Discurso durante a 166ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre operação da Polícia Federal que investiga denúncias de irregularidades na Petrobras; e outros assuntos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, CORRUPÇÃO. HOMENAGEM. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Considerações sobre operação da Polícia Federal que investiga denúncias de irregularidades na Petrobras; e outros assuntos.
Aparteantes
Ana Amélia, Fleury.
Publicação
Publicação no DSF de 15/11/2014 - Página 622
Assunto
Outros > ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, CORRUPÇÃO. HOMENAGEM. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, POLICIA FEDERAL, REFERENCIA, INVESTIGAÇÃO, IRREGULARIDADE, GESTÃO, SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), CRITICA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, FALTA, RESPONSABILIDADE, COMENTARIO, IMPORTANCIA, UNIÃO, POPULAÇÃO, OBJETIVO, DEFESA, DEMOCRACIA.
  • HOMENAGEM, AURELIANO CHAVES, POLITICO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • ANUNCIO, INTERRUPÇÃO, ATIVIDADE POLITICA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, é duro ler os jornais de hoje e muito amargo assistir aos noticiários da televisão e de rádio. A tal da Operação Lava-Jato está avançando e as coisas estão aparecendo.

            A Folha de S. Paulo fala nos mandatos de prisão das operações Lava-Jato. Nesta manhã, foram 27 mandados de prisão contra executivos investigados pela operação. O ex-Diretor de Serviços da Petrobras, o Sr. Renato Duque, foi preso nessa madrugada no Rio de Janeiro.

            Segundo a informação, os grupos de investigados registraram, segundo dados do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), operações financeiras verdadeiramente atípicas num montante que supera R$10 bilhões - repito, R$10 bilhões.

            A Justiça decretou o bloqueio de R$720 milhões que pertencem a 36 investigados e foi autorizado a bloquear valores pertencentes a três empresas suspeitas de participar do esquema.

            Segundo a Polícia Federal, os envolvidos responderão na medida de sua participação pelos crimes de organização criminosa, formação de cartel, corrupção, fraude à Lei de Licitações e lavagem de dinheiro. E tem aqui notícias, praticamente de uma página, relatando, desde 1º de abril, o andamento dessa questão da Petrobras.

            Mais adiante disse, mais uma vez salientando a prisão de Renato Duque, Diretor de Serviços da Petrobras, que ele tem ligações com o PT. Foi indicado para o cargo - diz o jornal - pelo ex-Ministro José Dirceu.

            O ex-Diretor Paulo Roberto Costa e dois executivos ligados a Toyo Setal, empresa que tem contratos de mais de 4 bilhões com a entidade, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto e Júlio Camargo, afirmaram, em delação premiada, que Duque era beneficiado pelo esquema de suborno.

            Duque nega as acusações. E entrou com uma ação contra Costa.

            Também foram presos o Presidente da empreiteira Engevix, Cristiano Kok, e um dos seus vice-presidentes, Gerson Almada. um terceiro executivo da Empresa que teve a prisão decretada anteriormente.

            Ao todo - coisa fantástica, Sr. Presidente -, 300 policiais participam da ação, que acontece em São Paulo, Paraná, Rio, Pernambuco, Minas e Brasília. Mais 11 mandatos de prisão e seis de busca e apreensão são cumpridos no Rio, dois no Paraná, mais um de prisão em Brasília, mais um de busca e apreensão em Minas Gerais e Pernambuco.

            As prisões atingiram a cúpula das empreiteiras. A PF também realiza busca na casa do Presidente da UTC Constran, Ricardo Pessoa, investigado por ter pago propina para obter outras obras da Petrobras.

            E mais página inteira, o calendário dia a dia do que tem sido feito.

            Outra notícia: PF tenta prender Fernando baiano, operador do PMDB na Petrobras.

            Outra notícia: Petrobras não conseguirá divulgar balanço no prazo.

            Petrobras informou ao mercado, na noite desta quinta-feira, que vai adiar a divulgação das demonstrações financeiras no terceiro trimestre, alegando a necessidade de aprofundar as investigações sobre denúncias de corrupção e fazer possíveis reajustes no documento.

