Discurso durante a 183ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Discurso de despedida do Senado Federal e reflexão sobre a trajetória política de S.Exª ao longo dos últimos sessenta anos.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA.:
  • Discurso de despedida do Senado Federal e reflexão sobre a trajetória política de S.Exª ao longo dos últimos sessenta anos.
Aparteantes
Aloysio Nunes Ferreira, Alvaro Dias, Ana Amélia, Antonio Aureliano, Antonio Carlos Valadares, Armando Monteiro, Ataídes Oliveira, Aécio Neves, Casildo Maldaner, Cyro Miranda, Cássio Cunha Lima, Eduardo Amorim, Eduardo Braga, Eduardo Suplicy, Eunício Oliveira, Flexa Ribeiro, Jarbas Vasconcelos, José Agripino, João Capiberibe, Luiz Henrique, Lídice da Mata, Lúcia Vânia, Magno Malta, Marcelo Crivella, Paulo Bauer, Paulo Paim, Randolfe Rodrigues, Ricardo Ferraço, Roberto Requião, Rodrigo Rollemberg, Ruben Figueiró, Valdir Raupp, Vanessa Grazziotin, Vital do Rêgo, Waldemir Moka, Walter Pinheiro.
Publicação
Publicação no DSF de 11/12/2014 - Página 224
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA.
Indexação
  • REGISTRO, DESPEDIDA, ORADOR, CARGO PUBLICO, SENADOR, ENFASE, ATUAÇÃO, SENADO, PARTICIPAÇÃO, HISTORIA, PAIS, DEFESA, REFORMA POLITICA, COMBATE, CORRUPÇÃO, IMPUNIDADE, REQUERIMENTO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, CARTA, AUTORIA, GOVERNADOR, RIO GRANDE DO SUL (RS), VICE-PREFEITO, MUNICIPIO, PORTO ALEGRE (RS), ASSUNTO, ANALISE, CAMPANHA ELEITORAL.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Meu querido amigo e meu irmão Senador Paulo Paim, que para a honra nossa preside esta sessão; minha querida amiga, companheira de longo tempo, na vida profissional, na imprensa e na política, querida Senadora Ana Amélia; meu querido amigo, brilhante, extraordinário jornalista de rádio e televisão, que já poderia ter ingressado na vida pública, lá se vão 20 anos, tantos convites que eu lhe fiz para ingressar, e agora está aqui, e tenho certeza de que honrará esta Casa, é uma emoção e eu agradeço ao Sr. Presidente que neste instante estejam os três Senadores gaúchos presidindo a Mesa na hora em que este gaúcho volta para os seus pares.

            Querida Ivete; agora Deputado Tiago, que tem uma longa vida, que está começando; minha querida Miriam, minha nora; Pedrinho, lá na faculdade; querida Ana Clara e minha querida netinha - eu, com 85 anos, e é minha primeira netinha, que faz exatamente aniversário, quando eu faço aniversário; eu vou fazer 85 anos, no dia 31 de janeiro, no dia em que saio desta Casa, e ela, a Isabela, vai fazer três anos. Meus amigos de toda uma vida na política, na Casa, meus amigos Parlamentares, senhoras e senhores, hoje eu vou deixar que a emoção sopre palavras no meu ouvido. Não há razão para tristeza quando o coração tem a sensação do dever cumprido.

            Se brotarem lágrimas, que elas irriguem o que de melhor eu pude plantar, enquanto eu aqui estive, nas Comissões, nos corredores, no plenário do Senado, por este Congresso! Ainda que eu tenha cultivado a humildade de reconhecer que fiz menos do que eu poderia e muito menos do que eu desejei fazer, aqui eu não só plantei, eu colhi. Esta Casa, Sr. Presidente, sempre foi para mim terra fértil, e o que mais espero é que a minha colheita possa ter saciado, na medida das minhas limitações como semeador, o desejo de democracia, de soberania, de cidadania e de justiça do povo brasileiro.

            Pelo que fiz, ainda que pouco na minha imensidão, na imensidão da minha vontade de fazer, agradeço em primeiro lugar a Deus, porque de Deus sentimos a presença nas pequenas coisas, nos pequenos gestos - nos pequenos! Como disse o poeta tão citado Manoel de Barros: “Não precisei de ler São Paulo, Santo Agostinho, São Jerônimo, nem São Tomás de Aquino, nem São Francisco de Assis, para chegar a Deus. Formigas me mostraram ele. Eu tenho doutorado em formigas”, completa o notável poeta.

            Eu, da minha parte, tenho conhecimento de ser formiga. Reconheço a minha insignificância diante do conjunto da criação divina, mas tenho procurado dedicar a minha vida a bem servir. Tenho buscado ser instrumento nessa travessia.

            Para dar o merecimento às pequenas coisas, aos pequenos gestos, aos pequenos, para bem representar a grandeza do povo gaúcho e brasileiro e, humildemente, aproximar-me de Deus, eu me vali sempre do meu São Francisco, encontrando permanente inspiração tão poética quanto a das obras do já encantado Manoel - Manoel dos barros e das formigas. E, pensando na minha existência, diante dos postulados deixados pelo Santo que tanto me inspira, eu digo: acho que fui mais consolado do que consolei nesta Casa; acho que fui mais compreendido do que compreendi; acho que fui mais amado do que amei; acho que mais recebi do que doei; acho que mais fui perdoado do que perdoei; acho que mais vivi que morri, mas eu lutei, confesso que lutei.

            Onde eu vi o ódio, lutei para levar o amor; onde eu vi a ofensa, lutei para levar o perdão; onde eu vi a discórdia, lutei para levar a união; onde eu vi dúvida, lutei para levar a fé; onde eu vi o erro, lutei para levar a verdade; onde eu vi desespero, lutei para levar a esperança; onde eu vi tristeza, lutei para levar alegria; onde eu vi trevas, lutei para levar a luz; onde eu vi repressão, lutei para levar a liberdade; onde eu vi tirania, lutei para levar a democracia; onde eu vi corrupção, lutei para levar a ética; onde eu vi impunidade, lutei para levar a justiça.

            Agora, contemplando essa minha caminhada e admitindo que ela deixou marcas profundas na minha alma, faço minhas as palavras do querido poeta gaúcho Mário Quintana: “queria ser eu mesmo”. Não por orgulho, nem por soberba, mas por gratidão. Gratidão pela vida. Gratidão por poder emprestar a minha voz a quem teve a voz silenciada. Gratidão por me saber finito. Gratidão por entender que: “Eu não sou eu [mesmo], sou o momento: passo”.

            Eu passei. Confesso que passei.

            Eu sei que não tenho doutorado e que conheço pouco da vida, afeto que sempre fui às pequenas coisas, aos pequenos gestos, aos pequenos.

            Saio daqui como entrei: ainda um aprendiz. E vou seguir o meu destino fazendo o meu caminho.

            Terei mais tempo agora para ler São Paulo, Santo Agostinho, São Jerônimo, São Tomás de Aquino.

            Terei mais tempo agora para ler Mário Quintana, Manoel de Barros, Pablo Neruda, João Cabral de Melo Neto.

            Terei mais tempo agora para ouvir Chico e Caetano, Mercedes Sosa e Vítor Ramil.

            Terei mais tempo agora para seguir os postulados de Chico de Assis.

            Terei mais tempo agora para ouvir os pequenos.

            Terei mais tempo agora para observar as formigas.

            Terei mais tempo agora para conversar com os jovens.

            Tereis mais tempo agora para “fotografar o silêncio, o perfume, o perdão, o sobre, a nuvem, a existência”, como disse o poeta.

            Terei mais tempo agora para conversar com os meus amigos. Jogar fora a conversa que guardei, por tanto tempo, debaixo do colchão dos meus sonhos.

            Terei mais tempo agora para mergulhar no Mar Vermelho da torcida colorada, do meu Internacional.

            Terei mais tempo agora para conviver com a minha família, com os meus irmãos.

            Terei mais agora para curtir o sorriso das crianças, para aprender a ser feliz com (e como) a minha querida neta.

            Terei mais tempo, enfim, para conhecer melhor a mim mesmo.

            E mesmo que não reste tempo para tudo me responder, peço a Deus que me conceda a graça de que tenha o tempo suficiente para as minhas perguntas, as minhas angústias, as minhas dúvidas, as minhas eventuais faltas de fé.

            Terei mais tempo agora para dar conta a Deus dos meus fraquejos e desatinos, para que eu possa, ao menos, me sentir perdoado por Ele e por quem eu os pratiquei.

            Terei mais tempo, não importa se me reste menos tempo. Já disse alguém: “quanto menos tempo a gente tem, mais coisas consegue fazer”.

            As minhas palavras deixam agora o relento dos discursos, mas não recorrerão ao agasalho do silêncio. Vou soprá-las a outros ouvidos, vou semear em outros campos férteis como este do qual agora me despeço.

            Vou agora para onde estão os jovens, porque é deles o reino do futuro. E a missão lá fora também urge.

            Vou caminhar por este imenso País e semear as minhas ideias nos campos fecundos do saber de uma juventude que clama por mudanças. Não mais uma juventude de palavras silenciadas pela repressão; agora, elas são impelidas pela indignação. A indignação com a impunidade que alimenta a corrupção. A mesma corrupção responsável pelas nossas maiores mazelas.

            Eu não consigo imaginar como são as noites de sono do corrupto e do corruptor, que veem no noticiário da noite o choro da mãe, filho desfalecido no colo, pela falta do hospital que poderia ser construído com o dinheiro público que eles escondem debaixo de seus colchões - colchões com etiquetas de paraíso fiscal.

            Que sonhos ilustram esses mesmos sonos, se eles sabem que mais de 10 milhões de brasileiros ainda são considerados indigentes, miseráveis que vivem dos restolhos do nosso desdém e que morrem, severinamente, um pouco por dia, por falta de comida, de remédio, de cidadania?

            Eu vou às universidades, às associações de classe, às igrejas, a todas as tribunas que me permitam lançar as minhas sementes de ética na política no Brasil de hoje e do amanhã.

            Eu vou, enfim, aonde o povo está.

            Foram 32 anos só nesta Casa, ao longo dos meus 60 anos de vida total na política. Mais de três décadas.

            A minha vontade é de dirigir-me a cada um dos companheiros que aqui tive, para abraçá-los e agradecer-lhes a dádiva da convivência. Bem-aventurados sejam todos!

            Choramos, nesses anos, a partida de muitos dos nossos. A bênção ,todos os que são saudade. Suas vozes ainda ecoam no silêncio destes corredores e plenários. Seus exemplos continuam apontando o caminho do bem.

            Lembro-me de alguns, em homenagem a todos.

            A bênção, Teotônio Vilela, Tancredo Neves, Ramez Tebet, Mário Covas, Franco Montoro, Jefferson Péres, Itamar Franco.

            A bênção, Alberto Pasqualini, meu grande mestre e inspirador maior da minha trajetória na política e na vida social.

            A bênção, Ulysses Guimarães, maestro da cidadania da nossa Constituição, que não foi Senador, mas teve o dom de ocupar todas as nossas mesas e cadeiras, os nossos corações e as nossas mentes, de quem eu disse no dia depois - havia um grande silêncio nas ruas do Brasil, após a sua morte; sim, houve e ainda há um grande silêncio neste plenário na ausência das falas do grande Ulysses:

Não obstante o silêncio e a ausência, silêncio que perturba os nossos ouvidos, ausência que fere os nossos olhos, a voz forte de Ulysses Guimarães ecoa na consciência moral deste Parlamento, de nosso povo e de nosso tempo.”

            A bênção, Darcy Ribeiro, professor e aprendiz, que tão bem retratou o povo brasileiro, na sua obra extraordinária, e que traduziria, assim, este momento:

Fracassei em tudo o que tentei na vida.

Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.

Tentei salvar os índios, não consegui.

Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.

Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.

Mas os fracassos são minhas vitórias.

Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.

            Eu também, como Darcy Ribeiro, tentei. Confesso que tentei.

            À sua semelhança, Darcy, jamais vou querer ocupar o lugar daqueles que me venceram nessa minha luta pela ética, pela moral, pela dignidade na política. Levo comigo a certeza de que, para eles, a história será implacável.

            Quisera voltar no tempo, ao momento mesmo de recomeçar. No exame de consciência da volta, encontrar a vida que se inicia.

            Queria, nesse ir e vir de mim mesmo, me encontrar no tempo da Assembleia Nacional Constituinte, período em que o destino mobilizou o povo gaúcho e me levou ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

            Sonho com uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva, se Deus permitisse, para fazer o que o povo exigiu nas ruas, no ano passado, e hoje exige: verdadeira reforma política, ética, moral do povo brasileiro.

            Já disse, um dia, que eu teria renunciado ao meu mandato de Senador, caso recebesse do povo brasileiro a missão de elaborar um novo aparato legal que permitisse erradicar o malfeito da política brasileira. Saio hoje, e o malfeito teima em ficar.

            O Congresso, em muitos casos, fez ouvidos moucos para os gritos roucos. O grito das ruas, o meu grito, o grito das mulheres e dos homens de boa vontade e de conduta reta. O grito de quem não pactua com os desmandos dos que mandam.

            Louvado sejam os bons mandos!

            O Supremo Tribunal Federal deu um enorme passo ao combater o que eu sempre defendi ser o maior de todos os males brasileiros: a impunidade. O julgamento do mensalão pode ter sido um divisor de águas. Turvas, observamos, a montante; límpidas, esperamos, a jusante. Leito seguido, agora, pela Justiça Federal do Paraná.

            Os escândalos da Petrobras, pelo que aquela empresa significa na nossa história de luta pela soberania nacional, é algo assim como uma punhalada traiçoeira em quem tem, de fato, coração valente. Que não morre, mas sangra. Sangra pelo recurso que jorra, bruto, pela corrupção; o mesmo que falta, refinado, na dor do hospital, na escuridão do analfabetismo e na guerra civil não declarada das nossas ruas.

            Bem-aventurado Joaquim Barbosa! Bem-aventurado Sérgio Moro! Bem-aventurados todos aqueles que, abnegados, gritam e lutam contra a corrupção e contra a impunidade!

            Bem-aventurados os que, apostolados, empunham a bandeira da ética na política. Bem-aventurados sejam todos os que, por meio de assinaturas e da pressão sobre o Congresso Nacional, alcançaram êxito na aprovação da Lei da Ficha Limpa.

            Esse foi um caso em que o Parlamento dignificou a sua existência. As portas de muitas consciências foram arrombadas de véspera, é bem verdade. Mas valeu, nesse exemplo, o grito estridente das ruas. A unanimidade na aprovação do projeto da Ficha Limpa neste Senado esteve longe de ser burra, como desta maneira também diria, eu estou certo, Nelson Rodrigues. Pelo contrário, foi uma das votações mais inteligentes e mais memoráveis do Senado da República.

            A Lei da Ficha Limpa foi um grande passo rumo à moralidade na representação política. Melhor seria se não necessitássemos de uma lei para exigir que a representação política seja “limpa”. A moralidade na representação popular deveria ser, na sua essência, uma cláusula pétrea. Sem emendas. Algo da própria constituição moral de quem se propõe candidatar-se a um cargo público. Que deve ser assim como um sacerdócio, nunca um negócio.

            Volto agora para o meu Rio Grande. Uma viagem no trem da história.

            Volto ao Rio Grande, com o seu passado de lutas e resistência, de derrotas e vitórias que marcam o caráter e a têmpera de nossa gente, da brava gente gaúcha que brigou e morreu para ser brasileira, para ser parte inseparável do Brasil.

            Volto para o meu Rio Grande do Pampa largo e derramado como a liberdade e a democracia, que ecoam na nossa história com a força do vento minuano e o caráter indomável dos povos Charrua, que nos deram origem.

            Volto ao Rio Grande de minhas raízes, de meus princípios, de meus valores, de meus amores, de minhas crenças, de minhas querenças, de minhas coerências, para sorver outra vez os exemplos que me fizeram, que me instruíram, que me moldaram.

            Volto para o meu Rio Grande, de onde nunca saí, que nunca me faltou, que nunca me deixou, que nunca me abandonou, porque nunca se aparta daquilo que nos define como ser e como alma.

            Volto para o Rio Grande no trem da história, que partiu do Rio Grande e retorna ao Rio Grande, na longa viagem de começo e fim que marca a trajetória de vida de cada um de nós.

            Volto para o Rio Grande com a mansidão e a leveza de nunca ter partido, no trem da memória que nunca sai dos trilhos, nem perde o rumo, nem esquece a chegada.

            Quis Deus que a minha presença nos acontecimentos mais importantes da história de nosso País acontecesse.

            Ainda guri, lá estava eu no enterro de Getúlio Vargas em 1954.

            Moço, fui testemunha e atuei, com vigor de jovem, no governo do Presidente Juscelino, que governou 50 anos em 5.

            Maduro, participei da Campanha da Legalidade, depois da renúncia de Jânio Quadros, para garantir a posse de João Goulart.

            O Sr. Luiz Henrique (Bloco Maioria/PMDB - SC) - V. Exª pode me conceder um aparte, Senador.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Com todo o carinho, Senador. Só queria logo mais, porque darei todos os apartes depois, se V. Exª me permitir.

            O Sr. Luiz Henrique (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Eu só queria dizer a V. Exª que, se fosse possível no Regimento desta Casa, deixaria aquela bancada vazia, aquela cadeira que V. Exª ocupou durante tanto tempo desocupada em homenagem à vida pública de V. Exª. E quero lembrar, como lembrei em outras oportunidade, os versos de Sérgio Bittencourt, naquela mesa onde estava V. Exª sempre presente neste plenário, no ano que vem, vamos dizer: “Naquela mesa está faltando ele e a saudade dele vai doer em nós”. (Palmas.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado.

            E assim continuei a minha vida política, com Teotônio Vilela, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, contra os cães da ditadura, na luta pelo fim da tortura e de todos os tipos de calabouços, pelas Diretas Já, pela anistia ampla, geral e irrestrita, pela Assembleia Nacional Constituinte e pela ética na política.

            Caminhei com Itamar Franco, com quem vivenciei, como líder do seu governo nesta Casa, os verdadeiros postulados da oração de São Francisco, não o sentido perverso do “dando que se recebe” dos nossos dias.

            A História ainda haverá de fazer justiça ao Presidente Itamar Franco.

            Se me perguntassem quais desses momentos mais me marcaram a alma, citaria dois, no mesmo ano de 1984. Um, como um enorme ganho para toda a Nação brasileira; outro, como a maior das minhas perdas na vida toda.

            Aquele foi o último ano de duas décadas de noites sombrias da ditadura militar, com a vitória de Tancredo Neves. Aquele, também, foi o último de uma década de dias ensolarados do meu querido filho Mateus.

            Havia um plantão em Brasília para sustentar a Aliança Democrática que levou Tancredo ao último Colégio Eleitoral. Aquele que iria escolher o Presidente da República, o primeiro civil depois de vinte anos de generais.

            Era Dia de Finados e eu me ofereci para permanecer em Brasília, para fazer a fiscalização, para que a Mesa não vetasse a candidatura de Tancredo. Fiquei em Brasília, em detrimento da companhia da família, em viagem com programação feita para praia.

            De repente, a exemplo de Abraão, o plantão transformou-se para mim em imolação. Não fui a Porto Alegre, eu não estava lá naquela viagem. Viagem interrompida.

            Talvez Deus tenha soprado em mim como provação uma nova versão de Moriá, a terra onde Abraão levou seu próprio filho para oferecê-lo a Deus.

            Moriá significa “Deus providenciará”.

            Embora tamanha perda, eu me fortaleci, sinceramente, na providência divina.

            Não posso deixar de manifestar que quis Deus que esse meu momento também fosse de profunda tristeza pela perda jovem, no fim da noite de ontem, de minha querida sobrinha e afilhada Ana Eliza David. No hospital, em São Paulo, morreu nessa madrugada.

            Confesso que pelos laços afetivos que sempre uniram a nossa família, pensei em não fazer este pronunciamento. De repente, seu irmão que estava ao lado dela me telefonou. E soube que, naquela que seria a sua última fala, ela convidou a todos que a acompanhavam naquele momento de quase despedida para virem ouvir juntos, hoje, nesse exato momento, o discurso do tio Pedro.

            Eu não tive o direito de deixar de vir aqui, hoje, e de atender a um dos últimos desejos de minha querida Ana Eliza.

            Tenho certeza de que ela está me vendo e ouvindo, agora no plenário mais iluminado da nossa existência, na companhia do Criador, depois dessa passageira travessia terrena.

            A bênção, Ana Eliza David. Esteja em paz no repouso que tu mereces.

            Dia desses, eu voltei a subir as escadarias da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, depois de muitos anos. Segurei, por alguns instantes, os ponteiros do relógio do meu tempo. Não sei se me emocionei mais com o barulho dos corredores, ou com o silêncio das salas de aula. Com o abraço saudoso dos professores, meus contemporâneos que lá permanecem, ou com o olhar esperançoso dos novos alunos, que agora se ocupam mais da tecnologia do que da caligrafia.

            Ali eu senti, na pele e na alma, a saudade do passado e a esperança no futuro. Sim, saudade de meu passado e esperança no nosso futuro.

            Talvez seja assim, no duro confronto das duas realidades conjuntas, que eu veja a minha volta ao Rio Grande. Subir e descer as escadarias do meu tempo. Abraçar a saudade e alimentar a esperança.

            As escadarias da Câmara Municipal de Caxias do Sul, as escadarias da Assembleia Legislativa do Rio Grande, as escadarias da União Nacional dos Estudantes, do Governo do Rio Grande do Sul, do Ministério da Agricultura e de outros lugares por onde andei, não sei se deixando saudade, mas certamente cultivando-a em mim.

            Não posso negar que deverá ser dolorida a saudade do nosso convívio diário. De todos os caminhos que nos levam ou que nos trazem, a Roma ou a Meca, neste plenário.

            Do abraço, do dar as mãos, dos cochichos, dos microfones e dos holofotes, de todos aqueles que nos chamam pelo nome e pelo sobrenome, e de quem, para nós, a lembrança já é vaga.

            Franciscano, dividirei a minha saudade, pelo menos assim espero, com todos aqueles que comigo comungaram das mesmas ideias e dos mesmos ideais.

            Deles levo a metade. Para eles, deixo a outra.

            Tenho certeza de que, àqueles a quem incomodei com o meu discurso e com a minha prática, deixo pouca saudade. Mas deles eu também não levarei qualquer rancor. Transformei-o, deste pranto, em esperança.

            A esperança de que reflitam e que mudem. Para que deixem, aqui, a boa rima da melhor herança.

            Levarei saudade incontida dos funcionários desta Casa. Eles são, para mim, a verdadeira “Mesa do Senado”. Uma mesa de comunhão que eu tive a honra e o privilégio de participar.

            Também gostaria de abraçar todos eles, sem uma única exceção, porque eles ajudaram a construir a nossa história nestas três décadas.

            Deixo o meu agradecimento emocionado a todos os funcionários do meu gabinete, os de agora e os de sempre. Eles são, também, a minha grande família. A família que eu escolhi. Juntos, além do trabalho que nos deu o sustento, construímos o que há de mais puro e sincero no sentimento.

            Uma amizade que guardarei do lado esquerdo do peito. Como na canção, “mesmo que o tempo e a distância digam não”.

            No dia 1º de fevereiro de 2015 será o meu primeiro dia, em 60 anos, que eu não terei um mandato por escolha direta do povo do Rio Grande.

            Em seis décadas, vou experimentar, pela primeira vez, uma vida sem o meu nome nas urnas. Votar, sem ser votado; escolher, sem ser escolhido.

            No meu primeiro minuto daquele dia, terei eu 85 anos. E a minha querida neta Isabela, presente de Deus que veio ao mundo exatamente no dia do meu aniversário, completará três anos.

