Pela Liderança durante a 169ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do Sr. Adib Jatene.

Autor
Paulo Davim (PV - Partido Verde/RN)
Nome completo: Paulo Roberto Davim
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Pesar pelo falecimento do Sr. Adib Jatene.
Publicação
Publicação no DSF de 19/11/2014 - Página 255
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ADIB JATENE, MEDICO, EX MINISTRO, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. PAULO DAVIM (Bloco Maioria/PV - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Eduardo Suplicy, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, todos que nos assistem pela TV Senado e que nos escutam pela Rádio Senado, o Brasil perdeu, na sexta-feira passada, o médico-cirurgião cardíaco, pesquisador e cientista Professor Adib Jatene, um dos homens mais brilhantes na atividade médica que o Brasil já teve e que servirá de exemplo e inspiração para todas as gerações vindouras dos que abraçarem o ofício de salvar vidas. Ministro por duas vezes e Secretário de Saúde outras tantas, Adib Jatene foi pioneiro na cirurgia cardíaca no Brasil e, por ironia do destino, morreu de um infarto agudo no miocárdio aos 85 anos.

            Filho de um seringueiro e de uma dona de casa, nascido em Xapuri, no Acre, cursou Medicina na Universidade de São Paulo e era habilidoso no tratamento dos corações, além de um grande pesquisador na área cardiológica. Foi ele um dos primeiros no Brasil a fazer uma cirurgia de ponte de safena, e o seu trabalho em cirurgia cardíaca em crianças foi tão precursor que seu nome batizou uma técnica cirúrgica mundialmente conhecida. Em toda sua vida de trabalho chegou a realizar mais de 20 mil cirurgias. Quando foi professor em Uberaba, Minas Gerais - primeira cidade para onde seus pais se mudaram quando saíram do Acre antes de irem para São Paulo -, o Professor Adib Jatene lecionou a disciplina de Anatomia Topográfica na Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro e lá construiu seu primeiro modelo de coração-pulmão artificial. Aliás, ele era também um engenhoso artífice em materiais e equipamentos que pudessem auxiliar o tratamento cardíaco.

            Quem o conheceu sabia que estava diante de um humanista. Gostava de ser chamado de professor, como era com maestria. Mas, além de ensinar técnicas cirúrgicas, o Dr. Adib Jatene nos ensinava a ser gente. Certa vez, ele disse numa entrevista que o País deveria, sim, olhar para a produtividade, mas muito mais importante do que isso era olharmos para as pessoas e fazer algo de bom para elas. Enquanto gestor público, na função de Ministro do então Presidente Fernando Henrique Cardoso, o Dr. Adib Jatene foi o "pai" da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), o imposto que levou mais recursos para a saúde - angustiado que estava na pasta quando se deparou com a escassez de recursos. E aos Srs. Senadores e às Srªs Senadoras, falando como médico - no momento, aqui estou no Senado, exercendo o mandato de Senador da República -, digo, com propriedade, que esta vem sendo uma das nossas principais bandeiras de luta anos a fio na política brasileira: conduzir mais recursos para a saúde pública. E ele, também como pioneiro, percebeu essa necessidade.

            O Dr. Adib me contou certa vez que, quando era Ministro da Saúde, se deparou com a escassez franciscana de recursos e chegou à conclusão de que não conseguiria implementar o que trazia na cabeça no Ministério da Saúde. Ficou irrequieto, inconformado, até que concebeu modelo de captação de mais recursos para a pasta - que viria a ser a CPMF. Procurou o então Ministro Serra, que tinha muito apreço e muito respeito pelo Dr. Adib, e o Ministro teria dito que, apesar de discordar da ideia, não mexeria nenhuma palha para prejudicar o seu trabalho e as suas pretensões. E o Dr. Adib veio para o Congresso Nacional, veio em busca do convencimento dos Parlamentares. E conseguiu: se instalou a CPMF.

            Anos depois, ele fora do Ministério, assume o Ministério da Saúde o Ministro José Serra, que, dias depois de ter assumido o Ministério da Saúde, procurou o Dr. Adib reconhecendo a necessidade e o brilhantismo de sua ideia, de sua concepção da CPMF como fonte de recursos adicionais para a saúde pública.

Isso demonstra a visão privilegiada que o Dr. Adib tinha da saúde pública e do seu financiamento.

            Disse anteriormente que, por ironia do destino, o médico que dedicou sua vida a cuidar dos corações alheios morreu de um infarto agudo do miocárdio. O destino prega essas peças na vida dos grandes homens. Beethoven ficou surdo, Borges ficou cego ainda jovem. Adib Jatene não era músico nem escritor, mas era um gênio na arte de semear esperanças, e seu coração já não pertencia tão somente à sua anatomia e, sim, a toda vida humana.

            São essas palavras, Sr. Presidente, que eu profiro da tribuna do Senado Federal para homenagear um dos grandes médicos brasileiros, que, com absoluta certeza, contribuiu para o crescimento da medicina que hoje temos no Brasil, contribuiu para a formação de milhares e milhares de profissionais que foram seus alunos, mas, sobretudo, trouxe esperança e vida para milhares de pacientes que passaram por suas mãos habilidosas e foram observados por seu cérebro privilegiado.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/11/2014 - Página 255