Pronunciamento de Pedro Simon em 18/11/2014
Discurso durante a 169ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Considerações sobre os escândalos de corrupção na Petrobras; e outros assuntos.
- Autor
- Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
- Nome completo: Pedro Jorge Simon
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CONGRESSO NACIONAL.:
- Considerações sobre os escândalos de corrupção na Petrobras; e outros assuntos.
- Aparteantes
- Casildo Maldaner, Eduardo Suplicy.
- Publicação
- Publicação no DSF de 19/11/2014 - Página 202
- Assunto
- Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CONGRESSO NACIONAL.
- Indexação
-
- COMENTARIO, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), REGISTRO, APROVAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, REALIZAÇÃO, ACAREAÇÃO, EX-DIRETOR, EMPRESA ESTATAL.
O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Meu prezado Presidente, Srªs e Srs. Senadores, volto aqui, e é a quinta vez que venho tratar da mesma matéria. Sinceramente, eu fico a pensar, aonde nós vamos chegar. Esta, sinceramente, de o Sr. Cerveró:
Depois das prisões de Paulo Roberto Costa e Renato Duque, o próximo diretor [...] a colocar as barbas de molho é [...] Nestor Cerveró. [Essa é a notícia.]
Além de ter seu nome citado nas delações premiadas por relacionar-se com o lobista Fernando Baiano, Cerveró terá que se defender no âmbito da CGU. A defesa de Cerveró foi comunicada este mês de uma nova investigação aberta em Brasília.
A CGU questiona dois pontos: movimentações financeiras atípicas de Cerveró [...] e a compra de uma casa na Região Serrana por 100 000 reais, e a posterior venda [dessa mesma casa] por 850.000 reais. A defesa de Cerveró afirma ter argumento para todos os questionamentos. [Prestem atenção, meus irmãos.]
A defesa de Cerveró partiu para uma estratégia que, de tão ousada, parece quase impossível de prosperar. Silenciosamente, entrou com uma ação na Comissão de Ética Pública da Presidência [da República] transferindo a responsabilidade pela compra da refinaria de Pasadena para [a Senhora] Dilma Rousseff.
Para a defesa de Cerveró, se houve gestão temerária na Petrobras, cabe [...] [à Presidência da República] - ex-presidente do Conselho de Administração [ex-Ministra de Minas e Energia, atual Presidente da República] [...].
Ora, Sr. Presidente, ninguém da oposição, ninguém em sã consciência imaginaria entrar com uma proposta desse cabimento. Uma notícia dessa, correndo o mundo... Como fica a Petrobras, como ficamos nós, brasileiros, nesse sentido?
Isso mostra em que grau o entendimento, o relacionamento, o diálogo entre as pessoas está neste momento. Eu diria o grau de alucinação e da angústia que, neste momento, há nas lides governamentais.
O Sr. Cerveró sabe que vem uma ducha de argumentações contra ele. É muito simples: entra com uma ação no Conselho de Ética contra a Presidente da República. A responsabilidade é dela, ela era a Presidente, ela era a Presidente do Conselho, ela era a Secretária de Minas e Energia.
Isso mostra, Sr. Presidente, que se nós não tomarmos providência, se nós não entendermos a nossa responsabilidade, eu não sei aonde iremos chegar.
Eu fui o primeiro a falar, ontem, nesse assunto e, lá do gabinete, acompanhei o longo debate de um Líder do PSDB com tantos e tantos Parlamentares aqui.
Interessante como a defesa do Governo agora é diferente. Interessante como agora se analisa de uma forma absolutamente diferente. Agora se sabe que o problema existe, que ele é real e que nós vamos ter de enfrentá-lo.
A Presidência da Petrobras, hoje, entrou com ação civil contra o ex-Presidente da Petrobras, o Sr. Gabrielli.
O Conselho de Administração da Petrobras decidiu [...] encaminhar pedido de abertura de ação contra 15 funcionários - incluindo José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da estatal, e Nestor Cerveró, o ex-diretor da área internacional, além de dois estrangeiros.
A decisão é devido à polêmica compra em 2006 da refinaria de Pasadena, no Texas, responsável por um prejuízo de US$792,3 milhões.