            Eis a vida em movimento: começando para ela; recomeçando para mim.

            Foram seis décadas de vida pública para a qual eu acordei naquele discurso de formatura, como orador da turma de 1957, da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

            Tanto tempo, e parece agora, no tempo do discurso feito, lá e cá, na forma da oração. Dizia eu, em 1957:

Aqui está a geração acadêmica de 1957, comovidos, porque esta é uma hora da despedida, pensativos, porque é impossível não refletir sobre a gravidade da vida que se inicia. E é nesta hora limiar, nesta hora fronteira, compreendendo que é preciso partir, pois há novas gerações, subindo no fluxo incessante das idades, mas ouvindo, lá fora, temerosos, o rumor áspero da vida, indecisos ainda sobre os rumos a seguir, é nesta hora, que, segundo o rito da tradição acadêmica, devemos falar.

            Emocionado, também lá como cá, eu continuei:

Há, sempre, no contínuo suceder dos povos e civilizações, tempos de semeadura e tempos de colheita, épocas de sacrifício e épocas de glória. Nós somos a idade da renúncia. Somos os legionários da honra de salvar as gerações amanhecentes, nesta fase singular da história do mundo.

Cabe-nos cooperar na obra imensa de reespiritualização da humanidade, reintegrando a vida na sua legítima e suprema inspiração, auxiliando os homens de boa vontade que não abandonaram nunca as linhas avançadas da dignidade humana, vigilantes e destemidos, à espera do inimigo que não dorme.

            Mais uma vez, lá como cá, podia terminar o meu discurso com as mesmas palavras:

[...] a saudade seguirá a estrada do passado, a esperança, o caminho do futuro. É que a saudade é a flor do coração e o coração é que recorda. É que a esperança é a luta do espírito, e o espírito é que sonha.

            Seis décadas separam esses meus dois discursos, um lá e outro cá. Nesse tempo eu continuo o mesmo, o mesmo espírito que sonha. Nesse tempo, como Pablo Neruda, em quem me inspirei nessas minhas confissões, eu vivo, completo e confesso que vivi. Vivi o tempo todo e dele tomo conhecimento. E tomo como emprestadas as minhas palavras finais, que deixo como mensagem aos que virão:

Se não puderes ser um pinheiro,

no topo de uma colina,

Sê um arbusto no vale, mas sê

o melhor arbusto à margem do regato.

Sê um ramo, se não puderes ser uma

árvore.

Se não puderes ser um ramo; sê um pouco

de relva

E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,

Sê apenas uma senda,

Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.

Não é pelo tamanho que terás êxito ou

fracasso...

Mas sê o melhor no que quer que fizeres, com garra, com vontade e com disposição.

            Assim são as palavras que eu digo, com muito carinho e com muito amor aos meus irmãos. Eu me despeço com duas palavras do maior significado para mim e que registram nesta Casa o meu sentimento, a minha fé, a minha essência e que se identificam: Paz e bem, meus irmãos. (Palmas.)

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Quem sabe até, pela idade...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT) - A partir deste momento, vamos abrir o aparte aos Senadores e Senadoras. O senhor é quem manda. Só um sinal e já será uma orientação para a Mesa.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Agradeço de coração entenderem o que eu falei.

            Quero transcrever para meu discurso duas cartas: uma do Governador José Ivo Sartori, Governador eleito do Rio Grande do Sul; a outra, de Sebastião Melo, Vice-Prefeito de Porto Alegre, que coordenou a campanha para as eleições no Rio Grande do Sul. Eles analisam a campanha e falam sobre minha participação. Eu não era candidato, mas, na última hora, houve uma determinação. O Partido exigiu e eu aceitei. Muitos diziam que eu não devia coroar minha vida com um resultado desses de última hora, mas eu respondi: eu tenho de fazer isso.

            E houve a vitória de Sartori. Eu desejo que ele faça um bom governo. Acho que valeu a pena, independente do que aconteceu comigo.

            Eu peço a transcrição...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT) - Será, com certeza, reconhecida toda sua fala e os seus registros ficarão nos Anais da Casa.

            Eu queria, antes de os Senadores usarem da palavra, com enorme satisfação, para que todos saibam, que estão aqui no plenário a esposa do Senador Simon, Dona Ivete, seu filho Pedro - levanta, Pedro, para a turma saber -, o Deputado Tiago, filho também. Tomás está lá em Porto Alegre, mas ligou para cá e disse que está assistindo neste momento; a Mirian, nora, com a neta Isabela (Palmas.).

            E me permita, Simon. Estão vendo aquela menina que corre ao fundo do plenário? Aquela é Ana Clara. Um dia, numa janta na casa do Senador Simon com a Bancada gaúcha, a Ivete e o Senador Simon me disseram: “Tivemos três filhos - estão aqui os três -, com a maior alma e o maior sentimento. E esta é nossa filha também, que amamos com o mesmo coração, que é Ana Clara.” Levante-se, Ana Clara, com as palmas do Plenário. (Palmas.)

            Daqui para frente, o Senador Simon é quem cederá os apartes a cada Senador e a cada Senadora.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Senadora Ana Amélia.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Eu só queria pedir licença, na condição de Senadora do Rio Grande do Sul, e dizer que trago aqui, Senador Simon, a reverência que os brasileiros e as brasileiras nutrem pelo senhor, o homem de cabelos brancos. E não é de um gaúcho, poderia ser. É de um carioca, melhor, de um fluminense - cariocas são os que nascem no Rio de Janeiro -, escrita a mão, uma carta que recebi do Cristovão Machado Lopes, de Cabo Frio, no Estado do Rio de Janeiro.

            E pelo tipo de mensagem que, claro, não vai evocar esta belíssima história de comprometimento com as instituições, com o regime democrático, do Senador Pedro Simon, mas pela forma como ele enxerga um homem de cabelos brancos, exemplar na conduta política e outros tantos.

            Esta é a mensagem que eu trago, porque prometi ao Cristovão Machado Lopes, Senador, que recebeu a sua biografia numa carta que ele lhe enviou e o senhor lhe remeteu. Ele tem 65 anos e escreveu, entre outras coisas, está aqui a carta dele, de próprio punho, na era digital, o que tem mais um significado.

Um senhor pleno de retidão [cabelos brancos] e justiça que infelizmente deixará uma lacuna impreenchível [a cadeira vazia, Senador Luiz Henrique]. Se me permite falar, alguém um dia disse: “Ninguém é insubstituível”. Este alguém errou, pois pessoas como o senhor, Senador Pedro Simon, são deveras insubstituíveis, não só ele como mais alguns que fazem parte deste Congresso e que, depois de um dia de expediente exaustivo e na hora do seu deitar, não ficam olhando um teto vazio e até sombrio em busca de atenuantes...

O seu sono [Senador Simon] é tranquilo, o sono daquele que tem a certeza de que sempre fez a sua parte e que a sua consciência é pura e tranquila e que seu alvorecer sempre será aos acordes do madrigal dos pássaros, o seu entardecer será embalado pela brisa mansa que embala os trigais e, no seu anoitecer, virão os sonhos que se concretizarão na próxima alvorada feliz.

[Escreveu o seu admirador - como tantos brasileiros - Cristovao Machado Lopes, lá de Cabo Frio].

A pátria são aqueles que ojerizam a corrupção. A pátria é a história, é o bem comum, para onde convergem todos os corações.

A pátria é o compartilhamento de mentes solidárias na construção de um mundo melhor, onde se deve ojerizar a ganância, a soberba, o racismo, a corrupção, a ironia, o sadismo e ignorar os fracos de coração e mentes.

Ser feliz [Senador Simon, esta é a mensagem do Cristovão, que é abraçada por todos nós e por nós da Bancada gaúcha] é ter a certeza de ainda encontrar em uma pátria seres que trazem em si a plenitude de caráter, retidão e justiça no combate aos nocivos que plantam pimenta e, na sua prepotência, acreditam colher maçãs!

Um agradecimento muito especial ao Senador Pedro Simon e aos que nos dão esperanças, pois somos muito fracos e não temos uma tribuna à mão para narrarmos os nossos sofrimentos.

            O Cristovão Lopes, lá do Rio de Janeiro, endossa os sentimentos de grande parte ou da maioria dos brasileiros, especialmente dos seus conterrâneos, Senador Pedro Simon. (Palmas.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado, Ana Amélia, pelas suas palavras, pelas palavras do amigo do Rio de Janeiro.

            Foi com grande satisfação que convivi contigo e com o Senador Paim. Nós fizemos um trabalho realmente emocionante para o Rio Grande do Sul.

            Tenho certeza, meu bravo companheiro do Rio de Janeiro, de que a minha cadeira será ocupada, com muito brilho, pelo meu amigo Lasier Martins. Pelo seu passado, pela sua história, pela sua biografia, ele tem a competência e a dignidade de isso fazer.

            Quero agradecer ao meu companheiro Luiz Henrique o aparte que deu e que deixei para responder agora. Na verdade, se está faltando um para nós, é o velho Ulysses. Esse, sim, é um fenômeno fantástico.

            Uma coisa que deve ser analisada: o acidente aconteceu, e se encontrou tudo que havia naquela viatura, tudo: os corpos, os ossos, a roupa, tudo. Só não se encontrou o corpo do Dr. Ulysses.

            Eu me lembro de que, uma semana depois, não encontrando nada, não acontecendo nada, nós fomos lá, na praia fluminense, e caminhamos por ali, onde tinha caído a aeronave. Perguntamos aos marinheiros que estavam ali: “Vocês não viram nada? Nesses dias, não apareceu nada flutuando, que o mar jogasse para a terra?”. “Não.”

            Aí, um rapazinho disse: “Olha, o que se conta aqui é que para quem se levanta cedo, de madrugada, quando o sol está raiando, aparece uma figura alta, de uns dois metros ou mais, magra, caminhando de pés descalços pela beira da praia, que diz: ‘Até a liberdade, meus irmãos.’”

            Esse é o Ulysses de quem nós guardamos, no fundo do coração, a imagem permanente.

            Pois não, companheiro Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Querido Senador Pedro Simon, eu quero, sobretudo hoje, lhe dizer obrigado. V. Exª foi, aqui, para mim, um professor, um irmão, uma pessoa que tantas vezes ensinou a todos nós o bom exemplo, o caminho. Foi, especialmente, um Senador que sempre disse a todos nós, inclusive àquela pessoa que estivesse na Presidência da República, que cada um, aqui, deveria sempre agir e votar em função daquilo que considerasse o melhor para o interesse público, nunca porque houve a designação de pessoas por esse Parlamentar indicadas ou porque tivesse sido liberada uma emenda de sua autoria. V. Exª também mostrou-nos, com muita amizade até para com os Presidentes da República que, desde 1991, estiveram no Governo, as suas avaliações críticas, que V. Exª sempre fez em tom de quem era um verdadeiro amigo. Quero lhe dizer que foram muitas as ocasiões em que eu segui as recomendações, os apelos que V. Exª dirigia a mim e aos companheiros de meu Partido, o Partido dos Trabalhadores. Houve até um dia em que eu, instado por recomendação de V. Exª, por uma vez só, agi de maneira diferente do que a direção nacional do Partido havia recomendado porque se tratava de um dever de consciência. Naquele dia, V. Exª me alertou e, depois, na verdade, isso acabou sendo objeto de respeito e consideração até por meus companheiros. Portanto, muito obrigado pelo exemplo, pelas observações e recomendações que V. Exª deu a todos nós e ao povo brasileiro e, sobretudo, por sua luta incansável pelo aperfeiçoamento da democracia, pela continuidade das recomendações e palavras de pessoas como Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela e Darcy Ribeiro. Sempre terei em V. Exª um grande amigo, um grande irmão, um conselheiro. Parabéns. (Palmas.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu amigo Suplicy, somos dois irmãos que estão se despedindo. Eu quero falar a V. Exª da admiração e o respeito que eu tenho por V. Exª. V. Exª foi o primeiro Senador do PT nesta Casa, e, durante o tempo em que foi o único Senador do PT nesta Casa, o PT tinha uma Bancada notável na dignidade, na seriedade, na honradez, defendendo os princípios pelo qual ele foi fundado da busca da solidariedade e da busca dos interesses da sociedade brasileira. V. Exª foi um homem de uma palavra só. V. Exª teve uma linha, teve uma ética, teve uma firmeza de ação. V. Exª foi um incompreendido. V. Exª não teve no PT a honra e o merecimento que tinha. V. Exª tinha que ser um membro honorário do Partido, um cargo garantido no Partido, com respeito garantido no Partido. Mas V. Exª permaneceu no Partido, não saiu. Podia ter saído. Muitos saíram e muitos trilharam outros caminhos, mas V. Exª ficou. Mas ficou mantendo a sua dignidade, mantendo a sua honradez. Se dependesse de V. Exª, o PT seria hoje um quadro magnífico, com grandes glórias e grandes realizações. O que tem de negro, o que tem de escuro foi feito à revelia de V. Exª, contra o pensamento e contra a vontade de V. Exª. Eu o louvo, eu o admiro. V. Exª sairá daqui, não sei se muitos petistas haverão de chorar, mas o povo de São Paulo haverá de se lembrar sempre de quem foi Suplicy neste Senado, e eu sou testemunha para o resto da vida. (Palmas.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Pedro Simon.

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Pedro, não só porque o Senador Luiz Henrique citou, inclusive, que essa cadeira ficará vazia, não só porque o Lasier Martins, Senador que está chegando, vai ter um trabalho extraordinário para poder substituí-lo, sem dúvida alguma; não só porque esta Casa está enchendo para ver e ouvir o pronunciamento de V. Exª, não só porque o Senador Loyola veio, especialmente, de Joinville, o Prefeito de São Joaquim, o Brighenti, veio também para isso, lá da Serra, assim como a Deputada Carmen, lá de Lages, como o Senador Neuto de Conto, que veio para cá também... Como o Luiz Henrique falou, não é fácil. Recordava-me o Luiz, inclusive, que uma cadeira não pode ser ocupada. Mas o Lasier vai ter um grande trabalho. Lá no centenário Mercado Público de Porto Alegre, existe uma cadeira pendurada, a daquele compositor extraordinário, o...

(Intervenção fora do microfone.)

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco Maioria/PMDB - SC.) - ... Lupicínio Rodrigues. Está lá, naquele restaurante do centenário Mercado Público de Porto Alegre, aquela cadeira pendurada. De quem é? É do famoso compositor Lupicínio Rodrigues. A gente vai lá, e está lá a cadeira pendurada. Se aqui ela não puder ficar ali, porque o Lasier vai ocupá-la, vai ter um trabalho extraordinário, na nossa imaginação, ela vai estar desocupada ou vai estar pendurada em algum lugar deste Senado, em algum lugar desta Casa, sem dúvida alguma - viu, Pedro? Pedro, eu nunca esqueço - serei rápido -, em 1986, na ponte do Rio Uruguai, entre Iraí e Palmitos: V. Exª era candidato a Governador do Rio Grande do Sul e o seu Vice, Sinval Guazzelli - de saudosa memória -, por Santa Catarina, outro Pedro, o Pedro Ivo, e eu tive a honra de ser candidato a Vice. Nós quatro nos encontramos em cima da ponte, no meio do Rio Uruguai - o Rio Grande e Santa Catarina -, e os senhores, os dois Pedros, deram-se as mãos, para dizer: “Vamos lutar pelo Rio Grande e por Santa Catarina.” Os dois Pedros. E eu dizia, na época... Recordando, e te digo agora... Não só na semana passada, também recordando, quando V. Exª foi condecorado pela União Nacional dos Vereadores, no auditório que leva o nome de Ulysses Guimarães, lotado de Vereadores do Brasil, quando V. Exª foi homenageado pelos Vereadores do Brasil, eu tive a honra de dizer, quando V. Exª afirmou - e hoje de novo - que vai sair pelo Brasil afora com seu cajado: “Sai, Pedro, continue a pregar para a juventude - não só o Francisco, que veio de Roma há pouco -, pregar para a juventude pelo Brasil afora. Não pare, continue. V. Exª, que representa para nós uma resistência, é um ícone não só para nosso partido, mas para a ética, para a moral brasileira, até não querendo.” Mas está na Bíblia. Ele já disse uma vez - está lá na Bíblia, sobre aquele Pedro, o apóstolo - que sobre ela ia edificar a Igreja, porque representa uma rocha. Para nós, o Pedro - outro Pedro -, que aqui está, é que representa essa resistência sem dúvida alguma. Saia pelo Brasil afora e, como também estou saindo, com o nosso Suplicy, saio para o Brasil, se precisar, quero ser seu coroinha, para acompanhá-lo nessas caminhadas. Muito obrigado. Um abraço, Pedro. (Palmas.)

            O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Apoio Governo/PSOL - AP) - Senador Pedro Simon. 

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu amigo Casildo, se eu pudesse destacar, nesta Casa, alguém para dizer da pureza, da humildade, da grandeza de sentimentos, sem inveja, sem mágoa, da simplicidade na busca, não procura valores nem vantagens nem aparecer, mas o homem que está firme no momento da dificuldade - e o Luiz Henrique pode ser -, é V. Exª. V. Exª é um dos quadros mais respeitáveis que conheço nesse, hoje, partido de Santa Catarina, que, depois do nosso Luiz Henrique, transformou-se em um Estado excepcional no seu desenvolvimento.

            Daquela reunião ali na ponte, o nosso querido Pedro Ivo não está mais. Ele foi o grande nome nosso que iniciou essa caminhada e, ao nosso lado, o Synval Guazzelli, um homem emocionante, extraordinário, digno correto, também não está.

            Falando no Synval e falando no Pedro. O Pedro, na luta intensa para, quando chegar ao governo, com a vontade de fazer, realizar aquilo que o Luiz Henrique fez depois. Teve uma doença dura e um sofrimento tremendo, mas S. Exª completou o seu mandato com grande capacidade e com grande dignidade. E eu, que vi no Synval Guazzelli um homem emocionante, pedi a fita e consegui na Câmara dos Deputados, um momento daqueles da Câmara que era uma guerra, todo mundo dizendo desaforo para todo mundo, um assunto que era simples de aceitar, mas que ninguém queria aceitar.

            O Guazzelli, na cadeira de rodas, praticamente quase já imóvel, só falando e balbuciando, pediu a palavra no microfone. Ninguém ouviu, e aí alguém deu um berro: “É o Deputado Guazzelli que está falando!” Um silêncio. De repente, aquele tumulto se transformou em um silêncio impressionante. E ele disse: “Eu estou aqui, vim aqui no meu caminho para a morte, vim aqui dizer que vocês não podem fazer isso. Esta sessão do Congresso não pode continuar assim, não votando essa matéria por causa disso, por causa disso, por causa disso. Faço um apelo: Vamos votar o que importa para o Brasil. Vamos nos dar as mãos. Vamos ter um ato de coragem e de respeito!” E o povo de pé, os Parlamentares de pé, aplaudiram por unanimidade.

            São fatos que acontecem na vida da gente. Esse, eu nunca vou esquecer na minha vida, foi um dos mais notáveis a que assisti. O Plenário numa guerra total, e ele, balbuciando, falando o que tinha que falar colado ao microfone, silenciou a plateia inteira, e, de repente, aqueles que pareciam que iam se matar, com a palavra dele, se uniram e deram a vitória.

            O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Apoio Governo/PSOL - AP) - Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Apenas, primeiro o nosso Aécio e, depois, V. Exª.

            O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Apoio Governo/PSOL - AP) - Perfeitamente.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Nosso Aécio, que tive a honra de lembrar do seu avô, que foi meu mestre, que foi, na minha geração, o grande condutor - Ulysses e ele. Ulysses mais político e apaixonado; e o Tancredo é que mostrava o caminho que, geralmente, ia dar lá. E, geralmente, deu lá, e deu com ele, embora acontecesse o que aconteceu.

            O Sr. Aécio Neves (Bloco Minoria/PSDB - MG) - Ilustre Senador Pedro Simon, é com uma alegria muito grande que dirijo a V. Exª algumas palavras que vêm do local mais profundo do meu coração e da minha alma. Eu ouvia com atenção o pronunciamento de despedida de V. Exª desta Casa, e não havia como deixar de me lembrar de outra despedida ocorrida nesta Casa, na tribuna à nossa direita, há 32 anos, quando esse seu dileto e, como sei eu, querido amigo Tancredo Neves se despedia também do Senado Federal para enfrentar outro desafio: a partir do Governo de Minas, com a sua participação e de outros ilustres brasileiros - entre eles, Ulysses Guimarães, Teotônio Villela e tantos outros -, construir o caminho do reencontro do Brasil com a democracia e com a liberdade. Ouvi aqui, daquela tribuna à direita, depoimentos de aliados e de adversários, que registravam a dimensão do homem público que deixava esta Casa. Vejo o enorme paralelo, Senador Pedro Simon, entre a trajetória de Tancredo e a sua trajetória e, talvez, por isso, durante tantas décadas militaram juntos, sempre compreendendo que a vida pública - na dimensão maior que essa expressão possa significar - é a mais digna das atividades que um cidadão pode exercer no seio de uma sociedade. V. Exª, com mandato desde o ano de 1959, é hoje entre nós o mais bem acabado exemplo de que a vida pública e a honradez, a vida pública e a ética, a vida pública e o compromisso com aqueles que mais precisam são absolutamente indissociáveis. V. Exª deixará o Senado dentro de algumas semanas, mas estou certo de que não deixará a vida pública, porque os brasileiros continuarão a ter em V. Exª uma das mais importantes referências da ética na vida pública e, sobretudo, nessa quadra de tamanho divórcio entre parcela expressiva da sociedade e os seus representantes pelos desatinos sucessivos com que são confrontados. A palavra de V. Exª será sempre uma palavra referencial e V. Exª, Senador Pedro Simon, é um dos poucos homens públicos que não necessita de cargo, de mandato para exercer a sua liderança, mas, em especial, para ter a sua voz acatada e respeitada por todos os brasileiros. A minha geração de homens públicos continuará a ter em V. Exª, a partir de 1º de fevereiro do ano que vem, a mesma referência de dignidade, de honradez, de espírito público e de enorme amor a este País, da mesma forma que ouvi de alguns dos Parlamentares que apartearam o meu avô Tancredo há 32 anos. Eu quero me dirigir aqui aos seus familiares, aos seus filhos e à sua esposa: vocês podem ter um enorme orgulho, imensurável orgulho da trajetória deste gaúcho, brasileiro, um dos mais qualificados homens públicos que o Brasil produziu no último século. Vida longa, Senador Pedro Simon, porque o Brasil ainda conta imensamente com V. Exª! (Palmas.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Acredite, meu querido Aécio, com que emoção eu falo agora, dizendo que trabalhei, briguei e lutei pelo amigo nas eleições. Fizemos um esforço muito grande, nós e o nosso Partido, no Rio Grande do Sul. V. Exª tem as condições para ser o grande governador do Brasil inteiro. (Palmas.)

            Quero lembrar, porque era emocionante: naquela época, eu era um dos mais jovens, no meio dos velhinhos - Tancredo, Ulysses, Teotônio -, mas tinha um guri, um jovem, que era o secretário particular do Tancredo, que era exatamente o Aécio. Era do Aécio a palavra final, porque, consolidada a vitória, a organização do governo, foi um trabalho feito de pedacinhos e pedacinhos. Fazer uma costura já tinha sido difícil num Colégio Eleitoral, para onde vieram pessoas de outros partidos, como Arena, e nós tínhamos que fazer uma composição para governar. E como dizia Tancredo: eu quero um governo para governar, mas para cumprir os preceitos da carta que nós lançamos.

