Pela Liderança durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Alerta quanto à crescente insatisfação popular presente no País.

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL.:
  • Alerta quanto à crescente insatisfação popular presente no País.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 10/02/2015 - Página 83
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL.
Indexação
  • REGISTRO, AUMENTO, FRUSTRAÇÃO, POPULAÇÃO, REFERENCIA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, CRISE, CORRUPÇÃO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, OPOSIÇÃO, POLITICA, RELAÇÃO, APOIO, BRASILEIROS.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, a gente passa a semana inteira aqui em Brasília, nesta atividade, que eu reputo eletrizante e, às vezes, infernal, de sessões de Comissões, sessões plenárias, discussões e encontros fora da Casa. E a gente tem pouca oportunidade de conviver com o mundo exterior, que é o Brasil real. Daí a importância da ida às bases, coisa que eu cultivo com pertinácia: ir ao meu Estado, porque é lá que a gente recebe as pessoas, a gente vai à rua, a gente percebe o nível de satisfação, de insatisfação dos brasileiros, e pode desempenhar bem, em função daquilo que a gente ouve, não por ouvir dizer, mas daquilo que a gente ouve.

            Neste fim de semana em Natal, eu ouvi alguns depoimentos interessantes sobre o Brasil real, sobre aquilo que os brasileiros estão pensando, a percepção real. No sábado de manhã, um amigo meu chegou na minha casa, sem avisar, para conversar, trocar idéias, e me disse que estava chegando da Feira de São José de Mipibu, que é um Município que fica a pouco mais de 30km de Natal. Hoje é muito perto, porque há uma estrada de pista dupla - a que liga Natal, João Pessoa e Recife -, e você ir ou voltar de ou para São José é pouco mais do que um passeio.

            De modo que ele, que mora em Natal, foi à Feira de São José, que é uma feira movimentada, onde se compra e vende muita coisa, e onde ele vai sempre com frequência. E ele me disse que, conversando com o fornecedor de ovos dele, o fornecedor havia dito que semana passada a caixa - eu pensava que ovo se vendesse em dúzia, não, é a caixa, a caixa de 30 unidades, aquela caixa com cada ovo guardado numa peça prensada de papelão - custava R$7,00 e agora estava R$7,70. E ele perguntou por que, em uma semana, 10% de reajuste, e o vendedor disse que era decorrente da inflação, dos custos dele.

            Ele cultivava ou comprava ovos de alguém que tinha um aviário, que consumia energia elétrica, e os ovos vinham até o local da feira em caminhão ou em caminhonete, que consumia combustível. Tanto energia elétrica como combustível subiram. Então, ele tinha que aumentar o preço da caixa de ovos.

            Em uma semana, 10%. Não se justificava, não foram 10% em uma semana. Isso se chama vírus inoculado da inflação de expectativa, mas ele ainda conseguia vender.

            Em seguida, outro amigo me disse que tem um filho que é veterinário - bom veterinário, cirurgião -, atende nas fazendas e tem uma clientela que ele visita e de quem cobra consulta. A consulta dele não era mais possível ser feita pelo valor da consulta de um mês atrás. Eu perguntei: “Por quê?” Ele disse: “Porque o meu filho tem consciência - ele é veterinário e tem um raciocínio elaborado, tem uma avaliação crítica. Ele disse que precisa aumentar o valor da consulta, só que, se aumentar o valor da consulta, ele perde clientela, porque o produtor rural não tem renda suficiente para pagar o aumento da consulta.”

            Um ainda consegue vender a caixa de ovos, que era R$7,00, por R$7,70. O outro, porque vende serviço - e quem compra o serviço tem que ter renda, e há competição -, não consegue vender. Então, são dois níveis de insatisfação: um profissional precisa aumentar o valor da consulta, porque tem uma caminhonete, que consome combustível, e o combustível subiu de preço e vai subir mais ainda, e ele não consegue aumentar o valor da consulta; e vai começar a ter, a cada semana que passar, sua renda diminuída e seu nível de insatisfação aumentado.

