Discurso durante a 169ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque à importância do Programa Senado Jovem Brasileiro; e outros assuntos.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO, EDUCAÇÃO. LEGISLAÇÃO PENAL. SAUDE.:
  • Destaque à importância do Programa Senado Jovem Brasileiro; e outros assuntos.
Aparteantes
Kaká Andrade.
Publicação
Publicação no DSF de 19/11/2014 - Página 168
Assunto
Outros > SENADO, EDUCAÇÃO. LEGISLAÇÃO PENAL. SAUDE.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, PROGRAMA, JUVENTUDE, SENADO, REFERENCIA, EDUCAÇÃO, POLITICA, ESTUDANTE, ADOLESCENTE, PAIS, ENFASE, PARTICIPAÇÃO, ALUNO, RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, CARTA, AUTORIA, PARENTE, CRIANÇA, VITIMA, HOMICIDIO, ASSUNTO, PEDIDO, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTOR, ARNALDO FARIA DE SA, DEPUTADO FEDERAL.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, CAMPANHA, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, COMBATE, PREVENÇÃO, CANCER, ORGÃO HUMANO, HOMEM.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Jorge Viana, bom vê-lo aqui presidindo os trabalhos da nossa Casa.

            Eu quero fazer alguns registros, Sr. Presidente.

            Começo falando da importância do evento ocorrido hoje pela manhã, o Programa Jovem Senador, presidido pelo Senador Paulo Davim, que fez uma belíssima reunião que eu chamaria comissão geral aqui, no plenário.

            Sr. Presidente, 27 estudantes de todo o País tomaram posse no dia de hoje, aqui mesmo, neste plenário, como Jovens Senadores e deram inicio aos seus trabalhos legislativos que ocorrerão durante três dias. Nesse período, simulando o exercício de um mandato parlamentar, eles apresentarão e debaterão sugestões legislativas que, se encampadas, como muitas já foram, pelo Parlamento, serão transformadas em lei, se essa for a vontade dos Congressistas.

            Eu tenho muita alegria de ter sido o autor do projeto que criou o Programa Jovem Senador.

            Lá, no meu Rio Grande do Sul, foi classificada a estudante Renata Marques, com quem tive, como o Senador Simon, a oportunidade de falar hoje pela manhã e registrar a sua presença em plenário. Renata Marques escreveu a redação “Parlamento Jovem, um Novo Espaço para a Democracia”. Ela é aluna da Escola Estadual de Ensino Médio Doutor Hector Acosta, de Santana do Livramento (19ª Coordenadoria Regional de Educação).

            O Projeto Jovem Senador 2014 mobilizou, no País inteiro, 103.650 alunos de escolas públicas do ensino médio com até 19 anos. O concurso também mobilizou 3.524 professores orientadores em todo o País.

            A gaúcha Renata Marques foi orientada pela Profª Rose Nery Fernandes da Costa.

            Os primeiros colocados foram escolhidos num universo de 27 redações, uma por unidade da Federação. Os textos passaram por duas seleções: uma na escola e outra na Secretaria de Educação do Estado ou do Distrito Federal. O tema desenvolvido na redação foi “Se eu fosse Senador".

            Parabéns ao Senador Paulo Davim!

            Parabéns ao Senado e a toda a equipe de funcionários que organizam, todo ano, esse belíssimo evento com os Jovens Senadores.

            Parabéns a todos os jovens do Brasil. Parabéns à minha conterrânea, a gaúcha de Santana do Livramento, Renata Marques.

            Sr. Presidente, quero também fazer um outro registro. Nós todos acompanhamos o caso do menino Bernardo, que foi assassinado, covardemente, pela própria madrasta e, dizem, também, com a participação do pai e de uma amiga da madrasta. Eu quero fazer o registro de que uma informação que nos chega dá conta de que, até quinta-feira, dia 13, todos os Senadores da Comissão de Assuntos Especiais receberão uma carta de Jussara Marlene Uglione, avó materna do menino Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, abandonado pelo pai e assassinado, cruelmente, pela madrasta, no mês de abril, lá no Rio Grande do Sul.