            Eu dizia, agora na campanha, que, se há uma pessoa que, se eleito, tem experiência, desde o primeiro ao último dia, desde o início da campanha até às vésperas da posse, este é o Aécio. O Aécio acompanhou os lances de maestria. Cá entre nós, o Aécio acompanhou quando veio a burguesia empresarial de São Paulo toda falar com Tancredo. “Nós queremos o Ministério da Fazendo para o Sr. Setúbal.” Eu levei um susto, ele também, ficou silencioso. O Tancredo ficou na maior tranquilidade, na maior tranquilidade, falando e falando. Conclusão: “Não tem problema, vocês estarão no meu governo.” E saíram os paulistas felizes da vida. Tancredo tinha dito que eles estariam no governo dele. Saíram com o Setúbal Ministro da Fazenda. Quando eles saíram, o Aécio, com mais coragem do que eu, disse: “Mas, vô, o Setúbal Ministro da Fazenda?”

            “Mas onde tu ouviste isso, rapaz?”

            “Mas o senhor disse.”

            “O que eu disse?”

            “O senhor disse que eles estariam...”

            “Eles vão estar no meu governo.”

            “E, o Setúbal?”

             “O Setúbal, no exterior.”

            E, naquele momento, o Fernando Henrique caiu do Ministério, porque era ele o Ministro do Exterior, e ele botou o Setúbal. Essas experiências todas, o Aécio acompanhou. Era ele quem dava, era ele quem botava, era ele quem discutia. Tinha uma experiência fantástica, um rapaz, naquelas condições, de planejar, de construir uma plataforma de governo que vinha para mudar, para substituir uma ditadura de 20 anos numa heterogeneidade de personagens. Eu dizia não há dúvida nenhuma de que quem teve aquela experiência tem ainda uma experiência ainda maior.

            E agora eu vou dizer. Ele vai ficar chateado, mas eu vou dizer. Eu não devia dizer, mas eu vou dizer: ganhar no Brasil e perder em Minas Gerais! Esse povo mineiro, vamos ter que conversar com ele.

            V. Exª, um grande Governador. Oitenta e seis por cento, em oito anos, foi um grande Governador. O seu sucessor, um grande Governador. Ele se elege Governador, ele se elege Senador, e não sei o que esse governo fez. Eu confesso que não sou 100% confiável nessas urnas. Não sei por que, no mundo inteiro, ninguém copia, ninguém quer imitar. E, quando saiu no jornal que, por causa do Amapá e do Amazonas, um trocinho desse tamanho, ficou duas horas... Algumas pessoas numa sala fechada, todo mundo sabendo do resultado, mas não falando, esperando aquele outro? Não sei. Mas Minas Gerais, achei estranho. Se desse para contar os votos...

            Mas muito obrigado, Aécio, pelo seu carinho, pelo seu afeto. E tenho certeza. Afinal, o Lula perdeu três. Depois ganhou. V. Exª é um jovem e tem a mocidade pela frente.

            O Sr. Aécio Neves (Bloco Minoria/PSDB - MG) - Agradeço a V. Exª. Se servir de consolo, o Rio Grande compensou o resultado de Minas Gerais. (Palmas.) E o voto de V. Exª no segundo turno me honrou imensamente.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado.

            Meu Presidente, Senador Raupp.

            O Sr. Valdir Raupp (Bloco Maioria/PMDB - RO) - Nobre Senador Pedro Simon, V. Exª é um homem iluminado. Sessenta e dois anos de vida pública, Vereador em Caxias, cidade do nosso Governador José Ivo Sartori, quatro mandatos de Deputado Estadual pelo Rio Grande do Sul. E olhe que, com todo respeito às assembleias legislativas do nosso País, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul nunca protagonizou um escândalo até hoje. Governador, e um grande Governador. Eu tenho muitos parentes no Rio Grande, tenho visitado anualmente o Rio Grande do Sul, e até hoje as obras de V. Exª são lembradas no Rio Grande Sul, como a Estrada do Mar, em que já tive o privilégio de dirigir muitas vezes, visitando parentes em Torres, em Capão da Canoa, em Porto Alegre e em outras cidades do Rio Grande do Sul. Ministro do Governo Tancredo, Tancredo e Sarney. Quis o destino que o Tancredo não pudesse governar o nosso País; foi governado por José Sarney. E V. Exª foi mantido, porque tenho certeza de que Tancredo o levaria para o Ministério. Então, foi um grande Ministro também, que é lembrado até hoje, daquele tempo. Quatro mandatos de Senador, 32 anos nesta Casa. Realmente, o Senador Luiz Henrique tem razão quando fala da cadeira, que é muito difícil. E saiu agora, por um instante, o Senador que vai sucedê-lo, o Lasier Martins. Eu estava aqui imaginando como estava a cabeça dele, pensando, enquanto todos estavam falando, como é que ele ia fazer para substituí-lo à altura de um Senador com o quilate de V. Exª, mas V. Exª, com a humildade que lhe é peculiar, já disse que ele vai sucedê-lo com galhardia, como é típico dos gaúchos. V. Exª, com todo o respeito àqueles que não tiveram a mesma sorte... Alguns heróis brasileiros, alguns líderes da nossa política brasileira morreram para entrar na história, inclusive um gaúcho que deixou uma carta-testamento dizendo: “Saio da vida para entrar na história”. Foi também um grande político, Getulio Vargas. V. Exª está saindo da política para ampliar o convívio com a família. E certamente Deus, que tem sido muito generoso com V. Exª, vai lhe dar vida longa, como falou o Senador Aécio Neves. Vida longa para conviver com os seus amigos, com os seus familiares. Então V. Exª sai da política, já fez história e certamente vai ficar na história, porque V. Exª tem história. Eu tenho procurado, não sei se estou conseguindo, mas tenho procurado, desde muito jovem, de Vereador, de Prefeito, de Governador e agora, no segundo mandato do Senado, me espelhar em V. Exª. Parabéns. Que Deus lhe dê vida longa. Obrigado. (Palmas.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu querido Presidente Raupp, eu tenho muito carinho e respeito por V. Exª. E é muito importante a tarefa que V. Exª está executando, inclusive com o nosso Presidente na Vice-Presidência e V. Exª no comando do Partido. Eu tenho rezado para que V. Exªs tenham condições, capacidade e firmeza. A hora que nós estamos vivendo é uma hora muito difícil. Muito difícil!

            E nós temos que ter grandeza para sair dela. Essa é uma hora em que nós não temos que torcer por “a” ou por “b”, mas o Brasil não pode continuar como está.

            Que V. Exª tenha condições de influenciar, lá no Governo, na seleção de atos e de fatos para que o Brasil reencontre o seu destino, para que essas coisas todas que aconteceram e que fazem uma interrogação no mundo inteiro com relação a quem é esse Brasil aonde essas coisas acontecem, que se tenha uma saída, que se tenha uma saída. E a saída é uma só.

            O Ministro Hage, que saiu, renunciou ontem, era um homem que, quando nós o visitamos alguns anos atrás, nos mostrava a cópia do projeto que ele e o seu Ministério tinham levado à Chefe da Casa Civil, para exatamente adotar a Ficha Limpa no Executivo, aquilo que se faz e que o Congresso aprovou em termos de vida pública e parlamentar valer no Executivo, que fosse feita a fiscalização antes da nomeação e que fosse feita a fiscalização durante o Governo.

            Ontem ele renunciou. É uma pena! E o projeto que ele entregou na Chefia da Casa Civil até hoje não foi convertido em lei. Várias vezes eu o encontrei e perguntei: e aí, Ministro? “Vai sair. Vai sair.” Mas não saiu.

            Agora, quando a Presidenta está se preparando para escolher o seu novo Ministério, que não aconteça de ser nomeado um ministro que não se sabe quem é nem quem não é, e depois de nomeado vai se tomar conhecimento de que festejou o aniversário dele, os oitenta anos, num bordel, ou melhor dito, mentira, numa casa de encontros, e que a conta ele tinha pago com a sua verba de representação de deputado.

            Cá entre nós, nós temos que entender esse fato. Não adianta! Não se pode pedir à Presidenta ou ao governador. Eu tenho dito isso ao Sartori, e eu sei que ele vai fazer isso. Não se pode receber uma indicação, uma solicitação de “a”, de “b” ou de “c”: é o fulano. Vai ver quem é, vai ver a biografia, vai ver a história, vai ver quem foi para não acontecerem depois as coisas que acontecem.

            Com relação ao que aconteceu, eu acho que as coisas têm que ser passadas a limpo. Sei que a situação é difícil. Chegamos a uma situação de uma interrogação. Alguns acham inclusive que, com o envolvimento de tantas empresas, tem que se ter cuidado, porque se não o Brasil para. E o Brasil não pode parar. Mas entre o Brasil não poder parar e fazer um arreio no sentido de botar a mão em cima e esquecer tudo há uma diferença muito grande. Há uma diferença muito grande!

            Eu nunca vi um momento tão impressionante como esse. Eu diria para os senhores, e olhe que passei por dramáticos momentos em toda a minha vida, mas a circunstância heterogênea, complexa que nós estamos vivendo, o Governo parece que não consegue terminar. Lá está o Sr. Mantega, Ministro da Fazenda, e o outro não consegue começar. Lá está o outro cidadão, Ministro da Fazenda. O novo Ministro da Fazenda despachando no Palácio, e o antigo Ministro da Fazenda despachando lá na Fazenda. E não se sabe o que o Brasil quer, para onde vai, o que ele quer.

            Uma coisa é certa: eu vi com emoção a manifestação do Procurador-Geral da República quando apareceu numa capa de jornal que ele estava fazendo um entendimento entre as empresas e o Governo para fazer o abafa. Eu me apavorei. Juro por Deus que eu me apavorei. Mas ele veio à tona, falou, esclareceu, e, a exemplo de seus antecessores, um melhor do que o outro - dois notáveis brasileiros os dois últimos Procuradores da República -, o atual vai, com independência, com autoridade e com altivez, buscar a verdade, buscar a verdade, seja ela qual for.

            O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Apoio Governo/PSOL - AP) - Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Ao mais jovem se dirigindo ao mais velho.

            O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Apoio Governo/PSOL - AP) - Mais jovem é o senhor, Senador Pedro Simon. Mário Lago definia que a juventude está na dignidade humana. E o senhor é exemplo para todos nós nisso. Senador Pedro Simon, permita-me tirar dos Anais da Casa um pronunciamento que foi dito aqui, pronunciado no dia 26 de novembro de 1992. Neste pronunciamento, o orador disse o seguinte - o senhor lembrará:

Há homens que nascem para contemplar o mundo e há homens que nascem para construir o mundo.

Há homens que se contentam com a rotina, com as muralhas erguidas pela brevidade da vida e a consomem na volúpia e na ostentação.

Há homens para os quais o poder é mera licença para o hedonismo, e há homens para os quais a alegria está na luta pela ordem que se funda na justiça, pela liberdade que se alicerça no respeito sagrado ao direito alheio.

           V. Exª deve se lembrar desse pronunciamento, afinal de contas esse pronunciamento foi feito no dia 26 de novembro de 1992 por V. Exª em homenagem a Ulysses Guimarães. Esse pronunciamento em homenagem a Ulysses Guimarães feito por V. Exª, essas palavras ditas, eu retiro da palavra de V. Exª para dizê-las em homenagem a V. Exª. Esses homens, essa definição sobre homens com que V. Exª, em 1992, definiu Ulysses cabe para definir a vossa história. A vossa história é o antônimo do que V. Ex definiu, do que Darcy definiu sobre como foi a sua história. Darcy, V. Exª disse ainda há pouco, dizia que tinha lutado, e tinha perdido, mas não queria estar no lugar dos vencedores. Pois bem, V. Exª esteve ao lado de Jango - eu disse ainda ontem - no dia em que os golpistas estavam derrubando uma das melhores democracias do ocidente, naquela madrugada de 1º de abril de 1964. V. Exª estava lá, na casa do General Comandante do 3º Exército e ao lado das tropas legalistas, ao lado do Presidente constitucional João Belchior Marques Goulart. E V. Exª resistiu, nos anos seguintes, ao lado das forças legalistas, denunciando a tortura e o arbítrio, ao lado dos seus companheiros que V. Exª chamou aqui pela memória: Teotônio Vilela, Ulysses Guimarães e tantos outros. Ao longo dos anos seguintes, V. Exª esteve, como um Dom Quixote, denunciando os arbítrios da ditadura. E V. Exª não perdeu. V. Exª venceu. Quando todos acreditavam que era impossível conquistar a anistia, V. Exª, ao lado de Teotônio e ao lado de Ulysses, conquistou a anistia para os exilados. Quando todos, inclusive os grandes meios de comunicação, os poderosos deste País, achavam que era impossível reconquistar a democracia, V. Exª insistiu, ao lado de Tancredo e de Ulysses - Teotônio não estava mais junto. Mesmo perdendo, nas ruas, a mobilização; aliás, nesses salões verdes, mesmo ignoradas as vozes das ruas por eleição direta para Presidente, V. Exª veio com seus companheiros e reconquistou a democracia. V. Exª venceu! Nos anos seguintes, V. Exª lutou por ética na política e conquistou a Ficha Limpa. V. Exª bradou, neste plenário, por uma CPI das empreiteiras. V. Exª hoje sai deste plenário do Senado, e a história mostra a V. Exª que a CPI das empreiteiras - pela qual V. Exª outrora bradou - é mais do que necessária, quando os principais donos de empreiteiras do País vão parar na cadeia, presos por um juiz que tem a coragem, junto com o Ministério Público brasileiro, de dizer que este País tem de ser passado a limpo. Permita-me, Senador Pedro Simon: eu sei que V. Exª disse ainda há pouco, no seu pronunciamento, que quer descansar ao lado dos seus filhos, netos e da sua amada, lá no Rio Grande; que quer ler Neruda, os versos de Vítor Ramil e de tantos outros poetas. Desculpe-me, mas o Brasil clama que V. Exª, como o menestrel do século XXI - assim como o seu companheiro Teotônio foi o menestrel da democracia, da anistia e das liberdades no final do século XX -, convoque agora a juventude brasileira para que ela não desista do Brasil. Neste momento de gravidade das instituições brasileiras, em que é necessária uma profunda reforma política no Brasil; neste momento em que as instituições precisam de uma profunda reforma; neste momento, V. Exª, como menestrel da luta pelas reformas, como menestrel da luta pela ética, é chamado para percorrer as universidades, para percorrer as ruas, para caminhar como novo menestrel, para dizer para a juventude brasileira que ela não pode desistir da política, que ela não pode desistir do Brasil! V. Exª é chamado. E assim como diz o hino do vosso Rio Grande, V. Exª é chamado para essa luta, que é mais uma luta pelo Brasil. Como diz o hino do vosso Rio Grande, V. Exª é chamado para que mostre valor, constância nessa ímpia e injusta guerra. Que sirva vossa façanha de modelo para toda a Terra.

(Palmas.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Olha, eu conheço esse guri... Quando entrei no plenário, eu me dirigi ao rapaz do cafezinho e disse: “Olha, aquele guri deve sair, porque vai começar a sessão”. Dali a 15 minutos, deu-me o nome: “Esse é o Senador que vai concorrer para Presidente”. Primeira sessão, entrando aqui, lá do Amapá, candidato a Presidente. E, do lado de lá, um homem muito simples, muito pequenino, Dr. Sarney, candidato à reeleição.

            Ele vai para a tribuna e faz um discurso. Eu tenho guardado o seu discurso, porque ele fez uma plataforma de Presidente do Senado tão positiva, tão concreta que parecia que ele tinha 40 anos de Senado. Argumentando item por item, ponto por ponto, foi tão impressionante e tão positivo que o Presidente Sarney, falando depois dele, fez questão de elogiar, de reconhecer e de dizer que ia aproveitar a plataforma dele na Presidência, porque tinha muito de importante e muito de significativo.

            Eu agradeço, amigo Randolfe.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Senador Pedro Simon...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Já lhe darei; já lhe darei.

            Eu me lembro apenas de uma vez em que nós estávamos numa reunião, o Tancredo Neves conversando, e eu apresentei um amigo meu, Deputado do Rio Grande do Sul, Schirmer, um guri de 23 anos, o Deputado estadual mais moço. O Schirmer viu o Tancredo, o Tancredo o abraçou, e o Schirmer disse assim: “Dr. Tancredo, quando eu contar para o meu pai, ele não vai acreditar! Eu estou aqui do seu lado! Nós amamos o senhor. O senhor é fantástico! O senhor é extraordinário! O senhor é uma maravilha! O senhor é isso, é isso, é isso...” O Tancredo bate nas costas dele e diz: “Meu filho, tudo isso são coisas passadas; eu gostaria de trocar tudo isso pela sua idade neste fim de semana”. (Risos.)

            A tua idade vai longe, Randolfe. Pela tua história, pelo que tu fizeste, eu digo hoje o que te disse ontem na nossa reunião: tu tens um encontro marcado com nosso País, e nós esperamos que tu faças a tua parte.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Permita-me, Senador Pedro Simon?

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Senador Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Está aqui justamente, e acabou de ser entregue ao Senador Presidente, Renan Calheiros, o relatório da Comissão Nacional da Verdade. Eu convidei Pedro Dallari, coordenador da Comissão Nacional da Verdade, e a Srª Rosa Cardoso da Cunha, que estão aqui e fizeram um trabalho de excepcional qualidade. Hoje entregaram à Presidenta Dilma Rousseff algo que vai ficar como uma contribuição extraordinária, sobretudo quanto ao que aconteceu de 1946 até 1988, especialmente durante 1964 a 1985. Vieram aqui inclusive cumprimentá-lo, ainda que não possam usar da tribuna, Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu amigo Suplicy, acompanhei profundamente o trabalho da Comissão, do Dr. Dallari e da Drª Rosa. Admiro a competência e a capacidade. Caminhando em um campo mais ou menos minado, onde muitos achavam que o assunto estava encerrado e que não tinham o que fazer, com muita categoria, com muita competência, foram esclarecendo as coisas.

            E tiveram V. Exªs espírito de grandeza, de consciência do dever a ser feito, e foram avançando, foram fazendo, e os outros foram entendendo que nós não éramos adversários. Não havia ódio, não havia rancor, não havia desejo de vingança, mas havia o desejo de buscar a verdade, porque a Nação tinha o direito de saber a verdade, as pessoas que sofreram tinham o direito de saber as coisas que tinham acontecido.

            Olha, D. Rosa, Dr. Dallari, eu acompanhei de perto. Eu acompanhei, vi, vibrei e me emocionei. É verdade que alguns fatos são duros, alguns são trágicos, mas é verdade que, se é necessário, era importante como o monumento que se inaugurou em São Paulo. Como aquela casa onde as coisas aconteceram e ficam lá marcadas as coisas que aconteceram.

            Aquilo vai ser muito importante. Aquilo servirá de marco, de orientação. Servirá de escudo que nos prenderá ao passado para não nos esquecermos desses fatos, e servirá de foco que nos apontará o futuro na hora de fazer.

            Não há dúvida, vocês marcaram um tento excepcional. Logo no início, incompreendidos alguns, vieram com iniciativas duras, difíceis, acusativas e coisas que o valham. E faço justiça à Presidenta, que teve a competência de conduzir, mas V. Exªs tiveram a grandeza de buscar a verdade, de esclarecer. E, graças a Deus, a partir do trabalho de V. Exªs, nós podemos olhar para o mundo de cabeça erguida e não como um País que jogou tudo para debaixo do tapete e não teve a capacidade de fazer a sua auto-história.

            É uma honra para mim incluir no meu discurso essa parte. E agradeço a Deus esta oportunidade de, nas pessoas de V. Exª, Dr. Dallari, de V. Exª, Drª Rosa, eu dizer aqui que realmente nós lutamos. Nós todos lutamos, e foi dura a luta pela anistia, foi dura a luta contra a tortura, foi dura a luta a favor dos presos políticos.

            Quero lembrar aqui que Teotônio Vilela terminou o seu mandato de Senador. Quando ele ia ser reeleito, ele não pôde ser reeleito porque estava sendo operado. Terminou a eleição, ele ficou sem mandato. Durante dois anos e meio, ele morou no meu apartamento. O gabinete dele era o meu gabinete. E juntos andávamos. E ele, com os quatro cânceres e com as duas bengalas, percorria o Brasil, levando exatamente a anistia e o término da tortura política.

            Eu me lembro muito bem. Eu me lembro do Teotônio lá no ABC, ainda no início, quando as coisas começaram. Uma praça lotada de gente, o Lula preso, o povo exigindo a soltura do Lula, e o coronel ali, pronto para entrar com as tropas - onde, inclusive, os operários não eram tantos; eram mais as mães, os filhos e as esposas. E ele queria avançar.

            Eu me lembro quando o Teotônio se dirigiu ao coronel, que disse: “Mas eu tenho ordem”. E Teotônio: “Coronel, a imprensa do mundo inteiro não vai saber o nome de quem lhe deu a ordem, mas vai saber o seu nome, que foi o Coronel Fulano que, naquele dia, matou 200, 300, num massacre que foi feito na praça. E se resolveu. Ele queria que o povo saísse, e o Teotônio, eu e Suplicy conseguimos. Só que as tropas saíram primeiro. As tropas saíram, foram embora; então, sim, o povo livremente saiu.

            Foi uma das passagens das milhares que nós tivemos, e V. Exªs terão esse grande lugar na história, na biografia do nosso País.

            Meus cumprimentos, e tenho certeza de que V. Exªs haverão de representar o que temos de melhor, o que temos de mais puro e o que temos de maior.

            Obrigado, Suplicy.

(Palmas.)

            O Sr. Eduardo Braga (Bloco Maioria/PMDB - AM) - Meu caro Senador Pedro Simon, eu queria aqui expressar, primeiramente, a minha admiração e o meu respeito pessoal a V. Exª. Não apenas como Senador da República, como homem público, mas como ser humano. V. Exª que, durante décadas, não só inspirou peemedebistas, jovens, a liberdade, a democracia no nosso País e nesta Casa. Mas quero também dizer da alegria que tive de poder chegar ao Senado da República e conviver com V. Exª, como colega de partido, como um conselheiro, como um exemplo a ser seguido.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - E V. Exª como um grande Líder.

            O Sr. Eduardo Braga (Bloco Maioria/PMDB - AM) - E V. Exª, como um grande líder a nos liderar; a nos liderar pela sabedoria, pela experiência, pela história de luta...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria /PMDB - RS) - O Líder era V. Exª.

            O Sr. Eduardo Braga (Bloco Maioria/PMDB - AM) - ... e pela sua simplicidade. V. Exª é um homem marcado pela simplicidade. Historiadores já dizem que ninguém conta o currículo pelo que foi, ou pelo que é, mas, acima de tudo, pelo que fez e pelo que faz. V. Exª não vai ser lembrado pelos mandatos, não vai ser lembrado pelos cargos, não vai ser lembrado pela autoridade pública que sempre foi. V. Exª vai ser lembrado pelo grande legado político que V. Exª deixa no Senado da República, na história da redemocratização brasileira, na história política do nosso País e, não tenho nenhuma dúvida, no panteão das grandes lideranças e dos grandes estadistas do nosso País. Fica aqui, portanto, meu caro Senado Pedro Simon, a nossa admiração, o nosso respeito, o nosso eterno reconhecimento pelo homem público, pelo ser humano e pelo político que V. Exª é e sempre será para o nosso País, para a nossa Casa e para o nosso Partido. Portanto, o meu abraço e vida longa ao nosso querido Senador.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Agradeço com muito carinho ao nobre Líder. Confio que V. Exª, com a grande responsabilidade de conduzir o nosso Partido nessa difícil trajetória, tenha as condições e tenha a felicidade de encontrar um rumo que se identifique com o pensamento e o sentimento da sociedade brasileira.

