Pela Liderança durante a 178ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro dos questionamentos levantados em seminário na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, sobre como adequar as escolas brasileiras aos novos tempos.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Registro dos questionamentos levantados em seminário na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, sobre como adequar as escolas brasileiras aos novos tempos.
Publicação
Publicação no DSF de 02/12/2014 - Página 159
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, PRESENÇA, SEMINARIO, LOCAL, UNIVERSIDADE, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ASSUNTO, ESTUDO, PROBLEMAS BRASILEIROS, EDUCAÇÃO, DEFESA, NECESSIDADE, UTILIZAÇÃO, TECNOLOGIA, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, TESTE, CAPACIDADE PROFISSIONAL, PROFESSOR, COMPROMETIMENTO, PAES.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Senadora, fico muito feliz que V. Exª tenha tomado essa parte do meu discurso para falar sobre isso. Eu estava aqui, e talvez V. Exª não saiba, mas, primeiro, foi citada pelo Senador Paim, que V. Exª não poderia vir aqui mas que mandava um abraço. 

            Conheço e acompanho o Senador Jarbas desde os nossos primeiros 20 anos, no início dos 20 anos, antes dos 25 cada um, ou seja, quase 50. E acompanho sempre muito de perto, apesar de eu ter ficado nove anos fora do Brasil e, quando voltei, não voltei para Recife, já vim direto para Brasília, mas, mesmo assim, sempre tive uma boa relação com ele, o meu irmão Sérgio é muito ligado a ele em Pernambuco, tem uma participação direta nas campanhas dele, e foi com muita emoção que vi que o Jarbas sai do Senado mas fica na Câmara. Só lamento que seja num momento tão importante que a gente tanto vai precisar.

            E falei para o Senador Simon que, em qualquer momento que ele saísse daqui seria ruim, mas, neste momento, pode ser mais grave ainda, porque vamos precisar de muita lucidez, como a senhora mesma viu hoje aqui na polarização, quando o Governo fala de diálogo, e não dialoga; manipula as falas dos outros e, em vez de distender, tenciona. Então, vamos precisar de muito bom senso.

            Senadora, vou falar aqui de uma das coisas de que a senhora gosta. Vim falar de uma figura que me impacta muito nos últimos anos, por acompanhar o seu trabalho, que é um dos maiores empresários brasileiros. Alguns dizem que é o maior dos empresários brasileiros neste momento, em termos de patrimônio e de presença mundial, que é o Jorge Paulo Lemann.

            Eu costumo dizer que empresário não se preocupa com a educação e nem a apoia. O Jorge Paulo Lemann é uma exceção então, porque ele se dedica a essa atividade em que põe muitos recursos pessoais.

            Eu tive o privilégio de ser convidado por ele a participar de um recente seminário em que ele inaugurou, no mesmo momento, um Centro Lemann na Universidade de Stanford. Ele já tinha criado um centro como esse na Universidade de Harvard.

            E o que acho mais importante é que são centros dedicados a estudar o Brasil e, de uma maneira muito especial, a educação.

            Então ele, na semana passada, reuniu um conjunto de 50 a 60 pessoas, brasileiros, norte-americanos, para debaterem a educação brasileira e o que a gente precisa fazer. E eu tive o privilégio de, além de fazer uma das falas durante o seminário, ser o último a fazer uma fala no fechamento. E eu listei um conjunto de coisas que, naquele seminário, nós identificamos e aprendemos que não sabíamos como fazer. Ou seja, o que a gente quer a gente já sabe; em como a gente quer, temos dúvidas.

            Por exemplo, é claro que a educação não pode continuar sendo feita como uma carroça. Nossas salas de aula de hoje são iguais às salas de aula de 50 anos atrás, na maior parte das escolas. Os alunos continuam usando quadro negro e livro, quando houve, nesse período, uma revolução na tecnologia da informação.

            A gente sabe que é preciso colocar a tecnologia da informação dentro da sala de aula, mas a gente não tem certeza de como fazer isso. Como é que a gente põe Google, Wikipedia na sala de aula sem perder a formação mais profunda que a educação precisa transmitir? São instrumentos de informação, os modernos. São instrumentos que precisam ser dominados para servirem também à formação. E a gente não sabe.