            Senador Ataídes, curioso foi o que eu li num jornal da minha cidade que publica maciçamente anúncios, e me chamou atenção anúncio de venda de ar-condicionado. Era uma quantidade imensa de anúncios de venda de ar-condicionado usado, sabe por que, Senador Cristovam? As pessoas que ouviram a Presidente Dilma, no ano passado, numa cadeia de rádio e televisão dizer que a tarifa de energia elétrica ia cair 20%, estão agora apavorados, Senador Ricardo Ferraço, com a perspectiva de aumento - ao invés de diminuição de 20%, já aumentou, vai aumentar, 40%.

            E estão apavorados e querendo se livrar de uma coisa que compraram, estão pagando a prestação, e o uso é um ônus para o bolso dele. Ele não tem possibilidade, não tem renda, não tem status, não tem condições de ter aquilo que comprou por um aceno irresponsável. Comprou, porque havia financiamento, que agora está muito mais caro, porque a taxa de juros cresceu, e comprou, porque a energia, dizia a Presidente da República, iria ser 20% mais barata.

            Queda e coice: nem energia elétrica ficou mais barata, pelo contrário, ficou mais cara; e o bem que ele comprou passou, para ele, a ser um problema, um estorvo. Ele estava com dificuldade em pagar a prestação e pagar a conta de energia elétrica. E se viu compelido a anunciar para vender.

            Em seguida, eu leio na internet e assisto ao noticiário da festa dos 35 anos do Partido dos Trabalhadores. Assim como eu, milhões de brasileiros devem ter visto pela televisão, ou ouvido pelo rádio, ou visto pela internet. E uma coisa que causou estranheza e impactou a cada um de nós que tem o sentido ético presente, a chegada do tesoureiro do PT, que está envolvido, e dizem que muito envolvido na Operação Lava Jato, era o estafeta de um volume de recursos monstruosamente grande, é o que se diz, de recursos do processo do Lava Jato para o Partido dos Trabalhadores, sendo recebido e ovacionado na festa dos 35 anos do PT e sendo desagravado pelas figuras mais importantes do PT, a começar pelo ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Isso, evidentemente, que deve ter indignado um mundo de brasileiros - um mundo de brasileiros! -, que devem ter-se indignado, claro, em seguida, com a notícia da substituição da Presidente Graça Foster por um novo Presidente da Petrobras.

            Senador Cristovam, eu tenho certeza de que V. Exª, que é um homem puro e que deseja o melhor para o Brasil, não deseja o mal para ninguém, para partido político nenhum, porque V. Exª sabe que todos nós moramos aqui e o que queremos é o melhor para o País onde moramos, deve ter ficado indignado com a substituição da Presidente Graça Foster por outra pessoa que está lá por um critério ou por um mérito único: ser da confiança da Presidente da República. Como é que o mercado reagiu? Pessimamente. As ações da Petrobras caíram, a credibilidade da empresa entrou em xeque profundo, por quê? Porque se esperava que a Presidente da República, que teve a magnífica oportunidade de se recuperar, colocasse ali uma pessoa acima de qualquer suspeita, sem vinculação nenhuma com o Palácio do Planalto, e que, indo para lá, passasse para os brasileiros a informação: agora, sim; agora, vai para lá um gestor, alguém que vai abrir a caixa preta da Petrobras e vai mostrar que Dilma não tem nada que ver com isso. Vai mostrar que Dilma não tem nada que ver com isso, que o que se fez lá é o que ela diz: um magote de trapalhões que estão “imundiçando” o maior patrimônio estatal do Estado brasileiro, que é a Petrobras.

            Ao invés disso, de colocar lá uma pessoa com perfil de independência, com competência, que passasse para o mercado e para os brasileiros que a Petrobras ia ser gerida para valer e que não ia haver ninguém para blindar os malfeitos do conhecimento da opinião pública, vai para lá uma pessoa da copa e da cozinha do Palácio do Planalto. Resultado: a indignação do veterinário, a indignação do vendedor da caixa de ovos, a indignação do anunciante do ar-condicionado, o indignado que leu na internet a ovação ao tesoureiro do PT que foi coberto de honras na festa dos 35 anos, aos indignados do Brasil inteiro que viram na substituição da Petrobras a marca patente de que há algo estranho no ar além dos aviões da carreira. Isso se soma à legião de indignados que se manifestaram numa pesquisa de opinião pública e que mostraram a maior inversão que eu já vi na minha vida de popularidade de alguém que exerce vida pública: de índice positivo mais 20 para índice negativo de menos 20 em questão de um mês e meio. Decorrente de quê? Da indignação. Decorrente da frustração, da decepção de pessoas que votaram ou não votaram, mas muitas que votaram e que se sentiram enganadas. Na verdade, é isso.