            Muito obrigado a V. Exª.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Minoria/PSDB - PB) - Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Pois não.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Minoria/PSDB - PB) - Nesse instante em que a bancada do fundo começa a ter a palavra, o Senador Requião também pede aparte, o Senador Jarbas, quero lembrar a memória do meu pai, Ronaldo Cunha Lima, e tentar buscar nele inspiração para a ode que todo o Senado e o Brasil inteiro devem a V. Exª neste instante, por sua trajetória belíssima, ética, coerente, íntegra, altiva, destemida, corajosa. Um brasileiro que orgulha o nosso País e que, neste instante, faz apenas um pronunciamento de despedida do Senado Federal, mas que, com certeza, não se despede da política brasileira, porque a sua voz, com ou sem mandato, será ouvida, de forma permanente, pelo nosso País e esperada, com esperança, pelos jovens do Brasil. Tal qual fez Teotônio, o Menestrel das Alagoas, percorrendo este Brasil, é o que V. Exª fará, porque convocado estará pelo País inteiro para levar essa palavra de esperança e de crença num futuro transformador que esperamos para o nosso País. Falo, portanto, neste instante, não apenas em meu nome, mas falo também pela memória do meu pai, do seu amigo, Ronaldo Cunha Lima; falo pelo meu tio, que também foi Senador ao seu lado, Ivandro Cunha Lima. Neste discurso de despedida, um ciclo da política brasileira, com personagens altivos, como Tancredo Neves, o próprio Teotônio, já citado, Ulysses Guimarães, assim como V. Exª, que escreveu tantos capítulos importantes da história do Brasil. Não se engane. Não estamos vendo aqui o epílogo dessa trajetória. Muitos outros capítulos serão escritos ainda pelo seu talento, pela sua brasilidade, pela sua competência e por tantos outros adjetivos que poderiam ser empregados para classificar Pedro Simon como um brasileiro a ser lembrado pela história do Brasil. Portanto, em nome do povo da Paraíba, me enfileiro a todos quantos já lhe prestaram as justas homenagens, para dizer que não estamos, de forma alguma, testemunhando o epílogo de sua trajetória, apenas tendo a honra de testemunhar mais um capítulo de uma história em construção e que ainda muito servirá ao Brasil e aos brasileiros. Parabéns por tudo até aqui. O Brasil continua contando com a sua atuação, com o seu trabalho, com a sua altivez, sua ética, coerência, competência e coragem na luta permanente para a construção de um Brasil melhor. (Palmas.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu lhe agradeço, meu amigo, Senador Cássio Cunha Lima.

            V. Exª lembra o seu pai. Eu tinha um carinho e uma amizade muito grandes por ele. Seu pai foi uma pessoa fantástica, um grande orador, mas, mais do que tudo, um grande poeta. Era uma pessoa que, lá, no Rio Grande, nas reuniões que tivemos com ele, um gaúcho ficou alucinado com a improvisação que ele fez de tudo e de todos, com a perfeição, a pureza, a grandeza daquele político, daquele poeta, daquele homem voltado para o bem, para a verdade.

            Eu digo isso, falando no Ronaldo, para lembrar o carinho que ele tinha por V. Exª. Quando V. Exª estava iniciando, ele e todo o pessoal diziam: “Esse guri vai longe.” Quando V. Exª estava lá, na primeira empresa, em Pernambuco, ele garantia: “Esse rapaz vai longe.” E foi. Foi Governador, brilhante, duas vezes, e Senador.

            Eu agradeço muito a V. Exª.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco Minoria/PSDB - PR) - Governador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - S. Exª, como eu, tem um filho que se chama Pedro; Pedrinho. O dele já é Deputado Federal. O meu tem um irmão, e acho que poderá seguir pelo mesmo caminho.

            Um abraço e leve o meu abraço ao Deputado Pedro, pela sua competência.

            E, agora, o nosso amigo.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco Minoria/PSDB - PR) - Senador.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Pois não.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco Minoria/PSDB - PR) - Senador Pedro Simon, eu quero registrar que, dos muitos belos discursos ouvidos nesta Casa, certamente o de V. Exª, neste dia histórico, é dos mais belos e emocionantes que já ouvi. E, ao ouvi-lo, pensava exatamente no que escreveu um cidadão fluminense: “Será que é verdade que não existe ninguém insubstituível?” Talvez, seja a regra, mas V. Exª é a exceção. Pelo conjunto de virtudes que sustenta a sua trajetória de vida, V. Exª se torna, sim, insubstituível. Eu tive a oportunidade e o privilégio de acompanhar, às vezes de perto, às vezes mais de longe, o seu tortuoso, mas fascinante itinerário na vida pública brasileira, especialmente quando Governador, ao final da década de 80, quando o Brasil vivia a mais perversa crise financeira da história da Administração Pública. V. Exª, no Rio Grande do Sul, revelava o seu dinamismo, a sua competência, a sua coragem para enfrentar e superar dificuldades incríveis que se colocavam à sua frente e à frente do povo do Rio Grande do Sul. Depois, a sua trajetória no Parlamento - para economizar espaço, todos nós a conhecemos -, a trajetória que faz com que hoje, na sua despedida, possamos afirmar: “V. Exª vai daqui, mas não sai daqui.” V. Exª deixa o Senado, certamente o Senado não deixa V. Exª. Nós não nos esqueceremos da sua presença altiva, honrada, digna, corajosa, lúcida, competente. V. Exª foi, para concluir, Senador Pedro Simon, e é, V. Exª é o advogado, o tribuno, o menestrel, o mensageiro da democracia, da liberdade, da sociedade justa, da fé e, sobretudo, da dignidade. Obrigado pelo exemplo que deixa. (Palmas.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu querido Senador Alvaro, começamos juntos no Governo do Estado. Eu, no Rio Grande do Sul, e V. Exª, no Paraná. De lá para cá, tenho acompanhado a luta, o trabalho e o esforço de V. Exª. Sou obrigado a reconhecer a sua garra e a sua disposição em busca de um Brasil melhor.

            Aqui, como Líder da oposição e Líder do PSDB, V. Exª sustentou, com muita firmeza, com muito brilho e com muita capacidade, uma luta muito difícil, em que os adversários eram praticamente tudo. E V. Exª fez com que a oposição tivesse realmente a grandeza, o respeito e a credibilidade de todos nós.

            V. Exª vem de longe, e tenho certeza de que, jovem, longe vai.

            Quero agradecer o carinho, a amizade e o respeito que nós tivemos ao longo da história.

            Senador.

            O Sr. Antonio Aureliano (Bloco Minoria/PSDB - MG) - Grande Senador Pedro Simon, eu quero lembrar, neste momento, a letra escrita por Violeta Parra e cantada por Mercedes Sosa: “Volver a los 17.” E quero dizer que V. Exª decifrou signos, mas decifrou signos através do caminho correto, do caminho do bem fazer, do caminho da ética na vida pública. V. Exª é um exemplo para a juventude brasileira. E quero dizer a todos que a vida pública vale a pena. V. Exª assume esta tribuna neste dia e pode olhar de cabeça erguida para a sua esposa, para os seus filhos e netos, para todo o povo brasileiro e para todo o Senado da República. Senador Pedro Simon, V. Exª é o orgulho deste País. Parabéns por sua trajetória. E quero dizer que o povo brasileiro sempre lhe será grato por tudo o que fez e que fará por este País.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - É impossível ouvir a palavra de V. Exa sem me lembrar do seu pai. Não apenas a aparência física, mas a voz tem a mesma tonalidade, a mesma garra, o mesmo tom de vontade, a mesma firmeza.

            Eu era um amigo, um admirador inseparável do Aureliano. Ele foi um grande condutor e um grande responsável pela transição. Nessa transição, ele exerceu um papel da maior importância. Ele era o Vice-Presidente. Era o homem que, como Vice-Presidente, mas como brasileiro, aceitou a tese de que o governo do Figueiredo era o último do regime militar e que devia vir uma democracia. E, desde o primeiro dia dele até o final, ele lutou nesse sentido.

            Foi ele o grande fiel para que as coisas acontecessem, mas Aureliano tinha um timbre de voz, uma vocação, um ideal, uma firmeza. Ele via as coisas com convicção. Eu, às vezes, quando a gente conversava, eu pensava: “Ele deve ter razão, se ele está falando assim.”

            V. Exa é isso. V. Exa inicia aqui, mas eu não consigo entender Minas Gerais. As coisas são muito engraçadas por lá. V. Exa já devia estar aqui há mais tempo. Há muito mais tempo. Espero que, logo ali adiante, nas próximas eleições, das duas vagas, que uma seja de V. Exa, para honrar a dignidade de Minas Gerais e a dignidade de Aureliano Chaves. Muito obrigado.

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (Bloco Maioria/PMDB - PE) - V. Exa me permite, Senador?

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco Apoio Governo/PSB - DF) - Senador.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Jarbas.

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (Bloco Maioria/PMDB - PE) - Meu caro Senador Pedro Simon, eu imagino que...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Senador Jarbas, são quarenta e tantos anos de vida juntos, levando mais bordoadas do que vitórias, mas com o mesmo objetivo e com a mesma bandeira.

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (Bloco Maioria/PMDB - PE. Com revisão do aparteante.) - Nobre Senador Pedro Simon, faz mais de quarenta anos que nós nos conhecemos. Fundamos o MDB e, com a extinção do MDB, fundamos o PMDB. As secções regionais do Rio Grande e de Pernambuco foram dirigidas, por muitos anos, por mim e por V. Exa. Não era um modelo, mas era exemplo para a oposição, não só em nível de organização, mas também de coragem cívica, de autenticidade da luta dentro do Partido. V. Exª sempre teve uma sabedoria dentro do Partido que era incomum - típica daqueles que nasceram para liderar. V. Exª nunca se perfilou quando o Partido se dividiu, na década de 70, entre os moderados e os autênticos. Como Presidente do Partido, Ulysses Guimarães reunia, constantemente, alguns presidentes do Partido. E entre os convocados sempre estávamos eu e V. Exª, Pedro Simon. Eu fui Deputado Federal nas décadas de 70 e 80. V. Exª era deputado estadual. Ficamos mais próximos, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em maio de 1971. Eu havia sido eleito deputado estadual e era Líder da oposição em Pernambuco; e V. Exª era um dos baluartes, um dos destemidos Deputados do Rio Grande. Lá, na Assembleia, houve uma reunião do Partido. Eu fui denunciar a morte do jovem estudante Odijas Carvalho de Souza, que havia sido assassinado nas dependências do Dops de Pernambuco. Lá fiz a denúncia, que teve repercussão nacional. Eu escolhi para fazer isso exatamente em Porto Alegre para que pudesse ter repercussão. E, naquela época, a revista Veja publicou. E ali nós estreitamos um relacionamento. V. Exª vinha sempre a Brasília, convocado pelo Dr. Ulysses, sempre para ajudar. Preocupava-lhe muito a divisão do Partido. V. Exª sempre teve um espírito partidário muito claro e transparente. Achava sempre que aquela divisão de autênticos e moderados não era conveniente para o Partido. As dificuldades já eram imensas, e não poderíamos estar criando mais dificuldades, ainda. E, quando do episódio da cassação dos Deputados Nadir Rosseti e Amaury Müller, do Rio Grande, denunciados por um dedo-duro da Arena, um Deputado Federal do Rio Grande, aí foi um inferno. Reunimo-nos aqui em Brasília. A direção nacional deu uma nota fraca que não aceitávamos. A rigor, os autênticos nunca almejaram dirigir o Partido, tomar o Partido. O que os autênticos queriam, naquele momento, era imprimir uma linha mais agressiva ao Partido, uma linha mais dura de oposição ao sistema. E V. Exª era um daqueles que concordava com isso. Não concordava, evidentemente, com a divisão. O próprio Dr. Ulysses se tornou uma pessoa mais agressiva exatamente em função, também, dos autênticos, da ajuda que deram a ele dentro do Partido. Pois bem, então, não se chegou a um termo comum, e amanheceu o dia sem que concordássemos com a nota do Partido. E começamos a elaborar uma nova nota. O Dr. Ulysses chamou a mim, Chico Pinto e Freitas Nobre ao seu gabinete. Dos três presentes, eu era o único que era Presidente de Diretório Regional. Nem Chico Pinto nem Freitas Nobre eram presidentes de suas secções. Eu disse a ele que era impraticável, que a nova nota ia sair. Ele fez uma ponderação para que não cometêssemos um desatino, um ato tresloucado como aquele e disse: “Eu vou chamar o Pedro”. Eu disse: “Que Pedro?”. Ele disse: “O Pedro Simon”. Ele lhe chamava sempre de Pedro. Pela convivência que tive, ao longo dos anos, com Dr. Ulysses, eu também me refiro assim a V. Exª, e deveria me referir sempre, como irmão, mas acho mais carinhoso chamá-lo de Pedro. E, aí, V. Exª chegou aqui, às 11 horas da manhã, e ficou, ali, rodando, pelo Anexo IV, veio na Presidência do Partido, conversou com o Dr. Ulysses e nos encontrou. Chamou essa comissão para conversar - Freitas, Chico e eu -, virou para mim e disse: “Você, que é presidente de diretório, não tem responsabilidade nisso não?”. Eu disse: “Tenho. Tenho muita responsabilidade”. “Vocês estão loucos? Vocês endoidaram de vez, ficaram malucos? O Partido vai dar uma nota e vocês querem dar uma outra nota, querem agravar mais ainda a situação.” E, por fim, aquela sua atitude, aquela sua coragem cívica de nos chamar a atenção, mas de forma amigável, entendemos e terminamos o dia, às quatro, cinco horas da tarde, permitindo só uma nota. Essa foi uma contribuição que V. Exª deu lá atrás. Estou falando da década de 1970, da época de Lyzâneas Maciel, de Chico Pinto, de Freitas Nobre, de Getúlio Dias, de Marcos Freire, de Fernando Lyra, Paes de Andrade, Marcondes Gadelha e de tantos outros companheiros do Partido. V. Exª sempre foi um exemplo para mim. Eu sempre segui o seu exemplo. Eu me criei em uma família pobre em Pernambuco. Meu pai era de classe média baixa e me ensinou a não roubar. Eu sempre conto uma história: ele me mandou fazer uma feira. Eu tinha 12 anos. Quando eu voltei, ele me parabenizou pelas compras que eu havia feito e disse: “Eu gostei muito. Você prestou contas, tudo direitinho. Vou apenas lhe dar um conselho: nunca chegue em casa dizendo que achou dinheiro na rua”. Eu achei que aquilo era um chamado para eu não tirar dinheiro de dentro de casa e chegar dizendo que havia achado dinheiro na rua. Ele disse: “Dinheiro não se acha na rua, dinheiro se acha com trabalho, com estudo. Você está estudando, é muito novo”. Aquilo foi uma lição de vida para mim. Outras lições de vida, do bom combate, da coragem cívica, eu devo muito a V. Exa. Foi muito estimulante para mim. Há entre mim e V. Exa - não faz mal nenhum que diga isso em público - uma diferença de 13 anos de idade. V. Exa vai completar 85 anos, eu tenho 72 anos. Essa diferença de idade fazia sentido lá atrás. Agora não faz mais. Hoje, eu sou capaz de ser comparado a uma pessoa com a sua idade. V. Exa não vai se despedir da vida pública. V. Exa vai deixar o mandato no dia 31, quando completa, inclusive, 85 anos, e vai ser convocado permanentemente, infelizmente neste Brasil podre, neste Brasil em que o nosso Partido, o PMDB, cumpre um triste papel de se agarrar e se confundir com o que há de mais podre neste País: o Governo e o PT. Mas V. Exa é uma pessoa diferenciada. Lembra-se de quando eu estava em Pernambuco, era Prefeito do Recife? V. Exa me telefonou e disse: “Eu vou aí”. Eu disse: “Fazer o quê?”. “Conversar com você, não posso, não?” Eu disse: “Pode”. Eu esperei, V. Exª chegou à noite lá em casa. Conversamos até de madrugada. V. Exa foi para o hotel e, no outro dia, voltou para Brasília. Nós somos de uma geração - eu, V. Exa, Luiz Henrique, o nosso Requião - de pessoas que fizeram a vida dentro do Partido. Nós não enricamos dentro do Partido. Nós não construímos patrimônio dentro do Partido. O meu patrimônio é a mesma coisa, o de V. Exa também, o de Requião eu tenho a mesma certeza, como tenho sobre o de Luiz Henrique. São pessoas que queriam um partido, não um partido puro, porque não existe partido puro, mas um partido honesto, correto, um partido sem ladrões, sem vagabundos, que usam o partido para desmoralizá-lo. V. Exª, Pedro Simon, é uma pessoa que nos guia, é um norte dentro do Senado, é um norte dentro do PMDB. Hoje, esse norte está sendo muito pouco seguido, mas é um norte para, ao menos 10% do Partido, eu acredito. V. Exª é um norte para aqueles que acreditam no Brasil e que têm honestidade. Por isso, para mim, a convivência de 50 anos com V. Exª foi muito proveitosa. Eu disputei o mandato de Deputado Federal, vou para a Câmara representar o povo de Pernambuco, sempre dentro do meu espírito de luta e, sobretudo, dentro daquilo que V. Exª ditou como ético e sensato para se seguir na vida política. Muito obrigado. (Palmas.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Os senhores me perdoem, mas o Jarbas deu a biografia da vida dele, não da minha. É fantástico seu depoimento, fiquei realmente emocionado.

            Jarbas é isto aí. Jarbas era uma linha, tinha uma condução, tinha um pensamento. Assim como ele contou um fato que é verdadeiro, nós estávamos numa hora dramática, em que se falava até em fechar o Congresso Nacional, discutindo por mais duas palavras ou menos duas palavras de duas notas. Pelo amor de Deus! Vamos fazer isso. Fizemos, chegamos a um entendimento, eu com os autênticos. Fui ao Tancredo Neves, de madrugada, acordá-lo - isso ficou célebre no Partido -, com a nota em que o que os autênticos queriam é que se retirasse uma frase, porque aquela frase dava uma conotação de humilhação, de aceitação. E Tancredo falou uma frase que ficou célebre: “Tirar pode, o que não pode é botar”. Tiramos a frase. Na verdade, chegamos ao entendimento e não fomos para uma confrontação.

            Esse é o Jarbas. Realmente, jovem; eu e o Ulysses com uma diferença grande, mas ele era menor ainda, e era um homem de ideias e de firmeza, um homem de convicção e um homem de caráter, um homem que realmente tem uma linha reta na sua vida.

            Eu tenho um carinho muito grande por ti, Jarbas! Você sabe disso. A nossa identidade, a nossa identificação, nos bons e nos maus momentos, faz com que a gente sinta que a caminhada valeu à pena. E tenho certeza de que tu serás a grande voz na Câmara dos Deputados - a grande voz.

            Eu podia contar uma coisa aqui, mas não vou contar. Mas eu teria vontade de contar. Muitas pessoas vieram me procurar por que sabem da minha amizade com Jarbas, pedindo: “Achamos que é hora. Nós podemos fazer de Jarbas o nosso candidato a Presidente da Câmara, para ser eleito”. Fui falar com ele, e ele disse: “Não sou candidato”. O resto eu não posso contar. (Risos.)

            O Sr. Cyro Miranda (Bloco Minoria/PSDB - GO) - Senador Pedro Simon.

            O Sr. Roberto Requião (Bloco Maioria/PMDB - PR) - Senador Pedro Simon, o Senador Jarbas Vasconcelos, neste momento, vai buscar imagens do nosso passado peemedebista. E isso, companheiro Pedro Simon, remete-me a um velho discurso do nosso Ulysses Guimarães - você deve se lembrar, Jarbas -: “O nosso índio errante vaga, mas por onde quer que ele vá, os ossos dos seus carrega. Carrega-os não para a vindita, mas porque também os mortos vigiam e governam os vivos”. Nós somos esses índios sobreviventes do velho MDB. Do velho MDB, companheiro Pedro Simon, quando Jarbas levava ao Paraná as ideias nacionais, democráticas e populares elaboradas por Arraes, depois do exílio. O PMDB de tantas esperanças, que nos traz recordações neste momento em que o companheiro Pedro, Jarbas Vasconcelos, não faz um discurso de despedida do Senado, faz um discurso de renovação de sua nova militância, quando troca a tribuna do Senado pelos espaços da sociedade civil, pelos espaços da pregação nas escolas, nas universidades, nas praças, nos sindicatos, porque as velhas ideias não podem ser abandonadas. Eu o chamei por três vezes de “companheiro”, Pedro. E “companheiro” é uma palavra que vem do italiano compagno, com pão. Companheiro são os que, sentados à mesma mesa, repartem o pão, o pão farto e doce dos bons momentos e o pão amargo e difícil dos momentos como são os que estamos atravessando. Nós vamos continuar juntos, companheiro Pedro Simon. Você vai nos encontrar em suas palestras nas universidades, nos sindicatos e nas praças. Os companheiros que, como eu, entraram no PMDB empolgados com o seu exemplo, lá atrás, e os companheiros que estarão presentes, como Luiz Henrique, Jarbas Vasconcelos, Casildo Maldaner e tantos outros, lembrando do Chico Pinto, da Cristina Tavares, de todos aqueles que nos motivaram na luta pela redemocratização e pela construção de um país de verdade. Hoje, eu vejo no companheiro Pedro uma boa dose de ceticismo. Mas os céticos se diferenciam dos cínicos. O cínico é quem não acredita em mais nada e o cético não acredita, com uma vontade desesperada de voltar a acreditar e reconstruir, que é o que o Pedro Simon, abandonando a tribuna do Senado, vai fazer na tribuna, ou nas tribunas da sociedade civil brasileira. Com uma boa dose de ceticismo, Senador Pedro, eu saúdo essa sua reentrada na militância da sociedade civil com uma frase que é uma paráfrase bíblica: Pedro, tu és pedra, e contigo e sobre ti reconstruiremos o velho MDB de guerra! Seja bem-vindo a esta nova fase da sua militância. Uma militância que nunca foi abandonada, mas que entra com o vigor extraordinário da experiência parlamentar, em um apoio necessário ao restabelecimento do nosso velho MDB e da cura da doença que vive a sociedade política brasileira. Iremos juntos, companheiro Pedro Simon! (Palmas.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu acho que ninguém, aqui neste Congresso, conhece mais o sentimento e a alma do Requião do que eu. Eu acho que estou me especializando em Requião. A nossa convivência, a nossa fraternidade e a franqueza em falarmos livremente as coisas que acontecem fazem com que eu veja o Requião, com a sua língua afiada, dura, que, quando quer cortar, ela corta e machuca, mas, quando quer trabalhar, ela trabalha e executa...

            Eu me lembro, e disse ao nosso amigo Sartori - que vai governar o Rio Grande do Sul e que deve falar contigo e deve te levar lá - do trabalho que fizeste com a Brigada, no Paraná. A Brigada, antes de ti, ficava dois dias em uma vila, depois ia para outra, depois ia para outra, porque não podia ficar muito tempo parada senão dava guerra. E você criou o corpo permanente, que fica ali. E, em vez de ser a Brigada a procurar os bandidos, é a Brigada para garantir os bons, para orientar os bons, para dar tranquilidade. E a Brigada, junto com os bons, busca os que não prestam.

            Pegou a TV Cultura do Estado, que não tinha audiência, que não valia nada, e deu força a ela, que cresceu e passou a ter um programa semanal. Um programa era local, para discutir os problemas do Paraná. O outro era nacional.

            Eu fui convidado para um desses programas nacionais. Todo o seu Estado estava presente: a Polícia, os homens do lixo, os promotores, os juízes, os professores, todo o seu Governo estava ali representado, para que todos tivessem o mesmo pensamento. Não era como normalmente fazem os caras que estão aqui: o grupozinho fechado da Fazenda; o grupozinho fechado da Agricultura. Não! Todos debatiam e discutiam igualmente.

            Na outra vez em que eu estive lá, o Requião fazia uma reunião e eu participei dela.