Outra notícia também importante é a que saiu hoje:
A Polícia Federal encontrou indícios de que os pagamentos de propinas revelados pela Operação Lava Jato continuam sendo feitos na Petrobras. Relatório da última etapa da investigação diz que o esquema “apresenta continuidade mesmo após a demissão do então diretor Paulo Roberto Costa” e “assola o país de Norte a Sul até os dias atuais”.
A PF vai apurar pagamentos feitos pelas empreiteiras ao doleiro Alberto Youssef já em 2014 para encontrar obras em que pode ter havido propina.
Outra notícia da maior importância: “Ao ouvir depoimentos de Paulo Roberto e Youssef, os policiais concluíram que o esquema ‘vai muito além das obras contratadas pela Petrobras’ e atinge outras áreas...’”
Além da Petrobras, são vários outros os setores que estão contaminados pela mesma equipe.
“Essas empresas tinham interesse em outros ministérios capitaneados por partidos. Se você cria um problema de um lado, pode criar um problema do outro. Então, no meu tempo lá, eu não me lembro de ter nenhuma empresa deixado de pagar”, declarou Paulo Roberto.
Diz o Sr. Paulo Roberto, na sua manifestação, que não se lembra de ter nenhuma empresa deixado de pagar.
Meu Deus, mas está escrito aqui: “As empresas investigadas por participar do esquema doaram dinheiro para 12 dos 32 Deputados da CPI que apura irregularidades na Petrobras na campanha deste ano”. Acho que uma afirmativa que nem essa tem que ter resposta. Ela atinge esta Casa, atinge a CPI, atinge 12 dos 32 membros da CPI!
Corre à boca pequena, pelas ruas de Brasília, que o Jornal Nacional já vai trazer, hoje, a primeira lista de políticos que estariam comprometidos no esquema da Petrobras.
Mas essa afirmativa do Sr. Paulo Roberto de que 12 dos 32 Deputados da CPI receberam dinheiro da doação dos empreiteiros realmente é séria.
Contribuíram ainda com outros sete líderes partidários, da base aliada e da oposição, que também participam de reuniões da comissão. As doações somam R$3,9 milhões”.
Esta nota realmente é importante. Ela soma de uma maneira estranha nesta Casa. Nós já fizemos muitas queixas de como são os nossos presídios, da maneira como vivem os nossos presidiários, mas agora vem a notícia: “Os executivos das empreiteiras que prestaram depoimento no fim de semana - e estão presos e, muitas vezes, dormindo em colchões no chão - disseram receber salário de até R$3 milhões por ano”.
Esse realmente é um fato novo. Eu dizia, desta tribuna, muitas vezes, que, no Brasil, só vai para cadeia ladrão de galinha; agora a informação é que executivos que ganham R$3 milhões por ano estão dormindo no chão, em colchão, sem cama.
Eu não sei, mas eu volto a repetir: alguma coisa deve ser feita. As informações que correm e o debate que existe é no sentido de que são várias as zonas, são vários os setores atingidos por essa realidade.
Eu fico a me perguntar: dramático fim de Governo? Sim. Mas eu continuo a me perguntar: e como constituir um novo Governo com essa mesma matéria-prima, com essa gente, com esse espírito e com essa realidade?
Olha, eu não vi, na minha longa vida pública, uma situação tão dramática e tão cruel como esta da nossa Presidenta.
A Presidenta Dilma vem aqui e vai ter que se defender. Mais do que se defender - porque acho que é uma defesa quase impossível -, ela vai ter de tomar providências no sentido de que se altere essa realidade, que busque um rumo, que busque uma determinação que entenda que isso acabou e que a empresa continue sobrevivendo.
(Soa a campainha.)
O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - E a Presidente Dilma vai ter que escolher o Governo, vai ter que montar um governo neste País, com esses 28 partidos que têm representação na Câmara e com a realidade que aí está.
Olha, se Jesus Cristo, quando passou pela Terra, escolheu 12 e errou no que tinha que ter mais certeza, que foi Judas Iscariotes, o Ministro da Fazenda dele, o que cuidava do dinheiro, se escolheu mal, como ficará a situação da Presidente Dilma ao escolher os membros do seu Governo?
