Discurso durante a 177ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações acerca de matéria publicada pelo jornal Folha de Boa Vista intitulada “Surto no Senado”; e outro assunto.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA, ELEIÇÕES, GOVERNO ESTADUAL.:
  • Considerações acerca de matéria publicada pelo jornal Folha de Boa Vista intitulada “Surto no Senado”; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 29/11/2014 - Página 50
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA, ELEIÇÕES, GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • LEITURA, ENTREVISTA, NEUDO CAMPOS, EX GOVERNADOR, RORAIMA (RR), PUBLICAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE BOA VISTA, ASSUNTO, CRITICA, ATUAÇÃO, ROMERO JUCA, SENADOR, MOTIVO, PARTICIPAÇÃO, IRREGULARIDADE, GESTÃO, DESVIO, RECURSOS, ORIGEM, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), COMENTARIO, RESULTADO, ELEIÇÕES, GOVERNO ESTADUAL, ESCLARECIMENTOS, RELAÇÃO, PRISÃO, EX PREFEITO, PAI, ORADOR, PERIODO, DITADURA.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco União e Força/PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Jorge Viana, que preside esta sessão, Srs. Senadores, Srª Senadora, senhores telespectadores e telespectadoras da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado.

            Sr. Presidente, hoje eu quero falar do último item dos diversos que foram abordados pelo Senador Romero Jucá num momento um pouco emocionalmente abalado em que ele criticou várias pessoas de várias instituições em Roraima, porque eu fiz um pronunciamento falando aqui de um ato do Tribunal de Contas do Estado, a respeito da Prefeitura de Boa Vista. Não botei uma palavra minha sequer. Disse apenas que eu achava que corrupção na saúde - como continuo achando - é a pior das corrupções que pode haver. Para mim, é um crime hediondo.

            Mas ontem eu falei, defendendo a Governadora eleita Sueli Campos e hoje quero ler aqui uma entrevista do ex-Governador Neudo Campos e, assim, terminar a defesa das pessoas que não têm tribuna para se defender. E, finalmente, vou fazer umas considerações a respeito do que ele falou de mim e até do meu pai, Senadora Ana Amélia. .

            Pois bem. A matéria publicada no jornal Folha de Boa Vista - diga-se, o único jornal de fato independente em Roraima - tem a seguinte manchete:

Surto no Senado. Neudo Campos disse que Jucá teme ser preso pela Operação Lava Jato.

Ex-governador foi principal alvo de discurso raivoso de Romero Jucá na terça-feira, na tribuna do Senado Federal.

            Palavras do Governador abrindo a entrevista:

As feições dele na televisão eram de transtorno pela derrota fragorosa e pela perspectiva de resultados da Operação Lava Jato.

Principal alvo do discurso proferido pelo senador Romero Jucá (PMDB) na tribuna do Senado, na terça-feira, 18, o ex-govemador Neudo Campos (PP) afirmou, em entrevista à Folha, que esse comportamento seria resultado do temor do senador "em ser [apanhado] pela Operação Lava Jato", deflagrada em março passado e que investiga um suposto esquema de lavagem e desvio de dinheiro da Petrobras. "Está surtando porque está com receio de... [ser alcançado pela] Operação Lava Jato, que já revelou nomes dos beneficiados, de quem recebeu dinheiro da Petrobras. Isso deve estar atormentando a cabeça dele".

Jucá subiu à tribuna e acusou o Tribunal de Contas do Estado (TCE) de ter afastado o secretário municipal de Saúde de Boa Vista, Marcelo Lopes, por motivação política, "a mando de Neudo Campos". Classificou a medida cautelar referendada por unanimidade pelos conselheiros do órgão como uma "armação" e disse que a decisão seria resultado do processo eleitoral em Roraima.

O parlamentar chegou a dizer que a intenção do TCE seria a de afastar a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (PMDB), [sua ex-esposa] por descumprimento da decisão, dando posse a seu vice, Marcelo Moreira (PSDB), aliado do ex-governador Anchieta Júnior (PSDB)...

            Com quem o Senador Jucá se reelegeu em 2010. Fez parte do governo desse ex-Governador que foi cassado. E, agora, depois da eleição, ele passa a ser inimigo.

(...) também acusado de participar do que o Senador chamou de complô. “Vejo o pronunciamento dele como um surto. Lembrei do dia 05 de outubro, primeiro turno das eleições de Roraima, quando ele surtou com uma juíza eleitoral, em Mucajaí, com dedo em riste, grosseiramente, desrespeitosamente. Agora ele teve outro surto.”

O ex-governador atribui a reação do Senador ao resultado das eleições deste ano. “Só posso atribuir a isso. Primeiro à derrota pessoal dele. O grande perdedor dessa eleição, o grande derrotado foi o Jucá, que com o governo na mão, com a Prefeitura de Boa Vista na mão, com 11 municípios dos 14 do interior nas mãos, com instituições, comprando votos, perdeu a eleição para nós, que não tínhamos dinheiro, que só tínhamos três partidos, três minutos de tempo de televisão”. 