            É preciso, entretanto, fazer, ir aprendendo no processo. Nós sabemos que é preciso tecnologia da informação dentro da escola, porque senão as crianças não gostam mais da escola. Elas nasceram com outra mídia, vendo televisão em cadeia mundial, usando computador. Aí a gente chega, põe por quatro horas sentadinhos, as meninas e os meninos, para verem aula com o quadro negro. A gente não sabe como fazer.

            Como vai ser o professor? Esse é o segundo ponto. O professor do futuro não vai ser igual a mim e a meus colegas professores da minha geração. O professor do futuro vai ser radicalmente diferente.

            A diferença do professor do futuro para um professor de hoje é a diferença do condutor de uma carroça a cavalo e o motorista de carro. Ou até melhor, talvez seja a diferença entre um condutor de carroça a cavalo e um piloto de Boeing, de tão diferente que vai ser.

            O professor do futuro deve casar, conviver com os equipamentos da modernidade. Ele deve ser capaz de usar aquelas lousas maravilhosas, colocar as crianças em contato com o mundo inteiro, a partir da sala de aula. Nós, minha geração - quando digo minha geração, não são somente os da minha idade, mas os da minha idade, os que estão até os 30 anos e mesmo muitos de 20 -, não estamos preparados para isso. A gente vai ter que formar um novo professor, para fazer com que o professor do futuro seja outro, diferente. Não dá para ser mais o mesmo.

            Vamos precisar saber como é que esse professor será selecionado. Não pode ser por concurso, pura e simplesmente, porque o concurso não identifica o carinho do professor com os alunos. Não identifica o gosto de dar uma aula. O concurso, pura e simplesmente, tem um risco: se paga pouco, vêm os despreparados; se paga muito, vêm quem não gosta de dar aula, só pelo salário. Tem que haver um sistema novo de seleção, a partir de um salário que atraia os melhores quadros da sociedade.

            A gente sabe que tem que avaliar, e aí é um outro ponto. Não é possível que uma coisa tão importante como educação passe em branco sem avaliação. Não é possível!

            O piloto de um avião é avaliado - imagine se não fosse! -, a cada seis meses, para ver os olhos, o coração, a habilidade, a familiaridade com a aeronave. A gente não entraria nesse avião. Mas a gente deixa nossas crianças, em uma sala de aula, na qual o professor não é avaliado.

            Tem que haver avaliação, mas a gente não sabe como. Não pode ser submeter o professor a concursos a cada seis meses ou a cada um ano. Não pode ser, pura e simplesmente, os pares se autoavaliarem, mas também não pode ser ignorar o papel dos pares, dos pais e das crianças, avaliando os professores.

            A gente sabe que é preciso avaliar, a gente não tem certeza de como deve fazer a avaliação. Só não pode, Senadora Ana Amélia, é continuar a mediocratização. Tem muita gente que é contra a meritocracia, eu sou contra a mediocracia - a democracia da mediocridade, mas como identificar o mérito eu confesso que não sei plenamente

            Outro item é que a gente precisa mudar a sala de aula. A sala de aula não pode mais ser, hoje, aquela do passado. Diferente, talvez a criança não tenha nem que sentar, talvez ela tenha que sentar em volta de uma mesa redonda, e não olhando para o professor. Até porque, talvez, o professor não chegue para ela ao vivo, mas através de uma televisão na banca, uma televisão no computador, ou talvez até o professor nem esteja presente.

            A sala de aula do futuro pode prescindir do professor presente, não pode prescindir do professor. Computador não tem inteligência nenhuma, computador é burro, é o professor que põe ali dentro os ensinamentos. Mas a sala de aula a gente sabe que não é como está hoje, e a gente não sabe como é que vai ser no futuro, não sabemos.

            E lá, durante dois dias, discutimos e percebemos que tem que ser diferente, mas saímos sem saber, ainda, como será essa sala de aula. Como a gente vai fazer com que a sala de aula esteja em todo canto? Como é que a gente faz com que a casa onde a criança mora faça parte da sala de aula, usando os modernos mecanismos de comunicação? Como o lugar do trabalho se transforma também em uma sala de aula, para que continuem aprendendo aqueles que já estão nas suas atividades?

