está aí a discussão agora. Porque, em vez de a gente discutir, de o Congresso estar votando porque ele quer votar o orçamento impositivo... O orçamento impositivo é algo mais importante e necessário que eu conheço. Mas o que é o orçamento impositivo? Em qualquer país, o congresso vota o orçamento, e o presidente da república tem que cumpri-lo. Nos Estados Unidos, no ano passado, quase houve uma crise infernal, porque o congresso não queria alterá-lo, medida considerada essencial pelo Presidente Obama. Isso colocaria os Estados Unidos numa crise internacional. E o Sr. Presidente Obama quase teve que se ajoelhar na frente dos parlamentares republicanos para que eles concedessem esse favor.

            Então, nós estamos queremos o orçamento impositivo. Que bom! No Brasil não há orçamento. Há uma carta de mentirinha que a gente vota aqui por ouvir dizer. A gente já vota sem saber; vota aquilo que a gente não sabe o que é ou o que deixou de ser, e a Presidente não toma conhecimento, como nunca tomaram. Agora querem o orçamento impositivo. Mas que orçamento impositivo querem agora? Querem o orçamento impositivo nas emendas dos Parlamentares. O Governo tem que cumprir e pagar as emendas dos Parlamentares.

            Errado não está, mas que seja orçamento impositivo no seu contexto geral, e não apenas isso. Por isso é que eu digo que a Presidenta faça esse entendimento. Faça! Acho que ela terá condições de fazê-lo e terá o respeito da Nação. Não digo que rompa com o PT, pelo contrário, se identifique com o PT. Identifique-se com sua base. Mas o Brasil acima de tudo isso. É o apelo que faço.

            Não estarei aqui, mas, de casa, estarei olhando, rezando e torcendo para que essas coisas aconteçam. Para que isso aconteça, para que todo esse tumulto que estamos vendo neste final de legislatura acabe, com o final da legislatura. E que a Presidenta, voltando lá do outro lado do mundo, voltando lá da Austrália, venha com um sentimento diferente. Não de ódio, nem de revolta, nem de vindita. Sua Excelência ganhou. Se alguém está magoado porque saiu, porque ela vai tirar, etc. e tal, fique acima disso e pense um pouco no seu País, em que a senhora é Presidenta. No País em que a senhora foi reeleita e não tem mais nenhum compromisso com ninguém, a não ser com a sua consciência e com o Brasil. Faça isso, Presidenta. Façamos isso, torçamos para que isso aconteça. Porque, caso contrário, eu não tenho dúvida, momentos dramáticos e muito infelizes, muito dolorosos marcarão o início do governo de Sua Excelência.