            Na carta, a avó, a Srª Jussara, narra as tentativas que fez para denunciar judicialmente o abandono a que o neto vinha sendo submetido e, em seguida, afirma que, se estivesse em vigor a proposta original do PL nº 117/2013, de autoria do nobre Deputado Arnaldo Faria de Sá e de cujo debate nas comissões eu tive a alegria de participar, talvez o neto não tivesse sido torturado e assassinado. A avó do menino Bernardo pede aos Senadores que rejeitem as emendas apresentadas na comissão - e eu, lendo a carta, me comprometi a falar, inclusive, com o Senador Romero Jucá - e aprovem o projeto sem modificações. Lembro que, na quinta-feira, haverá audiência pública sobre o projeto.

            Sr. Presidente, eu solicito que a carta a que me refiro e que tenho cópia aqui, em mãos, seja registrada nos Anais da Casa. É a carta, repito, de Jussara Marlene Uglione, avó materna do menino Bernardo Uglione Boldrini, em conjunto com seus advogados Dr. Marlon Adriano Balbon Taborda e Dra. Jerusa da Cas Biasi, que vêm respeitosamente à presença do Relator apresentar manifestação contra a Emenda nº 1, nos termos em que ela foi apresentada, e pedem aprovação do projeto exatamente como está.

            Quero também, Sr. Presidente, aproveitando os meus últimos cinco minutos, fazer um registro sobre o Novembro Azul.

            Sr. Presidente, um poderoso inimigo tem ceifado a vida de milhares de brasileiros, ano após ano. Alimentado por doses cavalares de desinformação e preconceito, o câncer de próstata avançou ao longo das últimas décadas, mas passa a enfrentar, agora, o seu mais bravo rival: a articulação da nossa sociedade. Graças aos avanços da medicina e das comunicações, é possível, finalmente, formar esforços do Estado e da sociedade civil para levar uma mensagem clara, objetiva e eficaz aos homens do País: o câncer de próstata é uma moléstia grave e letal, mas o seu controle é possível, desde que haja o senso de urgência que hoje eu quero incitar.

            Estou seguro, caros colegas, de que vamos domar as estatísticas, mas admito que os números ainda estejam nos impondo desafios gigantescos. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a doença deve matar, apenas em 2014, cerca de 13 mil brasileiros, Senador Mozarildo - V. Exª, que sempre fala sobre esse tema, pronunciou-se, inclusive, sobre ele ontem -, especialmente homens que adentraram a terceira idade, já que três quartos dos casos acometem indivíduos com mais de 65 anos. O INCA revela, ainda, que esse é o sexto tipo mais comum de câncer no Brasil e o segundo mais freqüente em pacientes do sexo masculino, após os tumores de pele. Para se ter uma última e esclarecedora ideia da magnitude de sua incidência, o Ministério da Saúde informa que, em 2013, foram identificados mais de 60 mil novos casos de câncer de próstata no País.

            Diante de tais informações, a tendência de qualquer analista mais apressado seria a de se resignar, de jogar a toalha. Não é o que faremos, com certeza! Acontece que, se por um lado, o câncer de próstata pode ser fatídico, por outro lado, a sua detecção precoce garante índices de cura bem superiores aos de outros que atingem a nossa população.

            Assim, não é exagero dizer que para os que são vítimas desse mal a diferença entre a vida e a morte reside no momento em que é diagnosticado o problema. E esse diagnóstico, tão decisivo, pode ser feito de duas maneiras: por meio de exame laboratorial e por intermédio de exame físico, o exame do toque.

            No primeiro caso, verifica-se a dosagem do PSA no sangue. Trata-se da substância produzida pelas células da glândula prostática, cujo quantitativo aumenta desordenadamente com a incidência da doença.

            Por sua vez, o exame físico é feito por meio do toque retal. Historicamente, era aconselhada a realização de um exame anual desse tipo para todos os homens com mais de 40 anos de idade. Esse limiar foi revisto em estudos científicos internacionais e, por isso, atualmente, a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que os exames de toque sejam conduzidos em homens com mais de 50 anos...

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) -...ressalvando-se os casos em que haja histórico da doença na família, quando se recomenda a visita periódica ao urologista já a partir do 45 anos.

            A eficaz conjugação dos dois métodos é vista pelos especialistas como essencial para a descoberta prematura do câncer e o seu consequente controle. Segundo o Prof. Mário Elias de Mattos, da Faculdade de Medicina do ABC, "cerca de 15% dos tumores de próstata não produzem PSA, sendo, inclusive, os mais agressivos". E aí o exame de toque é fundamental. Tal estatística comprova que o exame clínico, ainda que realizado sob elevado rigor técnico, não é capaz de trazer à tona todas as anomalias. Essa segurança somente é obtida com a combinação dos dois métodos.