            Nessa reunião de que participei, estavam todas as pessoas que direta ou indiretamente tinham responsabilidade no problema do menor. Aquela era a segunda ou terceira de uma série reuniões feitas. Lá estava o bispo, lá estava o delegado de Polícia, lá estava o juiz de menores, lá estavam os representantes de entidades que cuidavam de crianças, e ali discutiram se - ele tinha tomado uma decisão -, com a verba tal, se construía tal empreendimento. “Como é que é? Como é que é?” Ninguém sabia responder. Aí, levantou-se o primeiro: “Mas a Fazenda ainda não deu o dinheiro.” E o Secretário da Fazenda todo encabulado: “Ah, pois é, não sei o quê...” Parecia dizer que não era para valer. Ele lhe deu uma carraspana, não sei o que lá: “Assina agora!” E o cara assinou. Aí passou por aquela secretaria, pela Secretaria de Segurança; passou lá, passou pelo juiz, assinou, e ali se resolveu, naquela manhã, algo que levaria três, quatro anos, o que há um ano já estava na gaveta do secretário. Ele resolveu numa hora só.

            Esse é o Requião, um grande nome, um grande líder. Considerando os nomes que eu lembrei - o dele e do Jarbas - que podiam, ao longo do tempo, ter sido nossos candidatos a Presidente da República, nós que, há quatro eleições, não temos candidato. Agora, como nas outras vezes, “na próxima nós teremos” - na próxima.

            Obrigado, Requião. Obrigado pelo que tu és, pela amizade, pelas tuas ideias e pela tua firmeza, e até pela tua língua dura - ela pisa, mas ela é necessária.

            O Sr. Cyro Miranda (Bloco Minoria/PSDB - GO) - Senador Pedro Simon. Primeiro, eu trago o abraço do Marconi Perillo, seu colega por quatro anos, e de todo o povo goiano. Quis o destino que eu fosse aqui, no Senado, colega de V. Exª por quatro anos. Na minha biografia, isto será uma coisa das mais importantes: convivi com o Senador Pedro Simon como colega, a quem admiro desde, quando Governador, me recebeu no Palácio Piratini. Eu era presidente de uma entidade nacional. Ali começou uma admiração e respeito. Hoje receba os meus agradecimentos por ter convivido esses quatro anos de muito ensinamento para a minha pessoa. Os brasileiros, Senador Pedro Simon, sentirão do homem público muita falta. Um homem honrado, generoso, combativo e, impressionantemente, imparcial. Serão saudades, saudades, saudades, muitas saudades, Senador. E eu termino aqui esta minha fala citando o nosso grande poetinha, Vinícius de Morais, que, em alguns versos dizia: “Existiria a verdade, verdade que ninguém vê, se todos fossem no mundo [Senador Pedro Simon] iguais a você”. Obrigado. (Palmas.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Olha, meu companheiro Senador Cyro Miranda, realmente nos conhecemos, mas a simpatia de V. Exª, o companheirismo de V. Exª, a presença constante de V. Exª correndo por várias comissões, a preocupação com Goiás e a defesa de Goiás fazem de V. Exª alguém de que eu posso dizer que tive muita felicidade em conviver.

            O seu sorriso, a sua amizade, a sua fala, as palavras de estímulo são realmente de grande importância e de grande significado. Eu vejo com o maior carinho esse olhar que V. Exª está fazendo agora. Nesse sorriso, V. Exª expressa amizade, afeto, e eu me sinto muito grato. V. Exª é uma das pessoas que vieram ao mundo para ajudar, para acertar, para fazer o bem e para receber o bem.

            Muito obrigado a V. Exª.

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco Apoio Governo/PSB - DF) - Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Pois não.

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco Apoio Governo/PSB - DF) - Eu quero cumprimentar V. Exª e dizer, Senador Pedro Simon, que neste momento eu sou tomado por um sentimento de melancolia. Também estou chegando aos dias em que me despedirei desta instituição, mas este meu sentimento é em função da perda que o Senado brasileiro vai ter sem a presença permanente, diária, de V. Exª nesta Casa. V. Exª é o mais jovem de todos os Senadores. Tive a oportunidade de conviver aqui com V. Exª ao longo das manifestações de junho, e talvez ninguém tenha incorporado tão bem aquele sentimento da juventude, aquele sentimento de mudança de uma nova política como V. Exª. Lembro-me do dia em que o Governador Eduardo Campos, ainda candidato, ligou para V. Exª e voltou com os olhos cheios de lágrimas, emocionado com a resposta que V. Exª deu naquele momento, dizendo que seu avô, Miguel Arraes, estaria orgulhoso daquele momento. Lembro-me de muitos momentos de V. Exª, muitas vezes em que eu, silencioso aqui, ouvindo V. Exª, admirava a sua coerência, a sua coragem, admirava a disposição de V. Exª em lutar por um país justo, solidário e generoso. O Senador Requião foi muito feliz ao dizer que V. Exª apenas muda de trincheira. V. Exª vai agora ficar exclusivamente onde sempre esteve: próximo à população, lutando ao lado da sociedade civil. Mas não tenho dúvida, Senador Pedro Simon, de que toda vez que um brasileiro ou uma brasileira entrar neste plenário e lançar os olhos sobre ele, vai pensar: “neste plenário, está faltando ele”. Senador Pedro Simon, quero dizer que V. Exª é uma referência para todos nós. V. Exª faz um bem enorme para o Brasil. Quero ter V. Exª sempre muito perto de Brasília, do Distrito Federal, como um conselheiro, para que o Distrito Federal possa voltar a cumprir a missão para a qual foi planejado pelo saudoso Presidente Juscelino Kubitschek. Todas as vezes que chego perto de V. Exª, sempre ouço palavras de estímulo, palavras que nos animam e nos dão coragem para enfrentar o nosso desafio. Agradeço a Deus a oportunidade de ter convivido com V. Exª aqui no Senado. Muito obrigado. (Palmas.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Em primeiro lugar, meu amigo Senador Rollemberg, alguém pode encarar como despeito, pode pensar que, por eu estar indo embora, por estar indo para casa, vou lhe dizer isto: não invejo a posição de V. Exª pegando esse governo que vai pegar. V. Exª é um herói! Eu vejo pela nossa secretária lá de casa, um dia sim, outro, não, a gente tem que mandar buscá-la porque não há ônibus.

            Não sei como V. Exª vai fazer, agora a culpa é porque não pagam, não é nem quem tem que aumentar as passagens, eles não pagam. E já há alguém dizendo: “Pois é, eu era candidato, se eu ganhasse, eu ia abaixar o preço a R$1,00”. Como eu não sei.

            Mas o que a gente sente é um alívio por parte da população com o nome de V. Exª. O Distrito Federal precisava. Afinal, eu tenho a convicção de que, com V. Exª, o Distrito Federal deixará às margens as páginas da polícia para entrar nas páginas do seu desenvolvimento.

            Tenho a convicção de que, pelo que V. Exª é, pelo que V. Exª representa, nós haveremos de viver dias melhores. Eu creio que aqui todos os Senadores são seus auxiliares para lhe ajudar a fazer esse trabalho realmente importante, realmente significativo para a nossa querida Brasília.

            Eu vejo as coisas que acontecem quando estou ali, por exemplo, se não me engano, em Águas Claras, com edifícios de 30 andares um do lado do outro, eu fui lá especificamente, parei, em um dia de calor, e caminhei, e não se sente um golpe de ar, o ar não circula. Como permitiram construir aquelas coisas? Essas coisas que fizeram de Brasília ser praticamente o paraíso da licenciosidade e das fortunas que surgem da noite por dia. V. Exª tem uma responsabilidade muito grande. Muito grande a responsabilidade de V. Exª. Mas tenho a convicção de que V. Exª está à altura disso e, principalmente, contará com a sociedade toda, porque conheço as pessoas de Brasília, convivendo, aquelas que lutam, aqueles gaúchos e aqueles de todos os Estados que vieram para cá e ficam aqui e são apaixonados por esta cidade, V. Exª haverá de seguir esse caminho.

            Tenho a convicção de que isso vai acontecer.

            V. Exª lembra muito bem, quando a Senadora Marina não conseguiu fazer o seu partido, eu achei uma grosseria. Formam partidos sem saber como, da noite para o dia, com a maior facilidade, com a maior singeleza, e o da Marina, com os 20 milhões de votos que ela tinha feito, com assinaturas às milhares, como ela tinha tido, não foi registrado. Lá em Canoas, do Deputado Jorge Uequed, pessoa ultrarrequintada, o melhor advogado da cidade, foi rejeitada a assinatura dele, não sabiam quem era.

            Quando aconteceu aquilo, o que Marina tinha que fazer? Ela tinha três dias para fazer alguma coisa, porque passava o prazo de registro de um partido para ser candidata, e eu realmente telefonei para ela. Ela tinha oferta de vários lugares e eu achei que a grande saída era se unir ao extraordinário companheiro, que era o Eduardo Arraes.

            Eu o conheci pela administração, os oito anos de melhor governador do Brasil, e conheci o seu avô, Miguel Arraes, que foi uma das bandeiras mais emocionantes da vida deste País. Ela concordou de imediato. Falei com o Arraes. Telefonei, pensei que ele estava ali, mas estava em Paris. Ia ficar o fim de semana, e, no dia seguinte, ele estava aqui. Pegou o avião e fizeram o acerto, e fizeram o entendimento. A tragédia foi uma tristeza, porque seriam uma grande dupla e teriam um grande trabalho.

            Realmente, V. Exª participou e V. Exª pertence a um partido que eu torço para que dê certo. O Partido Socialista é um partido que tem história, tem biografia no Brasil. É um partido que vem vindo firme ao longo do tempo. Não pode se dobrar. Não pode ir pra lá nem pra cá, mas tem que ter a verticalidade de ser um partido que ele sempre foi. E, a minha opinião, eu se pudesse pensar e tivesse o entendimento de fazer as grandes lideranças desses 33, 34 partidos que estão aí fazer um entendimento, alguns entendimentos lá no Partido Socialista, eu reuniria a esquerda com essas 12 siglas que estão aí, que terminam não representando nada, e seria uma sigla que teria grande representação.

            Muito obrigado a V. Exª.

            O Sr. Marcelo Crivella (Bloco Apoio Governo/PRB - RJ) - Senador Pedro Simon, o Rio de Janeiro quer-lhe prestar uma homenagem. Senador, permita-me consignar neste momento tão bonito da sua trajetória, um livro que li de V. Exª, chamado Fé e Política, em que V. Exª defendia as virtudes da religião na prática da política, ressaltando que Estado e Igreja estão separados - e devem permanecer separados -, mas que a política precisava, sim, do idealismo, da beleza da vida, pelo idealismo de servir e que se personifica na sua trajetória tão bonita. V. Exª aqui, neste Senado - acompanhei-o durante 12 anos - sempre foi a voz independente, altiva, nunca votou contra o interesse do trabalhador e nunca se conjugou ao lado daqueles que aqui faziam negócios. Vi foto sua, ainda jovem, no meio de uma multidão enorme, defendendo a volta da democracia no nosso País. Sem sombra de dúvida, pouco pode ser acrescentado de tudo o que seus companheiros falaram a seu respeito, e eu não quero ser fastidioso, Senador, para prestar a homenagem que o Rio de Janeiro, através do seu modesto e obscuro representante, lhe presta nesta hora. Seria fastidioso e até desnecessário, o nome de V. Exª já está gravado em letras indeléveis na gratidão nacional, mas me permita dizer - e V. Exª na sua caminhada me inspirou - que eu acho que os cristãos, quando entram na vida pública, pagam o preço. Talvez não alcancem ser aquele pinheiro no alto da colina, mas são exemplos de sacrifício e abnegação, de continuar lutando, às vezes, contra adversidades tão grandes e permanecer. Eu gostaria de um dia poder, assim como V. Exª hoje, ser exemplo dessa luta. V. Exª várias vezes se levantou contra as posições do seu Partido, mas seguiu o ensinamento de Cristo de que o fermento só pode levedar a massa se estiver na massa, e V. Exª sempre foi um levedo, um fermento no meio da massa, tentando mudar uma voz, um João Batista clamando no deserto. V. Exª é o apóstolo da porta estreita, do caminho apertado, tentando iluminar o olhar daqueles que sempre pegam a porta larga e o caminho espaçoso que, lá na frente, vão conduzir à tragédia, vão conduzir aos frutos amargos, mas, às vezes, clamava sabendo que não estava sendo ouvido e não o seria. Quantas vezes V. Exª foi ignorado, desprezado, chamado de desatualizado, mas não deixou de clamar?

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Dom Quixote.

            O Sr. Marcelo Crivella (Bloco Apoio Governo/PRB - RJ) - É, bem lembrado, um Dom Quixote, um João Batista no deserto, um homem movido por um ideal mais forte. V. Exª é um Adão que não comeu a fruta, é um Sansão que não cortou o cabelo, é um Pedro que não negou. E eu tenho certeza de que Deus tem planos para a sua vida, Senador. A sua família é a representação mais bonita de tudo que o senhor fez na vida: a árvore que dá bons frutos. Estão aí seus frutos. Parabéns!. Seu exemplo há de brilhar nesta Casa e nunca se apagará. Sempre que se falar de Pedro Simon ou de um dos seus discursos, já ouvi vários, estão gravados na nossa discografia. Quem quiser acessar seus discursos, da morte de Tancredo, dos momentos solenes da República, da morte de Ulysses, em que V. Exª o compara a Camões navegando no mar infinito... Suas palavra jamais se apagarão. E que Deus o conforte na saudade, quando V. Exª assistir, pela televisão, a essa tribuna, quando olhar esta Casa, que Deus, no olhar da sua esposa, possa lhe dar toda a ternura que V. Exª, mesmo nos momentos mais duros dos seus discursos, jamais perdeu em relação ao nosso povo. O senhor sempre foi um servidor desse povo que sempre o honrou desde o seu primeiro mandato e jamais o deixou sem mandato. Mesmo, nós sabemos, sendo difícil competir, na vida pública, diante dos interesses do capital, que financia candidatos que voltam reiteradamente a esta Casa e ao Congresso Nacional para defender interesses que não são os do povo. V. Exª é um exemplo para nós todos, um legionário, um apóstolo, a fé de um mártir. Mais uma vez peço a Deus que, no seio de sua família, o faça cada vez mais feliz e, sempre que sentir saudade, esta Casa estará de braços abertos para receber seus conselhos, para ver a sua figura serena, mas firme, a sua voz sempre altiva a indicar a esta Pátria os horizontes sem fim da esperança. Parabéns, Senador, pela sua trajetória tão linda! (Palmas.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu amigo Senador Crivella, nós dois somos políticos de fé. Eu, quando jovem, tinha muitas restrições à Igreja na política. A Igreja Católica que havia lá no Rio Grande era a Liga Eleitoral Católica, onde havia em quem a gente podia votar e em quem a gente não podia votar. Meu maior líder, o homem que inspirou a minha vida como democrata e como cristão, com ideologia de solidariedade foi Alberto Pasqualini, candidato a Governador. No entanto, a Igreja o vetou, proibiu que católicos votassem nele. Eu fui candidato a Deputado, sempre fui muito cristão, muito católico, desde a origem da minha família. Identifiquei-me com a Igreja Católica não por ter sido coroinha, mas por seus princípios. Quando fui candidato a Deputado, a Liga Eleitoral Católica, na minha cidade de Caxias e nas cidades vizinhas, onde eu podia conseguir voto, indicou do meu Partido, o PTB, alguém de lá de Uruguaiana, do lado da fronteira, a mil quilômetros de distância. E eu, Pedro Simon, que era de Caxias, fui indicado para Uruguaiana, lá onde nunca tinham ouvido falar de mim, não sabiam que eu existia. Então, eu tive sempre restrições nesse sentido.

            Mas vejo firmeza em V. Exª, nos seus pronunciamentos nesta Casa. Em primeiro lugar, V. Exª fala com autoridade. O seu trabalho com relação aos menores na Bahia é algo que existe, ficou, está frutificando e é exemplo. Aquilo ali é algo que só pode ser imitado, copiado. V. Exª, quando fala, defende ideias, fala do Cristianismo na verdade, mas tem a independência entre a fé e a política. Por isso, eu me identifico muito com V. Exª. Acho que fez uma campanha muito bonita no Rio de Janeiro. Mas o Rio de Janeiro é o Rio de Janeiro. Geralmente, a gente não sabe quem vai ganhar ou quem não vai ganhar. Todavia, V. Exª continuará - tenho certeza - brilhando nesta Casa.

            Pois não.

            O Sr. Ruben Figueiró (Bloco Minoria/PSDB - MS) - Senador Pedro Simon...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senador Pedro Simon, permita-me. V. Exª está há quase três horas na tribuna. Nós queremos continuar ouvindo V. Exª por mais três horas. Eu queria convidá-lo, se achar possível, para o senhor sentar-se aqui e continuar da mesa do Senado. O senhor escolhe. É um convite em homenagem a V. Exª.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - V. Exª está fazendo uma afirmativa e um convite muito importante e muito emocionante. Eu, por mim, aceitaria o convite e iria sentar, mas peço que V. Exª me permita, pois eu prefiro ficar de pé.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Muito bem. (Palmas.)

            O Sr. Ruben Figueiró (Bloco Minoria/PSDB - MS) - Senador Pedro Simon, vozes representativas dos Estados brasileiros já se manifestaram aqui. Permita V. Exª que, desta vez, fale a voz de Mato Grosso do Sul, por mim, neste instante, e, daqui a instantes, pela voz autorizada do Senador Waldemir Moka. V. Exª, Senador Pedro Simon, voltará para os Pampas do seu Rio Grande do Sul, Pampas de tantas tradições legendárias em luta pela liberdade e pela democracia. V. Exª volta para o Rio Grande do Sul com as homenagens da Nação brasileira. Eu, que estou nesta caminhada também, voltarei para os campos da Vacaria do meu Mato Grosso do Sul. Voltarei também honrado, porque tive a oportunidade de conhecer personalidades tão importantes da vida nacional. E, dentre elas, sobressai a figura de V. Exª. Aprendi muito nesses anos, aqui, com a convivência de V. Exª. V. Exª, para mim, como para muitos dos nossos colegas Senadores, constitui e constituirá sempre um fanal a nos orientar em favor de bons propósitos, em favor da nossa democracia e do bem-estar do povo brasileiro. Eu pensei hoje, sinceramente, Senador Pedro Simon, o que eu poderia dizer ao senhor. Não encontrei outras palavras senão aquelas de pensadores franceses, verdadeiras pérolas do pensamento humano. Permita-me V. Exª que aqui relate duas delas. Uma é de La Bruyère, que disse lapidarmente: “Aparecem de tempos em tempos na face da Terra homens raros, descomunais, os quais, por suas virtudes ou qualidades eminentes, projetam vários clarões em meio às sociedades onde vivem”. Saint-Exupéry não fica atrás e diz: “Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sozinhos. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo”. V. Exª, Senador Pedro Simon, representa perfeitamente essas duas pérolas. V. Exª deixa um legado a todos nós, à Nação brasileira, que jamais esquecerá dos seus passos em favor das liberdades e da democracia neste País. Eu espero, como disse o Presidente do meu Partido, o PSDB, que V. Exª tenha vida longa, longa para continuar servindo o seu grande Rio Grande do Sul e servir à Pátria brasileira. V. Exª tem essa mensagem e, se Deus quiser, haverá de cumpri-la. Minhas homenagens.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu bravo amigo Senador, foi um carinho muito grande, uma felicidade muito grande conviver com V. Exª, pela sua bondade, pela sua grandeza, pela pureza de suas intenções, pela sua dedicação à causa pública. V. Exª honrou o seu Estado e conquistou aqui grandes e profundas amizades.

            Vejo V. Exª e me lembro, primeiro, do meu amigo Tebet, que ocupou a cadeira de V. Exª e que foi para mim uma das pessoas mais corretas e dignas que tivemos nesta Casa. O Tebet representou, no momento em que tivemos condições de escolher alguém para o Ministério, a unanimidade do Partido. Tebet teve um grande desempenho e fez um grande trabalho no Ministério. Ao enfrentarmos uma crise em que o Presidente do Senado, nosso colega, tinha que renunciar, e renunciou, nós tivemos que escolher alguém que unisse todo o Senado, que foi o Tebet.

            Esse foi um grande homem, que eu nunca vou esquecer.

            Nunca vou esquecer a vergonha que passei. Ele estava abatido, eu sabia que ele estava numa situação dura. De repente, entrei no Senado, e ele estava na tribuna, corado. Ele saiu, levantou, desceu. Eu disse a ele: “Tebet, como tu estás bem! Tu estás vindo de uma estação de águas?” E ele me respondeu: “É, Pedro, eu sempre fico bem quando faço uma transfusão de sangue”. Era uma das penúltimas que ele fez, pois, logo depois, ele veio a falecer.

            Olhando para V. Exª e para o querido Moka, eu sinto não estar aqui, mas sinto a alegria e a emoção da Simone aqui, de ver que, ao lado de V. Exªs, estará a Simone. Até na identificação: não é o Simon, mas é a Simone, muito mais competente, muito mais bonita. Quando estive com ela, na sua prefeitura, eu fiquei impressionado. Nos oito anos na prefeitura, ela fez uma obra notável: aquela cidade, Três Lagoas, progrediu, desenvolveu, avançou. Falava-se olhando para o futuro: “Aqui, nós seguimos em direção ao Porto de Santos; aqui, nós seguimos em direção ao norte”. As obras e as indústrias que estavam sendo feitas ali eram qualquer coisa de espetacular. Dali, ela se elegeu Vice-Governadora. Sei da atuação excepcional, de grande profundidade, que ela teve naquele momento. Depois, exatamente depois, ela foi candidata a Vice-governadora. De Vice-Governadora, ela vem para o Senado.

            Eu felicito V. Exª, como eu felicito ao Moka, como eu levo o meu abraço ao povo de Mato Grosso do Sul, pelo qual nós gaúchos temos muito carinho, muito afeto. Houve época em que havia até dois Senadores de lá que eram filhos do Rio Grande do Sul.

            Eu estava com o Tebet, e fomos assistir a um Congresso Estadual dos Centros de Tradições Gaúchas do Mato Grosso do Sul. Lá estava o Governador, estava todo mundo. E aí eu vi que parecia que eu estava no Rio Grande: todo mundo estava pilchado, de bota, de bombachas, de chimarrão, todo mundo levando desenvolvimento.

            Realmente, essa leva de gaúchos que saiu do Rio Grande, de Santa Catarina, do Paraná, que foi embora, está lá, nossa querida Senadora do Amazonas, levando o progresso e o desenvolvimento. Eu vejo com muita alegria, com muita emoção, a participação dos senhores no Estado.

            Eu tenho que lembrar, eu estava aqui: quando se criou o Mato Grosso do Sul, foi uma luta, porque não queriam deixar. Mas eles provaram que ali era o desenvolvimento, ali era o progresso. E hoje eu vejo com uma emoção muito grande. Eu hoje digo e repito: ali, naquele centro, naquele coração, estão o futuro do Brasil e o futuro do mundo. O Rio Grande do Sul, que é um continente, que tem o território de um continente, que tem a população de um continente, que tem as maiores reservas de água natural, que tem as maiores reservas de terras agricultáveis, vai ser o grande celeiro do mundo inteiro. É ali, no Estado de V. Exªs, que terá o centro do progresso e o centro do desenvolvimento.

            Fico contente com os gaúchos que estão ajudando. E a única coisa que quero selecionar é que nós, meu amigo Paim, vamos ter que fazer com que alguns deles fiquem lá, levando à nossa região de fronteira o progresso que estão levando ao Mato Grosso.

            Muito obrigado a V. Exª.

            Pois não.