Todos nós recebemos com respeito a sua indicação da atual dirigente. Infelizmente, acho difícil ela ficar. As acusações feitas existem, mas o que acho mais sério é que, quando saiu a notícia de que seria pedido bloqueio dos bens dos membros da diretoria da Petrobras, no dia anterior ao bloqueio, ela passou todos os bens para seus filhos. Uma decisão ilógica para quem não tem nada a temer.
O Presidente Lula seja talvez o maior responsável que temos hoje com relação ao futuro. Acho que o Presidente Lula, em vez de forçar ou tentar fazer a construção de um ministério ao seu prazer, da maneira que ele acha, deve prestigiar a Presidenta para que ela possa escolher um governo com o qual possa governar e possa começar a readquirir, se possível, tomara que seja, a confiança do País.
Eu não vi uma situação que nem esta.
Pois não.
(Soa a campainha.)
O Sr. Casildo Maldaner (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Senador Pedro Simon, eu nunca me esqueço de V. Exª nos anos 90, quando houve aquela Operação Mãos Limpas na Itália, aquelas transformações que V. Exª abordava muito aqui, no Senado. V. Exª trazia isso. Quando vejo V. Exª falar agora dos dramas que estamos a viver no Brasil, parece que é o momento também para isso, até em vez de criar uma diretoria para controlar essas questões de transparência e tal, no caso do Petrobras. Não sei se é isso. Não sei, não sei. Eu não sei até se a própria Graça Foster se entregasse, se ela se imolasse para uma transformação, uma transparência de novos momentos, de um novo Brasil, de sacudirmos isso, como V. Exª diz, para começar algo republicano, transparente... Sei que cortar na própria carne dói, mas, se for pelo bem de todos, pelo bem da transparência, pelo bem da Nação, para voltar uma credibilidade ao Brasil - o mundo está de olho em nós -, até para que a Presidente mais descansada comece o novo mandato, com mais um pouco de tranquilidade, para sair um pouco desse Golfo Pérsico... Espero que este momento, este novembro, esta novembrada que estamos a viver, seja um novo limiar. V. Exª, Senador Pedro, para nós é uma pedra, uma rocha. E, como Cristo disse, como está na Bíblia em relação ao outro Pedro, sobre o qual se edificou a força da própria Igreja, V. Exª está pregando aqui nos últimos tempos. Eu sei que V. Exª pensa nisto, nos fundamentos para começar um novo mandato, um novo exercício, com mais tranquilidade para o Brasil, também para que o mundo venha para cá e diga que aqui há transparência e credibilidade, que dá para apostar. Acho que é isso que V. Exª pensa. Eu sei, a gente vê, a gente acompanha. Acho que esse seria o melhor caminho para todos nós.
O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado a V. Exª. Muito obrigado.
Faço questão de ler aqui...
(Soa a campainha.)
O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - ...o que foi publicado na Folha de S.Paulo. Frei Betto diz: “PT despolitizou País nestes 12 anos.”
Diz ainda Frei Betto:
A disputa presidencial se resumiu em um verbo predominante na campanha: desconstruir. Em 12 anos de Governo, o PT construiu, sim, um Brasil melhor, com índices sociais “nunca vistos antes na história deste País”. Porém, como partido, houve progressiva desconstrução.
A história do PT tem seu resumo emblemático na fábula “A cigarra e a formiga”, de Esopo, popularizada por La Fontaine. Nas décadas de 80 e 90, o partido se fortaleceu com filiados e militantes trabalhando como formigas na base social...
(Interrupção do som.)
O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) -
...obtendo expressiva capilaridade nacional graças às Comunidades Eclesiais de Base (Fora do microfone.), ao sindicalismo, aos movimentos sociais, respaldados por remanescentes de esquerda da antiditadura e intelectuais renomados.
No fundo dos quintais, havia núcleos de base. Incutia-se na militância formação política, princípios ideológicos e metas programáticas. O PT se destacava como o partido da ética, dos pobres e da opção pelo socialismo. À medida que alcançou funções de poder, o PT deixou de valorizar o trabalho da formiga e passou a entoar o canto presunçoso da cigarra.
O projeto de Brasil cedeu lugar a um projeto de poder. O caixa do partido, antes abastecido por [milhares de] militantes, “profissionalizou-se”. Os núcleos de base desapareceram. E os princípios éticos foram maculados pela minoria de líderes envolvidos em maracutaias.
