Discurso durante a 163ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à atuação da Presidente Dilma Rousseff em sua campanha eleitoral e destaque para os problemas econômicos e sociais a serem enfrentados pelo Brasil.

Autor
Lúcia Vânia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Críticas à atuação da Presidente Dilma Rousseff em sua campanha eleitoral e destaque para os problemas econômicos e sociais a serem enfrentados pelo Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 12/11/2014 - Página 143
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • CRITICA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONTRADIÇÃO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, AÇÕES, ENFASE, INFLAÇÃO, REDUÇÃO, SUBSIDIO, BANCO OFICIAL, AUMENTO, TARIFAS, ENERGIA ELETRICA, PREÇO, GASOLINA, OBJETIVO, FORTIFICAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEFICIT, BALANÇA COMERCIAL, DESCUMPRIMENTO, LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTARIAS (LDO).

            A SRª LÚCIA VÂNIA (Bloco Minoria/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pouco mais de 15 dias se passaram desde o segundo turno das eleições. E muito já aconteceu.

            Assistimos, em tão poucos dias, a uma lista de ações e palavras da Presidente reeleita que, se não nos surpreendem totalmente, deveriam nos estarrecer, para usar um verbo tantas vezes repetido por ela ao longo da campanha.

            A lista é extensa: aumento de juros e a admissão de que a inflação precisa ser atacada, quando era o PSDB que "plantava inflação para colher juros"; o anúncio de redução de subsídios por parte dos bancos públicos, quando, no discurso de campanha, fomos acusados de não aceitarmos os subsídios; transferência de R$5 bilhões de créditos podres da Caixa Econômica Federal a serem pagos pela sociedade brasileira, quando ouvimos durante a campanha que o PSDB queria reduzir o papel social dos bancos públicos, embora saibamos todos que foram saneados e fortalecidos na gestão de Fernando Henrique Cardoso para, agora, sim, eles os enfraquecerem em sua gestão de risco; o anúncio do aumento das tarifas de energia elétrica, claramente adiado para artificialmente manter a inflação abaixo do teto da meta, mas cuja conta virá convenientemente depois de passada a campanha eleitoral.

            Finalmente, o aumento da gasolina e do diesel, também postergado por objetivos eleitoreiros, mas que custaram a nossa maior empresa algo próximo de R$80 bilhões.

            E fomos nós, do PSDB, os que depreciamos a nossa maior empresa nacional? Há uma gestão eleitoreira e, muito pior, uma expropriação da Petrobras para fins de fortalecimento financeiro do Partido, PT, e do seu projeto de poder.

            Mas, infelizmente, não cessa aqui a indignação que, certamente, toma conta dos nossos mais de 51 milhões de eleitores. Como se não bastasse o estelionato eleitoral que se configurou logo nos primeiros dias pós-eleição, com o Governo fazendo o que tanto execrou durante uma campanha ditada pelo seu marqueteiro, tivemos ainda um conjunto de dados econômicos e sociais que mostram que, de fato, o País da propaganda pouco tem a ver com o nosso Brasil real. Com o Brasil que se delineou ao longo dos últimos anos e que começa agora a surgir com toda sua clareza.

            Pelo lado econômico, todos os dados divulgados nesse período recente - inclusive, claro, aqueles adiados sob a justificativa de não influenciar as urnas - mostraram a clara deterioração da já enfraquecida situação econômica brasileira.

            Se já vínhamos colecionando recordes negativos em vários indicadores, conseguimos bater todos esses recordes na última semana: as contas públicas mostraram um resultado vergonhoso - déficit de R$25,5 bilhões. Isso significa que a Lei Orçamentária que foi discutida neste Plenário e aprovada aqui, por esta Casa, não será cumprida pelo Governo este ano - como foi muito bem explicitado aqui, anteriormente, pelo Senador Aloysio Nunes. O que significa isso, senão a irresponsabilidade fiscal deste Governo e falta de respeito com o mandato que nos foi conferido pela sociedade brasileira?

            Mas isso é só o começo. Além da inflação tão veementemente negada ao longo da campanha, dados da balança comercial apontam um déficit de US$2,61 bilhões, desde o início do ano; da arrecadação federal (queda de 0,89%), que ajudou no resultado fiscal negativo, mas que, além disso, demonstra a fraqueza da nossa economia, também contra o discurso da candidatura oficial. Todos os dados mostram que o caminho que estamos trilhando já mostra as suas consequências.