            Desejo com muito prazer conceder o aparte que acho que me solicita o Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador José Agripino, quero retomar o que o senhor falou sobre os compradores de ar-condicionado, que compraram pensando numa tarifa elétrica e instalaram com outra tarifa. Esse comprador é um exemplo, Senador Paim, de milhões de pessoas que acreditaram na promessa vinda do marqueteiro João Santana e que caíram nas mãos das verdades financeiras do Ministro da Fazenda. E é isso que está irritando a população. O que hoje gera a queda da popularidade da Presidente tem a ver com a corrupção da Petrobras, mas a corrupção já existia na eleição, e ela ganhou. O que realmente deve estar abalando é a contradição profunda entre o discurso do Santana e o discurso do Levy. Nós sabemos que grande parte do discurso do Ministro da Fazenda tinha que ser por aí mesmo. Não estou aqui criticando, absolutamente; estou aqui reclamando que não se pode fazer uma eleição séria prometendo uma coisa e fazendo outra. Paga-se um preço muito alto. E a Presidente está pagando esse preço. Agora, some-se a isso o fato de que a herança foi feita por ela. Some-se a isso o fato de que o quadro da economia é trágico, e o Senador Ataídes é um dos que, como eu, alertamos tanto que isso ia acontecer. Tantas vezes falamos aqui no problema, que era visível. Eu costumava dizer: a economia está bem, mas não vai bem. Estou falando isso há três, quatro anos. E éramos ridicularizados, ironizados. Aqui, as pessoas do PT nos tratavam como se fôssemos uns loucos desvairados, torcendo contra. A gente torcia a favor, a gente queria alertar. Mas a euforia levava à esnobação. A euforia cega em política. Talvez o maior inimigo de um político seja a euforia. Ele tem que ter muita confiança; euforia, não. A euforia tomou conta e não permitiu ver a realidade. E mentiram. Mentiram! E o povo está percebendo a mentira. Esse cidadão que compra o ar-condicionado pensando numa tarifa e o instala pagando outra tarifa é apenas um símbolo que o senhor usou muito bem, uma metáfora da realidade do consumidor brasileiro, que é uma metáfora do eleitor brasileiro. E aí vem minha preocupação: aonde vamos com isso? Hoje liguei para o senhor perguntando: aonde é que nós vamos? O que a gente vai fazer? Qual é a nossa ação diante dessa insatisfação geral que está por aí? Vamos navegar nessa insatisfação, mas aonde vai levar isso? Ou vamos cobrar do Governo que caia no real e na real e entenda que estamos caminhando para um abismo? É um abismo de proporções profundas que vai atrair todos nós; não vai ser o Governo, nem vai ser só o PT, seremos todos nós políticos. A mesma pesquisa que deu a baixa de popularidade mostrou que os partidos não são respeitados. Não é só o PT, não; todos são desrespeitados hoje na opinião pública. Hoje eu falei aqui, quando estava na tribuna o Senador Cássio - e aqui ele se referiu a três Senadores do PT -, que eu gostaria que ele descesse dali e, junto com os três Senadores, começasse a conversar sobre qual é o caminho que a gente vai encontrar para puxar esse Governo para a real, porque, afinal de contas, temos ainda 47 meses dele. Quando eu pronunciei o meu voto no Aécio Neves, eu dizia, entre outras coisas: ele chega com aquilo que a democracia oferece aos governantes novos, uma lua de mel; e a Presidente chega com o casamento velho, não vai ter lua de mel - e não teve. Some-se a isso a traição nesse casamento ao prometer uma coisa e fazer outra. Então, essa situação merece de todos nós uma reflexão, e eu quero dizer aqui que não vejo o Congresso com condições fáceis de fazer isso sob o comando do Senador Renan Calheiros. Ele abdicou do seu papel de coordenador do Congresso na busca de uma solução num dos momentos mais graves da história da República brasileira. Ele abriu mão aqui, não ao ganhar; abriu mão no dia seguinte quando fez toda aquela jogada de assumir todo o controle da Casa, o que ele ainda vai tentar nas comissões provavelmente. Ainda vai tentar, na próxima semana ou nesta. Então, Senador, o senhor é um dos Líderes desta Casa, nós todos somos líderes deste País, e a gente tem que encontrar um caminho porque este Governo não vai encontrá-lo sozinho. Ao mesmo tempo, não podemos passar por cima de um Governo que foi eleito, está aí, existe. Perdemos a eleição os que votamos em outra alternativa. Aonde é que nós vamos? Dizer que o povo é golpista porque está falando em impeachment? Não é verdade. Agora, incentivar o impeachment, Senador Paim, neste momento, também não é o correto. Uma democracia que a cada quatro presidentes faz um impeachment - porque faz quatro presidentes só do último - não é uma democracia respeitada pelo povo. O povo vai votar pensando: “Se não der certo, a gente tira.” E aí acaba o conceito de mandato. É um desafio que nós temos: nós temos que encontrar uma saída, nós temos que dialogar, nós temos que procurar encontrar o caminho, sabendo que dificilmente vamos encontrar uma liderança na pessoa do Presidente do Congresso.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Senador Cristovam...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. PT - RS) - Senador Agripino, permita-me só um esclarecimento.