            Obrigado a V. Exª, Srª Presidente.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Permite um aparte, Senador? Permite um aparte? Senador, creio que - eu já disse isso aqui, uma vez - o senhor escolheu o momento errado para sair do Senado. Creio que nunca... Tirando o período da ditadura, em que o senhor, como político, foi tão fundamental na redemocratização, desde então, acho que nunca tivemos um momento em que precisávamos tanto de uma voz como a sua quanto agora. Sua fala final, sua conclusão é a demonstração daquilo que, lamentavelmente, muitos daqui desta Casa não estão percebendo. Estamos entrando em um momento crítico da vida política nacional, Senador Fleury. Uma das qualidades da democracia é que a cada quatro anos cria-se uma lua de mel entre os eleitores e os eleitos. Mesmo quando se elege alguém diferente do que alguns eleitores queriam, esses eleitores aceitam e dão voto de confiança, Senador. O Presidente senta com o voto de confiança. Às vezes, dura os chamados 100 dias, às vezes 120, às vezes 1 ano, mas é um período em que as pessoas têm um gesto de confiança, de esperança. Além disso, os problemas, todos sabem, são herdados. Então, não é culpa desse novo presidente ou dessa nova presidenta. Lamentavelmente, estamos começando um governo que, em vez de ser uma lua de mel, é um governo que começa em um casamento, eu não vou dizer, fracassado, porque vamos ter que aguentar quatro anos; acabar com essa ideia de impeachment, com essa ideia de que a Presidenta não tem legitimidade, que não tem legalidade... Ela foi eleita. Então, é um casamento que vai ter que ser feito por quatro anos, mas começa sob muitas suspeições; começa com o descontentamento de que nesse casamento a casa não foi bem gerida. A prova é o que se está fazendo, tentando esconder a realidade por causa do buraco que se criou nas contas públicas, começando a inflação, com denúncias de corrupção dentro desse casamento. A Presidenta chega lá cansada. É um governo cansado, não é um governo novo. E um governo cansado sob suspeição. Além do mais, num processo eleitoral muito dividido e com fortes fanatismos, de ambos os lados. E ainda pior, é que em ambos os lados os eleitores não foram votar todos porque queriam aquele candidato. Muitos votaram no Aécio porque não queriam a Dilma; muitos votaram na Dilma porque não queriam o Aécio. Poucos votaram entusiasmados em quaisquer dos dois. Tire o “poucos”. Alguns ou uma quantidade. Então, é um governo que chega em um momento de antagonismo com a população, apesar de ter tido mais de 51% dos votos válidos. Se a gente considerar os que não foram votar, se considerarmos os votos nulos...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Não chega a 40%.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não chega a 40%! É um casamento débil. Neste momento um casamento débil e que tem que ser mantido por quatro anos - e aí a grande tragédia para o Brasil é se não fosse mantido -, não podemos aceitar essas provocações; esse casamento precisa de vozes como a sua. Quero dizer, de público, o que lhe disse um desses dias aqui, que, enquanto o senhor não estiver aqui, eu quero ser o seu porta-voz aqui. Mande os seus discursos que eu leio, porque o Brasil precisa ouvir a sua voz agora mais do que nunca. Felizmente, ainda temos um mês, um mês e meio para ouvi-lo.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Mas seria muito importante a sua presença. Conte comigo como o seu porta-voz aqui dentro. Até quando eu discordar do que o senhor me mandar ler, eu lerei como sendo uma continuação da sua fala neste Senado.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu querido Senador, V. Exª é uma das mais gratas lembranças que levarei desta Casa. V. Exª é uma personalidade que admiro ao longo do tempo. V. Exª tem grandeza.

            A luta que V. Exª tem feito pela educação, como ninguém nunca fez nada semelhante, merece realmente o nosso maior respeito. V. Exª é uma das vozes, nesta Casa, que vem discutindo, debatendo, chamando a atenção dos presidentes, sejam eles quais forem, em torno dessa matéria. Tenho certeza de que V. Exª vai continuar.

            Ao contrário, eu telefonarei muitas vezes a V. Exª, sim. Telefonarei para felicitá-lo pelos pronunciamentos, que, tenho certeza, V. Exª haverá de fazer.

            Digo a V. Exª, com toda sinceridade, na minha idade de 85 anos, que faço agora em janeiro, decidi não concorrer. Comuniquei à Casa e disse que não concorreria. E não era candidato. Menos de 40 dias antes, a morte de nosso candidato à presidência, o ilustre Governador de Pernambuco, companheiro Eduardo, a Marina assume a candidatura à presidência. E o nosso candidato a Senador teve que ser o vice-presidente. Em menos de 40 dias, eu assumi para fechar a chapa, para tê-la completa. Concorri, mas, na certa absoluta - todos nós sabíamos, e o governador eleito me escreveu uma carta emocionante nesse sentido -, porque sabia que não era para ganhar. E sabia que não estaria aqui.

            E digo aqui o que disse a V. Exª. Pretendo percorrer o Brasil, não com o brilho do Dr. Teotônio, não com a beleza do Teotônio, não com a santidade do Teotônio; mas com uma vantagem, Deus que me perdoe. Eu não tenho os quatro cânceres que o Teotônio carregava, as duas bengalas com que ela tinha que se arrastar.

