O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco União e Força/PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, senhores telespectadores e telespectadoras da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, pessoas que nos assistem da galeria na parte inferior e também os estudantes que estão nas nossas galerias de honra, quero dizer que realmente uma das missões mais complexas do Parlamentar é fazer valer um dos principais objetivos do seu mandato, que é fiscalizar a aplicação do dinheiro público, combater a corrupção e, inclusive, tomar providências no sentido de que denúncias sejam apuradas.

            Fiz aqui um pronunciamento sobre um caso de corrupção na Prefeitura Municipal de Boa Vista, dando notícias de que o Tribunal de Contas do Estado tinha mandado afastar o Secretário de Saúde e constatou pelo menos três processos com superfaturamento, portanto com corrupção.

            Para minha surpresa, sem eu ter citado nome nem da prefeita nem do Senador Romero Jucá, ele veio após à tribuna e ligou uma metralhadora giratória, falou mal de todo mundo lá em Roraima, que não foi objeto de menção no meu pronunciamento, repito; falou mal dos conselheiros do Tribunal de Contas; falou mal do diretor do jornal que deu a notícia, que é o único órgão independente de Roraima; falou mal do ex-Governador Neudo Campos e da atual Governadora Suely Campos, sua esposa; e falou mal inclusive do meu pai, que já faleceu há 30 anos.

            Eu já dei respostas a vários desses itens, não quis fazer isso só num pronunciamento, que não tinha cabimento nem restaurava a realidade de tantos nomes que ele citou.

            Hoje, eu quero abordar justamente casos do ex-Governador Neudo Campos e também da sua esposa Suely Campos, que foi eleita governadora agora nessas eleições de 2014. Aliás, a única mulher eleita governadora no Brasil.

            Pois bem, o Senador Romero Jucá disse que o ex-Governador Neudo Campos era o homem mais corrupto deste País, que ele tinha uma penca de processos e de condenações.

            Primeiro, eu quero esclarecer uma coisa interessante aqui: o ex-Governador Neudo Campos responde a 30 processos por uma mesma acusação. 

            Suponhamos que um cidadão se junte com mais cinco cidadãos e cometam um crime: como é o processo? É o que está comandando com mais os outros cinco - não é isso? Não se faz um processo para ele e para cada um dos cinco, dividir em cinco processos.

            Pois bem, no caso do Governador Neudo Campos, de uma maneira surpreendente, o juiz federal, lá em Roraima, resolveu fatiar esse processo em 30 processos. Então, como estão sendo julgados gota a gota, só ao final é que esse caso poderá ser realmente deslindado, porque a acusação, repito, era uma só, a de que o Governador deu cargos de confiança para personalidades, como Deputados Estaduais, Federais e tal e outras pessoas; essas pessoas pegavam procurações de pessoas do povo, recebiam o salário e davam só um agrado para a pessoa, que nem sabia que era funcionária.

            Pois bem, o Governador Neudo Campos tem enfrentado tudo isso aí. Inclusive, na eleição de 2010, em que o vice-governador do ex-Governador Ottomar, que derrotou o Senador Jucá para o Governador, em que foi uma verdadeira lavagem, ele teve quase 70% dos votos, enquanto que o Senador Jucá não teve nem 30% dos votos...

            Aliás, a sucessão de derrotas do Senador Romero Jucá, que chegou a Roraima como Governador nomeado do ex-Território Federal de Roraima e, depois, quando transformamos Roraima em Estado na Constituinte, ele foi nomeado governador pro tempore, porque a Constituinte previu que a eleição para os Estados de Roraima e Amapá seriam feitas só em 1990. Portanto, ele ficou, de 5 de outubro de 1988 até 1990, no poder e só saiu para se candidatar a Governador, e foi derrotado fragorosamente pelo Governador Ottomar Pinto.

            Mas conseguiu eleger, nessa campanha, a sua esposa à época, Teresa Jucá, Deputada Federal e, no meio do mandato, lançou-a candidata a prefeita, e ela foi eleita.

            Ele tinha, portanto, um plano de tornar Roraima realmente um império, uma oligarquia dele. Aliás, quando eu assisto, algumas vezes, eventualmente, essa novela Império, que está passando na Globo, em que o pano de fundo é lá no Monte Roraima, parece-me que o autor se baseou um pouco nessa história de Roraima, porque o que acontece na novela é alguém que não mora em Roraima, mas que só vai lá pegar riquezas e mantém uma empresa, inclusive com o nome de Império, e é chamado de comendador.

            Então, o que tentaram fazer em Roraima, Jucá e sua família, foi fazer esse império. A esposa já foi eleita quatro vezes prefeita da capital. A última vez, é bem verdade, como não houve segundo turno na capital, porque não tinha 200 mil eleitores, ela foi eleita com 39% dos votos. Portanto, não teve a maioria sequer simples dos votos para ganhar a eleição.

            Mas o Sr. Jucá tentou ainda outra eleição para governador e também perdeu, em 2006. Perdeu lá em 1990, para o Governador Ottomar, perdeu em 2006, de novo para o Governador Ottomar, lançou sua esposa também candidata a governadora contra o ex-Governador Neudo Campos, e perdeu também.

            E agora, em 2014, ele queria completar o esquema do império, porque ele, já Senador, botou o filho como candidato a vice-governador. Ele já Senador, o filho seria vice-governador, a mulher, ou ex-mulher, prefeita da capital, e aí, em 2018, o filho se reelegeria governador e ele se reelegeria Senador. Como o povo não aceitou, e o filho dele, portanto, não foi eleito vice-governador, e nem os candidatos que ele apoiou para o Senado foram também eleitos, ele entrou numa espécie de destempero, deu uma entrevista lá na rádio dele, lá em Roraima, e falou horrores piores do que ele falou aqui da tribuna.