            Segundo fonte próxima à administração da empresa, a entidade PwC não assinou o documento, como é exigido pela instrução da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). A companhia prevê apresentar os documentos no dia 12 de dezembro, e nem nesse dia deverá ter revisado, a PwC admite.

            Em fevereiro, a empresa adiou de 14 para 25, mas o prazo era de 90 dias, porque era balanço anual, logo não houve multa. Nesse caso, agora, vai estourar o prazo, logo, a multa diária prevista pela CVM é de R$500 por dia.

            O prazo legal para apresentar a demonstração contábil terminava nesta sexta-feira (14), conforme instruções da CVM, que estabelece um período de 45 dias, depois de um trimestre, para que as empresas arquivem o documento.

            Depois da exigência da PwC, a Petrobras anunciou a contratação de dois escritórios de advocacia para auxiliar as investigações de sua comissão interna, que apura as denúncias, um nos Estados Unidos e outro no Brasil. Ambos especializados na FCPA, a lei americana de combate à corrupção no exterior. A estatal brasileira é sujeita à lei americana porque tem ações negociadas nos Estados Unidos.

            Em seguida, a estatal negociou o afastamento de Machado, da Transpetro, pelo período de 31 dias. A lei americana também exige providências de empresas de auditoria, em caso de irregularidade comprovada nas empresas auditadas.

            A reunião do conselho de administração da empresa, agendada para análise das demonstrações financeiras, estava marcada para as 10h desta sexta-feira (14), em São Paulo.

            CGU investiga 20 funcionários da Petrobras no esquema da propina.

            Eu acho que nós estamos chegando à reta final, quando notícias de jornais, para lá e para cá, são substituídas pela comprovação dos fatos.

            Em primeiro lugar, convém reconhecer um aspecto: a Polícia Federal realmente tem tido uma atuação muito importante. Falando em forças militares, até pouco tempo, à época do regime militar, era violência, era prisão, era tortura. Agora é diferente.

            A Polícia Federal, de uns tempos para cá - começou no Mensalão -, vem tendo uma atuação realmente digna de respeito. No caso do Cachoeira, em que ela apurou situações gravíssimas praticadas, envolvendo gente do Governo do Rio, do Governo de Brasília, do Governo de Goiás, o dossiê que veio para cá, em cima do qual foi criada a CPI, eu li e reli. Era impressionantemente grave, mas impressionantemente bem feito, com responsabilidade e com critério. Não era um documento da Polícia da Federal tentando desmontar, desmoralizar, liquidar os réus. E também não era um documento nos sentido de abrir brechas para que eles pudessem sair. Era um documento claro, contando os fatos em si, narrando, relatando e provando através da documentação.

            Eu disse ano passado e repito aqui: para mim, foi um dos momentos mais tristes da minha vida de 32 anos nesta Casa a atuação daquela CPI de Cachoeira. Foi vergonhosa. Os partidos políticos se reuniram e se acertaram, Governo, oposição: você não investiga o meu e eu não investigo o seu. Não mexa no Governador de Goiás nem no Governador do Rio nem no Governador de Brasília.

     O tempo foi passando. E o tempo foi passando.

            Com uma legislação esdrúxula e uma atuação imprevisível, chamado a depor, o Sr. Cachoeira, baseado em decisão do Supremo, disse: “Não quero falar.” E passou pela CPI sem nada falar.

            A rigor, não foi preciso muito esforço, porque a CPI não tinha muito interesse em que ele falasse. Pessoas importantes, preocupadas, conhecedoras do fato não foram chamadas.

            Não participei da CPI porque, há muito tempo, o MDB não me indica para as CPIs. Durante muitos anos, nesses meus 32 anos, eu estava em todas as CPIs e, modéstia à parte, em algumas delas, como a do impeachment, eu fui o coordenador e o principal orientador. Mas, ultimamente, eu não tenho participado, porque não sou indicado. Mesmo assim, como Senador, posso comparecer. Compareci e falei várias vezes.