            Ocorre que uma incompreensível desatenção para com a doença aliada à atrasada e preconceituosa resistência ao exame do toque ainda mantêm milhões de brasileiros maduros distantes da rotina da avaliação que pode lhes salvar a vida. Apesar de se tratar de um procedimento simples, que dura menos de um minuto, o toque retal é erroneamente encarado por muitos como agressivo. Ainda pior do que esse desconhecimento em relação ao processo é o mito sexista de alguns supostos efeitos colaterais. Por incrível que pareça, Sr. Presidente, ainda há quem acredite que o indivíduo que se submete ao exame do toque esteja sujeito à perda de virilidade ou à contestação de sua masculinidade.

            É por tudo isso que levantar o nível de consciência coletiva me parece fundamental.

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - E, nessa batalha, a informação é vista pelas autoridades como a mais poderosa das armas: informar para esclarecer.

            Vou passar, em seguida, para V. Exª, Senador Kaká.

            Somente com a desconstrução de alguns desses mitos, a compreensão do valor da profilaxia e a disseminação de conceitos relevantes é que poderemos diminuir as taxas de mortalidade associadas ao câncer de próstata no Brasil.

            Nesse sentido, iniciativas como esta do Novembro Azul, contrapartida feliz e oportuna ao Outubro Rosa das mulheres, soam como boas-novas. Tal qual a sua fonte de inspiração, o Novembro Azul é um conjunto de ações que visa chamar a atenção dos homens sobre o autocuidado e, em especial, sobre a importância do diagnóstico precoce da doença. No rol das medidas...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - ... contempladas nesse período, destacam-se a promoção de palestras em empresas, a realização de eventos de massa nos quais haverá distribuição de material informativo e a iluminação de monumentos e pontos turísticos de todo o País na cor azul: é uma forma de chamar a atenção para esse câncer que atinge os homens principalmente nesse caso.

            Senador Kaká Andrade, por gentileza, o seu aparte.

            O Sr. Kaká Andrade (Bloco Apoio Governo/PDT - SE) - Gostaria de parabenizá-lo, Senador Paim, por colocar esse tema. Na verdade, o câncer de próstata..., eu mesmo já perdi vários amigos e pais de amigos meus exatamente pela questão do preconceito de fazer o exame, que, efetivamente, faz a detecção do câncer em estágio que ainda possa ser curado, sem aquelas sequelas que a cirurgia, altamente invasiva e que, muitas vezes, deixa o homem impotente e uma série de coisas... É preciso que haja, em nível de Governo, nos diversos níveis do Governo, campanhas publicitárias...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Kaká Andrade (Bloco Apoio Governo/PDT - SE) - ... em massa, para retirar, para tentar minimizar esse preconceito que existe. E é importante, acima de tudo, incentivar as companheiras, esposas, namoradas e filhas, porque elas é que podem encorajá-los. Muitas vezes, o homem tem vergonha de ir ao médico por causa do exame de toque... Quando as companheiras passarem, também, a fazer isso - a levar seus pais, esposos, namorados -, acho que essa questão vai ser desmistificada, e o homem passará, efetivamente, a adotá-lo na sua rotina, porque saberá que, para salvar a vida, tem que, quando chegar a uma determinada idade, passar por esse exame. Como já bem informado, o homem não deixa de ser homem, continua sendo homem e, acima de tudo, salva sua vida. Muito obrigado e parabéns pelo tema.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Sr. Presidente, o meu pronunciamento é longo, claro, mas eu entendo e já pulei...

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - ... uma dúzia de páginas. Vou só para a última página, dizendo que, assim, parece-me ser essa ampla campanha que o mundo faz, além de um caminho suave, bonito e eficiente para o enfrentamento dessa chaga, um instigante modelo em que a mobilização coletiva tende a gerar conquistas plurais, salvando milhares e milhares de vidas, como colocou bem o Senador Kaká. Quem sabe não estejamos tratando da origem de uma forma de relacionamento entre os cidadãos e as instâncias de poder no País? Ou seja, o movimento social e popular pressiona o Estado e o Governo para que faça campanhas que aumente a consciência de todos os brasileiros.