            E se arrastando, muitas vezes de cadeira de rodas, ele subia nos púlpitos, desde a igreja até à universidade, até o momento da greve estudantil, para debater e defender a democracia e defender a liberdade.

            Eu acho isso muito importante. Eu acho que V. Exª que tem debatido e tem defendido essa tese, muitas vezes da sua tribuna, V. Exª que tem chamado a atenção do povo, de que o povo deve praticar, participar, dizer presente, em todos os momentos, eu acho que seria importante. Se nós conseguíssemos que várias pessoas, a começar por nós que estamos saindo, a começar por outros, professores universitários, intelectuais, líderes sindicais, jovens, saíssem para a rua, debatessem, discutissem, analisassem, fizessem não apenas a crítica destrutiva, mas debatessem os problemas do Brasil, aí vai, porque, sinceramente, V. Exª sabe e eu sei, que, deixando o Congresso sozinho, deixando o Executivo sozinho e deixando o Supremo sozinho, nós não vamos a lugar nenhum.

            Da mesma maneira que o povo na rua, os jovens lotando aqui a frente do Congresso, nós votamos no Ficha Limpa onde muitos não queriam, assim como os membros do Supremo diziam que não aceitavam qualquer tipo de provocação, que eles tinham que ser independentes, mas votaram o Mensalão, o povo deve debater, e isso eu pretendo fazer, convidar as pessoas a irem para fora, virem discutir, uma hora muito séria.

            Eu vi hoje, Senador, nas manchetes dos jornais, algo que me machucou profundamente, e quero dizer desta tribuna. O PT, a imprensa já havia noticiado, convocou milhares de jovens, milhares de jovens, para orientá-los no sentido de entrar nos aparelhos de internet, para prepará-los para entrar nesse sentido, deram aulas, analisaram e muitos foram contratados, a não sei quantos mil por mês, para fazer esse trabalho nos últimos seis meses.

            O trabalho, na televisão participativa, nas redes sociais, era desde distribuir coisas a favor do Governo, ideias a favor dos candidatos do Governo, como, também, contra os candidatos de oposição, e espalhar boatos, escândalos, seja lá o que for, e foi o que aconteceu. Com a Marina, inclusive, em questão de uma semana, demoliram com ela nas redes sociais. Nos jornais de hoje noticiam que o PT decidiu manter as redes, essas pessoas que foram convocadas para a eleição, e terminada a eleição, vão ficar permanentemente.

            O PT vai ter uma rede de jovens nas redes sociais, preparada para fazer isso constantemente. Isso significa que nós vamos ter nas redes um debate daqueles que vão dizer A, B ou C, chamando esse ou aquele, denunciando esse, denunciando aquele. É uma pena.

            É uma pena, mas mesmo assim eu acho e eu confio na sociedade brasileira. Confio nos jovens brasileiros. Confio, com a mais profunda sinceridade, que vai acontecer isso, que às ruas eles irão, debater, discutir, falar, apresentar suas ideias e suas propostas, para que este Congresso, se Deus quiser, vote as emendas, vote as reformas, vote aquilo que deva ser feito.

            Que com um pensamento positivo, uma imposição do real, do concreto, do objetivo, a gente siga esse caminho.

            Felicito V. Exª, Sr. Presidente. É com muita alegria que eu o vejo hoje presidindo esta sessão, V. Exª que tem condições e que tem capacidade para presidir este Congresso ao longo da história. Eu o felicito, como felicito o Presidente do meu partido, desejando, do fundo do meu coração, que o nosso MDB cumpra o seu papel. Nosso MDB, que na história estará escrito, fez a mudança, ele acabou a ditadura militar, ele na rua, com as Diretas Já, fez, elegendo o Dr. Tancredo Neves, o restabelecimento da democracia. Que nós possamos ter um papel importante nesta segunda parte.

            Desejo aos senhores, do fundo do coração, desejo ao amigo, do fundo do coração, e digo: mesmo no anonimato, seja onde for, é a luta do resto que me falta da minha vida.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/11/2014 - Página 44