            E depois de tudo isso, vem aqui à tribuna, como se fosse em um palanque, e faz acusações contra todas as pessoas de Roraima, pessoas de famílias tradicionais - ele, que nunca viveu em Roraima!

            Ele não vive em Roraima! Ele faz como esse pessoal da novela Império: ele vai lá para se apropriar de coisas. Aliás, é um dos grandes donos de fazendas, de empresas de mineração, de bairros inteiros. Então, tudo isso é feito com o salário de Governador do Território ou com o salário de Senador? Lógico que não! Todo o mundo sabe que não.

            Pois bem. Ele, então, acusa o Governador Neudo Campos, que, embora em 2010 tenha perdido a eleição, roubada... E isso ficou comprovado, Senador Paim, por quê? Porque, logo após a eleição de 2010, em março de 2011, o Tribunal Regional Eleitoral de Roraima cassou a eleição do Sr. Anchieta Júnior por corrupção - corrupção comprovadas! Muito bem. Ele recorreu para cá, para o TSE, e se passaram quatro anos. Por esse processo passaram cinco relatores, e nunca se relatou. Agora, veja V. Exª, o ex-governador saiu para ser candidato a Senador - portanto, renunciou ao cargo de Governador - e o vice-governador, que assumiu e disputou o Governo, logo após a eleição, o TRE julgou de novo esse processo, que o TSE mandou de volta, e cassou o mandato, agora, do vice-governador. Então, comprovou-se claramente que, em 2010, a eleição foi roubada.

            Agora, com todas os absurdos feitos, não houve como o Sr. Romero Jucá eleger seu filho, muito menos o ex-Governador Anchieta e outro candidato - um Deputado Federal que, na verdade, era o desejado pelo Sr. Romero Jucá. Não conseguiram lograr êxito. Com isso, eu acho que o nobre Senador se sente ameaçado na construção da sua oligarquia imperial e parte para o ataque generalizado, como partiu aqui, atacando membros do Conselho do Tribunal de Contas do Estado, o diretor do jornal que publicou a notícia, o ex-Governador Neudo Campos e a atual Governadora Suely Campos. Porque ele tinha de dizer, claramente, que estava ali desabafando a mágoa de uma derrota que o povo lhe impingiu agora. E, com isso, com esse tipo de posição que ele tomou aqui, ele demonstra que: primeiro, não respeita ninguém de Roraima; segundo, não respeita lideranças, como foi o caso do ex-Governador Neudo Campos que, inicialmente, candidatou-se, mas, com medo de algumas malandragens de bons advogados, resolveu sair da disputa e indicou a esposa, e a esposa ganhou no primeiro turno e, no segundo turno, ainda aumentou a margem de votos.

            Isso é muito ruim para o Senador, porque ele realmente considera que nós que nascemos em Roraima ou nós que vivemos em Roraima somos talvez como aqueles garimpeiros que aparecem lá na novela, apenas temos que trabalhar e entregar a fortuna para eles. É o que ele vem fazendo.

            Mas o povo já percebeu isso e justamente mostrou que o líder político maior de Roraima é o ex-Governador Neudo Campos. O povo reconheceu sua esposa, eleita Governadora, apesar dos ataques que eles faziam, ao dizer que a Governadora eleita só havia sido primeira-dama, quando se esqueceram de dizer que ela foi Secretária do Trabalho e Bem-Estar Social, durante oito anos dos dois mandatos do Neudo Campos, foi Deputada Federal, foi Vice-Prefeita da capital. Portanto, é uma mulher preparada, sim, uma mulher, eu diria, simples até demais, porque ela não é dada a extravagâncias, é uma pessoa um pouco, eu diria até, retraída, e isso os levou a debochar da figura dela. E a resposta que o povo deu foi dar uma votação maior ainda no segundo turno.

            Eu estou dizendo isso aqui, Senador Cristovam e Senador Paim, por uma razão: desde o meu primeiro mandato de Deputado Federal, a minha preocupação é de realmente ver a terra que me viu nascer, a terra em que eu tive a honra de, como filho de lá, ser o primeiro médico a se formar em Medicina, de ter sido Constituinte por lá... Desde lá, a gente vem lutando para que Roraima saísse daquela figura anterior de Território Federal, o que já foi um avanço, porque Getúlio Vargas tirou um pedaço do Estado do Amazonas para criar o Território Federal de Roraima. Mas Território Federal era um sistema imperial, eram nomeados os Governadores, que chegavam sem nunca ter ido lá antes, e agora é apenas uma versão moderna de um coronelismo que quer se implantar, desrespeitando, inclusive, as pessoas das famílias tradicionais de lá.

            Portanto, aqui eu faço a defesa tanto do ex-Governador Neudo Campos quanto da Governadora Suely Campos, que mostraram não só ter liderança como vão mostrar que têm capacidade de tirar Roraima do caos em que foi colocado pela má administração do ex-governador, que se aconselhava diretamente com o Senador Romero Jucá.

            São essas as observações que quero fazer. Quero dizer a V. Exª que espero, com mais um pronunciamento, encerrar as minhas respostas àquele discurso agressivo, porque, realmente, ainda falta eu explicar a situação que ele mencionou aqui, porque não conhece nada de Roraima: mencionou o caso do meu pai, que já está falecido há trinta anos, e também mencionou o meu nome. Então, eu quero defender meu pai e a mim por último. Eu quis, primeiro, defender as pessoas que ele ofendeu de instituições sérias, como é o caso do Vereador Paulo Linhares, dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, do diretor proprietário do jornal Folha de Boa Vista e, hoje, do ex-Governador Neudo Campos e da Governadora Suely Campos.

            Muito obrigado.