            O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Senador Pedro Simon, eu estava dizendo que eu me filiei ao MDB em 1978. Eu nunca tive outro Partido na minha vida, igual a V. Exª. E eu sou de uma geração que, na vida inteira, teve em V. Exª uma referência. Eu convivi com Wilson Barbosa Martins, seu colega ex-Governador, nosso grande líder no Estado. Eu convivi com o Senador Ramez. Aliás, eu cheguei à política com Ramez Tebet. E, por incrível que pareça, depois tive o privilégio de ser professor da sua filha, que hoje é nossa colega, Senadora eleita Simone Tebet. Eu lamento realmente que a Simone não possa conviver com V. Exª, mas ela me pediu que dissesse a V. Exª do seu enorme carinho - não só a Simone, mas a Dona Fairte e os outros filhos do Ramez. O Ramez, que, toda vez que eu chegava aqui, estava sempre conversando com V. Exª, era seu amigo, era seu parceiro. Confesso que eu o conheci mais proximamente através desse extraordinário homem público que é Ramez Tebet. Agora, eu gostaria de dizer a V. Exª que é muito difícil hoje para os filhos e os netos dos políticos, mas eu tenho certeza de que os seus filhos, os seus netos, a sua família tem um orgulho muito grande de V. Exª, porque V. Exa representa o que há de melhor. V. Exa representa exatamente aquilo que é o ideal que o homem público deveria ser. Eu, todas as vezes que vejo V. Exa ou na tribuna ou falando a respeito, eu sentia realmente que nosso Partido, o nosso velho MDB de guerra, como tantas e tantas vezes eu ouvi V. Exa falar e que eu uso também... Eu sou neto de gaúcho, meu avô veio de São Borja e foi parar em Bela Vista, a minha cidade natal, mas todos nós lá do Mato Grosso do Sul - aí eu tenho certeza de que falo em nome de toda a população -, aqueles que estão ouvindo a despedida de V. Exa, certamente todos os brasileiros vão dizer que o Senado perdeu ou deixou de ter o seu número 1, na minha avaliação, aquele que representa a inspiração, a referência, a ética na política. É isso tudo que V. Exa representa. Senador Pedro Simon, eu quero dizer a V. Exa que eu não perderia essa despedida, como disse ontem a V. Exa. Eu estava em uma comissão e tinha que ficar para votar, mas estava com um medo muito grande de não poder chegar aqui a este microfone e dizer do meu carinho e do meu respeito a este extraordinário homem público que o Brasil inteiro reverencia e em quem confia, o grande Senador do Rio Grande do Sul Pedro Simon. Grande abraço, meu velho amigo.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu amigo Moka, conheci V. Exa pela Bancada gaúcha federal, que falava e salientava a sua coerência e a sua firmeza na Câmara dos Deputados. E, quando V. Exa foi eleito, eles diziam da importância de V. Exa aqui, na Casa, e que V. Exa daria força ao nosso MDB na luta pela seriedade e pela credibilidade. V. Exa demonstrou isso, demonstrou garra, demonstrou firmeza, demonstrou uma posição pela qual eu tenho o maior respeito e o maior carinho. V. Exa fez bem em lembrar do companheiro Wilson Martins, que também foi nosso colega aqui, nesta Casa. E eu também vi, apesar da sua velhice, a sua firmeza, a sua convicção e a maneira com que ele comandava sem comandar. Ele dava os passos, ele dava as linhas que fizeram com que, em Mato Grosso, o Partido se transformasse nesse grande Partido que realmente é.

            Meu carinho muito grande a V. Exª do fundo do coração!

            Pois não, Senador.

            O Sr. Paulo Bauer (Bloco Minoria/PSDB - SC) - Senador Pedro Simon, eu apenas peço a palavra para transmitir a V. Exª meus cumprimentos pelo brilhante trabalho que realizou ao longo da sua vida pública, especialmente ao longo dos mandatos que exerceu aqui, no Senado Federal. Quero, em nome dos catarinenses, que represento nesta Casa, dizer que, sem dúvida nenhuma, se não fosse mais possível V. Exª atuar em outra atividade, V. Exª poderia ser um professor de Senador. Com certeza, esse título lhe caberia muito bem pelo que V. Exª já ensinou, pelo que V. Exª já demonstrou de capacidade, de conhecimento, de espírito público no exercício dos mandatos aqui desenvolvidos. Eu mesmo, quando cheguei aqui há quatro anos, em nome dos catarinenses, pude conviver mais proximamente com V. Exª e pude recolher muitos ensinamentos das suas manifestações, da sua posição, da sua coerência. Quero agradecer por essa oportunidade e quero felicitá-lo e desejar-lhe muita saúde e muito sucesso. Que Deus permita que, por muito tempo, o senhor possa contribuir com o seu Rio Grande do Sul, com o nosso Brasil, não se esquecendo, naturalmente, de Santa Catarina, Estado vizinho do seu, onde V. Exª tem muitos admiradores, muitos que o aplaudem e muitos que reverenciam suas manifestações, seus posicionamentos. Sempre que puder, já que no ano que vem começa um novo mandato de muitos novos Senadores, venha aqui para dar algumas aulas de como ser um grande Senador. V. Exª, com certeza, será muito ouvido e também aplaudido por todos. Muito obrigado.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu querido Senador Bauer, eu agradeço a sua gentileza e felicito V. Exª. Os entendimentos que V. Exª, o seu Partido e o meu Partido fizeram em Santa Catarina fazem esse crescimento espetacular, essa posição de relevo que Santa Catarina tem, que vai até ao exagero. Os cariocas não estão aceitando que eles têm três times na primeira divisão e que Santa Catarina tem quatro times. A gente está satisfeito. O Luiz Henrique espalha para a boca do mundo que a fábrica mais moderna de automóvel vai ser construída em Santa Catarina.

            E a única representação do Ballet Bolshoi no mundo inteiro está em sua terra, Joinville.

            Realmente, é impressionante o crescimento de V. Exªs naquela terra. Lá, com o Luiz Henrique e, agora, com o novo Governador, com esse entendimento que vocês fizeram, com essa integridade que vocês fizeram, é impressionante o progresso, o desenvolvimento e o avanço de Santa Catarina!

            Durante muito tempo, nós, do Rio Grande, olhávamos para Santa Catarina como nosso filho mais velho e, hoje, estamos sentindo uma dificuldade muito grande, porque Santa Catarina, realmente, progrediu, avançou, desenvolveu, e V. Exª é um exemplo disso tudo, pelo que nós temos o maior orgulho e a maior simpatia.

            Muito obrigado.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Apoio Governo/PSB - SE) - Senador Pedro Simon, peço licença a V. Exª para fazer uma breve, mas sincera homenagem ao trabalho atuante e profícuo que realizou durante todo esse período no Senado Federal. Eu cheguei aqui em 1995 e já encontrei V. Exª, que era uma figura, como hoje, respeitada e querida pelo Senado Federal, por uma atuação marcante, corajosa, voltada para os interesses não só do Rio Grande do Sul, como também do Brasil inteiro, atestada através da sua presença sempre constante nas comissões e na tribuna, em momentos decisivos deste Senado e da nossa Nação. A sua palavra, a sua opinião, as suas ideias sempre foram importantes neste Senado, no instante em que V. Exª proferia a sua opinião e dizia o que de errado estava acontecendo neste País e aqui mesmo, no Senado, apresentando sugestões que pudessem melhorar o funcionamento da Casa e aperfeiçoar o sistema político do nosso País. V. Exª lutou pela liberdade e pela democracia quando o Brasil mais precisava. E, aqui, no Senado Federal - tenha certeza V. Exª -, a sua falta vai ser grande. Eu me recordo, para terminar, de que fui autor de uma matéria que, hoje em dia, está sendo muito utilizada na legislação brasileira e que é referente à lavagem de dinheiro. V. Exª, entre tantas proposições de que foi Relator, deu parecer a essa matéria, que terminou se tornando lei. A Presidência da República a fez entrar em vigência, publicando-a no Diário Oficial, fazendo com que a Polícia Federal, o Ministério Público e o próprio Judiciário pudessem ter a base e os fundamentos jurídicos necessários para o combate à criminalidade. V. Exª deu essa contribuição. Por isso, a minha admiração, o meu respeito e, desde já, o desejo de que, no retorno ao Rio Grande do Sul, ou mesmo ficando aqui algum tempo, ao lado de sua família, V. Exª possa usufruir do descanso merecido do ponto de vista físico. Mas, politicamente falando, sei que V. Exª tem ainda muito serviço a prestar à nossa Nação. Muito obrigado.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Senador Valadares, nós nos conhecemos de longa data. Eu me lembro daquela célebre eleição, depois do Plano Cruzado, quando o MDB ganhou as eleições em todo o Brasil, menos em Sergipe, de V. Exª. Aí eu perguntava: “Mas quem é esse homem? Como ele consegue ganhar de nós todos, se ele é uma pessoa que não é do nosso Partido?” A resposta foi a seguinte: “Ele pode não ser do nosso Partido, mas ele tem as nossas ideias, ele tem o nosso pensamento, ele é um homem realmente de grandes condições e merecia ganhar.” Vejo que, realmente, o tempo passou, e V. Exa veio para o nosso lado, até foi mais para a esquerda, mas veio sendo sempre um grande Senador, um grande líder. Mas, naquele momento, como V. Exª há de se lembrar, era o Brasil inteiro de uma cor, e V. Exª, sozinho, representou-o com grande dignidade e com grande brilho. E, hoje, está aqui, da mesma maneira. Muito obrigado, meu querido Senador Valadares.

            Ouço a Senadora Lúcia.

            A Sra Lídice da Mata (Bloco Apoio Governo/PSB - BA) - Senador Pedro Simon, a Senadora Lídice da Mata lhe pede um aparte.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Logo depois, eu lhe concedo o aparte.

            A Srª Lúcia Vânia (Bloco Minoria/PSDB - GO) - Senador Pedro Simon, eu gostaria de saudá-lo com uma das frases mais bonitas de um dos seus discursos nesta Casa. Hoje, quero dizer a V. Exª que temos uma inveja cristã da sua trajetória, uma trajetória ética, uma trajetória de um Parlamentar aplicado nas ações parlamentares, uma história de um Parlamentar corajoso que diz a verdade doa a quem doer, uma trajetória que mostra a todos nós políticos que é possível ser político associando todas essas qualidades. Portanto, V. Exª é referência nesta Casa. V. Exª é referência para essa juventude que descrê tanto da atividade política. V. Exª é exemplo. E nos orgulha dizer que V. Exª faz com que nos sintamos bem ao falar que somos políticos, embora hoje a sociedade brasileira rejeite os políticos. Mas V. Exª é, sem dúvida alguma, a referência que podemos ter e na qual podemos nos espelhar. Portanto, receba o meu carinho, receba os meus cumprimentos. E que essa inveja cristã que V. Exª desperta seja também um ânimo para a sociedade brasileira se reerguer e acreditar que a democracia é o melhor caminho para conseguirmos mudar este País! Meus parabéns!

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Minha querida amiga, Senadora, quero dizer a V. Exª que tive sempre grande admiração por V. Exª. O seu trabalho, a sua luta como Senadora da República e sua reeleição fazem com que reconheçamos que V. Exª, no PSDB, representa uma bandeira muito importante naquele grupo que, pelas ideias, pelo pensamento, pela defesa da democracia, busca realmente a consolidação do nosso País. É uma alegria e um orgulho ver V. Exª sempre firme, com a mesma independência, com o mesmo respeito, com as mesmas ideias, com a mesma bandeira. Tenho um carinho muito grande por V. Exª, minha querida Senadora. Levo de V. Exª um afeto realmente muito profundo. Obrigado.

            O Sr. Eduardo Amorim (Bloco União e Força/PSC - SE) - Senador Pedro Simon...

            A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Senador Pedro Simon, peço para me inscrever.

            A Srª Lídice da Mata (Bloco Apoio Governo/PSB - BA) - A Senadora Lídice da Mata está inscrita. Peço perdão aos companheiros.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Ouço a Senadora Lídice.

            A Srª Lídice da Mata (Bloco Apoio Governo/PSB - BA) - Senador Pedro Simon, tenho uma convivência com V. Exª, praticamente nesses quatro anos de Senadora, mais proximamente do ponto de vista físico, mas não vem dessas datas a minha admiração pela figura política que V. Exª é. Nos tempos de estudante, do movimento estudantil na Bahia, ou mesmo depois, quando da organização da juventude do MDB e, posteriormente, quando da organização do movimento de mulheres do MDB, quando da formação de todos esses movimentos existentes naquele que era o único Partido da oposição contra a ditadura no Brasil, V. Exª sempre foi referência para esses movimentos internamente quanto ao que significava um mandato em defesa do movimento popular no Brasil e quanto ao que significava no PMDB um parlamentar em defesa de um partido que se democratizava e que era organizado para representar essa pujança de busca da liberdade que o nosso povo tinha. Um Parlamentar saindo da ditadura militar e conquistando a democracia, V. Exª, imediatamente, reorientou o seu posicionamento político para consolidar esse momento de conquista democrática pelo qual o nosso País passava. E foi o líder do grande Presidente Itamar Franco, de Minas Gerais, naquele momento importante de transição que o nosso País viveu. Foi um líder, como sempre. Com a mesma coragem que teve para fazer oposição, com a mesma intrepidez que teve para enfrentar a ditadura militar, V. Exª foi governo, defendeu um governo em que V. Exª acreditava e em que o Brasil acreditou, capaz de consolidar a nossa democracia e de, com honestidade, conduzir o Brasil para o nosso momento de hoje, com a estabilidade da moeda. Portanto, V. Exª conseguiu sintetizar - e muitos são os companheiros que saem neste momento do Senado, e nós lamentamos a saída de todos eles - uma fase da história política brasileira. V. Exª sintetiza isso na sua ação parlamentar. Então, V. Exª não será apenas um espaço vazio neste Senado. V. Exª leva consigo uma parte significativa da história democrática do Brasil. É uma pena, mas eu tenho certeza de que, mesmo fora do Senado Federal, V. Exª continuará com a sua militância, inspirando o Congresso Nacional na direção de representar o povo brasileiro, mesmo frente a essas novas dificuldades que a Nação brasileira enfrenta.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Querida Senadora Lídice da Mata, é com muito carinho que escuto a manifestação de V. Exª.

            V. Exª, lá na Prefeitura de Salvador, com muita garra, com muita competência, teve uma vitória histórica e vem desempenhando um papel significativo dentro deste Parlamento.

            V. Exª, Senadora Lídice, tem história e tem biografia. Nós sempre lembramos a sua ação e a sua presença no mundo das mulheres, na luta pela redemocratização, no trabalho para que a política fosse adiante pela ética e pela moral.

            V. Exª está nessa campanha há longo tempo e, lá na Bahia, representa uma voz, um pensamento e uma bandeira que tenho a convicção que representam o que nós temos de melhor.

            Quando V. Exª lembra o Presidente Itamar Franco e a nossa passagem como Líder de S. Exª, eu aproveito para lembrar aqui as teses que defendi e que debati, no sentido de que seria muito possível e muito importante que a Presidente, depois de uma eleição tão justa, quando a diferença foi de 1% para cá ou 1% para lá, pudesse fazer o entendimento, pudesse chamar os Presidentes de todos os Partidos e, dentro dessa reunião com os Presidentes de todos os Partidos, fazer um chamamento para estabelecer a linha, a bandeira, a orientação que deveria seguir, em vez de vermos o que estamos, infelizmente, vendo hoje: um partido tal buscando um ministério tal; um partido tal buscando os cargos tais. É o loteamento do Governo. Em uma hora como esta, o loteamento do Governo.

            Em vez disso, se a Presidente tivesse se reunido com todos, estabelecido uma pauta, estabelecido uma determinação, estabelecido uma proposta, daria uma orientação para que tudo seguisse.

            Se com o Itamar deu certo! Ele reuniu os Presidentes de todos os Partidos. Ele que não tinha nada atrás dele. Tinha atrás dele o Collor, que havia sido eleito Presidente da República e havia sido cassado. Ele não tinha nenhuma representação no Parlamento.

            Fez isso. Chamou e, em cima disso, fez o Plano Real; e o Plano Real foi aprovado. O Plano Real, até hoje, é a razão de ser da sustentação da economia brasileira.

            Por que não se faz isso? Por que, nesse momento, não se repete isso? Por que a Presidente da República tem até mágoa do próprio Partido? Não consulta nem o Partido dela! Nem o PT, nem os outros partidos. Por que não faz esse grande entendimento que ela tinha que fazer? Chama o PSDB, chama todos os Partidos aqui.

            Esse que é um campo que precisamos discutir. Nós estamos vivendo uma hora trágica. A Petrobras está sendo processada, inclusive lá, nos Estados Unidos. Nós estamos vivendo uma hora dramática, independentemente do resultado da eleição. Eleição é eleição, a Presidência é a Presidência, o Governo é o Governo, mas vamos nos reunir aqui para debater o Brasil, o futuro do Brasil.

            Tenho certeza de que o Líder do PSDB compareceria. Tenho certeza de que todos os Líderes compareceriam. E nós teríamos um movimento, nós teríamos uma bandeira, nós teríamos uma orientação, e não o que está acontecendo, em que, de um lado, o Ministro que era encarregado da ética se demite; e, de outro lado, o Procurador-Geral da República faz uma série de denúncias, e a Presidente da República está contestando o Procurador-Geral da República. Com quem está a razão, com o Procurador ou com a Presidente da República?

            É lamentável! Nós estamos assistindo a um Governo que não consegue acabar, e outro que não consegue começar. Ainda seria tempo, apesar de ela já ter nomeado, ainda seria tempo de reunir os partidos, deliberar.

            Nesse momento, nessa hora, nessa situação, o que vamos fazer para conduzir o Brasil daqui para diante?

            Fez bem V. Exª aqui, Senadora Lídice da Mata, lembrar o que foi feito naquela oportunidade, porque lá foi feito, deu certo, foi positivo, e estamos até hoje vivendo a consequência daquilo. E, lamentavelmente, a nossa Presidenta, na vaidade de ser ela a autora, não faz o chamamento que deveria fazer a toda a Nação.

            Querida Vanessa.

            A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Obrigada, Senador Pedro Simon.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Eu só quero fazer um registro, Senadora Vanessa.

            A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Pois não.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Registro a presença, aqui conosco, do Ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal.

            Seja bem-vindo, Ministro, que veio aqui assistir ao seu pronunciamento.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu agradeço muito, Sr. Presidente, com muito carinho e com muita alegria a presença do Sr. Ministro, que me honra com a sua presença neste momento

            A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Apoio Governo/PCdoB - AM) - Senador Pedro Simon, tenho certeza de que, assim como o Ministro Fux, muitos brasileiros e brasileiras gostariam de estar aqui, neste momento, aparteando V. Exª. Eu quero dizer o tamanho da minha alegria, alegria maior ainda de ter podido conviver com V. Exª nesses últimos anos. Senador Pedro Simon, eu me lembro de V. Exª em muitas passagens. V. Exª escolheu o dia de hoje. V. Exª, neste ano de 2014, completa 60 anos de vida pública e escolheu o dia de hoje, o Dia Internacional dos Direitos Humanos, que completa 66 anos somente. O senhor, Senador Pedro Simon, como muitos que me antecederam já disseram, deixa um legado muito importante, porque não é somente o legado das palavras, o legado do bom pronunciamento, o legado do belo discurso. V. Exª deixa o legado maior, que é do exemplo de vida, Senador Pedro Simon. Eu me lembro de V. Exª, quando chegou à cidade de Manaus para o velório do Senador Jefferson Peres. Sentou-se ao lado do caixão e dali só saiu com o cortejo para o Cemitério São João Batista. E eu me lembro também do carinho com que o senhor recebeu neste plenário o nosso querido poeta amazonense Thiago de Mello. Eu não tenho nem palavras para homenageá-lo, para falar da sua correção, para falar da sua importância, Senador Pedro Simon, no cenário político brasileiro. Então, eu escolhi aqui ler - e vou fazê-lo rapidamente - uma estrofe. Estou aqui com a Declaração dos Direitos Humanos, mas eu quero ler apenas uma estrofe de um dos poemas que considero mais belos: Os Estatutos do Homem, de Thiago de Mello, que escreveu no Chile assim que iniciou seu exílio. O art. 3º diz o seguinte: “Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra e que as janelas devem permanecer o dia inteiro abertas para o verde, onde cresce a esperança.” Não importa que discurso faça o senhor, mas, ao final de cada um deles, existe a mensagem da esperança. Parabéns, Senador Pedro Simon! Muito obrigada pelo direito à convivência que tive com V. Exª.

            O Sr. Eduardo Amorim (Bloco União e Força/PSC - SE) - Senador Pedro Simon, Senador Eduardo Amorim.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Já respondo.

            Minha querida Vanessa, eu agradeço do fundo do coração o carinho de V. Exª.

            V. Exª me lembra o Jefferson Peres. O Jefferson Peres foi um homem notável, foi um homem que emocionou esta Casa pela sua dignidade e pela sua correção. Quando aconteceram os casos de gravidade no governo Lula, o Jefferson Peres e eu pedimos ao Presidente da República que demitisse aquele que estava aparecendo na televisão.

            Não demitiu. Pedimos uma CPI. Não deixaram criar a CPI. Aí, o Jefferson Peres e eu fomos ao Supremo, a CPI saiu e o mensalão aconteceu. O Jefferson Peres é homem de uma dignidade fantástica.

            Não posso esquecer, minha querida Vanessa, quando, em uma sessão de debates, em meio às discussões, o orador teria feito alguma referência a ele, dizendo assim: “Eu poderia, se quisesse, nomear para o Senado a funcionária tal do meu gabinete.” Foram dizer isso ao Jefferson, cuja esposa trabalhava no gabinete dele. E todo mundo disse: “Você tem que responder, você tem que responder.” “Eu não vou responder. Não vejo nada demais”. “Tem que responder, tem que responder”. “Eu não vou responder. Não há nada demais”. Insistiram tanto que ele respondeu. A galeria estava cheia, com a televisão, com as máquinas. Ele entra, sobe à tribuna e diz: “Eu não vi nada, mas, como todo mundo insiste que eu tenho que falar, eu vou falar. A minha mulher trabalha no meu gabinete. Ela trabalha no meu gabinete porque eu sou uma pessoa muito antipática, muito ranzinza. Eu não sei agradar as pessoas, e ela é de uma simpatia total. O pessoal vem do Amazonas, lá daquele fim do mundo, e quer ser bem recebido, quer ser bem tratado. Ela faz isso tudo. Ela trabalha no meu gabinete e entra a noite. Só tem uma coisa: ela não é empregada nem do meu gabinete, nem do governo do Estado, nem do Governo Federal, nem de coisa nenhuma. Ela não é empregada de ninguém.”

            Falou dois minutos e meio. Quando os caras se preparavam para filmar, ele já havia terminado o discurso. Disse tudo o que tinha a dizer com uma síntese que eu disse para ele: “Você não calcula a inveja que tenho de você, dessa tua competência e dessa tua capacidade.”