            Nós vamos ter que, sim, reconhecer que a educação é a base da economia do futuro, não tem jeito, Senadora. Uma das coisas de ir-se a uma cidade, como Palo Alto, onde está a Universidade de Stanford e, ao mesmo tempo, a Apple, a Google, e uma série imensa destas entidades, é que a gente descobre uma coisa, Senadora, sou muito defensor dos indicadores da educação, Pisa, Ideb, Provinha, Enem, tudo isso, mas cheguei à conclusão de que, para sabermos se educação em uma cidade vai bem, não precisa olhar índice nenhum, basta olharmos ao redor, olhar as indústria de uma cidade. Aí você sabe se a cidade é educada ou não.

            A indústria é a metal-mecânica dos anos 70? A cidade não é educada. A indústria dos chips, dos iPads, dos celulares? Aí é uma cidade educada. Mais que isso, a indústria produz ou a indústria cria? A cidade educada é a cidade cuja indústria cria, mais do que a cidade em que a indústria produz - é a criação.

            Pois bem, é a educação que é a base disso. Mas como fazer uma educação que, de fato, sirva à economia do conhecimento? Colocando mais ciência?

            Mas, se colocarmos mais ciência e mais tecnologia, no ensino das crianças, a ciência e a tecnologia poderão ser usadas, para construir um mundo perverso. Por isso é preciso colocar filosofia. É preciso colocar arte, para que as crianças descubram que não estão aí apenas para serem consumidoras, mas para se deslumbrarem com as coisas do mundo.

            Nós sabemos que o futuro está na economia do conhecimento. Nós sabemos que o futuro da economia do conhecimento está na educação. Mas não sabemos ainda, exatamente, como é que deve ser a educação, para servir à economia do conhecimento, sem criar distorções profundas.

            Nós aprendemos ali que os alunos, daqui para frente, têm que ter uma capacidade de autoaprendizagem, não dá para aprender as coisas só na escola. Primeiro, porque a concorrência com a televisão e com as outras mídias todas é muito grande. De manhã você ensina uma coisa e de tarde ela aprende diferente.

            Ela tem que ter a capacidade de autoaprender, de filtrar o que vê na televisão, e não deve aprender; e filtrar para o bem o que ela vê na televisão e deve aprender. Como vamos ensinar as crianças a autoaprenderem, se não sabemos direito? Sabemos que tem que passar a autoaprendizagem para as crianças, mas não sabemos como fazer isso, até porque, um ano depois que se sai da escola, as coisas ficam atrasadas, antiquadas.

            Vejam geografia. Quem estudou geografia na Copa de quatro anos atrás não conhecia os países da Copa deste ano, porque a geografia muda. E olhem que a geografia é de certa forma fixa.

            E, quanto ao conhecimento científico, quem dizia que o mundo tinha certo número de planetas até algum tempo atrás, não sabe mais como é hoje, porque descobriram planetas em outras estrelas que não o Sol. Mas, pior que isso, todo dia devem estar descobrindo um novo planeta. Então, quem diz que há x, é por que não viu a notícia da tarde, que já há mais do que isso.

            Então, como fazer com que a pessoa autoaprenda? E mais que isso: como fazer com que a aprendizagem seja levada até o último dia de vida? Acabou o tempo em que você colocava o diploma na parede e esse diploma mostrava que você conhecia - acabou!

            O conhecimento hoje tem prazo de validade menor do que o de comida no supermercado. A gente, quando vai comprar uma coisa no supermercado, olha ali onde está o prazo de validade. Quando a gente vai visitar um doutor hoje, um médico, tem que olhar o prazo de validade dele, se está ou não vencido: ele aprendeu sobre os novos equipamentos que na faculdade não existiam; ele aprendeu sobre os novos remédios que na faculdade não existiam, que seus professores não conheciam?