            Em uma delas, eu disse:

É grave o que está acontecendo aqui, porque foi feito um acerto entre as Bancadas para não apurar nada. É muito grave. Mas, então, eu faço uma sugestão: peguem o dossiê, enviado pela Polícia Federal, e, através de ofício, enviem para a Procuradoria-Geral da República, para apresentar ou não apresentar denúncia no Supremo Tribunal. Façam isso, porque as provas são tão claras, são tão precisas, os fatos são tão reais que a Procuradoria-Geral da República, que também está acompanhando, poderá ver os elementos para, se for o caso, fazer as denúncias.

            Não concordaram. O projeto foi simplesmente arquivado - arquivado -, sem absolutamente nada.

            Por isso, eu louvo a atuação da Polícia Federal. Reconheço que, nesse sentido, independente de o Governo ser PT e a Polícia Federal fazer parte de um Governo, realmente, a Polícia Federal está agindo com independência, com seriedade, com responsabilidade.

            Os jornais de ontem noticiaram em manchete e, de modo especial, o ilustre companheiro gaúcho Presidente do Tribunal de Contas da União afirmou e a imprensa publicou em letras garrafais: “É o maior escândalo que até hoje chegou ao Tribunal de Contas da União.” Não é um grande escândalo; é o maior escândalo que até hoje chegou. Essa é a realidade. Esses são os fatos que nós estamos vivendo.

            Eu tenho a convicção - Deus me perdoe - de que, se pudéssemos votar novamente e se essa eleição fosse feita, em vez do dia em que ocorreu, daqui a um mês, o resultado seria diferente, porque todos esses fatos que já existiam, mas dos quais não se dava conhecimento, impediriam a vitória da Senhora Presidente.

            Eu acho que a situação se tornou irreversível. Não dá para botar debaixo do tapete.

            A Presidente tem dito - e alguns Parlamentares que falaram com ela me contaram - que pretende que seja feita a apuração de tudo na Petrobras, doa a quem doer. Eu acredito. Sinceramente acredito que Sua Excelência tenha esse interesse, porque está terminando um governo e iniciando outro e, se essa questão não foi muito bem resolvida, vai ser difícil para a nova Presidente iniciar mandato com credibilidade, com respeito, o que é necessário para um governo começar a trabalhar.

            É duro, Sr. Presidente, porque a Petrobras é uma entidade de nós todos. Todos nós temos ações na Petrobras. Alguns, como nós, meia dúzia; outros, em número grande, mas, de qualquer maneira, temos. Acho que não há, no Brasil, uma entidade que tenha mais olhares de amor, de carinho e rezas para que vá bem do que a Petrobras.

            E a Petrobras deveria estar vivendo, hoje, um grande momento. A Petrobras deveria estar vivendo, hoje, um momento histórico . Um.

            E o Lula, lá no seu governo, gritou ao mundo que o Brasil se transformaria em exportador de petróleo, porque, através do etanol, o Brasil seria um grande produtor, tinha todas as condições, nessa verdadeira revolução, de buscar a gasolina e produtos como o milho.

            Eu era Ministro da Agricultura, quando o Sr. Embaixador dos Estados Unidos pediu uma audiência, e foi lá no meu Ministério. E foi, para dizer que os Estados Unidos, o governo americano estava enviando para o Congresso uma lei aumentando o percentual de possibilidade de adição do etanol à gasolina e que isso significaria uma abertura impressionante de dinheiro a ser usado. E o Brasil, como grande produtor exatamente desse produto, faria o transporte, a venda desse produto.

            Eu até fiquei assim, meio estranhando; ingênuo da minha parte. Até perguntei: “Mas o americano quer transformar o Brasil num extenso produtor de milho ou de cana, para transformar em álcool, e o americano compra de nós - por que eles não plantam lá?” Nós plantamos, damos para eles, eles produzem, e nos vendem a gasolina dez vezes mais cara.