            Todas as informações que nos chegaram são que, nas Comissões, será respeitado o princípio da proporcionalidade. Só para contribuir com o debate. Inclusive aqui na Mesa ontem.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Desculpe-me, Senador, mas a proporcionalidade, eu, como eleitor do Luiz Henrique, respeitei. O Luiz Henrique é do PMDB.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. PT - RS) - Claro.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Eu não respeitei, por uma questão de marcar posição, quatro anos atrás com o Randolfe e dois anos atrás com o Taques, porque tinha que manifestar posição: “aqui tem gente que é contra isso”. Então, não respeitamos. Desta vez a gente respeitou. Porque a proporcionalidade é o seguinte: o maior partido, ao escolher um nome, tem que ser ratificado. Então, não precisa de eleição. Ele reúne os seus Senadores, do partido, e diz: “O Presidente é o fulano de tal.” Não precisava fazer a palhaçada de uma eleição. Fez-se uma palhaçada de eleição - ou que não fosse palhaçada -, nós tínhamos que votar. Se queremos a proporcionalidade, votemos em candidatos do partido majoritário. Eu fiz isso: votei em um candidato respeitabilíssimo do PMDB chamado Luiz Henrique. Então, eu respeitei a proporcionalidade.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. PT - RS) - Eu não quero atrapalhar a fala de V. Exª. Mas nós temos tempo hoje.

            A candidatura avulsa é legítima. E, quando não é um nome indicado pelo partido, é uma candidatura avulsa, não importa se é do mesmo partido. Mas, no princípio da proporcionalidade, baseado no Regimento, o partido é que indica o nome, e, se alguém do partido discorda, ele lança uma candidatura avulsa. Eu defendo sempre o princípio da proporcionalidade e acho mais do que justo que nas Comissões isso aconteça.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - Sr. Presidente, essa é uma discussão a latere, e eu espero que a razão volte a imperar nas discussões nesta Casa.

            Agradeço a manifestação sempre muito equilibrada, sempre muito sensata do Senador Cristovam Buarque, que, no meio do seu discurso, faz o adendo que provoca a manifestação do Senador Paim, que é um petista equilibrado, sereno, corajoso e bem informado, que deve ter informações suficientes para dizer o que disse da Presidência do Senado: que, na escolha das Comissões, a proporcionalidade, que deveria ter imperado na composição da Mesa, vai imperar na escolha das Comissões.

            Mas quero pegar o gancho do que o Senador Cristovam Buarque disse e na conclusão que ele falou. Senador Cristovam, quando desembarquei no aeroporto de Brasília - a Brasília que elegeu o Senador -, há no portão de desembarque aquela defensa, onde ficam represadas muitas pessoas, homens, mulheres, crianças, que às vezes me cumprimentam. Desta vez, domingo à noite, quando eu vinha com minha esposa, uma senhora moça, em seus 45 a 50 anos, partiu para mim - ainda bem que estava com a Anita do meu lado - e disse: sou apaixonada por você, apaixonada civicamente - eu digo “opa” - pelo que você diz. Eu, como não acredito mais nesse Governo, tenho que cobrar de vocês da oposição.