            E o que eu digo sobre os médicos serve para tudo. Não só a autoaprendizagem - que a gente não sabe como fazer, sabendo que é preciso -, mas também a aprendizagem por toda a vida, a gente não sabe como fazer. Por exemplo: o aluno que se forma agora, no próximo mês, tinha que ficar vinculado à sua universidade até o dia de sua aposentadoria, em permanente contato com os professores. Mas como fazer isso? Como fazer? A gente não sabe.

            A gente sabe, infelizmente, como colocar uma coleira no pé de um condenado, mas não sabe ainda como colocar um chip na cabeça de um doutor, para que ele fique ligado com o ensinamento que está na própria escola. O seminário que nós fizemos, graças ao apoio, ao patrocínio e à iniciativa também do Dr. Jorge Paulo Lemann, procurou responder a essas perguntas. Chegamos a algumas conclusões, mas tivemos muitas dúvidas.

            Outra questão: como o Brasil pode ser um dos melhores dos países do mundo em educação? Aí, as dúvidas são totais. Aliás, aí eu vou dizer que existe uma dúvida até em se devemos ou não buscar ser um dos melhores, porque, no Brasil, nós nos acostumamos tanto com a mediocridade na educação que há gente que ri, quando se fala que o Brasil pode um dia ser um dos melhores do mundo.

            Ri! É triste, mas é verdade, como se fosse uma coisa impossível - não é impossível. Mas como fazer?

            Aí, a gente discorda entre nós. Eu, por exemplo, defendo a ideia da federalização, mas a federalização é a questão da gestão. Mas como a gente faz a federalização? Não sei, eu não tenho certeza, tanto que já mudei para chamar de adoção, e não de federalização.

            Que a escola peça ao Governo Federal que adote as escolas da cidade! Mas como fazer? Como fazer com que seja melhor? Por cidade, como eu defendo? Por escola? O Brasil inteiro de uma vez, melhorando aos pouquinhos até ser um dos melhores?

            A gente sabe - pelo menos alguns como eu - que nós temos que ter a meta de sermos um dos melhores, mas não sabemos como. E como fazer a escola igual para todos? Eu creio que aí também há discordância.

            Existe gente que acha que a educação tem que ser desigual mesmo, que a educação é uma coisa de alguns que nasceram para isso, especialmente os ricos, mas muitos de nós acham que a educação tem que dar a mesma chance a qualquer criança depois que ela nasce. Mas como é que a gente faz isso? Muitos nem acreditam, não é, Senadora?

            Eu conversei, antes de ontem, com o Raí, o nosso jogador, para checar se era verdade uma coisa que alguém tinha me dito que ele falou numa entrevista. E ele confirmou. A senhora vai gostar disso.

            Perguntaram ao Raí qual foi a maior surpresa dele, na França, quando ele jogou lá, se não me engano no Paris Saint-Germain. E ele disse, com uma sensibilidade rara: “A maior surpresa que eu tive foi o fato de que minha filha ia à mesma escola que a filha da empregada da minha casa”. Ele levou uma empregada do Brasil.

            As duas iam à mesma escola, na mesma calçada, saíam juntas, estudavam juntas, faziam o dever de casa juntas. Isso é possível para todo mundo. Isso é possível no Brasil.

            Os franceses não têm nada de melhor do que o Brasil nisso. Só que começaram isso antes, há 150 anos, eles já começaram a fazer isso. Então, a pergunta.

            Queremos escola de qualidade para todos, não só para os filhos dos ricos. Queremos que o filho do mais pobre possa ter uma escola tão boa quanto o filho do mais rico, porque, se não fizermos isso, estamos jogando fora o maior recurso que o País tem, que é o cérebro de seus habitantes.

            Alguns acham que a coisa mais importante do País são os poços de petróleo - coisa nenhuma. Poço de petróleo é poço de lama. Aquela lama só vira combustível graças à engenharia, que é um produto do cérebro, mas a gente não sabe ainda como fazer a escola ser igual para todos, embora queiramos isso.

            O envolvimento dos pais. Esta é uma certeza total: os pais têm que se envolver na educação das crianças. Não há como educar crianças sem os pais, salvo uma ou outra exceção genial por aí.

