Pela Liderança durante a 178ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Repúdio às declarações dadas pelo Senador Aécio Neves em programa de televisão no último final de semana.

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Repúdio às declarações dadas pelo Senador Aécio Neves em programa de televisão no último final de semana.
Aparteantes
Lindbergh Farias.
Publicação
Publicação no DSF de 02/12/2014 - Página 139
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • REPUDIO, DECLARAÇÃO, LOCAL, TELEVISÃO, AUTORIA, AECIO NEVES, SENADOR, ASSUNTO, ACUSAÇÃO, ESTELIONATO, ELEIÇÕES, DEFESA, NECESSIDADE, UNIÃO, GOVERNO FEDERAL, OPOSIÇÃO, OBJETIVO, DESENVOLVIMENTO, PAIS.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes que nos acompanham pela Rádio Senado, eu venho aqui, a esta tribuna, na tarde de hoje, para externar o meu estranhamento e o meu mais veemente repúdio a declarações extremamente infelizes que o nosso colega, o Senador Aécio Neves, deu a um programa de televisão, neste final de semana, veiculado por uma das TVs fechadas.

            É lamentável que o candidato derrotado, nas eleições passadas, parece ainda não ter entendido que perdeu e, por não querer aceitar a derrota, Sr. Presidente, continua perdendo e reduzindo a sua estatura política a cada declaração desastrada que dá. É um caso inusitado em que a derrota subiu à cabeça, em que o fracasso subiu à cabeça.

            O candidato derrotado - que tem se sentido cada vez mais à vontade na sofrível interpretação do papel de vítima do processo eleitoral - quer, agora, reinventar a história, ao negar que tenha perdido a disputa para a Presidenta Dilma e para a coligação de partidos políticos que apoiaram a candidatura dela.

            Vencido pela insofismável vontade da maioria dos brasileiros, ele, agora, cria o seu próprio enredo para a peça que imagina encenar, dizendo que perdeu - abro aspas - “para uma organização criminosa que se instalou no seio de algumas empresas patrocinadas por esse grupo político que está aí” - fecho aspas.

            É uma infame ópera-bufa, essa que está sendo protagonizada pelo que eu chamo de “candidato derrotado em exercício”, em que sobejam atuações de péssimo gosto e para as quais há cada vez menos holofotes. E não sem motivo: enquanto o Brasil já desmontou os palanques; enquanto, nos Estados, os Governadores eleitos e reeleitos estudam os próximos quatro anos; enquanto a Presidenta da República compõe sua nova equipe e se debruça, dia e noite, sobre medidas que vão ser tomadas a partir de 2015, o quixotesco perdedor das eleições de outubro continua lutando contra imaginários moinhos de vento.

            Já estamos em dezembro, Excelência, em dezembro! Não é possível que, mais de um mês depois do pleito, S. Exª ainda esteja em um mundo à parte, ora agindo como se recontasse votos, ora criando novas teorias contra a legitimidade da Presidenta reeleita, ora acenando até para setores golpistas da sociedade.

            Chega! Passou da hora de assumir a derrota! Ganhar e perder são atos próprios da democracia. Sei que, durante muito tempo, Senador, V. Exª enchia os pulmões para dizer por aí que se orgulhava de haver se especializado em derrotar o PT. Mas dessa vez não deu, Senador. Não deu! Paciência!

            S. Exª foi derrotado em Minas Gerais, seu Estado, e foi derrotado também no seu Estado na disputa pela Presidência da República. Foi derrotado! Pronto! Vire a página. Abra um novo livro para a história do nosso País.

            É preciso deixar de lado esse comportamento pueril. É preciso reconhecer a derrota e assumir a oposição em que os eleitores o colocaram. A oposição é necessária, é fundamental para contribuir com críticas, com ideias, com propostas - seja no Congresso, seja em outros foros da sociedade - em favor de medidas que façam o País avançar.

            Quem recebeu os votos de tantos brasileiros não pode desperdiçar esse patrimônio político. O Senador Aécio Neves teve o voto de 50 milhões de brasileiros, um patrimônio político invejável, que ele está dilapidando a cada dia que passa, ao fazer essa cantilena estéril, que a nada serve, a não ser à disseminação de um comportamento mimado, incompatível com o espírito democrático.

            A postura de um opositor é buscar o contraditório ideológico, é fazer o contraponto, é ser a antítese, para que desse embate de ideias possa nascer algo construtivo. Não é ficar eternamente chorando a derrota que sofreu.

            Aliás, resta evidente que esse tipo de atitude do candidato vencido já não tem mais eco entre os seus aliados e mesmo dentro do seu próprio Partido. E é óbvio, porque todos, a essa altura, já arregaçaram as mangas e se lançaram ao trabalho. O discurso de uma nota só está absolutamente isolado.

            De forma que, contrariamente ao que disse o Senador Aécio, essa não será a eleição que deixará como marca perversa a sordidez para se manter no poder. Não. Essa será a eleição que, legitimamente concluída como um dos maiores eventos democráticos do mundo, deixará como marca perversa a sordidez de quem não se conformou em ter sido derrotado.

            Do nosso lado, quero dizer que estamos trabalhando intensamente, junto com todas as forças que querem contribuir para fazer do Brasil um País melhor. A Presidenta Dilma tem envidado todos os esforços para, com novas ideias, erguer seu novo Governo com os melhores nomes, de forma a realizarmos os ajustes que a economia demanda, preservando, ao mesmo tempo, todos os avanços que conquistamos até aqui.