            Mas o plano cresceu. E o Lula comunicou ao mundo que o Brasil era pioneiro, que seria um grande produtor e ingressaria no mercado como grande produtor. Houve uma disputa de preços, uma crise, e hoje o americano é um grande produtor de etanol, tem um percentual desse tipo de gasolina utilizado por eles, e as nossas empresas foram para o beleléu, ou quebraram, ou estão caminhando com quatro pernas.

            O Governo não viu, não entendeu, não deu, não oportunizou, como deveria, a indústria do etanol. Aí veio o milagre. O Brasil tem uma grande manchete mundial de que a Petrobras, com suas forças, com a sua capacidade, sua tecnologia, foi encontrar petróleo lá no fundo do mar, até a 7km, passando por 3km de gelo na camada - uma produção tão intensa e tão real que será uma questão espetacular, o Brasil virará exportador.

            Nós aqui, com certa ingenuidade, quando ainda nada havia iniciado, já estávamos brigando para saber com quem ficaria com os royalties de petróleo trazidos das águas profundas. O Rio de Janeiro, ou melhor, a Bacia de Santos, de onde esse petróleo seria extraído, exigia que ficasse no Rio; outros Estados, como o Rio Grande do Sul, exigiam que fosse distribuído. Houve um debate, houve uma discussão, houve uma lei no Congresso, houve uma participação da Presidenta, uma discussão do tamanho de um bonde e, quando se esperava o início dessa caminhada espetacular, para a Petrobras.

            E a Petrobras, que, num dia, está nas manchetes do mundo inteiro, de um lado, pela produção de etanol e, de outro lado, por buscar milhões em petróleo a 7km de profundidade no mar, tem manchete vergonhosa pelo roubo e por falcatrua. A Holanda puniu a empresa holandesa em 200 milhões, porque ela subornou a empresa brasileira. Reparem a diferença e a maneira de agir de um governo e de um povo.

            A empresa holandesa corrompeu, deu verba por fora, para ganhar um contrato na Petrobras. A Holanda ganhou, não perdeu, mas o governo holandês multou a empresa em 200 milhões e exigiu que ela tomasse providências. E, no Governo brasileiro, que exigiu um baque de 200 milhões, para passar por cima de um contrato, como aconteceu, não aconteceu nada.

            Uma empresa americana convocada pela Petrobras, contratada pela Petrobras, para fazer a investigação interna da Petrobras, na hora de fazer a análise e publicar os dados, exigiu que o Diretor, diretamente envolvido, fosse afastado. A empresa estrangeira contratada, para investigar a possível fraude, para apurar seus trabalhos, disse que só poderia fazer a investigação, se o Diretor fosse afastado. Um mês antes, quando se perguntou à Presidenta se esse Diretor não deveria ser afastado, ela disse que não poderia afastar na base de boatos, teria que haver fatos concretos, e esse Diretor, lá do Ceará, não foi afastado pelo Governo, pediu licença por 31 dias - ele pediu licença e está afastado para cumprir a licença!

            Olha, Sr. Presidente, nessa minha longa vida, eu já vi momentos dramáticos vividos pelo Brasil. Nossa História é cheia disso. Lamentavelmente, o Brasil é um período de longas ditaduras, abertas ou fechadas, entrecortadas de períodos de democracia, tanto que estamos vivendo o maior período de democracia da História do Brasil.

            Collor eleito, e cassado, assume o seu sucessor, o Vice-Presidente; Lula eleito; Lula reeleito; Dilma eleita; Dilma reeleita. Isto nunca tinha acontecido: eleição democrática feita pelo povo. O Juscelino foi eleito, e quem passou o mandato de Presidente para o Juscelino não foi o Getúlio Vargas, que tinha sido eleito, nem o Café Filho, que tinha sido Vice-Presidente, foi o Presidente do Congresso, os outros dois foram impedidos.

            Juscelino foi o único Presidente que passou o mandato ao seu sucessor, eleito pelo povo, Jânio Quadros, mas Jânio Quadros renunciou. Os militares se adonaram, e só fomos ter eleição com a eleição do Sr. Collor. Longo período esse de democracia, entrecortado, ao longo do tempo, de épocas duras e épocas difíceis.