            Mas, como envolver, especialmente num país como o Brasil, em que os pais não tiveram educação, em que os pais não tiveram escola e, portanto, mesmo a escola ruim de hoje é melhor que a escola que os pais tiveram, que era a não escola. Como fazer o envolvimento?

            Eu coloquei um projeto de lei, Senadora Ana Amélia, aqui no Senado, que passou no Senado, e que foi para a Câmara. Quando chegou o último instante, o Governo da Presidente Dilma não deixou passar. Era um projeto, Senadora Ana Amélia, que dizia que os pais da Bolsa Escola deveriam ir à escola dos filhos para poderem ter o direito de receber a bolsa, ou seja, essa é uma tentativa de responder a essa pergunta: como envolver os pais? Criando um condicionamento!

            Coloquei outro projeto: do jeito que a gente paga uma multa se não for votar, a gente tinha que pagar uma multa se não vai à escola dos filhos. É uma maneira. Pode não ser a melhor, mas temos que descobrir uma; se não inventarmos uma maneira de envolver os pais, não adianta.

            Fui falar com a Ministra, Tereza Campello, porque ela era contra. Um argumento era o de que era um sacrifício aos pais pobres irem à escola do filho. É inacreditável.

            Outro argumento era o de que os pais moram longe da escola. Pai não mora longe da escola, a escola é que é longe do pai. Mude a escola!

            Terceiro, que os pais não conseguiriam falar com os professores. Ainda que fosse verdade, é lamentável submeter-se a isso, até porque, os pais indo, eles vão se falar, e vão perder essa inibição que há hoje, é verdade. Pois bem, foi uma tentativa que eu fiz, mas temos que encontrar uma maneira de envolver.

            Essas, Senadora, são algumas das perguntas com as quais nós terminamos saindo de lá, apesar de termos saído com algumas certezas. Mas a certeza principal - e eu concluo - é a de que, sim, há empresários que se preocupam com a educação. Há empresários que se preocupam, e o Jorge Paulo Lemann é um desses.

            Eu espero que outros sigam essa iniciativa, essa preocupação, e cheguemos a ter aqui - como o Gerdau tem feito, com o movimento “Todos pela Educação”, e esse tem sido também um grande batalhador, seu conterrâneo - outros empresários que se envolvam. Só aí a gente vai conseguir fazer o que é preciso, ter consciência do que é preciso fazer e descobrir como fazer, e não esperar nem mesmo o “como”, mas começar a fazer, praticar. E, na marcha, ir descobrindo o que é que a gente precisa fazer, para que o Brasil um dia tenha todas as suas escolas da máxima qualidade, e todas as escolas com a qualidade similar, de tal maneira que nenhuma criança fique excluída, de fora, porque o CEP que há na sua testa não é de cidade rica, ou o CPF dos pais que há na sua testa não é de família rica.

            Temos que apagar esses dois carimbos que as crianças recebem ao nascer no Brasil. Antigamente, recebiam outro carimbo, o de serem escravas por causa da cor, e continuavam escravas; agora, recebem o de que não vão ter educação, e aí continuam sem educação. E o País, perdendo esse patrimônio maravilhoso que é o cérebro de nossas pessoas, o cérebro dos brasileiros, o maior de todos os recursos, que só se desenvolve se passarem por uma boa educação.

            Vamos esperar que outros empresários assumam esse compromisso com o Brasil, apóiem a busca de descobrir o que fazer para que o Brasil seja um País educado.

            Era isso, Srª Presidente.

 

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Maioria/PP - RS) - Senador Cristovam, eu queria dizer a V. Exª que concordo em gênero, número e grau com a avaliação que V. Exª acaba de fazer sobre o papel e o protagonismo de Jorge Paulo Lemann. Eu o considero um mecenas da educação.

            Ele não precisaria estar cuidando disso, porque os seus negócios são globalizados hoje, ele adquiriu os maiores grupos americanos. Para um empresário brasileiro, isso é uma demonstração clara de competência, de muita habilidade e de ter uma atitude low profile. É uma pessoa absolutamente discreta. É um empresário, um líder que dá exemplo para todo o mundo.