            Meu nobre Líder.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Meu caro amigo, Senador Pedro Simon, eu queria dizer a V. Exª que, quando cheguei aqui ao Senado, quatro anos atrás, eleito por São Paulo, eu vim fascinado pela ideia de ser seu colega, de conviver com V. Exª, aqui, cotidianamente, no Senado, porque eu tenho por V. Exª uma admiração irrestrita e que vem de muito tempo. Eu acompanho a sua trajetória brilhante, meu caro Senador Pedro Simon. Eu acompanho a sua luta no Rio Grande do Sul, a sua luta ainda nas fileiras do trabalhismo, a sua presença corajosa no túmulo de Getúlio Vargas, ao lado de Oswaldo Aranha, de Tancredo Neves, de João Goulart. Tive notícias, no exílio, da sua presença no sepultamento do Presidente João Goulart, notícias da sua atuação na fundação do MDB, da sua presença extraordinária para dar forma à acessão do MDB, que era a mais avançada do nosso País, a mais combativa, aquela que tinha a visão mais larga sobre o futuro da democracia e o futuro do nosso povo na democracia. A juventude do MDB do Rio Grande do Sul exerceu uma enorme influência sobre a juventude do País, e havia também, na orientação da juventude do MDB do Rio Grande do Sul, a sua mão, a sua presença, a reminiscência dos seus tempos de jovem militante no movimento estudantil. A juventude do MDB do Rio Grande do Sul contribuiu para atrair para a luta democrática muitos jovens da minha geração que tinham enveredado pela luta armada e que voltaram à luta democrática, muito seguindo a influência da acessão da juventude do MDB do Rio Grande do Sul. O seu discurso hoje, meu caro Senador Pedro Simon, foi Pedro Simon inteiro. Inteiro! Típico do Pedro Simon. Começa com uma nota literária, uma nota sensível, uma nota poética de reminiscências, em que o senhor vai para trás, vai para frente no caminho da memória. Vai do movimento estudantil para o governo Itamar Franco; sobe as escadas dos palácios que o senhor frequentou; fala do Rio Grande do Sul no seu governo, um governo extraordinariamente austero, realizador, um governo que enfrentou o Rio Grande do Sul numa crise profunda e o entregou inteiro ao seu sucessor; fala da sua presença aqui como Líder do governo Itamar Franco, na aprovação do Plano Real; e, ao mesmo tempo em que o senhor se lembra desses episódios todos, coordenando-o num todo coerente, numa vida dedicada à luta democrática ao Rio Grande do Sul e ao Brasil, o senhor envereda também pela polêmica, com suas frases cáusticas, com sua gesticulação inimitável, abundante, com a exibição não exibicionista, mas com a demonstração de profundo conhecimento de Economia, de Ciência Política, de Relações Internacionais, de Direito. O senhor pontua o seu discurso com observações, com frases, com proposições que ilustram uma vasta cultura, um enorme preparo. Isso tudo dito com simplicidade, sem nenhum desejo de aparecer. Esse é o Pedro Simon. Pedro Simon que tem a minha estima para sempre. Eu não terei saudades, meu caro Pedro, porque sei que o senhor continuará o seu caminho. Na fase inicial do seu discurso, o senhor se refere à semeadura. Eu não posso deixar de me lembrar da parábola do semeador: “Eis que o semeador saiu para semear”. O semeador tem que sair, ele tem que andar. O semeador não fica no mesmo lugar. Esse é Pedro Simon. Pedro Simon que anda, que se movimenta, que vai para frente, vai para trás, que, às vezes, semeia no terreno inóspito, como semeou, por exemplo, quando quis instalar aqui a CPI das Empreiteiras, mas semeou, sobretudo, no terreno fértil da consciência do povo brasileiro, abrindo, ao lado de Tancredo, ao lado de Ulysses Guimarães, ao lado de Luiz Henrique, nosso companheiro aqui, um futuro de democracia e de liberdade do nosso povo. Pedro Simon, a sua presença no Senado da República é uma das páginas mais gloriosas desta instituição. E o senhor ficará aqui para sempre, na nossa memória e na memória da instituição. Muito obrigado.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senador Simon, na sequência.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu amigo Aloysio, o carinho que tenho por V. Exª, a admiração que tive ao longo de todo esse período por V. Exª, V. Exª é um homem completo. Na hora de lutar, lutou. Lutou na luta, lutou na guerrilha, foi para o exterior, esteve lá, voltou, se integrou, e hoje representa um papel realmente extraordinário.

            V. Exª, dentro do PSDB, teve e tem um papel muito importante. O exagero de líderes e a falta de entendimento fizeram com que a presença de V. Exª fosse necessária. V. Exª é um homem que tem todos os instrumentos da capacidade, da cultura, do conhecimento, da ética, da dignidade, da firmeza e da convicção. V. Exª como vice do Aécio para ele poder entrar em São Paulo é um exemplo. V. Exª, que, na época, fez a maior votação na história do Brasil como Senador em São Paulo, agora o Aécio ganhou com uma vitória espetacular em São Paulo, o que ele não conseguiu nas Minas Gerais, porque lá não tem um Aloysio Nunes como teve na cidade de São Paulo.

            O seu nome na Vice-Presidência garantiu o apoio e o estímulo. Esse é o nome de V. Exª, que representa aqui o que tem de melhor e o que tem de mais digno. É recíproco o amigo, o amor, o afeto e o respeito que eu tenho por V. Exª.

            O Sr. Eduardo Amorim (Bloco União e Força/PSC - SE) - Senador Pedro Simon, nós políticos, de uma geração diferente da sua, sempre buscamos, temos que buscar, as nossas referências, e V. Exª, com toda a certeza, saiba que é e sempre será também para outras gerações uma grande referência. V. Exª nos ensinou e continua nos ensinando: desistir nunca. Não devemos desistir nunca de um Brasil melhor, de um Brasil mais cidadão, de um Brasil que, realmente, materialize a esperança de muitos. Então, saiba que, na minha formação política, V. Exª ajudou e continua ajudando, mesmo não tendo sempre essa presença física, o contato direto de todas as horas, mas V. Exª é um daqueles líderes que influencia e continuará influenciando muitas e muitas gerações. Com certeza, motivo de muito orgulho, não só para a sua família, mas para todos nós, mostrando que a política é, sim, o único instrumento de transformação, de justiça social que temos. É através de pessoas boas entrando na política e fazendo o que devem fazer, lutando e defendendo princípios e valores sempre, nunca abrindo mão deles por prior que seja a situação, que vamos melhorar e transformar verdadeiramente este País. Pode ter certeza de que V. Exª cumpriu sua missão como um bom soldado, um bom guerreiro, e continuará cumprindo, por meio dos bons exemplos. Abrir mão de princípios nunca.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Eduardo Amorim (Bloco União e Força/PSC - SE) - Nunca. É assim, Senador Pedro Simon, que eu particularmente procuro buscar o seu exemplo, e não só eu, mas milhares e milhares de políticos e de gerações de brasileiros. O orgulho que temos de estar aqui com V. Exª, e não só nós, mas aqueles que não têm nenhum contato, como o privilégio que nós temos de estar aqui nesse convívio, com certeza continuará por gerações e gerações. E volto a dizer como é bom, porque poucos brasileiros conseguiram o que V. Exª conseguiu, cumprir sua missão muito bem cumprida e tendo o reconhecimento não só dos que estão aqui presenciando este momento, mas, com certeza, de milhões e milhões de brasileiros, não apenas gaúchos, mas de milhões e milhões de brasileiros que estão lá fora. Este País tem jeito. O jeito quem dá somos nós, com nossas atitudes e com a manutenção, sempre, dos princípios. Muito obrigado, Senador Pedro Simon, pelos ensinamentos.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Senador Eduardo Amorim, eu agradeço profundamente a V. Exª, com muito carinho, com muito afeto e com muito respeito pelo que disse. Muito obrigado.

            O Sr. Eunício Oliveira (Bloco Maioria/PMDB - CE) - Senador Pedro Simon...

            O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Senador Pedro Simon...

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - É o Líder, não é?

            O Sr. Eunício Oliveira (Bloco Maioria/PMDB - CE) - Senador Simon, o Senado Federal está hoje se despedindo de um dos homens públicos vivos mais importantes e respeitados no Brasil. Como militante do PMDB há cerca de 40 anos, aprendi a ver o nosso então 1º Vice-Presidente e depois Secretário-Geral da Executiva Nacional do MDB, Pedro Simon, ao lado de homens como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Paes de Andrade e tantos outros. Entre dezenas de companheiros nossos, Pedro Simon foi sempre o orgulho do MDB e o orgulho do PMDB e da política brasileira. Tenho o orgulho de dizer que as trajetórias de resistência e compromisso cívico desse nosso PMDB, antigo MDB, e um dos seus mais importantes nomes, como o do Senador Pedro Simon, permitiram aos brasileiros usufruir, hoje, desta democracia intensa e inédita na história política do nosso País, traçada por V. Exª, no seu Rio Grande do Sul, espalhando-se por todo o Brasil. Ainda muito jovem, Senador Pedro Simon, nos meus 40 anos de militância, sempre tive V. Exª como referência. Sempre tive V. Exª como homem que dignificava e dignifica a vida política brasileira. Então, o Senado da República se despede de V. Exª nesta tarde, nas quase cinco horas em que V. Exª está na tribuna sendo aparteado por todos os seus companheiros. O Brasil perde neste momento, pela sua saída desta Casa, um grande Senador, mas tenho a convicção de que esse grande brasileiro vai continuar na militância partidária, na militância daquilo em que acredita. V. Exª, que é devoto, como eu, de São Francisco, vai continuar sua luta, andando pelo Brasil inteiro, dando o exemplo do que significa ser um verdadeiro homem público deste País. Então, meus parabéns e a minha saudade, nesta Casa, do comportamento de V. Exª.

            O SR. PEDRO SIIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu agradeço, nobre Líder, a manifestação de V. Exª. Agradeço a importância e o significado da presença e da ação de V. Exª, que, como Líder do PMDB, exerce hoje uma função muito importante.

            Eu, que estou saindo, atrevo-me a dizer a V. Exª o que disse o nosso Vice-Presidente em exercício, e como seria importante nesta hora se nós pudéssemos, junto com o Governo, tentar buscar uma fórmula, como Itamar fez quando Presidente da República, no meio daquela confusão do impeachment, quando não sabia para onde ir, o que iria ou não acontecer. Antes, tinha havido a CPI dos Anões do Orçamento, com uma série de cassações. E o que aconteceu? Ele reuniu os presidentes de todos os partidos. De todos. Lá estavam Ulysses, Arraes, Brizola, Lula, todos para fazer um entendimento.

            Ele disse que nós éramos oposição. Cada um tinha sua posição, seu partido, mas que deveríamos nos unir em torno de um projeto, tendo em vista a hora que estávamos vivendo. Estávamos em uma transição, ele era o Presidente, mas não representava o povo. O povo votou no Collor. O Congresso cassou o Collor e o colocou ali. Ele estava ali porque o Congresso o colocou ali. Então, deveríamos nos reunir para fazer um entendimento. E conseguiu vencer. Fruto daquela reunião, daquele entendimento, reuniu os Partidos e veio o Plano Real.

            Agora era hora disso. Em vez de a Presidência hoje deixar de fora o PT, e o PT ficar magoado e não falar com ela, e o PMDB ficar de fora, magoado porque ela não fala, em vez disso, deveria reunir todos e fazer isso. Eu acho que a Presidência tem que fazer isso. Eu falo do fundo do coração: V. Exª, como Líder, e o companheiro Michel podem fazer com que o nosso Partido - tenho certeza - mostre para ela o momento que nós estamos vivendo.

            Manchetes de jornais divulgaram ontem o Procurador-Geral da República dizendo uma série de coisas, pedindo a demissão de toda a Diretoria da Petrobras. Hoje, a Presidenta contesta o Procurador. É difícil! Nós estamos trilhando um caminho tortuoso, que não é bom para ninguém. Eu acho que V. Exª, o nosso Partido e os outros partidos, como eu disse - e o Senador Aloysio disse que o PSDB concorda que seria importante -, chegarem a um entendimento seria uma grande saída.

            O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Pois não.

            O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Há mais ou menos quatro horas V. Exª participa, com seus companheiros, seus colegas, aliados como eu, admiradores como eu, colegas como eu, que milito com V. Exª no PMDB, de discussões conjunturais e estruturais sobre a nossa realidade, o cenário atual e o futuro. Quase sempre, ocupamos a casa, o espaço físico tão agradável do nosso amigo comum, Senador Jarbas Vasconcelos, onde nos reunimos para conversar e refletir sobre o papel do nosso Partido, a conjuntura que vivemos, a necessidade e a responsabilidade de o nosso Partido ter um projeto, uma pauta, uma agenda para contribuir de maneira efetiva com o Brasil. V. Exª está colhendo tudo aquilo que plantou: o respeito e a admiração não apenas de seus aliados e amigos, como eu, mas também daqueles que divergiram e divergem de V. Exª no discurso, na prática e no dia a dia. Tudo isso é legado, é extensão, é trajetória, é caminhada. V. Exª nos inspira ao longo desses anos todos, não apenas nos últimos quatro anos em que tenho o privilégio de conviver com V. Exª, mas também antes disso, lá na minha longínqua Cachoeiro de Itapemirim, onde comecei minha militância política como vereador, em 1982. Portanto, lá se vão mais de 30 anos de militância política, como vereador, como deputado estadual, como Deputado Federal, como Vice-Governador do Estado, acompanhando a capacidade de V. Exª de se reinventar sem perder a identidade e a personalidade. Esse é o traço que marca a vida de V. Exª, que não tem duas caras. V. Exª não é uma pessoa no on e uma pessoa no off. V. Exª não é uma pessoa na tribuna e uma pessoa na planície. V. Exª é o que é. E de tudo me vem a reflexão de Thomas More, quando diz: “Que eu mostre com meus atos aquilo que eu professo por minhas palavras”. V. Exª é, na essência, ato e palavra. E o que o torna um gigante e marca a história do Senado é essa militância extraordinária. Não dou um adeus a V. Exª, mas um até logo, porque sei que V. Exª vai continuar a percorrer o País. Desde já, o meu convite e, se permitir, a convocação, para que os capixabas possam ter V. Exª, a qualquer momento, a qualquer instante, para que juntos possamos dialogar sobre o futuro do País. Saudações. Vida longa a V. Exª.

            O Sr. Walter Pinheiro (Bloco Apoio Governo/PT - BA) - Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - O convite já está aceito. É só marcar, e eu faço questão.

            O Sr. Walter Pinheiro (Bloco Apoio Governo/PT - BA) - Já tive oportunidade de dizer isso a V. Exª. Talvez eu não tenha começado na atividade parlamentar tão cedo quanto o Senador Ricardo Ferraço, mas, na minha juventude, no movimento estudantil, por diversas vezes, tive oportunidade de botar os ouvidos no velho radinho de pilha - como costumávamos chamar - para ouvir a Voz do Brasil. Tínhamos oportunidade de ouvir, lá na Bahia, o que era dito aqui no Senado, o Senado com grandes figuras da sua época, como Marcos Freire, Paulo Brossard. Era algo que nos aproximava muito o fato de escutar aquelas mensagens do Senador Pedro Simon, uma das figuras importantes do PMDB - naquela época, MDB -, uma das figuras decisivas desse caminho da democracia e da redemocratização do País, uma das figuras que trazia consigo toda a resistência, toda a tenacidade e até - diria mais - o vigor lá do Sul. Como dizem os gaúchos, “o norte vem do Sul”. V. Exª, naquele momento, significava para todos nós o norte na política. E foi uma alegria muito grande poder compartilhar com V. Exª o período em que aqui estive, tendo a oportunidade de estar com V. Exª nas relações entre Senado e Câmara. Mas foi muito diferente nestes quatro anos, quando pude ver de perto uma figura que só conseguia enxergar através dos sons ou das ondas do rádio, quando pude tocá-lo, quando pude abraçá-lo, quando pude compartilhar esse período com V. Exª, tendo a oportunidade de beber dessa experiência. Portanto, este não é um momento de despedida. Aliás, o poeta mineiro Milton Nascimento, quando canta uma de suas importantes canções, fala exatamente que às vezes o momento da despedida é também o momento do encontro, que o ponto de partida também é o ponto de chegada. Então, este momento, eu diria, é exatamente esse ponto de encontro para essa caminhada. Se a tribuna não será mais esse palco, com certeza, V. Exª fará desses caminhos do Brasil a tribuna mais importante, que é a tribuna de proximidade com o povo. Essa é a experiência que a gente extrai de um homem que é verdadeiro, de um homem que é puro nas suas ideias, de um homem que é firme nos seus propósitos, de uma figura que é, ainda no outono da vida, extremamente vigoroso nas suas ações. Eu creio que aqui deve ter figuras da sua família. Eu poderia dizer para qualquer um de nós: quem não gostaria de ser filho de Pedro Simon? Vejo ali uma criancinha, sua neta, uma das coisas mais bonitas na vida de quem é avô. Quantos brasileiros não gostariam de poder dizer: sou neto ou neta de uma figura que dignifica o País, dignifica a política e que, portanto, serve como referência para as nossas vidas? Deixo aqui, como disse o Ferraço, não o abraço, não a despedida, mas exatamente o convite para essa caminhada, para que a tribuna de proximidade com o povo, para que esses caminhos do Brasil possam ser frequentados exatamente por essa figura que está no coração de todos nós, está no coração dos brasileiros.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Senador Pinheiro, calcule V. Exª a simpatia que V. Exª tem no nosso Partido no Rio Grande do Sul, a começar pelo Odacir Klein. Todos eles, quando falaram da sua vinda para cá, disseram: “esse é grande”. E V. Exª tem demonstrado, realmente, uma grande capacidade. Admiro muito V. Exª, pois diz as coisas. V. Exª é daquelas pessoas, pela sua capacidade, pela sua compenetração, pela sua firmeza, que diz quando deve dizer. Às vezes, dizem que é melhor ficar quieto. As coisas estão erradas, mas deixe que alguém fale. E V. Exª fala.

            V. Exª tem falado. E isso é significativo.

            V. Exª é daqueles que se tivessem sido mais ouvidos, na hora que estamos vivendo, o Brasil estaria vivendo uma hora diferente, o Brasil estaria vivendo um momento diferente, porque V. Exª pensa isso, V. Exª sente isso, V. Exª briga por isso.

            Que bom se a nossa querida Presidente ouvisse mais V. Exª, chamasse mais V. Exª para falar, para conversar, porque V. Exª pode dizer não o que ela gosta de ouvir, mas o sentimento que é bom para ela e é bom para o Brasil.

            Muito obrigado a V. Exª.

            O Sr. Armando Monteiro (Bloco União e Força/PTB - PE) - Senador.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Nosso Ministro.

            O Sr. Armando Monteiro (Bloco União e Força/PTB - PE) - Senador Pedro Simon, eu teria muitas razões para poder me associar aqui a essas manifestações e trago a minha palavra aqui, de forma modesta, mas para lhe dizer, de forma muito verdadeira, que tenho, como quase todos os brasileiros, uma grande admiração por V. Exª, pela sua trajetória, pela sua firmeza, pelo espírito público, pela honradez. Graças a isso, V. Exª deixou marcas muito fortes. E agora, quando se despede, aqui nesta Casa, V. Exª nos deixa exemplos, referências, que haveremos todos aqui de guardar e de cultivar, porque V. Exª é referência e é também inspiração. Portanto, eu teria que tributar a V. Exª o meu respeito, a minha admiração. Mas eu tenho outra razão também para falar aqui. É que meu pai, que é seu amigo, Armando Monteiro Filho, e que tem 88 anos bem vividos, não me perdoaria se eu não tivesse hoje também manifestado a V. Exª o apreço nosso, da nossa família. Portanto, receba este abraço, Senador Pedro Simon, com a certeza de que, mesmo concluindo esta etapa da sua trajetória, V. Exª continuará a dar a este País exemplos que dignificam a vida pública. Seja muito feliz, Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu agradeço a V. Exª.

            Na verdade, quando a imprensa publicava que não sabia qual seria o Ministro, se V. Exª ou seu pai, e alguns achando - perdoe-me V. Exª - que o pai seria muito bom, mas eu creio que o filho - como a fruta não cai longe do pé - deverá ser tão brilhante como é, foi e continua sendo o pai de V. Exª.

            Acho muito feliz a escolha. V. Exª é um daqueles nomes que nos representam, porque o seu passado, a sua biografia, a sua história estão aí transparentes para serem conhecidas.

            Agradeço a gentileza de V. Exª e peço a Deus que a Presidenta ouça de V. Exª o que deve ouvir. E que Deus dê força a V. Exª para dizer no ouvido dela o que ela deve ouvir.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senador Pedro Simon, talvez eu tenha sido o primeiro a chegar e, se for o último a falar, ficarei feliz, mas eu quero falar.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Acho que só falta apenas o Senador João Capiberibe.

            O Sr. João Capiberibe (Bloco Apoio Governo/PSB - AP) - Senador Pedro Simon, permita-me ficar de pé porque, diante de V. Exª, eu não posso falar sentado. Eu tenho convicção de que não se trata de uma despedida, mas de um até breve, até porque, há poucos dias, eu perguntei: “Senador Pedro Simon, o que vai acontecer a partir do ano que vem?” E V. Exª me disse que vai percorrer o Brasil. Então, significa, Senador, que a luta continua. É de fato muito gratificante, muito forte ouvir de V. Exª essa manifestação de vontade de continuar lutando por este País. Mas eu lhe diria, Senador Pedro Simon, que a democracia deste País deve muito a V. Exª. O povo brasileiro tem uma enorme gratidão por V. Exª. Eu, em particular, e a minha companheira, que é a Deputada Federal Janete Capiberibe, também temos uma gratidão pessoal por V. Exª. Nós participamos da resistência à ditadura; passamos pela prisão e, depois de nove anos de exílio, o desejo intenso de retornar ao nosso País, mas o acompanhávamos de longe. De longe, acompanhávamos a luta daqueles que ficaram lutando para que nós pudéssemos retornar à nossa Pátria. Entre eles, eu destacaria aqui Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Teotônio Vilela, Almino Afonso e tantos outros que ficaram no País abrindo caminho para que a gente pudesse voltar, e uma das figuras que muito trabalhou e lutou foi V. Exª. Por isso, nós temos esse dever, essa gratidão com V. Exª. Não só gratidão, mas também uma enorme admiração. Esses nomes que eu citei são ídolos políticos do nosso retorno ao Brasil. Tanto é que, na volta ao Brasil, nós tínhamos uma enorme discussão sobre qual caminho seguir. E, claro, muito influenciado por Miguel Arraes, eu terminei ingressando no PMDB, no seu MDB. No MDB, que terminou construindo esse processo de abertura democrática, junto com outras forças políticas do País, mas que liderou todo esse processo. Eu voltei e, já fora do Brasil, mandei uma carta manifestando o meu desejo de voltar e me filiar ao PMDB, em função dessas Lideranças e, também, em função de V. Exa. Eu me lembro de uma vez em que eu fui a Porto Alegre e ainda não exercia cargo eletivo. E eu passei em frente a sua casa, por curiosidade, pelo menos para ver se podia vê-lo de longe, um dos ídolos da minha juventude nesse período em que nós estávamos retornando ao Brasil. Portanto, o nosso reconhecimento. E eu lhe diria que nós vamos nos encontrar nessa luta. O Brasil espera V. Exª. Percorra o Brasil porque isso vai fazer bem à democracia. Vai continuar fazendo bem, como fez bem a sua atividade nesta Casa. Vai continuar fazendo bem ao Brasil como fez no passado. Portanto, não é um adeus é um até breve.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado, Senador Capiberibe. V. Exa realmente lutou, sofreu, esteve no exílio, voltou, sofreu injustiça de novo: um afastamento - duas passagens de ônibus, determinou o que determinou. Mas V. Exa voltou pelo voto popular e merece a dignidade, o nosso respeito e o nosso carinho.

            Apenas voltando ao que disse o meu amigo Pinheiro, eu quero deixar aqui consagrado e mandar daqui o meu recado - provavelmente, esteja me assistindo - ao meu amigo Paulo Brossard. Eu não podia deixar de citar aqui aquele que foi, talvez, uma das vozes mais brilhantes, mais dignas, mais lúcidas da história deste Parlamento. Na hora mais difícil, na hora mais dramática, o Congresso parava porque todos vinham aqui ver a coragem, a bravura e a grandeza de Brossard.

            Ele continua o mesmo, com a mesma lucidez, com a mesma capacidade, com a mesma dignidade, com seus artigos no Zero Hora, dizendo aquilo que deve ser dito, da maneira como deve ser dito.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senador Simon.