            Enfim, Sr. Presidente, termino dizendo que, se formos felizes no combate ao…

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - … câncer de próstata, ao câncer de mama e a outras doenças que têm provocado uma resposta conjunta do Estado e dos cidadãos, poderemos replicar estas experiências em outros campos da nossa vida, fazendo, assim, uma parceria com a Administração Pública, salvando a vida de muita gente.

            Assim, Sr. Presidente, caros colegas, pelo que podemos descrever, não é só o mês de novembro que está tingindo de tons celestes o nosso País. Creio que, para todos os que estão encampando esta luta, o horizonte será mais bonito, será mais azul. E viva a vida!

            Sr. Presidente, só peço que considere na íntegra o meu pronunciamento.

 

SEGUEM, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTOS DO SR. SENADOR PAULO PAIM

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vinte e sete estudantes de todo o país tomaram posse no dia de hoje (18), aqui mesmo neste Plenário, como 'jovens senadores' e deram inicio aos seus trabalhos legislativos que ocorrerão durante três dias.

            Nesse período, simulando o exercício de um mandato parlamentar, eles apresentarão e debaterão sugestões legislativas que, se encampadas por um parlamentar, podem se transformar em projetos de lei reais.

            Lá do meu Rio Grande do Sul, foi classificada a estudante Renata Marques que escreveu a redação "Parlamento Jovem, um Novo Espaço para a Democracia"

             Ela é aluna da Escola Estadual de Ensino Médio Doutor Hector Acosta, de Santana do Livramento (Décima Nona Coordenadoria Regional de Educação - CRE).

            O Projeto Jovem Senador 2014 mobilizou no país inteiro 103.650 alunos de escolas públicas do Ensino Médio com até 19 anos.

            O concurso também mobilizou 3.524 professores-orientadores em todo o Brasil.

            A gaúcha Renata Marques foi orientada pela professora Rose Nery Fernandes da Costa.

            Os primeiros colocados foram escolhidos num universo de 27 redações, uma por unidade da Federação.

            Os textos passaram por duas seleções:

            Uma na escola e outra na Secretaria de Educação do Estado e do Distrito Federal. O tema a ser desenvolvido na redação foi “Se eu fosse senador"

            Parabéns a Parabéns a todos os jovens estudantes, minha conterrânea, gaúcha de Santana do Livramento, Renata Marques.

            Era o que tinha a dizer.

 

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, informações da imprensa dão conta de que até quinta-feira, dia 13, todos os senadores da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) receberão uma carta da senhora

            Jussara Marlene Uglione, avó materna do menino Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, abandonado pelo pai e assassinado cruelmente pela madrasta, no mês de abril, no Rio Grande do Sul.

            Na carta, a senhora Jussara narra as tentativas que fez para denunciar judicialmente o abandono a que o neto vinha sendo submetido e, em seguida, afirma que se, a proposta original do PL 117/2013 (guarda compartilhada) estivesse em vigor, talvez o neto não teria sido torturado e morto pela madrasta.

            A avó do menino Bernardo pede aos senadores que rejeitem uma emenda apresentada pelo senador Romero Jucá e aprovem o projeto sem modificações. Lembro que na quinta-feira haverá audiência pública na CAS sobre o projeto.

            Sr. Presidente, solicito que a carta que me refiro, e que tenho cópia aqui em minhas mãos, seja registrado nos anais desta Casa.

            Era o que tinha a dizer.

 

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, um poderoso inimigo tem ceifado a vida de milhares de brasileiros, ano após ano.

            Alimentado por doses cavalares de desinformação e preconceito, o câncer de próstata avançou ao longo das últimas décadas, mas passa a enfrentar, agora, o seu mais bravo rival: a articulação da nossa sociedade.

            Graças aos avanços da medicina e das comunicações, é possível, finalmente, formar esforços do Estado e da sociedade civil para levar uma mensagem clara, objetiva e eficaz aos homens do Brasil: o câncer de próstata é uma moléstia grave e letal, mas o seu controle é possível! Desde que haja o senso de urgência que hoje eu quero incitar.

            Estou seguro, caros colegas, de que vamos domar as estatísticas, mas admito que os números ainda estão nos impondo desafios gigantescos.

            Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a doença deve matar, apenas em 2014, cerca de 13 mil brasileiros, especialmente homens que adentraram a terceira idade, já que três quartos dos casos acometem indivíduos com mais de 65 anos.