            Os três partidos eram justamente o PP, o PTB e o Democrata. Todos os outros partidos estavam aliados, na sua grande maioria, com o candidato do Senador.

“Como botar culpa no Chico [que é o governador que disputou com o filho do Senador Jucá como vice], se ele [Jucá] que comandava a campanha?”

Neudo Campos negou qualquer tipo de entendimento com o ex-governador Anchieta Júnior, mas deixou claro que o embate de ambos é no campo político. “Passei esses anos criticando o governo Anchieta, mas com posição clara. Não fico do lado sugando, como ele, que depois que o Anchieta perdeu quer jogá-lo no meu colo, como se estivesse no nosso lado. É um mentiroso contumaz”.

Disse ainda não ter entendido os motivos pelos quais Jucá o citou na decisão proferida pelo TCE contra a Prefeitura de Boa Vista. “Não dou ordens para ninguém [diz Neudo], muito menos para um conselheiro do Tribunal de Contas. O Marcelo Lopes [o ex-Secretário de Saúde da Prefeitura de Boa Vista], assim como todo mundo que trabalha para o Jucá, é enrolado. Ele que induziu a fazer coisas erradas e está fingindo que está indignado.

Quem foi que trabalhou com Romero Jucá que não foi preso ou enrolado? Ele induz as pessoas a errarem e depois são essas pessoas pagam por ele. Certamente o dinheiro não foi para o Marcelo Lopes. Ele está nervoso, apavorado, as feições dele na televisão são de transtorno pela derrota fragorosa e pela perspectiva da Lava Jato.”

            E diz o jornal, concluindo:

A Folha procurou o Senador Romero Jucá, por meio de sua assessoria de comunicação, para que se manifestasse acerca da matéria, mas, até o fechamento desta edição, não obteve retorno.”

            Bom, Sr. Presidente, como eu disse, eu fiz a defesa de todas as pessoas que não têm a oportunidade de usar a tribuna para se defender, porque todas essas pessoas que foram citadas, sem nenhuma conexão com a matéria que eu li aqui... Realmente, foram ofensas terríveis contra pessoas, conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, vereador, o ex-governador amigo dele, o ex-Governador Neudo Campos, a Governadora eleita Suely Campos.

            E, por fim, ele disse que eu tinha que lavar a boca quando fosse falar do Sr. Marcelo Lopes, que já foi preso, inclusive, pela Polícia Federal, porque meu pai tinha sido prefeito e tinha sido preso.

            Acontece que o Senador Jucá chegou a Roraima em 88. Meu pai chegou a Roraima em 1943, foi do Ceará para lá como funcionário do Serviço Especial de Saúde Pública, funcionário federal. Depois, em 44, quando foi instalado o então Território de Roraima, meu pai foi convocado pelo primeiro governador eleito, que, na verdade, requisitou todos os funcionários federais existentes, e foi nomeado para ser uma espécie de prefeito, já que, na época, não havia divisão municipal do hoje Município de Caracaraí. Depois, meu pai foi delegado de polícia, foi presidente da antiga Comissão Federal de Abastecimento e Preços. Foi também prefeito nomeado em duas ocasiões diferentes e, coincidiu, Senador Jorge, que...

            Nesse fato de que o Senador Jucá ouviu falar, o que aconteceu foi o seguinte: logo que se implantou a Revolução de 1964, evidentemente, a moda era fazer inquérito policial militar. E quem foi para Roraima foi um coronel aviador, porque haviam dividido os territórios pelas três Forças Armadas. Rondônia, na época, território, ficou com o Exército, por ser mais interior.

            O Amapá, por ter litoral, ficou com a Marinha. E Roraima, por ser o mais distante, com pouco acesso, ficou com a Aeronáutica.

            Pois bem, esse Governador que chegou lá, o primeiro passo dele, como não poderia deixar de ser, abriu um IPM, para investigar tudo. E, obviamente, como o prefeito era nomeado, ele escolheu um prefeito, e meu pai foi para a transmissão de cargo, e, ao terminar de transmitir o cargo, o Governador mandou que meu pai fosse recolhido para responder ao Inquérito Policial Militar.

            Meu pai, um homem que tinha - porque já morreu - uma vida limpa, respeitado, um líder político lá no Estado, realmente sofreu muito, inclusive nunca mais teve saúde. Mas pouco tempo depois da abertura do IPM, ele foi considerado inocente.

            Quer dizer, a simples denúncia, naquele tempo, ou a simples desconfiança de que alguém tinha algum pensamento diferente servia para a pessoa responder inquérito policial militar, quando não acontecia outra coisa. Com meu pai aconteceu assim, de ele ter tido essa humilhação pública e de não ter tido mais saúde, dali até a sua morte.

            E meu pai realmente não sentia mais condições de ficar em Roraima, e já tinha eu e o meu irmão estudando em Belém, então, ele resolveu ir para Belém para levar as outras duas filhas para estudar lá também. E para conseguir manter a família, ele foi gerenciar uma pedreira de um amigo dele em um Município perto de Belém.