            No mercado de trabalho - tão orgulhosamente apresentado na campanha eleitoral -, os dados recentes também mostram que a conta começa a chegar. A geração de emprego foi a menor de toda a série histórica, ou seja, crescimento estagnado é pré-condição para o desemprego.

            Não se trata mais de se fazer conjecturas ou de se discordar de uma ou outra corrente econômica. Não se trata mais de discutir linhas ideológicas ou o falso dilema de social versus econômico. Trata-se de encarar os fatos.

            O Brasil perdeu vigor, o Brasil deste Governo nos colocou no caminho errado. O Brasil anda para trás, não para frente. E esse caminho está nos levando não mais para o caminho da estagnação, mas, sim, pelo caminho do retrocesso. Estamos voltando para onde já estivemos e de onde muito nos custou sair.

            O Brasil de hoje voltou a ser o Brasil das más notícias, o Brasil da falta de crescimento, que discute inflação como agenda prioritária e que deixou de discutir avanços institucionais, aumento da capacidade produtiva, maiores oportunidades para as gerações futuras.

            Deixamos de pavimentar o futuro para discutir uma agenda de como não piorar ainda mais. E isso significa comprometer nosso potencial de crescimento, nossa sustentabilidade. Muito nos custou sair da lanterna do desenvolvimento econômico.

            E saímos, ao contrário do que quis fazer crer a propaganda eleitoral a que tivemos que assistir nessa última campanha, graças ao governo do PSDB, graças ao Plano Real, à Lei de Responsabilidade Fiscal, ao grande conjunto de reformas estruturais e aos grandes avanços que conseguimos, a duras penas, ao longo dos anos FHC e que o ex-Presidente Lula soube preservar.

            Mas não interrompo aqui o meu discurso. Não faria sentido interrompê-lo apenas com evidências econômicas. Há indicadores sociais ainda mais preocupantes e que foram igualmente escondidos, para que não influenciassem o pleito de outubro - ou, visto por outro lado - para que não enfraquecessem o discurso oficial de que o Brasil só melhora.

            Pois bem meus colegas, o dado mais estarrecedor de todos e que mais uma vez demonstra, com a clareza crua dos números, o custo das escolhas erradas desses últimos anos do Governo é o aumento da miséria entre 2012 e 2013.

            O discurso oficial tenta minimizar os dados, até mesmo menosprezá-los, colocando em dúvida o caráter "oficial" desses números.

            Mas a verdade é que temos hoje, a inversão de uma tendência de ganhos sociais que reforçam o discurso econômico das escolhas erradas. Não há como fechar os olhos a números que nos surpreendem negativamente a cada dia. Não há como não perceber que as conquistas do passado estão se perdendo. Não há como ficar silente quando o Brasil perde o que tanto nos custou avançar.

            Sim, temos hoje a legitimidade dos mais de 51 milhões de votos que Aécio Neves recebeu da sociedade brasileira.

            Sim, temos, como oposição e como brasileiros, que gritar contra o retrocesso econômico.

            Temos essa responsabilidade e esse dever.

            E é isso que faço aqui, desta tribuna, hoje. Quero me juntar à voz dos meus companheiros de Partido, dos nobres Senadores que já subiram nesta tribuna para dar o tom da nossa oposição.

            E como partícipe dessa grande vitória que tivemos no dia 26 de outubro, venho aqui afirmar que nós seremos, nesta Casa e nas nossas bases, a voz e a força de quase metade dos brasileiros que anteviram que o Brasil trilhava o caminho errado, o caminho do retrocesso.

            As ações incoerentes do Governo eleito - e a constatação de que o País cambaleia na direção da estagnação e da mediocridade - nos exigem uma postura oposicionista responsável e atenta.

            As urnas, em 26 de outubro, fortaleceram o nosso mandato. Estamos cientes de que é isso que a sociedade brasileira e é essa a postura que ela nos pediu nas urnas e nas ruas.

            E nos cabe, aqui, honrar com nossa voz, nesta Casa, esse novo e grande mandato que nos foi dado. É esse o papel que se espera de nós e é esse o papel que estamos prontos para desempenhar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/11/2014 - Página 143