            Veja a profundidade daquela declaração! Uma pessoa do povo! Ela até disse o que era: ela é paraense, funcionária de alguma coisa em Brasília. Ela começou a falar coisas conexas, dizendo que não cobrava e nem esperava mais nada. Veja o nível de decepção dela! Cobrava da oposição o que nós íamos fazer.

            Quero dizer, Senador Ricardo Ferraço, que a Revolução de 1964 só ocorreu depois das movimentações de rua; o impeachment de Collor só ocorreu depois das manifestações de rua. A insatisfação dos brasileiros é o fato, é um copo que está enchendo, está quase cheio. Inflação de 1,4% ao mês, a de janeiro; taxa de juros aumentada de uma lapada do Copom, de mais 0,5%, fazendo com que aquele eldorado de financiamentos dos ares-condicionados, dos carros, tudo isso seja coisa do passado; a decepção com a Petrobras, as joias da coroa; o PIB, o que a banca internacional espera é que este ano o Brasil tenha inflação de 8% e tenha PIB, crescimento de PIB, de zero.

            Então, o desastre está em curso, a insatisfação está em curso. Cabe a nós... Ouvi vários discursos falando sobre impeachment. O que parecia, há dois meses, um palavrão hoje é tema de articulistas equilibrados, moderados, dos grandes jornais, das revistas, das televisões, das rádios do Brasil, que falam claramente em impeachment, em função de quê? Daquilo que estou ouvindo nas ruas, da insatisfação dos brasileiros! É um copo que está enchendo!

            Está aí feito, na internet, um apelo, uma convocação para o dia 15 de março, por movimentos de rua, de protesto. E o Governo não acorda. O Governo nomeia, na substituição da Petrobras, nomeia uma pessoa alinhada com ele, para blindá-lo.

            Teve a única e singular oportunidade de esvaziar o grande balão da crise, de botar lá uma pessoa absolutamente descomprometida com os interesses, pelo menos vistos por parte da opinião pública, os interesses do PT ou do Governo; que se colocasse lá uma pessoa isenta, completamente isenta, para colocar acima de qualquer coisa o interesse da Petrobras, do Estado brasileiro e do acionista da Petrobras. Perdeu a oportunidade.

            Botou um homem afeito a números, a equações financeiras, comprometido com as linhas e as diretrizes do Palácio do Planalto. Qual é o nível de confiança que se pode ter em um Governo como esse? “Cesteiro que faz um cesto faz um cento”. Essa é a linha.

            Então, a insatisfação popular é um processo crescente. O que vai acontecer em 15 de março? Eu não sei. O que eu sei é o que estou ouvindo na saída do aeroporto, do vendedor de ovos, do anunciante do ar-condicionado, do veterinário que está sufocado, dos aumentos de combustível. O veterinário me disse: “Eu estou pagando a conta dos ladrões”. Eu digo: “Como?”

            A Petrobras, no momento em que o preço do petróleo no mundo inteiro cai, a Petrobras sobe de preço. Por conta de quê? Daquilo que eu estou vendo, dos desvios. Então, eu vou pagar, com a aprovação da minha profissão, eu vou pagar o preço dos ladrões da Petrobras? Isso gera a indignação. O copo está enchendo.

            E uma coisa que eu quero dizer é que, com absoluta responsabilidade e consciência, nós da oposição não vamos provocar nenhum cataclismo. Agora, nós não vamos nos apartar do sentimento popular. Nós vamos sintonizar, sim, o sentimento popular, de modo a levar este País para o seu porto seguro.

            O Brasil é um País com potencialidades formidáveis. Se você atacar a raiz dos problemas, se você cortar o gasto público de verdade, você não precisa aumentar a carga de impostos para tornar o Brasil um País ainda mais incompetitivo. Se você atacar de frente a questão da ética, combatendo para valer a corrupção, fazendo as substituições corretas, você vai sinalizar credibilidade para a opinião pública.

            Do contrário, você vai remar contra a maré. Vai ficar contra a opinião pública. E nós, não. Nós vamos, com equilíbrio e com sensatez, caminhar ao lado do povo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/02/2015 - Página 83