            Eu, no segundo turno, na eleição passada, votei na Srª Dilma. No primeiro, estava com a ilustre e querida Senadora lá de Alagoas, não foi para o segundo turno e votei na D. Dilma. Achei que ela faria um governo positivo.

            Não via, na sua biografia, nem nos atos - ela foi, por quatro anos, Secretária da Fazenda do Sr. Collares, Governador no Rio Grande do Sul; quatro anos Secretária de Minas e Energia do Sr. Collares, Governador do Rio Grande do Sul; quatro anos Secretária de Minas e Energia do Governador Olívio Dutra, do PT, do Rio Grande do Sul; por dois anos e tantos esteve no Ministério de Minas e Energia; e na Chefia da Casa Civil... No episódio do mensalão, não houve uma vírgula que envolvesse S. Exª. Não havia nada que levantasse alguma interrogação com relação à biografia e à história de S. Exª.

            Aliás, é interessante que, até hoje, podemos dizer que não há fato em que apareça o nome da D. Dilma diretamente envolvido. O que há da Srª Dilma é ou omissão, ou a falta de competência, ou uma negligência que chega ao absurdo do ridículo, porque essas coisas aconteceram, e ela é a principal responsável: ela era Ministra do Ministério de Minas e Energia, a Petrobras estava subordinada a ela; ela foi para a Chefia da Casa Civil e, como tal, ela era Presidenta do Conselho da Petrobras, a última palavra, na Petrobras, quem dava era o Conselho, e ela era a Presidente; e dali foi para a Presidência da República. Essas coisas todas aconteceram, e S. Exª não sabia de nada e não fazia nada.

            Todo mundo sabe que pelo diretor tal foi loteada a Petrobras, em nível de partidos políticos. Os cargos foram distribuídos por partido - a Presidência para um; as sete subsidiárias, uma para um partido, outra para outro, outra para outro, outra para outro, outra para outro. E a imprensa, ao longo do tempo, veio noticiando: “Fatos graves estão acontecendo na Petrobras.”

            Quando vemos por quanto foi projetada a Abreu e Lima e quanto foi gasto, não dá para acreditar. Não dá para falar. De dois pulou para vinte e tantos bilhões.

            Ao lado disso, está a crise política que estamos atravessando. O Governo eleito não está tendo nem a oportunidade de viver a melhor parte do seu Governo, que é entre a eleição e a posse. A confusão é generalizada: são 28 Partidos, na Câmara dos Deputados; 28 Líderes.

            É claro que um partido de um Deputado só não vai querer, para apoiar o Governo, um Ministério, ou vai ganhar alguma coisa, porque esta é a forma de governar: a troca, o toma lá dá cá.

            Eu volto a dizer o que venho dizendo: se a Ministra seguir esse caminho, o “toma lá, dá cá”, o troca-troca, vai ser muito difícil. Muito difícil!

            Estranhas são as posições que o PT está tomando, e o comentário é que há um grupo identificado com mais profundidade com o Presidente Lula, e a Presidenta querendo montar um governo com mais independência. A verdade é que eu disse desta tribuna, lá no início, quando a Presidente Dilma se elegeu, assumiu a Presidência e nomeou o Ministério, que eu estranhei. Eu li os nomes dos Ministros e, com todo o respeito, com toda a humildade, eu fiz uma explicação, que eram pessoas praticamente desconhecidas, que a gente não sabia; talvez fossem notáveis, mas a Nação não tinha conhecimento. E mostrei o Ministério do Dr. João Goulart no último dia, quando ele foi derrubado, ou, melhor dito, quando ele viajou para o Uruguai porque o Senado tinha decretado a sua queda. O Ministério do Dr. João Goulart era composto de homens do mais alto gabarito, de Darcy Ribeiro para cima, homens de primeiríssima grandeza. Eu dizia que eu achava que a D. Dilma, que tinha sido eleita pelo Lula com uma espécie de... Lá na frente, depois, foi afirmado que o Lula elegia postes: elegeu um poste, que foi ela; e outro poste, que foi o prefeito de São Paulo. Mas a verdade é que o Ministério não correspondia à expectativa do Brasil.

