Discurso durante a 188ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Registro do pedido de renúncia ao cargo de senador.

Autor
Pedro Taques (PDT - Partido Democrático Trabalhista/MT)
Nome completo: José Pedro Gonçalves Taques
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA.:
  • Registro do pedido de renúncia ao cargo de senador.
Publicação
Publicação no DSF de 18/12/2014 - Página 595
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA.
Indexação
  • REGISTRO, PROTOCOLO, RENUNCIA, MANDATO PARLAMENTAR, SENADOR, ORADOR, MOTIVO, ELEIÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DE MATO GROSSO (MT).

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco Apoio Governo/PDT - MT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, apenas para comunicar à Casa que protocolei o meu pedido de renúncia ao cargo de Senador da República e, em razão do adiantado da hora, me permito apenas ler um poema, rapidamente, não mais do que dois ou três minutos.

            O poema tem o seguinte nome: “O menino que carregava água na peneira”. É um poema do Manoel de Barros, um cuiabano que morreu recentemente, com 97 anos, no dia 13 de novembro.

[...]

O menino [...]

Quis montar os alicerces

de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino

gostava mais do vazio, do que do cheio.

Falava que vazios são maiores e até infinitos.

[...]

[Então] A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!

Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios

com as suas peraltagens,

e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

            Por algumas vezes, Sr. Presidente, durante minha carreira pública, pautada pelo combate à corrupção e pelo cumprimento dos preceitos republicanos previstos na Constituição, senti-me na posição do menino que carregava água na peneira

e que tentava montar alicerces de sua casa sobre orvalhos. E minha mãe, a Dona Eda, que está me assistindo agora, sempre dizia: “Mas isso vai dar certo? Não está na hora de você parar. Chega!” - a minha mãe sempre disse. Talvez, essa tenha sido a percepção de alguns que encaram com temor e até com descrença a mudança que proponho, Sr. Presidente.

            Já disse aqui, em outra ocasião, que escolhi lutar pelos direitos do cidadão e sei que o caminho não é fácil e não será fácil, Sr. Presidente.

            Para cá, 708.440 mato-grossenses me mandaram; e, para lá, 833.788 mato-grossenses me devolveram.

            Fui eleito Senador em 2010, com o compromisso de desempenhar um mandato participativo, e procurei fazer isso. Aprendi sobre o poder da ação, mas também das ideias; a importância da razão e dos argumentos, a necessidade de aprender não só com aqueles com que concordo, mas também com aqueles com aqueles que mantive posicionamentos divergentes, Sr. Presidente. Aprendi, foram grandes aprendizados, grandes aprendizados.

            Nesses quatro anos, apresentei muitos projetos, muitos projetos, fiz muitos debates, fiz muitos discursos, mas o que vale na nossa vida de político é tratar gente com respeito, gente com dignidade.

            Já me encaminho para o final, Sr. Presidente.

            Deixo esta Casa e o trabalho que desempenhei aqui, porque o povo do meu Estado me pede que enfrente novos desafios ao seu serviço. Meus conterrâneos mato-grossenses me chamam de volta, para encarar, em nossa terra, como Governador, os problemas que levam sofrimento aos cidadãos, especialmente àqueles mais humildes.

            Estou ciente do tamanho da responsabilidade, mas reafirmo que estou pronto para o bom combate. Quero que a sociedade brasileira e mato-grossense observe que as coisas podem ser diferentes, que podemos honrar o nosso Estado e a nossa palavra, que o passado não precisa necessariamente voltar; que observem que há novos e melhores modos de se fazer política. A sociedade brasileira clama por mudança e nos cobra. Se não mudarmos o jeito de fazer política, nada vai mudar. E nós seremos mudados, Sr. Presidente.

            Por isso, estamos aqui, para servir à sociedade e ao Estado e não para nos servirmos deles. O cidadão está cansado do mundo das desigualdades que se vive no Brasil, do mundo das perseguições sociais, Senador Aloysio, do atraso, do ódio e do preconceito. O povo não quer esmola, não quer assistencialismos, o povo quer ser ouvido com humildade, ouvido de verdade, Sr. Presidente.

            Os brasileiros e os mato-grossenses são muito mais que o sistema político e governamental. O povo deu mostras disso nas ruas; consequentemente, o Estado não pode ser mais governado como antes.

            Encerro, Sr. Presidente, agradecendo a todos os companheiros do Senado, porque aqui combatemos o bom combate, e volto para a minha terra, volto para o lugar que para cá me mandou, porque não há nada mais poderoso, Sr. Presidente, do que a força de uma ideia cujo tempo tenha chegado. E a ideia é a verdade, é a decência, e o tempo é agora.

            Eu me despeço protocolando a renúncia ao cargo de Senador da República, Sr. Presidente, e agradecendo ao povo do Estado de Mato Grosso, que para lá me devolve.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/12/2014 - Página 595