Discurso durante a 162ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a comemorar os 50 anos da fundação da Congregação Irmãs de Maria.

Autor
José Sarney (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Sessão especial destinada a comemorar os 50 anos da fundação da Congregação Irmãs de Maria.
Publicação
Publicação no DSF de 12/11/2014 - Página 9
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, INSTITUIÇÃO BENEFICENTE, IRMÃ DE CARIDADE, ENFASE, TRABALHO, INSTITUIÇÃO RELIGIOSA, VILA, CRIANÇA, CIDADE, DISTRITO FEDERAL (DF).

            O SR. JOSÉ SARNEY (Bloco Maioria/PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Exmo Sr. Senador Anibal Diniz, que, para nossa honra, preside a presente sessão; Exmo Sr. Senador João Alberto, do Estado do Maranhão; Presidente do Instituto Social das Irmãs de Maria de Banneux no Brasil e Diretora Administrativa da Escola Vila das Crianças, Reverenda Irmã Jucunda Hu; Diretora Pedagógica do Instituto Social das Irmãs de Maria de Banneux no Brasil, Srª Márcia do Rocio Fava de Sousa; primeira irmã brasileira a ingressar na Congregação das Irmãs de Maria de Banneux do Brasil, Reverenda Irmã Marinei Ferreria dos Santos; graduada do Instituto Social das Irmãs de Maria de Banneux no Brasil, Srª Taynara Fernandes de Alencar; aluna do ensino médio do curso de Secretariado da Escola Vila das Crianças, Srª Paula Dayane Silva Santos.

            Registro também, com muita honra para o Senado, a presença do Deputado Federal Francisco Escórcio; do Prefeito do Município de Ferreira Gomes, no Amapá, Sr. Elcias Borges; do Prefeito do Município de Mazagão, Sr. Dilson Borges; do Prefeito do Município de Tartarugalzinho, Sr. Almir Resende, do Sr. Desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios Arnoldo Camanho de Assis; e do Sr. Desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios Dácio Vieira.

            Requeri esta homenagem pelos 50 anos desta extraordinária organização que é o Instituto das Irmãs de Maria de Banneux justamente para que elas recebessem uma homenagem do Senado Federal e, portanto, do Brasil. É uma instituição que, com um nível baixo de visibilidade, exerce uma extraordinária função nesta cidade de Brasília, como também em várias partes do mundo, procurando as crianças e os adolescentes mais pobres e mais necessitados para dar-lhes uma formação que eles não teriam, se não fosse essa obra magnífica.

            Em Santa Maria, no ano de 2002, surgiu esta obra social modelar, dirigida pelo Instituto de Educação das Irmãs de Maria de Banneux. Essa congregação foi fundada em 1964, na Coreia do Sul, pelo Padre Aloysius Schwartz, também chamado Pe. Al, e tem por princípios: “Reze sempre, sem nunca se cansar”; “Bem-aventurados os pobres, porque eles verão a Deus”; “Eu não vim para ser servido, mas para servir”; “Sirvamos ao Senhor com alegria”.

            O Pe. Aloysius nasceu nos Estados Unidos, como mencionou o nosso Presidente nas suas palavras, mas foi estudar na Bélgica, onde se tornou devoto da Virgem de Banneux. Esta é uma pequena cidade do interior da Bélgica que veio juntar-se às cidades do mundo em que tivemos aparições marianas, como Lourdes, como Fátima. Aí, nesse povoado belga, Nossa Senhora apareceu a uma filha de operários chamada Mariette Beco, em 1933, e se apresentou como a Virgem dos Pobres. Ali, pediu que se erguesse uma pequena capela, e este se tornou um importante centro de devoção mariana. Nossa Senhora várias vezes repetiu à Mariette: “Reze muito!” - e assim ela o fez.

            A caridade está na essência do Cristianismo. Quando Jesus nos disse “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” - que está em São Marcos, capítulo 12, versículo 31, e em outros lugares do Evangelho -, ele repetia o Levítico, livro muito antigo, o terceiro do Antigo Testamento. E São João repetia como uma das bases da doutrina o ensinamento de Cristo nesta outra fórmula: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros, assim como Eu vos amei, que dessa mesma maneira tenhais amor uns para com os outros.” Esta mesma palavra foi escolhida por São Paulo para insistir que esse era o dever do cristão.

            Quando a Virgem Maria apareceu em Banneux e se anunciou como “Virgem dos Pobres”, ela lembrava um corolário do Evangelho: a opção pelos pobres que, de uma maneira ou de outra, esteve sempre presente, seja na fraternidade das comunidades catecúmenas, seja no exemplo de grandes santos, como São Francisco, como Santo Inácio, para citar dois construtores de grandes empreendimentos de intervenção na sociedade, entre tantos e tantos outros.

            E aqui quero lembrar que nós também tivemos uma pessoa, uma grande e extraordinária pessoa que se chamou Irmã Dulce. Hoje, beatificada, ela também tinha por base chamar-se Irmã Dulce dos Pobres. E assim foi beatificada.

            Na realidade, o acolhimento dos que buscam ajuda está na essência do ensinamento de Jesus:

Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados. Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos. Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia.