            Agora, estamos na expectativa do novo Ministério. Como será constituído? Eu não sei, mas eu volto a afirmar que, se a D. Dilma entrar no troca-troca, se quiser compor o seu Governo para pegar gente para derrotar o Líder do MDB para que ele não se eleja Presidente da Câmara, se fizer distribuição para ter uma maioria fictícia, na base do troca-troca, do “é dando que se recebe”, não vai ser uma boa saída.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Senador Pedro Simon, obrigada pelo aparte. Fiquei aqui ouvindo, atentamente, o pronunciamento de V. Exª - que também foi motivo da minha abordagem no início da sessão, hoje, aqui - sobre a questão das operações da Polícia Federal na Petrobras. Eu exaltei, e tenho certeza de que essa é a mesma convicção e atitude sua, em respeito a essa instituição republicana, que é a Polícia Federal, que está cumprindo o seu dever. Isso é uma segurança para os brasileiros, que querem a preservação da Petrobras. Lamento apenas, Senador, que o senhor não estará aqui, nesta Casa, em 2015 - para que acompanhemos juntos -, com o seu vigor, com a sua competência, com a sua capacidade de expressar a indignação sobre o que está acontecendo. Então, eu queria manifestar ao mesmo tempo, quando o senhor está usando a tribuna, que a Casa sentirá muito a sua falta, mas sobretudo os brasileiros, que acompanham o seu posicionamento firme, austero e sempre crítico nas horas em que o Brasil está precisando de um controle muito grande. O senhor teve uma participação muito ativa naquele movimento de combate à corrupção no Brasil, reconhecido por instituições como a OAB e outras entidades que têm trabalhado pela transparência, pela responsabilidade. Então, é uma ausência que nós sentiremos muito. E queria reforçar o que o senhor está dizendo a respeito da insegurança que temos em relação ao que virá no futuro. É claro que, como somos gaúchos e como a Presidente Dilma Rousseff tem uma grande vinculação com o Rio Grande do Sul, queremos que dê certo o Brasil. Nós não somos... Eu sou uma Senadora independente, V. Exª, também, da mesma forma, e seu partido como o meu fazem parte da Base do Governo, mas nós não temos uma participação no Governo, não somos governistas. E não somos oposicionistas; somos Senadores independentes aqui, com a liberdade que temos de nos expressar. Então, queria cumprimentá-lo pelas abordagens gerais feitas por V. Exª, todas elas, destes últimos momentos da vida brasileira, e até lembrar, sobre a questão do Ministério, o que disse um amigo que tenho, Delfim Netto, que V. Exª também conhece. Indagado, nesta semana, sobre quem seria o Ministro da Fazenda, ele disse assim: “O CPF eu não sei, mas a razão social deve ser conhecida”. Eu o cumprimento, Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu agradeço a gentileza de V. Exª. V. Exª foi uma brilhante candidata a governadora, tinha todas as condições de ganhar, mas eu, brincando, dizia uma grande verdade: era muito importante V. Exª continuar aqui. E acho que agora V. Exª deve estar mais ou menos convicta de que é jovem, terá oportunidade de governar o Rio Grande, terá condições para isso, mas que o seu papel aqui vai ser muito importante. Pela sua independência, pela forma concreta, objetiva, firme, de conteúdo, mas sem radicalização, sem querer atingir, mas querer melhorar, V. Exª, tenho certeza, será uma personagem muito importante nessa caminhada.

            Acho que Deus foi meu amigo tirando-me daqui, porque, nos meus 85 anos, eu não sei se teria condições de levar o que vai ser necessário - porque vai ser necessário! Eu acho que, quando a gente chega, querida Senadora, no fundo do poço, em termos de realidade política, ética, moral, alguma coisa deve ser feita, e este Congresso vai fazer. Este Congresso terá condições de fazer isso. Que a Presidente Dilma faça isto: em vez de tentar coligação com o fulano que tem dois votos, com o fulano que tem quatro votos e com o fulano que tem oito votos, faça um entendimento com o Congresso, no seu contexto, perante a Nação. Seria a grande saída, a extraordinária saída para esse Governo que vai iniciar de uma maneira dolorosa, tão triste e tão difícil.