Agora, a cigarra está assustada. Seu canto já não é afinado nem ecoa com tanta credibilidade.
Decresceu o número de sua bancada no Congresso Nacional. A proximidade do inverno é uma ameaça.
Mas onde está a formiga com suas provisões?
Em 12 anos, os êxitos de políticas sociais e diplomacia independente não foram consolidados pela proposta originária do PT: “organizar a classe trabalhadora” e os excluídos.
Os avanços socioeconômicos coincidiram com o retrocesso político. Em 12 anos de governo, o PT despolitizou a nação. Preferiu assegurar governabilidade...
(Interrupção do som.)
O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) -
... com alianças partidárias, muitas delas espúrias, em vez de estreitar laços com seu esteio de origem, os movimentos sociais (Fora do microfone.).
Tomara que Dilma cumpra sua promessa de campanha de avançar nesse quesito, sobretudo no que diz respeito ao diálogo permanente com a juventude, os sem-terra e os sem-teto, os povos indígenas e os quilombolas.
O PT até agora robusteceu o mercado financeiro e deu passos tímidos na reforma agrária.
Agradou as empreiteiras e pouco fez pelos atingidos por barragens.
Respaldou o agronegócio e aprovou um Código Florestal aplaudido por quem desmata e agride o meio ambiente.
É injusto e ingênuo pôr a culpa da apertada e sofrida vitória do PT nas eleições de 2014 no desempenho de Dilma.
Se o PT pretende se refundar, terá que abandonar a postura altiva de cigarra e voltar a pisar no chão duro do povo brasileiro, esse imenso formigueiro que, hoje, tem mais acesso a bens materiais, como carro e telefone celular, mas nem tanto a bens espirituais: consciência crítica, organização política e compromisso com a conquista de “outros mundos possíveis”.
Recebo uma informação aqui, Sr. Presidente, e acho que é importante que eu a leia: “CPI Mista da Petrobras aprova acareação entre Cerveró e Paulo Roberto Costa”. Que bom! Na hora em que sai uma notícia dizendo que 12 dos 30 membros recebem dinheiro das empreiteiras, a CPI vem com essa notícia positiva.
A CPI Mista da Petrobras aprovou nesta terça-feira (18) a realização de acareação entre os ex-diretores...
(Interrupção do som.)
(Soa a campainha.)
O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) -
... da estatal Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa. O autor do requerimento (Fora do microfone.), Deputado Enio Bacci (PDT-RS), argumentou que, em depoimento à Polícia Federal, Costa fez diversas acusações contra Cerveró.
Ainda será definida data para a acareação.
Quando foi ouvido pela CPI mista, em setembro, Cerveró refutou qualquer envolvimento em caso de corrupção na Petrobras. Disse também desconhecer qualquer participação direta de Paulo Roberto Costa nos acertos empresariais para a compra da refinaria de Pasadena (EUA). Por isso, Bacci considera essencial colocar um diante do outro, numa tentativa de esclarecer as dúvidas sobre os fatos investigados.
- Por que não colocá-los frente a frente? Isso não é o momento de fazer economia. Não vem com discurso que trazer alguém aqui é gastar dinheiro público - argumentou o deputado.
O Senador José Pimentel (PT - CE) lembrou que Paulo Roberto Costa já esteve no Congresso e evocou o direito de ficar calado. Avaliou, por isso, que a acareação não produzirá resultados.
- Para gerar matéria para a imprensa, não precisamos...
(Soa a campainha.)
O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) -
...gastar dinheiro público para trazer gente com delação premiada já firmada - afirmou Pimentel.
Com todo o respeito ao Senador Pimentel, fico com a decisão da Comissão.
Eu já termino, Sr. Presidente. Afinal, serão quase cinco horas até que saia o Jornal Nacional com o noticiário, para vermos o que pode acontecer. Até lá falamos à vontade. Mas aconselho todos aqui a assistirem ao Jornal Nacional. Parece-me que há um novo capítulo.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Se V. Exª me permite, Senador Pedro Simon, apenas quero dizer que, ainda na semana passada, eu li o artigo do Frei Betto “A Cigarra e a Formiga” e considero que se trata de uma reflexão importante para todos nós do Partido dos Trabalhadores. Muito obrigado.
O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado a V. Exª, Sr. Presidente.