            O INCA revela, ainda, que este é o sexto tipo mais comum de câncer no Brasil, e o segundo mais freqüente em pacientes do sexo masculino, após os tumores de pele.

            Para se ter uma última e esclarecedora idéia da magnitude de sua incidência, o Ministério da Saúde informa que em 2013 foram identificados mais de 60 mil novos casos no País.

            Diante de tais informações, a tendência de qualquer analista mais apressado seria a de resignar-se,

            Acontece que, se por um lado, o câncer de próstata pode ser fatídico, por outro, a sua detecção precoce garante índices de cura bem superiores aos de outras neoplasias.

            Assim, não é exagero dizer que para os que são vítimas desse mal, a diferença entre a vida e a morte reside no momento em que se diagnostica o problema.

            E esse diagnóstico tão decisivo pode ser feito de duas maneiras: por meio de exame laboratorial e por intermédio de exame físico.

            No primeiro caso, verifica-se a dosagem de PSA no sangue. Trata-se da substância produzida pelas células da glândula prostática cujo quantitativo aumenta desordenadamente, com a incidência da doença.

            Por sua vez, o exame físico é feito por meio do toque retal. Historicamente, era aconselhada a realização de um exame anual desse tipo para todos os homens com mais de quarenta anos de idade.

            Esse limiar foi revisto em estudos científicos internacionais e, por isso, atualmente, a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que os exames de toque sejam conduzidos em homens com mais de cinqüenta anos, ressalvando-se os casos em que haja histórico da doença na família, quando se recomenda a visita periódica ao urologista já a partir do 45° aniversário.

            A eficaz conjugação dos dois métodos é vista, pelos especialistas, como essencial para a descoberta prematura do câncer e o seu conseqüente controle.

            Segundo o professor da Faculdade de Medicina do ABC, Mário Elias de Matos, "cerca de 15% dos tumores de próstata não produzem PSA, sendo, inclusive, os mais agressivos",

            Tal estatística comprova que o exame clínico, ainda que realizado sob elevado rigor técnico, não é capaz de trazer à tona todas as anomalias.

            segurança somente é obtida com a combinação das duas metodologias.

            Ocorre que uma incompreensível desatenção para com a doença, aliada à atrasada e preconceituosa resistência ao exame do toque, ainda mantêm milhões de brasileiros maduros distantes da rotina de avaliações que pode predizer o problema e preservar a vida de tantos cidadãos.

            Apesar de se tratar de um procedimento relativamente simples, que dura menos de um minuto, o toque retal é erroneamente encarado por muitos como agressivo.

            Ainda pior do que esse desconhecimento em relação ao processo é o mito sexista de alguns supostos efeitos colaterais.

            Por incrível que pareça, Sr. Presidente, ainda há quem acredite que o indivíduo que se submete ao exame do toque esteja sujeito à perda de virilidade ou à contestação de sua masculinidade.

            É por tudo isso que levantar o nível de consciência coletiva me parece tão crucial. E nessa batalha, a informação é vista pelas autoridades como a mais poderosa das armas.

            Somente com a desconstrução de alguns desses mitos, a compreensão do valor da profilaxia e a disseminação de conceitos relevantes é que poderemos diminuir as taxas de mortalidade associadas ao câncer de próstata no Brasil.

            Nesse sentido, iniciativas como a do Novembro Azul; contrapartida feliz e oportuna ao Outubro Rosa, soam como boas novas.

            Tal qual a sua fonte de inspiração, o Novembro Azul é um conjunto de ações que visa a chamar a atenção dos homens sobre o autocuidado e, em especial, sobre a importância do diagnóstico precoce da doença.

            No rol de medidas contempladas nesse período, destacam-se a promoção de palestras em empresas, a realização de eventos de massa nos quais haverá distribuição de material informativo, a iluminação de monumentos e pontos turísticos de todo o País na cor azul e a organização de mutirões de exames.

            Na esteira do que acontece em outras nações, há, também, a adoção, por várias instituições, de um simpático símbolo para a campanha, o Bigode Azul.

            Aliás, é necessário lembrar que os esforços brasileiros se somam àqueles conduzidos internacionalmente, desde 2003.

            Naquele ano surgiu, na Austrália; em alusão ao Dia Mundial do Combate ao Câncer de Próstata que se celebra em 17 de novembro, o movimento Movember, cujo objetivo primordial é realçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata e outras doenças masculinas.