            O Sr. José Agripino (Bloco Minoria/DEM - RN) - Senador Simon, depois se lembre aqui de José Agripino.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senador Simon, acho que fui o que chegou a este plenário em primeiro lugar. Eu tinha uma missão, do seu gabinete, de assegurar a minha inscrição para ceder o lugar para V. Exª. E fiz isso com orgulho enorme. Eu estava rindo sozinho. E eles diziam: “por que tanta alegria, Paim?” Enfim, numa sessão histórica como esta, eu vou ceder o meu lugar ao grande Senador Pedro Simon. Senador, eu quero falar três questões rápidas. Primeiro, eu tenho orgulho, como gaúcho, de dizer que, como estudante e como líder sindical na época, o meu primeiro voto - na época, MDB e Arena - só podia ser, com certeza, do grande Líder que sempre foi V. Exª. Segunda questão, que nem todos sabem: conjunto Guajuviras em Canoas, V. Exª já Governador, e eu, com 5 mil famílias, ocupava aquele conjunto. A imprensa dizia: “Paim, está chegando a cavalaria, a brigada militar. Tire esse povo daí porque vai haver morte!” Aí chega o emissário do Governador Pedro Simon e diz: “Diga para o Paim que ninguém, ninguém será espancado.” Eu fui para a tribuna e disse: Entrem, ocupem as casas, plantem as flores porque o Governador garantiu que ninguém será espancado. O tempo passou, meu querido Governador e Senador Pedro Simon. Permita que eu diga que, na biografia da minha vida, quero botar lá “um dia, eu fui candidato e tive o voto do Senador Simon”. Não importa em que data nem em que ano. O importante é que vou poder escrever lá e vou poder também dizer que, neste dia histórico, eu presidi a sessão para ouvir o pronunciamento de V. Exª. Senador Simon, 12 anos ao seu lado. Deixe-me confessar aqui algo - e aqui termino já: Senadora Heloísa Helena estava para sair do PT, e V. Exª chama uma reunião comigo e com ela e fez um apelo para que ela não saísse e fizesse o bom debate com as divergências que existem em qualquer partido, como existe no MDB. Eu terminaria dizendo: quando esta sessão terminar, nós todos deveremos levantar e bater palmas de pé porque um grande homem público, orgulho do Brasil, está descendo da tribuna, mas vai continuar na vida pública para o bem do povo brasileiro. Muito obrigado, Senador Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu amigo, Senador Paim, não existe, nem na Câmara, nem no Senado, um Parlamentar que tenha uma biografia tão firme, tão correta, tão excepcional a favor das grandes teses que defende como V. Exª. Nem os jovens, nem os velhos, nem os sindicalistas, nem os aposentados, nem as mulheres.

            V. Exª, inclusive, revolucionou essa Casa. Segunda-feira, 9 horas da manhã, nem o leite chegou a esta Casa, ninguém chegou. V. Exª marcou reuniões de Direitos Humanos para segunda-feira, às 8 horas da manhã. E, a partir de V. Exª na Presidência da Comissão de Direitos Humanos, às 8 horas da manhã, estava superlotado. Dezenas e dezenas de pessoas estavam lá, porque a TV Senado estava sendo vista, e a TV Senado transmitia, porque não havia outra Comissão, e V. Exª revolucionou essa Casa.

            V. Exª é um grande nome, é um grande Líder. Também o PT não olha para V. Exª como merecia, porque V. Exª tem todas as condições. E eu digo, com toda sinceridade, se os Estados Unidos já tiveram um Presidente negro e nós já tivemos uma Presidenta mulher, se houver a hora de um Presidente negro, V. Exª é um grande nome, e eu votei em V. Exª para Senador, naquela oportunidade, com muita alegria e com muita emoção, porque disse que votava num dos melhores brasileiros que eu conheço. (Palmas.)

            O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco Minoria/PSDB - PA) - Senador Pedro Simon, Flexa Ribeiro.

            O Sr. Vital do Rêgo (Bloco Maioria/PMDB - PB) - Pedro Simon, eu me perfilei, aqui, de forma paciente, porque estava embevecido com tantas homenagens prestadas à história política brasileira, que tem o senhor como um dos mais fulgurantes nomes que encantam gerações. Eu sou dessa geração, Senador Simon, que me orgulhava em poder ouvi-lo, lá, da Paraíba, e não esperava este encontro e que traduz a história de uma vida de um Parlamentar despojado, franciscano - franciscano -, que tem uma vida marcada por exemplos de altivez, honrado, sério, compenetrado. Receba, Senador Simon, desta geração, da humildade daquele que o aparteia e o admira profundamente, a certeza de que sua voz não se calará, porque o senhor tem exemplos que vão permanecer eternos.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu agradeço muito a V. Exa, Senador Vital do Rêgo. Foi com muito respeito que recebi a presença de V. Exa aqui nesta Casa. Digo com toda a sinceridade: não foi com alegria que eu vi a indicação de V. Exa para o Tribunal. V. Exa é um jovem tão brilhante, tão dinâmico e com tanta capacidade, que o Tribunal poderia esperar uns dez ou doze anos, para V. Exa continuar na vida pública, porque V. Exa realmente tem condições, tem capacidade, e é um grande líder pelo qual eu tenho a melhor admiração.

            O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco Minoria/PSDB - PA) - Senador Pedro Simon!

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Pois não.

            O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco Minoria/PSDB - PA) - Eu quero, primeiro, parabenizar V. Exa por esta sessão histórica. Já se vão cinco horas, com V. Exa sendo aparteado e homenageado por todos os seus pares. Quero agradecer a V. Exa, Senador Pedro Simon, pelo convívio que me foi proporcionado ao longo de dez anos, por ter em V. Exa um exemplo de um homem, pai de família, Senador, político, com ética, com honradez, e que dá a todos nós o exemplo a ser seguido na política. Como Walter Pinheiro, antes de chegar à política, já lia e ouvia sobre Pedro Simon e já tinha o respeito por V. Exa. Aqui foram citados os nomes que fizeram história juntamente com V. Exa em nosso País, como Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Tancredo Neves, Paulo Brossard e Jarbas Passarinho, da minha terra, o Pará. Foram homens que defenderam e que tiveram embates memoráveis na tribuna do Senado Federal. V. Exa deixa para todos nós o exemplo a ser seguido, e tenho certeza absoluta de que o lugar que V. Exa ocupou por décadas, com brilhantismo, em defesa do nosso País e do seu Estado do Rio Grande do Sul, vai ser sempre lembrado como a cadeira do Senador Pedro Simon. E quando eu passar por lá, vou ter a oportunidade sempre de cumprimentá-lo, mesmo que V. Exª já lá não esteja. E quando começar a sua viagem por todo Brasil, não se esqueça de dar essa alegria ao Pará, indo até lá para que os paraenses todos tenham o momento de conhecer essa figura que ficará para história de nosso País como um político, como já disse, honrado, sério e capaz. Parabéns a V. Exª! Parabéns ao Brasil! Vida longa a V. Exª!

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado, querido Senador Flexa Ribeiro. Eu que aprendi a respeitá-lo ao longo de sua presença nesta Casa, pela sua atuação quer nas comissões, quer na Secretaria-Geral, quer na Liderança, quer no debate do dia a dia. V. Exª é uma pessoa que se impõe ao respeito, admiração pela garra, pela vontade e pela competência. Muito, muito obrigado a V. Exª.

            Senador Agripino.

            O Sr. José Agripino (Bloco Minoria/DEM - RN) - Senador Pedro Simon, veja V. Exª, V. Exª vai embora em fevereiro e eu que vou ficar só por aqui. Sou muito claro, porque V. Exª, o Senador Sarney e eu somos os veteranos da Casa, temos quatro mandatos na Casa. Vai embora V. Exª, vai embora Sarney, fico eu sozinho aqui. Vou ficar aqui continuando minha batalha e me lembrando dos bons tempos que vivemos juntos aqui. V. Exª deve se lembrar, e acho que este é um momento interessante, da convivência com figuras que se foram e que são emblemáticas da boa política do Brasil. V. Exª se lembra de João Calmon. Nós convivemos com ele aqui. Franco Montoro, convivemos com ele aqui. O velho Afonso Arinos, ainda lépido, fagueiro, foi Senador junto conosco aqui. Somos do tempo de Afonso Arinos. Darcy Ribeiro ficava ali atrás, ao meu lado. Naquele tempo, ficava sentado o Rio Grande do Norte ao lado do Rio de Janeiro, e ele sentava do meu lado. Prosávamos muito. Eu gostava muito de Darcy Ribeiro, foi um grande companheiro e o vi definhar. Eu vi o câncer matá-lo devagarzinho. Deixou saudade. Jarbas Passarinho ficava aqui na frente, grande líder! Eu tinha uma inveja dos discursos de Passarinho, eu novato no Senado, Passarinho já líder, veterano. O velho Jefferson Peres. Mário Covas, que falava com rara facilidade, engenheiro como eu. Todos esses foram homens que conviveram conosco Senadores e que fazem parte da história política do Senado, como V. Exª é uma parte importante mais do que da política do Senado, é da política do Brasil. V. Exª atravessou vários momentos, momentos difíceis no seu PMDB. V. Exª, como eu, participou da eleição de Tancredo; eu rompi com o meu partido para apoiar Tancredo, que tinha compromisso com a redemocratização, com as eleições diretas e, a distancia, mesmo a distancia, convivemos, construindo o Brasil que nós queremos ver diferente. Eu acho que este é o momento importante para rememorarmos porque V. Exª vai deixar o Senado, vai voltar para casa, mas vai ter aquilo que - desculpe-me a modéstia - eu também tenho: o direito de andar nas ruas do Brasil, seja na sua Porto Alegre, seja na sua praia de veraneio, seja no Rio de Janeiro, seja em São Paulo, seja em Natal, de cabeça erguida, só sendo cumprimentado pelas pessoas. Eu duvido que alguém o admoeste na rua, que alguém o trate mal, que alguém lhe dirija alguma palavra de censura porque V. Exª é dos políticos que praticam a boa política no Brasil, é daqueles que já não se fazem mais, é daqueles que já não se fazem mais.

(Soa a campainha.)

            O Sr. José Agripino (Bloco Minoria/DEM - RN) - E é por isso que V. Exª vai fazer falta a este Plenário e à política do Brasil, mas eu quero aqui, com este meu aparte, relembrando esses momentos bons que vivemos, em que pelejamos, em que ganhamos, em que perdemos, desejar a V. Exª e a sua família bons tempos pela frente, muita saúde e muita paz porque a vida pública de V. Exª o faz merecedor disso tudo.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Senador Agripino, V. Exª realmente é uma voz que há longo tempo está nesta Casa como Líder do seu Partido. Na hora difícil, V. Exª foi uma das grandes vozes que se disse presente e veio para o lado da chapa de Tancredo Neves. O nome de V. Exª, o de Aureliano Chaves, alguns, mas significativos, mudaram o Brasil. Se V. Exª e esse grupo não tivessem tido a coragem de tomar aquela atitude que era de risco... Depois não aconteceu nada, mas nós não sabíamos o que podia acontecer, fechariam o Congresso, não fechariam, o que seria? Mas V. Exªs tiveram coragem, e V. Exª foi uma voz de tranquilidade, de serenidade e de respeitabilidade durante todo o tempo. Presidente de Partido, Líder da Bancada, Líder do Governo, Líder da Oposição, V. Exª merece o respeito e a admiração profunda desta Casa. Lembra V. Exª nomes realmente - e não sei como eu não citei Montoro, não sei como deixar de citar Mário Covas. Dois nomes fantásticos, extraordinários. Montoro, um exemplo de renúncia, de sacrifício e de dedicação. Ele forjou um grupo de lideranças de primeira grandeza dentro de São Paulo. E Mário Covas, disse bem V. Exª, uma voz de uma vibração, de uma coragem acima de tudo, acima do bem e do mal.

            Eu encerro, então, Sr. Presidente.

            Agradeço...

            O Sr. Magno Malta (Bloco União e Força/PR - ES) - Senador Pedro Simon.

            O Sr. Luiz Henrique (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Senador Pedro Simon.

            O Sr. Ataídes Oliveira (PROS - TO) - Só um segundo, muito rápido.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Eu não tinha reparado. Com o maior prazer. Desculpe-me.

            O Sr. Ataídes Oliveira (PROS - TO) - Permite-me, Senador Pedro Simon?

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Claro.

            O Sr. Ataídes Oliveira (PROS - TO) - Eu quero até ficar de pé...

                  (Soa a campainha.)

            O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Depois da fala dos colegas, eu tenho aqui - penso que em nome de todos - algo a falar para V. Exª. Então, eu só quero que os colegas concluam. Depois, nós vamos fazer esse gesto aqui em nome de todos, para depois fazermos a Ordem do Dia.

            O Sr. Ataídes Oliveira (PROS - TO) - Eu quero ficar de pé neste minuto solidariamente a V. Exª que está aí, nessa tribuna, há mais de quatro horas. Senador Pedro Simon, com qualquer adjetivo que eu venha a falar aqui, neste momento, estaria eu cometendo aqui uma figura de linguagem, um pleonasmo, depois de ter assistido aos nossos colegas, Senadores e Senadoras, renderem tantas merecidas homenagens a V. Exª. Senador Pedro Simon, eu cheguei, efetivamente, a esta Casa em fevereiro deste ano - um novo na política. Chegando a esta Casa, eu comecei a observar os nossos companheiros, os nossos colegas. Imediatamente, V. Exª passou a ser para mim uma baliza. Eu não poderia deixar de dizer a V. Exª, muito breve, encerrando já, Senador Pedro Simon, que V. Exª deixa um legado para mim e para o povo brasileiro de que fazer política com ética e honestidade no Brasil é possível. E vou carregar isso comigo durante o meu mandato. Muito obrigado, Senador Pedro Simon.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Com muito carinho, eu agradeço ao Senador Ataídes Oliveira a gentileza da sua manifestação.

            Muito obrigado.

            Senador Malta.

            O Sr. Magno Malta (Bloco União e Força/PR - ES) - Senador Pedro Simon, é um privilégio. Imagino ser este um momento ímpar em minha vida. É um momento ímpar na história do Brasil, porque nenhum de nós esperava que este momento um dia pudesse acontecer: que, pela via do voto - e em uma democracia é assim que se faz, mas a gente nunca espera -, pudesse haver o dia da despedida do Senador Pedro Simon desta Casa, do Senado. Para mim, este se constitui um momento ímpar, porque, quando me nasceram os dentes, V. Exª já era Pedro Simon! Eu cresci admirando V. Exª. E, quando me tornei Vereador, quantos discursos eu fiz dizendo: “Como diz o Senador Pedro Simon...” Eu citava uma frase e dizia: “O grande Pedro Simon”. Eu cresci saindo para ver comício e ficando debaixo do caminhão para ver Fernando Lyra falar, para ver Jarbas Vasconcelos falar. Eu nunca tive a oportunidade de, muito jovem, poder colocar os olhos em V. Exª e ter com V. Exª um tête-à-tête. Quando cheguei como Deputado Federal à Câmara dos Deputados, quando entrei nesta Casa e o vi pela primeira vez, eu bati uma foto com V. Exª - não sei se V. Exª se lembra - e falei para V. Exª um versículo da Bíblia. Eu disse: “Antes, eu te conhecia de ouvir falar, mas hoje os meus olhos te veem”. Senador Pedro, eu vou falar para V. Exª o que eu aprendi com Dona Dadá, minha mãe. V. Exª é um cristão como eu; V. Exª, que preserva e ama os valores da família, porque V. Exª, como eu, sabe que uma sociedade apodrece sem esses valores; V. Exª, que é um homem de posição definida e que, quando assume a tribuna e o microfone para dizer que continua na mesma posição, se precisar dar nomes, V. Exª os dá. V. Exª fala o que sente e o que pensa. Este plenário está cheio, este é outro momento ímpar. Eu nunca vi isso na minha vida. Eu já vi, por exemplo, um Senador que fazia um discurso se despedindo e, como não havia ninguém, pediu a um garçom para sentar ali. No dia seguinte, o garçom virou mídia nacional! Só havia ele e o garçom - e o garçom não ouviu, porque quis; ouviu, porque o Senador pediu para ele se sentar ali. E, então, explodiu o escândalo dos garçons do Senado! V. Exª, há horas, está nesta tribuna, mas é porque V. Exª escreveu, estabeleceu, concretizou este momento. V. Exª é um homem de posições tão firmes que as pessoas o reverenciam, porque V. Exª também sabe conviver com o limite do tolerável. V. Exª, para mim, é o que Dadá, minha mãe, dizia - é desta forma que eu quero concluir. V. Exª não é exemplo pra ninguém, eu ouvi muita gente dizendo que o senhor é um exemplo. Olhe para mim, Senador Pedro. O senhor não é exemplo para ninguém, porque os maus é que servem de exemplo, os bons servem para serem copiados. O Apóstolo Paulo dizia: “Sejam meus imitadores, como eu sou de Cristo Jesus”. Neste Senado, os mais jovens, os mais antigos, alguns não precisam fazer uma reciclagem e dar uma olhada no retrovisor para ver se há alguma coisa para melhorar ou consertar. Se alguma coisa há para melhorar ou consertar, V. Exª é aquilo que a Bíblia diz: um daqueles homens de que o mundo não era digno. V. Exª pode encerrar o seu pronunciamento - e tem a autoridade para tal - dizendo exatamente como disse Paulo: “Sejam meus imitadores, como eu sou de Cristo Jesus”. Se cada um de nós tiver a capacidade não de olhar para o senhor como exemplo - exemplo para nós é Paulo Roberto, exemplo é o doleiro, exemplo são os que estão envolvidos com eles; quem serve de exemplo são os maus -, V. Exª viveu, vive, aí está para ser imitado, para ser copiado. Que nós que ainda atuamos copiemos V. Exª, porque, sem dúvida alguma, será o maior presente que vamos dar a nós mesmos e a esta Nação. Muito obrigado pela oportunidade de poder conviver com V. Exª. Em um momento histórico como este, em que eu me emociono, eu recebo um presente ímpar em minha história que é o de participar de uma hora como esta falando e me dirigindo ao cidadão, ao político, ao homem público de extrema seriedade Pedro Simon. Meus parabéns.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Meu querido Magno Malta, nossa amizade, nosso carinho nos nossos encontros, inclusive lá em Porto Alegre, onde V. Exª foi saudado de pé pela mocidade do Rio Grande do Sul, pela sua garra, pela sua luta, pela coragem que V. Exª tem de defender as suas ideias. Eu lhe tenho o maior apreço, o maior respeito.

            E tenho até o reconhecimento de dizer que V. Exª traça um caminho com a firmeza que eu não sei se eu teria condições de fazer, pela gravidade do tema, pela pujança da ação e pela realidade que V. Exª faz com muita convicção. Muito obrigado.

            O Sr. Luiz Henrique (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Senador Pedro Simon. Permite-me a Mesa?

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Nada como encerrar com o meu amigo Luiz Henrique.

            O Sr. Luiz Henrique (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Nesta sessão memorável, V. Exª me deu a honra do primeiro aparte, e eu me sentirei subidamente honrado ao lhe oferecer o último aparte a este discurso histórico que V. Exª faz nesta noite. O escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald, que ficou famoso por obras inexcedíveis como O Grande Gatsby e Suave é a Noite, morreu aos 44 anos, praticamente provocando a sua morte pela ingestão demasiada, pela overdose de bebida alcoólica. Antes de morrer, ele deixou a frase-testamento que eu queria relembrar aqui, nesta noite, para homenagear V. Exª. O que escreveu Fitzgerald? Escreveu mais ou menos o seguinte:

Aos 18 anos, quando me alistei como voluntário na Primeira Guerra Mundial, as minhas convicções subiam lá no alto da cordilheira de onde eu procurava enxergar o mais longínquo dos horizontes. Aos 44 anos, as minhas convicções descem ao fundo de uma caverna onde procuro esconder a vergonha de ter desistido da luta.

           Olho V. Exª nesta tribuna e o vejo lá no alto do Itaimbezinho, olhando aquela paisagem maravilhosa; vejo-o lá no alto da cordilheira, aos 85 anos de idade, sem desistir, um só dia, uma só manhã, uma só tarde, uma só noite, uma só segunda, um só domingo, da luta por um Brasil...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Luiz Henrique (Bloco Maioria /PMDB - SC) - ... melhor, por um Brasil fraterno, por um Brasil desenvolvido, por um Brasil com justiça social e distribuição de renda. Parabéns a V. Exª. Nós vamos sentir também, a cada dia, a cada manhã, a cada tarde e a cada noite, a ausência de V. Exª nesta Casa.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado ao meu irmão de tão longa caminhada e um grande Líder do nosso Partido, no qual eu confio que ainda terá grande papel nesta Casa.

            Eu encerro, Sr. Presidente, pedindo para que conste nos Anais, no meu discurso que eu deixo um abraço muito carinhoso ao Líder do PT, Senador Humberto Costa, e que eu deixo um abraço muito carinhoso ao Líder do Governo no Congresso, Senador José Pimentel, pelo que eles são, pelo que eles representam. Confio neles: um, o Líder do Governo nesta Casa, e outro, o Líder no Congresso. Que eles possam junto à Presidenta levar o pensamento e o sentimento e fazer aquilo que nós realmente esperamos.

            Eu encerro contando uma história. Um homem, atravessando o meio de um deserto, caminhando nas entrecortadas, em um determinado momento, foi atacado por inimigos que o deixaram quase nu. E ele escreveu na areia: “Aqui eu fui agredido e quase morri pelo meu inimigo fulano de tal”. Mais adiante, caminhando, alguém o socorre e salva a sua vida. Ele escreve na rocha que estava ali do lado: “Aqui, o meu amigo João salvou a minha vida”.

            Alguém que assistiu aos dois fatos, ele quase morto escrevendo na areia, veio a primeira onda e o levou; e ele, alguém que o salva, escreve na rocha para o resto da vida. Ele responde: “É que eu sou assim. Assim é que deve ser. As mágoas que me fizeram, eu as esqueço; os bens que me fizeram, eu os guardo o resto da vida.”

            Quero deixar esse pensamento dizendo que é assim que saio desta Casa. Algumas mágoas, alguns ressentimentos, eu não os levo, eu não me lembro, não tenho conhecimento; mas as palavras, o carinho, o afeto, ao longo do tempo, de tantos companheiros nesta Casa, levo no fundo do meu coração e os guardarei para sempre.

            Muito obrigado, meus irmãos. (Palmas.)

 

            O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Senador Pedro Simon, eu, na condição de Presidente desta sessão e Vice-Presidente da Casa, gostaria de convidar V. Exª aqui à frente, também os Líderes e os demais colegas Senadores e Senadoras, porque temos aqui algo muito singelo, preparado por marceneiros do Senado, mas que é algo muito especial. Sei que o senhor vai gostar muito de receber.

            Vamos passar à mão de V. Exª - convido inclusive os colegas -, vamos passar, para que ele possa levar, o microfone que o acompanhou aqui, durante esses 30 anos. Convido os Líderes, os Senadores e as Senadoras, cumprimentando sua família. Essa peça, que tem a placa com seu nome, usada na sua Bancada, foi feita por marceneiros da Casa, do Senado, pessoas simples, como o senhor é franciscano. Se sua esposa pudesse vir, com a família, o filho. Eles fizeram uma réplica, e, junto, vai o microfone que o senhor usou, com a sua plaquinha, ao longo desses anos todos. Não estará funcionando, mas... Isso é em nome de todos os funcionários da Casa, da Mesa Diretora, do Diretor-Geral.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Se funcionasse, a minha mulher não ia me deixar levar. Mas, realmente, eu vou me sentir, vou colocar na frente do meu gabinete, fecho a porta, olho a TV Senado e vou responder. (Palmas.) (Risos.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/12/2014 - Página 224