            Meu pai sempre trabalhou com seriedade. Não há uma denúncia de qualquer tipo de corrupção na vida dele. E eu fico mais revoltado porque, depois de 30 anos de falecido, ele recebe, de uma pessoa forasteira lá em Roraima, que não conhece realmente a história de Roraima, nem das famílias de Roraima, até porque ele não gosta das famílias de Roraima. Mas eu não quero ficar aqui só eu defendendo o meu pai, porque pode parecer até um pouco de... Mas é minha obrigação e tenho muita honra em fazê-lo porque sei quem foi meu pai. Lamento muito que o Senador Jucá tenha - por não ter o que falar de mim - ido buscar a figura de meu pai de maneira errônea, baseado, talvez, em informações falsas, ou propositadamente.

            Eu quero só dizer que o meu pai viveu até o último dia de sua vida lá em Belém, e não foi, como ele disse, ele não foi exilado. Ele foi para lá para ajudar os filhos a se formarem. Morávamos juntos, meu pai, minha mãe e quatro irmãos, eu e mais três. Todos conseguimos nos formar graças ao esforço dele. Em Roraima todo mundo tem o conceito de quem conhece Roraima, quem vive em Roraima, quem viveu em Roraima nesses tempos sabe realmente quem é a figura do meu pai, Sr. Mozart Cavalcante. 

            Mas eu quero aqui, até por me sentir homenageado, transcrever a matéria publicada na coluna do jornal Folha de Boa Vista:

IN MEMORIAN 1

1. No pronunciamento que fez no Senado Federal na terça-feira, o senador Romero Jucá (PMDB) disse que Mozart Cavalcanti havia saído preso de Roraima acusado de corrupção. Jucá teve a intenção de ofender o também senador Mozarildo Cavalcanti, filho de Mozart, que faleceu há mais de 30 anos.

IN MEMORIAN 2.

Na verdade, Mozart Cavalcanti, ex-prefeito de Boa Vista, foi uma das milhares de vítimas do regime militar que se instalou no Brasil no dia 1o de abril de 1964. Tanto que, poucos anos depois, teve sua inocência reconhecida pela Justiça.

HUMILDADE

Mozart, como dissemos acima, ex-prefeito da Capital, saiu de Roraima magoado e humilhado, por isso nunca mais retornou ao Estado até a morte. Viveu até o fim da vida humildemente em um apartamento térreo de um edifício de classe média média, quase a periferia de Belém.

Para sustentar a família, Mozart trabalhou por muitos anos como gerente de uma pedreira que ficava na Capital paraense. E assim criou e formou seus quatro filhos. Em tempo: o apartamento em que o ex-prefeito morou por mais de duas décadas foi adquirido junto ao antigo BNH, à época, com prestações pagas por seu filho mais velho, Morazildo, [com muita honra para mim].

INFERNO

O destempero do senador Romero Jucá [...] no plenário do Senado é consequência do “inferno astral” que ele vem vivendo desde quando começou a ser derrotado na campanha eleitoral no Estado e terminou naufragando quando pulou do barco governista e apoiou Aécio Neves [...] para presidente. Nesse meio tempo, ainda foi citado em depoimento à Polícia Federal como um dos beneficiados pelo escabroso caso do propinoduto da Petrobras, que tem levado altos figurões para trás do xilindró.

METAMORFOSE

Em Brasília, Jucá foi assunto na coluna Painel, da Folha de São Paulo, na nota “Metamorfose ambulante”. A coluna lembrou que o senador foi líder dos governos FHC, Lula e Dilma, mas [...] [trabalhou pela eleição de Aécio Neves].

            Na palavra da coluna da Folha de S.Paulo:

Passadas as eleições, o peemedebista se empenhou em ajudar o Planalto a tentar aprovar o projeto de lei que permite o descumprimento da meta de superávit fiscal.

Pela mudança repentina, virou alvo de piadas de colegas da bancada. Em jantar durante a semana na casa de Henrique Eduardo Alves [o Presidente da Câmara], foi recebido com uma gozação: “Voltou a vestir as roupas de líder do governo?” brincou um peemedebista

            E comentou a nota da Folha de São Paulo.

            Portanto, Sr. Presidente, eu vou encerrar essa questão com relação a esse pronunciamento do Senador Jucá, que atingiu a dezenas de pessoas, inclusive, como eu frisei aqui, a meu pai.

            Espero usar os dias que ainda tenho de mandato para me ocupar das coisas que ainda estão pendentes e ajudar o novo governo do Estado a realmente sair do extremo abismo em que foi colocado nesses últimos sete anos.

            Peço, portanto, a V. Exª que, apesar de ter lido, seja transcrito na íntegra o material a que aqui me referi.

 

DOCUMENTOS ENCAMINHADOS PELO SR. SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matérias referidas:

- “Surto no Senado”, Jornal Folha de Boa Vista;

- Matéria publicada na coluna Parabólica 20.11.2014, Jornal Folha de Boa Vista.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/11/2014 - Página 50