            O movimento tem ganhado destaque e, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), já são mais de cem os países que adotam algum tipo de ação atinente à data.

            Srªs e Srs. Senadores, o que o mundo inteiro está expressando e que cumpre a mim dar voz, neste instante, é que se a indiferença com que grande parte dos homens encara o câncer de próstata não se transformar em conscientização, muitos recursos públicos continuarão a ser desnecessariamente despendidos, inúmeras vidas serão futilmente desperdiçadas e o tecido social será irremediavelmente desfiado.

            Do ponto de vista dos poderes públicos, portanto, nada pode fazer mais sentido do que investir em medidas profiláticas que, para serem eficazes, precisam ser constantes.

            Da mesma maneira, o instinto de preservação deve mover indivíduos e coletividade no sentido de propalar as práticas e os conceitos que hão de evitar sofrimento no futuro.

            Por tudo isso, ao passo em que enaltecemos o Novembro Azul, lembramos que ele não pode se constituir em um esforço de episódios.

            Pelo contrário! As ações destes trinta dias devem ser tidas como uma grande vitrine para o trabalho que precisa ser diuturno e que, por vezes, será silente e abnegado.

            Como exemplificação da luta de toda a sociedade; que deve perdurar o ano inteiro, o Novembro Azul precisa ser entendido como um meio e, não, como um fim em si mesmo.

            E como instrumento de difusão dessas idéias, ele tem tudo para ser um meio bastante eficiente.

            O senso de urgência; que eu repito ser indispensável nesta batalha, só consegue ser abraçado por todos quando há uma compreensão plena daquilo que está envolvido.

            E, obviamente, tal compreensão decorre, antes de mais nada, das pessoas tomarem ciência do problema. O Novembro Azul é o canal pelo qual muitos brasileiros conhecerão esse tema.

            Desse primeiro contato, há de emergir, então, uma consciência coletiva acerca dos desafios impostos pelo câncer de próstata ao País.

            E, dessa mesma centelha, espero que surja o combustível para um compromisso geral, no qual sejam priorizados ações preventivas e esforços educativos, em oposição à ultrapassada postura de se 'aguardar' pela doença, ocasião em que a solução se dá por meio de tratamentos caros, tormentosos e, por vezes, infrutíferos.

            A equação que possui como variáveis governos mais proativos e uma população mais bem informada e vigilante certamente resultará na diminuição gradual dos números da doença.

            Menos vítimas fatais, maior celeridade no tratamento e ganhos de qualidade de vida para os pacientes são o saldo esperado dessa conjunção de esforços, sob a ótica dos indivíduos.

            Da parte do poder público, espera-se sensível economia de tempo e recursos.

            Apesar da indisfarçável confiança de que toda essa articulação venha a resultar em incontáveis conquistas para os envolvidos, tenho consciência de que ainda subsistem grandes obstáculos a serem superados.

            Mas esse parece ser, além de um caminho suave e eficiente para o enfrentamento dessa chaga no Brasil, um instigante modelo em que a mobilização coletiva tende a gerar conquistas plurais.

            Quem sabe não estejamos tratando da origem de uma nova forma de relacionamento entre os cidadãos e as instâncias de poder no País?

            Se formos felizes no combate ao câncer de próstata, ao câncer de mama e a outras doenças que têm provocado uma resposta conjunta do Estado e dos cidadãos, poderemos replicar estas experiências em outros campos da administração pública.

            Sr. Presidente, é por acreditar na capacidade de organização da nossa sociedade, na contínua melhoria dos procedimentos de saúde pública brasileira percebida ao longo dos últimos anos na compreensão quase unânime de que o problema é de todos e é urgente, que eu aposto que a luta contra o câncer de próstata será, dentro em breve, uma referência de sucesso.

            Assim, caros colegas, pelo que podemos entrever, não é só o mês de novembro que está tingido de tons celestes.

            Creio que, para todos os que estão encampando esta luta, o horizonte será mais azul.

            Era o que tinha a dizer.

 

DOCUMENTO ENCAMINHADO PELO SR. SENADOR PAULO PAIM EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matéria referida:

- Carta da avó do menino Bernardo enviada ao Senador Romero Jucá e demais Senadores da Comissão de Assuntos Sociais.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/11/2014 - Página 168