            Temos grandes desafios pela frente, mas alguns não esperem ver de nós lamúrias sobre qualquer dessas lutas que teremos de travar. Esses desafios não nos paralisam; eles, antes de tudo, nos instigam e nos estimulam a trabalhar para manter o Brasil nos trilhos do desenvolvimento com inclusão social, onde, com muito esforço, o colocamos.

            Nesse processo, a oposição pode contribuir decisivamente. Nós do PT já fomos oposição, e não há quem duvide de que participamos ativamente do amadurecimento da democracia brasileira, com o que colaboramos quando estávamos do outro lado. Hoje, no Governo, nós contamos com os que agora estão na oposição, para também trabalharem em favor do Brasil, travando um confronto político de alto nível em torno de ideias e propostas, e não em torno de veleidades e frivolidades, que não enriquecem o debate e, antes de tudo, se prestam a diminuir o interesse nacional e a estatura daqueles com que elas se envolvem.

            À oposição faltam hoje alternativas; na falta de uma visão mais crítica sobre a realidade que estamos vivendo, acusam o Governo de estelionato eleitoral, ficaram sem argumentos depois da formação da nova equipe econômica, ficaram sem argumentos depois que o ministro indicado declarou que vai promover um ajuste. É óbvio que tínhamos que promover um ajuste, e a Presidenta Dilma nunca negou isso, nunca negou em nenhum momento! Ou eles imaginavam que nós, diante da crise que vivemos internacionalmente, vamos ficar assistindo? No momento em que ela assumiu essa posição, eles perderam o argumento. E agora ficam com esse discurso de estelionato eleitoral.

            A diferença, que a oposição não consegue enxergar, é que, para nós, diferentemente do que é para eles, o ajuste não é fim, o ajuste é meio. Queremos um ajuste talvez até maior do que gostaríamos de fazer, mas o objetivo é equilibrar a economia do País para retomarmos o crescimento econômico, a distribuição de renda, a recuperação dos salários dos trabalhadores, a melhoria da previdência social e o emprego no nosso País.

            Assim, quero reiterar o convite àqueles que ainda insistem em olhar o Brasil pelo retrovisor: que olhem para frente. A gente precisa avançar, e todos os que tiverem boas ideias devem apresentá-las à sociedade, como forma de contribuir com esse processo de avanço do País.

            O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senador Humberto.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Escuto V. Exª, apesar de estar falando como Líder.

            O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Eu queria parabenizá-lo. Sem dúvida, o Senador Aécio Neves passou de todos os limites nessa entrevista - a Direção Nacional do PT vai interpelá-lo judicialmente, já há essa decisão da Direção Nacional do PT - e age como um mau perdedor. V. Exª é muito preciso, como Líder do PT nesta Casa, ao oferecer essa resposta aqui da tribuna do Senado. Chamo a atenção de que essa declaração no programa da GloboNews de sábado é mais um episódio. Na verdade, o PSDB questionou a lisura do processo democrático, aquela ação que entrou no TSE, seguida de manifestações de rua estimuladas por eles, sim - algumas pedindo intervenção militar e todas pedindo impeachment da Presidente, que nem tomou posse no segundo mandato! Parece que esses senhores estão olhando para a velha UDN, eles estão se inspirando na década de 50. O Lacerda dizia, sobre o Getúlio, que o Getúlio não podia ser candidato; se fosse candidato, não podia ser eleito; se fosse eleito, não podia governar. Parece que eles voltaram aos anos 50, naquele papel nefasto daquelas posições claramente golpistas - claramente golpistas! - que fizeram contra o governo Getúlio, contra o governo do Juscelino e contra o governo do Jango. A última coisa, Senador Humberto Costa, em relação à campanha sórdida: eu não aguento mais escutar o Senador Aécio falar disso, da campanha sórdida que o PT fez contra ele. Olha o que houve neste País afora - e eu vi isto no meu Estado: militantes do PT foram agredidos também. Uma campanha preconceituosa nas redes sociais por parte de um eleitorado que criticava nordestinos, os beneficiários do Programa Bolsa Família. Nós tivemos um clima como esse. Só que agora, passada essa eleição - V. Exª diz muito bem -, é hora de encerrar esse debate eleitoral. O que o Brasil quer agora é trabalho. E eu acho que o Senador Aécio tenta radicalizar o seu discurso porque está perdendo espaço dentro do próprio PSDB para outras lideranças. Talvez o único caminho para ele seja gritar mais alto, ser o mais radical, porque ele perde espaço porque perdeu a eleição em Minas Gerais e porque há outros líderes, como o Governador Geraldo Alckmin, que podem ser candidatas pelo PSDB à Presidência da República. Talvez seja essa a estratégia do Senador Aécio Neves. Eu lamento que estejam agindo como a velha UDN, que estejam agindo como o partido republicano norte-americano, porque essa discussão da flexibilização da meta de superávit primário é isto: paralisa um País, cria uma crise econômica. Então, quero parabenizar V. Exª pela resposta pronta no dia de hoje.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Agradeço o aparte de V. Exª e o incorporo integralmente.

            Quero dizer que nós reiteramos aqui o convite àqueles que ainda insistem em olhar o Brasil pelo retrovisor: que olhem para frente, inclusive o Senador Aécio Neves.

            Senador Aécio Neves, V. Exª é muito melhor do que essa entrevista que V. Exª deu. V. Exª tem uma contribuição importante a dar a este País e não ficar com esse discurso do derrotado que não aceita a própria derrota.

            Por isso, devo dizer a V. Exª: as eleições passam, o Brasil segue, e quem não seguir com o Brasil corre o risco de ficar para trás, agrilhoado com muita amargura às urnas de uma eleição havida em algum lugar do passado.

            Muito obrigado pela tolerância, Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/12/2014 - Página 139