            Eu aproveito, Sr. Presidente - já há tempo que eu queria me dirigir a V. Exª -, porque, tendo V. Exª nesta Casa, eu tenho a obrigação de dizer-lhe do carinho, do respeito e da admiração que eu tinha pelo extraordinário homem que foi Aureliano Chaves.

            Um homem que teve uma atuação excepcional. E, se nós vivemos o milagre de acabar com uma ditadura que vinha para durar a vida inteira, sem sangue, sem guerra, sem aquilo que muitos queriam, nós devemos muito ao Dr. Aureliano.

            O chamado Pacto de Minas - o entendimento de Aureliano com Dr. Tancredo, que ambos cumpriram firmemente, quando Aureliano deu força, deu apoio àquela difícil, mas extraordinária candidatura vitoriosa do Dr. Tancredo no colégio eleitoral - deveu-se ao Dr. Aureliano. Se ele não aceitasse, se ele não desse aquele apoio, inclusive o Dr. Tancredo não teria aceitado. Para o Dr. Tancredo era de importância total ter a presença, a simpatia do Dr. Aureliano para unir Minas, como uniu, e para ter o papel importante na dissidência, aquela que deu os votos necessários para a vitória do Dr. Tancredo.

            Eu tive uma amizade muito grande com o Dr. Aureliano. Lembro-me das vezes em que o visitei, lá no Hospital Sarah Kubitschek. Carregaram a cama dele, lá, quase na rua, para ele ver o horizonte, e ele sonhando com a democracia, lutando por ela.

            Por isso, que V. Exª siga o grande exemplo de seu pai, que deixou uma imagem muito importante na história do Brasil.

            Eu encerro. Encerro apenas dizendo que eu não sou um pessimista; sou um homem de fé. Pertenço realmente à Ordem Terceira de São Francisco, que ensina as pessoas a serem humildes e a olharem os seus irmãos, principalmente os que mais precisam; que ensinam algo que é difícil de colocar em prática, dizendo que o importante é ter amor em vez de ódio, é ter respeito em vez de raiva; que ensina que devemos dar as mãos, juntos, amando nossos inimigos, para podermos realizar o bem comum.

            Eu saio desta Casa e saio da vida pública, porque achei que devia sair. Essa decisão eu já havia comunicado a esta Casa no início deste ano e durante todo este ano. Acho que o que podia fazer de eventual eu fiz; o que precisa ser feito, tenho certeza de que esta Casa fará. Mas, lá fora, como cidadão que tem olhos, que tem cérebro, que tem saúde, procurarei imitar o meu grande amigo Teotônio Vilela, porque acho que é necessário.

            O exemplo que nós tivemos dos jovens na rua, no ano passado, que deu vitória ao mensalão, botando na cadeia quem tinha que ir para a cadeia e saindo vitoriosa a Ficha Limpa, a maior mácula da legislação penal brasileira - porque só ia para a cadeia ladrão de galinha e foi para a cadeia quem tinha que ir. E hoje, inclusive nessa eleição que passou, muita gente não foi candidato porque, se o fosse, a Ficha Limpa atingia. E essa Ficha Limpa foi resultado da OAB, da ABI e de 1,5 milhão de assinaturas que fizeram com que o projeto popular andasse, que fosse vitorioso. Eu confio nessa mocidade.

            Acho que, indo para o debate, a Nação inteira participando desse debate por um novo Pacto Social, por uma profunda reforma das nossas estruturas e por um código de ética que, realmente, se conforme com a necessidade de nossa gente, estarei aparecendo anonimamente, fazendo a minha parte e rezando ao meu Deus para que os que veem se juntar aos que aqui ficam façam o possível, para que possamos sair com respeito e com dignidade dessa crise. Podemos transformá-la na crise que se imagina sei lá o quê, na forma do entendimento, do respeito. E, talvez, repito, chegando ao final do poço, lá no fundo, possamos nos reerguer, não alguns vitoriosos e outros mortos lá embaixo, mas todos, dando-se as mãos por um novo Brasil e uma nova democracia.