            Mas o investimento que ele tem é um compromisso, eu diria assim, com o seu espírito de brasilidade com o País. E evidentemente nenhum país do mundo hoje cresceu, se desenvolveu e chegou a patamares de alto conceito internacional tão rapidamente quanto aqueles que investiram maciçamente em educação. A própria China tem a sua riqueza nos investimentos em educação. A Índia, a mesma coisa. A Indonésia, a mesma coisa. Assim como a Coreia do Sul e hoje também países que são ícones no modelo de educação, como a Finlândia.

            Então, todos eles tiveram e têm, mesmo com as desigualdades que tem a Índia, ou que tem a China, do ponto de vista social. Mas o que estão fazendo em educação é extraordinário, porque é a educação que vai mudar o patamar econômico e social desses países. Foi o que aconteceu na Coreia do Sul, o que aconteceu na Irlanda do Norte e em outros países.

            Então, eu o acompanho, e esse trabalho, esse investimento, esse compromisso do Jorge Paulo Lemann na questão da educação é extraordinário.

            Tive a honra de participar do Seminário Educação para o Século 21, na Universidade de Harvard, conheci essa instituição respeitadíssima. Alunos do mundo inteiro estão lá. Para quê? Para discutir exatamente o Brasil num grupo heterogêneo de pessoas, e todas chegando à mesma conclusão: o Brasil precisa ter, como prioridade, foco em educação.

            Também concordo com o senhor. Tive até um encontro, conheci agora em Dubai um jovem também empreendedor, Eduardo Mufarej. Conversamos muito, e eu até disse que teria sido música nos seus ouvidos quando ele falou em federalização. Eu disse: “O Senador Cristovam ficaria muito feliz.” Ele fala na federalização num conceito de um conteúdo escolar que tenha um sentido nacional, porque, senão, o senhor vai criar, digamos, essas desigualdades, com currículos diferenciados nos níveis fundamental e médio, por exemplo. Então, isso eu acho que é um tema para ser discutido. Mas essa é uma questão que está colocada na agenda e na pauta dos grandes líderes, sejam da área política, sejam da área econômica do nosso País.

            Eu fico muito feliz com esse reconhecimento não só em relação a Jorge Paulo Lemann, mas também ao próprio Dr. Jorge Gerdau Johannpeter, que também tem um comprometimento muito grande com essas questões.

            É gestão, e chega-se sempre a um ponto: também o aluno de hoje, Senador Cristovam, não é o aluno de 10 ou 20 anos atrás. Esse aluno precisa ser tratado como um aluno que tem aqui, neste aparelho...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) -Isso.

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Maioria/PP - RS) - ... uma aula inteira, um currículo inteiro, uma agenda inteira de informações. E, se o professor não estiver preparado para receber e acolher esse aluno, essa escola vai estar defasada no tempo e no resultado do aprendizado que esse aluno terá nessa escola. Ele mudou, mas a escola não mudou. V. Exª abordou claramente: a escola não mudou, continua com o quadro-negro, na era da internet, na era digital, em que, nas universidades, nessas escolas mesmo e nesses países, o aluno trabalha só com o laptop. Esse é o mundo que nós precisamos desenvolver e criar em nosso País.

            É não é difícil, Senador. Não é difícil fazer isso. É preciso o comprometimento de todos: dos prefeitos municipais, das lideranças, mas, sobretudo, dos professores, porque é preciso dar-lhes uma qualificação absolutamente diferente da que têm hoje, do nível dos nossos professores. E o Estado é que tem que fornecer isso. Hoje, preocupa-se mais com salário do que com esse conceito de qualidade da educação. Salário é importante? Fundamental, mas é preciso cuidar da qualidade do professor que está enfrentando uma sala de aula. E também é preciso cuidar de um problema gravíssimo: a violência a que o professor hoje, no Brasil, está sendo submetido nas periferias.

            Então, eu queria cumprimentá-lo, porque se renova a minha admiração pelo senhor, com esse compromisso inarredável em relação à questão da prioridade na educação em todos os níveis, não só no nível fundamental, médio, superior, porque o Brasil só vai ser uma nação respeitada quando nós tivermos essa escola onde o filho do patrão frequente a escola do filho do empregado.

            Parabéns, Senador.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senadora.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/12/2014 - Página 159