Discurso durante a 188ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Registro do restabelecimento das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Registro do restabelecimento das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba.
Publicação
Publicação no DSF de 18/12/2014 - Página 588
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, RESTABELECIMENTO, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CUBA, ENFASE, NEGOCIAÇÃO, PAPA, GOVERNO ESTRANGEIRO, CANADA, LIBERAÇÃO, PRESO POLITICO.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu pediria a V. Exª e à Casa a gentileza de fazer uma comunicação que acho muito importante.

            Hoje, dia do aniversário do Papa Francisco, nós temos um grande acontecimento. O Presidente Obama e o Presidente Raul fizeram um entendimento, determinando a abertura do relacionamento dos dois países. É o fim da chamada guerra fria. É o fim de um mundo que, graças a Deus, não existirá mais.

            O Papa Francisco teve ocasião de dialogar pessoalmente com o Sr. Obama quando ele esteve no Vaticano. Com o Raul, o Papa esteve lá em Havana. E os dois presidentes, em atitude da maior importância, já soltaram presos políticos, o que há muito era reivindicado e não acontecia. E já determinaram que as relações serão reabertas, que o diálogo será estabelecido, que as embaixadas em Cuba e em Washington serão abertas. Portanto, este é um dia muito importante, de muito significado.

            Creio que para a América Latina termina uma divisão, um diálogo do absurdo, que não existe mais. Graças a Deus hoje é um dia de vitória!

            E peço a transcrição do pronunciamento que iria fazer nos Anais da Casa, Sr. Presidente.

 

SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR PEDRO SIMON

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco Maioria/PMDB - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Papa Francisco completou hoje seu aniversário de 78 anos, com direito a bolo, cuia de chimarrão e evoluções de tango na Praça de São Pedro, em Roma, lotada de fieis.

            Mas, o seu maior presente, que ele dividiu com o mundo, veio do outro lado do Atlântico.

            Veio com o anúncio público e simultâneo, em Washington e em Havana, pela voz dos presidentes Barack Obama e Raul, de um acordo histórico que muda a face do mundo: o reatamento das relações diplomáticas de forma voluntária e soberana entre os Estados Unidos e Cuba, rompidos há mais de meio século.

            Na mesma hora, Obama e Castro, falando pela TV aos seus povos, anunciaram a adoção de passos concretos para a normalização de relações entre os dois Estados, derrubando o último muro de intransigência e radicalismo que dividia o mundo em dois blocos ideológicos no auge da Guerra Fria, que confrontou homens e nações entre a derrocada do nazifascismo, em 1945, e a queda do Muro de Berlim, em 1989.

            Obama e Castro anunciaram, na sequência desta reaproximação que o mundo esperava há tanto tempo, os entendimentos para reabrir suas embaixadas em Washington e em Havana.

            Como passo concreto desses novos tempos, os dois países anunciar a libertação ainda hoje de presos políticos de um e outro. Um americano detido há cinco anos em Havana foi encaminhado à capital americana, três cubanos detidos desde 1998 como espiões nos Estados Unidos foram devolvidos à ilha cubana.

            Esse presente de paz e esse exemplo de reconciliação para o mundo começou a ser desembrulhado pelo aniversariante do Vaticano.

            Foi o Papa Francisco que desfez os primeiros nós desse embrulho diplomático que contaminava a diplomacia das Américas, como triste legado da Guerra Fria.

            O jornal mais importante do mundo, o The New York Times, noticia hoje que o Papa encorajou, 18 meses atrás, as primeiras reuniões secretas entre os governos americano e cubano, com a ajuda discreta do Canadá, sede dos primeiros encontros.

            O acordo final foi selado ontem, terça-feira, 16 de dezembro, com um inédito contato telefônico de quase uma hora entre Obama e Castro.

            A aproximação começou com o reatamento de relações entre o Vaticano e Cuba em 1996. Dois anos depois, em 1998, João Paulo II foi o primeiro Papa a visitar a ilha, recepcionado pelo líder principal da Revolução Cubana, Fidel Castro.

            Outro Papa, Bento 16, voltou a Cuba em 2012, recebido pelo novo presidente, Raúl Castro, para celebrar uma missa ao ar livre para 200 mil pessoas.

            O secretário de Estado americano, John Kerry, deu sequência à aproximação, realizando três visitas a Roma só este ano -- em janeiro, em março e dias atrás, quando se reuniu com o chanceler do Vaticano, arcebispo Pietro Parolin, chefe das Relações Exteriores da Santa Sé.

            O chefe religioso, em nome do Papa, reiterou ao Secretário americano o cumprimento de uma promessa de campanha de Obama, o fechamento da base de Guantánamo, em Cuba, onde os Estados Unidos mantêm presos ilegalmente suspeitos de terrorismo e militantes detidos nas guerras do Iraque e do Afeganistão.

            Tanto Obama quanto Castro destacaram, em seus históricos pronunciamentos, o papel decisivo do Papa Francisco nesta nova era de paz e entendimento.

            Uma nota oficial do Vaticano coroou todo o esforço desse dia histórico da diplomacia mundial, ao afirmar: “Sua Santidade quer parabenizar a decisão histórica tomada pelos governos dos Estados Unidos e de Cuba para estabelecer relações diplomáticas, com o objetivo de superar, no interesse de cidadãos de ambos os países, as dificuldades que marcaram sua História recente".

            Os dois presidentes ainda não anunciaram os dois passos naturais desse movimento de paz: o fim do centro ilegal de detenção de Guantánamo e o final do embargo econômico que asfixia Cuba desde 1962.

            Obama já anunciou que acabar com o embargo não depende de sua caneta, mas de uma decisão do Congresso americano, agora sob controle da maioria conservadora do Partido Republicano.

            Mas, tudo ficou mais fácil.

            Com a liderança moral do Papa Francisco e a reação inspiradora do mundo, estou certo de que chegaremos lá, para um mundo melhor, de paz e de entendimento, que ninguém resume melhor do que Sua Santidade, o Papa Francisco.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/12/2014 - Página 588