            Foi por isso que, quando o seminarista Aloysius visitou Banneux, resolveu dedicar sua vocação aos mais necessitados, inspirado na Virgem dos Pobres. Quando foi ordenado, em 1957, o mandaram trabalhar na Coreia. A Coreia, naquele tempo, ainda não tinha se recuperado da devastação da guerra.

            Com saúde frágil, agradeceu a Deus por finalmente encontrar um terreno fértil para sua vocação, entre a metade da população que coletava trapos e papéis ou pedia esmolas. Organizou uma Legião de Maria, e, mais tarde, a Congregação das Irmãs de Maria de Banneux e, com elas, instalou as primeiras Vilas das Crianças.

            Da Coreia, o Pe. Aloysius partiu para as Filipinas, onde instalou as Irmãs de Maria de Banneux e a ordem masculina que havia fundado em 1981, os Irmãos de Cristo.

            Em 1989, o Pe. Aloysius foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica, doença degenerativa que provoca fraqueza, atrofia muscular e endurecimento dos músculos. Apesar disso, ele conseguiu instalar as ordens também no México. Em seguida, as ordens se espalharam pelo mundo inteiro.

            Pe. Aloysius faleceu na Vila das Crianças de Cavite, nas Filipinas, em 1992. Em Manila, em 2003, foi iniciado seu processo de beatificação e canonização, que está numa fase de postulação final.

            As Vilas das Crianças foram implantadas no Brasil, na Coreia, nas Filipinas, no México, na Guatemala e em Honduras, sempre sob o cuidado das Irmãs de Maria de Banneux. E, como queria o Pe. Aloysius, elas se destinam a dar educação integrada a crianças de famílias carentes. Aqui no Brasil, além da obra de Brasília, há outra grande obra em São Paulo.

            Ao se instalar em Santa Maria, no Distrito Federal, a Congregação trabalhou inicialmente atendendo à comunidade na área de saúde, com a construção da Clínica Médica Maria. Depois, criou a Vila das Crianças, que acolhe 985 estudantes vindas de todo o País, sendo 404 do Maranhão, 283 do Pará, 121 de Tocantins e 110 do Distrito Federal. Estes números mostram o alcance, a grandeza e a profundidade dessa obra.

            As meninas recebem educação desde a creche até o ensino médio, e, junto a este, uma formação profissional que pode ser em gestão e negócios, secretariado, ambiente e saúde, enfermagem, nutrição e dietética, saúde bucal, corte e costura, arte culinária e educação alimentar, panificação e confeitaria, informática, capacitação de agente comunitário de saúde, artesanato e formação de catequistas.

            Agora mesmo, uma dessas moças me procurou ali, no fundo do plenário, e me disse que já tinha estudado nesta escola e dela saiu, e hoje estava frequentando a universidade, já tinha se formado em secretariado e estava com um horizonte de vida que ela jamais teria de onde ela tinha vindo.

            O sistema de ensino segue os princípios do Monsenhor Aloysius Schwartz, Pe. Al, baseado “numa escola de valores onde se harmonizam cultura, fé e vida, onde a criança, se sentindo amada, respeitada e assistida, desenvolva plenamente suas potencialidades, se tornando útil, ajustada, com excelente formação e, sobretudo, feliz”.

            Ao ingressarem na Vila das Crianças, as estudantes são instaladas em ambientes cuidadosamente preparados, em pequenas unidades sob a coordenação de religiosas ou estudante graduada.

            Elas recebem vestuário completo, todas as coisas de que precisam: uniforme, com blusa, tênis, meias; uniforme de educação física e natação; roupas caseiras e chinelos; material de higiene pessoal; roupas de cama e banho; bolsa para guarda e transporte do material escolar.

            As meninas participam de atividades religiosas -- celebrações litúrgicas e orações --; de atividades esportivas -- jogos, natação e outros --; artísticas -- musicalização, canto coral, banda, artes cênicas, teatro, dança --;culturais -- artes visuais, literatura, apresentações em inglês e espanhol --; sociais e culturais -- atos cívicos, participação em feiras e exposições educativas, visitas a museus e exposições, passeios aos pontos turísticos de Brasília. Essas atividades extracurriculares são elementos importantes na formação global das estudantes.

            A educação de jovens de famílias carentes é um grave problema no Brasil, e a acolhida pela Vila das Crianças destas centenas de estudantes, sem qualquer custo para as famílias e com condições materiais e sociais excepcionais, é uma demonstração do que a generosidade pode fazer.

            Nesta sessão quis o Senado Federal louvar e agradecer essa grande obra que se destina à formação das pessoas, das meninas que não teriam a oportunidade que lhes oferece a Vila das Crianças.

            Quero também agradecer e enaltecer todos que trabalham nesta obra, os doadores, as dedicadas moças da Congregação das Irmãs de Maria de Banneux, e os colaboradores, como o Dr. Sebastião Jorge, que se entregam de corpo e alma à tarefa de ajudá-las.

            Na pessoa da Irmã Jucunda, Superiora da Ordem, quero, em nome do Senado, agradecer a grande obra que é um exemplo em Brasília da caridade, da bondade e do amor ao próximo. Que ela transmita a todos os membros da Congregação, às alunas e aos professores esta minha mensagem, que é de todos nós. E, conjuntamente com a Ordem, nós comemoramos estes 50 anos louvando o que de bem e de bom têm feito pelo Brasil e no mundo inteiro, espalhando essa bondade.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/11/2014 - Página 9