(Manifestação da galeria.)

            O Sr. Fleury (Bloco Minoria/ DEM - GO) - Um aparte, Senador.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado.

            Pois não, com o maior prazer.

            O Sr. Fleury (Bloco Minoria/ DEM - GO) - Senador Pedro Simon, V. Exª é um sábio. V. Exª é um Senador sábio, é um homem que não pensa na próxima eleição. V. Exª, sempre que se pronunciou, durante todos esses anos, pensou na próxima geração. Aprendi muito e falo com muita sinceridade: V. Exª é a voz da dignidade deste País. O senhor deixa esta Casa, mas esta Casa jamais se esquecerá do senhor. Era isso que tinha que falar. Muito obrigado por tudo o que senhor fez por este País, em nome do povo de Goiás.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - V. Exª não imagina, querido Senador, a admiração, o carinho e a emoção com que recebo as palavras de V. Exª.

            V. Exª é um exemplo, é um desses exemplos que cobram de nós a obrigação de fazer. E vencendo os problemas e as dificuldades, V. Exª faz a sua parte e aqui se impôs o nosso respeito, a nossa admiração, pela firmeza das suas convicções e pela seriedade das suas afirmativas. Eu é que agradeço a V. Exª.

            Como eu dizia aqui, o velho Teotonio Vilela, com quatro cânceres e duas bengalas, percorreu o Brasil. E é o exemplo dele, mais até do que as palavras, que fez com que a gente avançasse e fosse adiante. V. Exª, aqui, na sua dificuldade, com os seus problemas, que fazem com que tenha que fazer um esforço maior para cumprir o que gostaria, tenha certeza de que o seu exemplo, a sua presença, a sua voz e a sua imagem soam muito no Brasil. Muitos brasileiros, vendo V. Exª, dizem: “Ele está lá. Ele faz a sua parte. E eu, por que não faço a minha?”

            É em V. Exª que eu me espelho exatamente para, no futuro, onde eu estiver, poder fazer a minha parte como V. Exª, com brilho, faz a sua parte. Muito obrigado pela sua gentileza.

            Presidente, é uma honra terminar o meu pronunciamento tendo V. Exª na Presidência. Tenho certeza, pela amizade que eu tenho, de que o meu amigo Aureliano, lá de cima, gostaria que eu dissesse que ele também está muito feliz em vê-lo na Presidência desta Casa.

            Muito obrigado.

            O SR. PRESIDENTE (Antonio Aureliano. Bloco Minoria/PSDB - MG) - Meu caro Senador, Excelentíssimo Senador Pedro Simon, quero dizer que V. Exª não deixa esta Casa. V. Exª é um pilar permanente desta Casa. V. Exª simboliza o que há de mais nobre na política brasileira. V. Exª representa o que há de mais nobre que o povo do Rio Grande do Sul presenteou a esta Nação. Quero dizer que fico extremamente feliz, neste momento, de estar com V. Exª aqui, porque compartilhei de momentos importantes, vislumbrando sempre a vossa vida pública, passando pelo Executivo, pelo Legislativo, Ministro de Estado, Governador do Rio Grande do Sul, Senador da República, homem da maior importância para este País, dando exemplo a essa mocidade de que a vida pública vale a pena.

            V. Exª, Senador Pedro Simon, é uma grande referência e um grande pilar. Quero dizer a V. Exª que não posso deixar de lembrar o grande Pe. Antônio Vieira, neste momento, e dizer uma singela poesia para V. Exª, que diz o seguinte: “O pregar, que é falar, faz-se com a boca; O pregar, que é semear, faz-se com a mão; para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras.”

            E essas, V. Exª fez pelo País e o fará sempre. Meus parabéns a V. Exª, Pedro Simon, grande Senador da República.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/11/2014 - Página 622