Pela Liderança durante a 11ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem ao ex-Senador Jonas Pinheiro; e outro assunto.

Autor
José Medeiros (PPS - CIDADANIA/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
MOVIMENTO SOCIAL. HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao ex-Senador Jonas Pinheiro; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 20/02/2015 - Página 30
Assunto
Outros > MOVIMENTO SOCIAL. HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, MOTORISTA, CAMINHÃO, BLOQUEIO, RODOVIA, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), MOTIVO, COBRANÇA, REIVINDICAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, NECESSIDADE, ATENÇÃO, MANIFESTAÇÃO, CRIAÇÃO, ALTERNATIVA, TRANSPORTE, PRODUÇÃO AGRICOLA.
  • HOMENAGEM POSTUMA, JONAS PINHEIRO, EX SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO, POLITICA, DEFESA, NECESSIDADE, PAGAMENTO, APOLICE DE SEGURO, VIUVA.

            O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Democracia Participativa/PPS - MT. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, imprensa aqui presente, pessoas que nos ouvem nesta Casa, amigos que nos acompanham pelas redes sociais, que nos ouvem pela Rádio Senado e que nos assistem pela TV Senado, ontem fiz um registro aqui acerca da situação por que passa o Estado de Mato Grosso.

            Antes de entrar no tema que preparei, eu queria novamente fazer um registro: Mato Grosso, neste momento, está totalmente, ou melhor, parcialmente com suas rodovias bloqueadas por um protesto das transportadoras e dos caminhoneiros, que têm uma pauta de reivindicação que é justa. Esperamos - ontem, já cobramos - que o Governo tome a sério essa questão, porque se refere à vida de um Estado que muito contribui para este País e que também é um corredor que liga o Norte ao Sul deste País.

            Neste momento, várias cidades estão com interdições. A notícia que temos é a de que isso deve estender-se para o restante do Estado. Pelo que noto, se o Governo não levar a sério essa questão, isso tende a se espalhar. O País tende a parar, porque a questão que eles colocam, a pauta deles refere-se ao aumento de combustíveis, refere-se ao frete, refere-se a pautas que não são apenas do Estado de Mato Grosso, mas do País inteiro.

            Um país que vive praticamente da exportação de commodities e que optou por ficar refém do transporte sobre rodas, Sr. Presidente, não pode se dar ao luxo de fazer de conta que nada está acontecendo com o setor. No Brasil, se o setor rodoviário espirrar, a nossa produção toda fica gripada. Essa é a verdade. Em outros países, optou-se por haver uma segurança maior, fazendo o transporte da produção, o transporte todo, via trem, via ferrovias. E nós, em algum momento da história, perdemos o bonde - essa é a verdade - e passamos a depender de um transporte caro em termos de patrimônio e também em termos de perdas de vida e dependente.

            Ficamos reféns quando alguma coisa não dá certo. Por exemplo, agora, o País corre o risco de parar. No Mato Grosso, já há filas de 20km ou de 30km neste momento. Estou aqui com as páginas dos principais jornais, com os sites todos noticiando isso. Esse é um problema que temos.

            Espero que isso faça também o País refletir, o Governo refletir que precisamos caminhar na busca de outro modal. Começamos a fazer um embrião de algumas ferrovias, e noto, Sr. Presidente, que elas precisam ser mais bem estudadas. Precisamos integrar mais a malha ferroviária que temos.

            Precisamos, nessas concessões que existem, fazer com que elas sejam vantajosas. No Mato Grosso, por exemplo, existem algumas concessões em que transportar a carga até o porto por caminhão ou por ferrovia não faz a menor diferença.

            Então, precisamos copiar mesmo. Copiar não é feio. Há modelos em outros países que funcionam muito bem, onde há concorrência.

            Dessa forma, mais uma vez, fica esse registro, Sr. Presidente, porque é um fato que está ocorrendo no Estado, mas que diz sobre a vida de todos nós, sobre a vida de todos os brasileiros. Afinal, no Amazonas, em Roraima ou em qualquer lugar deste País, é no lombo de caminhões que chega o pão de cada dia, e, com isso, devemos nos preocupar, e muito!

            Mas, Sr. Presidente, hoje, quero fazer um registro aqui, e é uma pena que esta data tenha caído justamente num período pós-Carnaval, em que a audiência das pessoas e a atenção das pessoas estão em outros temas. Mas quero fazer este registro aqui por medida de justiça até. Eu quero falar hoje sobre um Senador que muito orgulhou este País e que muito engrandeceu esta Casa. Aliás, por esta Casa, já passaram homens que fizeram história neste País. E esse Senador de que vou falar agora se trata do Senador Jonas Pinheiro, do saudoso Senador Jonas Pinheiro.

            Sr. Presidente, o dia de hoje marca o sétimo aniversário de falecimento do Senador Jonas Pinheiro. Eu não poderia deixar passar a data em branco.

            Jonas conjugava habilidade rara, mas essencial na política: a de ser um homem de conciliação e de convicções profundamente estabelecidas, o que o favoreceu a se transformar em uma das referências mais notáveis da política mato-grossense.

            A política tem o predicado de inscrever na memória do País o nome daqueles cujas ações marcaram a trajetória do desenvolvimento nacional. Nem todos os políticos, porém, alcançam a proeza de ter seus atos decantados pela memória popular. Jonas foi uma dessas raras figuras, Sr. Presidente.

            Em certo sentido, a morte, contudo, não é eterna para todos. Somente aqueles cujos atos aparecem impressos na memória coletiva de uma comunidade, de um Estado, de um País parecem sempre eternos para nós. Jonas é uma dessas figuras. Ele se apropriava do tempo, e, por isso, evoco hoje sua memória, ressaltando algumas qualidades que o distinguiram, dentre as muitas que moldaram sua rica personalidade.

            De origem modesta, Jonas passou a infância e a adolescência entre pescadores e pequenos agricultores. Apegado às origens rurais, veio a se formar em Medicina Veterinária na Universidade Federal de Mato Grosso. No Parlamento, exerceu mandatos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, onde exerceu dois mandatos seguidos.

            Aqui, abro um parêntese, Sr. Presidente. Para exercer dois mandatos seguidos no Senado Federal, tem de ser um bom Parlamentar. Eu me lembro de Darcy Ribeiro, quando aqui chegou a esta Casa. Lembro-me do saudoso Darcy Ribeiro, do grande Darcy Ribeiro! Uma vez, perguntaram-lhe o que é que ele estava achando do Senado, por que ele havia chegado aqui e estava gerando menos polêmica. Ele sempre foi uma figura polêmica. E Darcy Ribeiro disse: “Olha, o Senado é uma Casa interessante, é uma Casa de seniores, e aqui não cabem tantos arroubos”. Ele falou: “Mas também é uma Casa boa, porque são oito anos, o Parlamentar acaba se esquecendo do povo, e o povo também se esquece dele. E, dificilmente, ele consegue voltar.” É lógico que, nesse comentário, Darcy Ribeiro fez uma brincadeira, mas levantou este particular do Senado: são oito anos. E Jonas acabou exercendo dois mandatos. O povo mato-grossense o reconduziu a esta Casa, como muitos outros Parlamentares que foram reconduzidos à Casa, como é o caso de V. Exª, Sr. Presidente.

            Mas, para ele, na sucinta autobiografia, Sr. Presidente, que publicou à véspera da morte, os objetivos da prática política sempre foram claros e diretos. São suas estas palavras - aqui, abro aspas:

Como Deputado e, atualmente, como Senador, quis dispensar especial atenção aos trabalhadores do campo, pois são eles que produzem o nosso alimento. Tenho lutado incessantemente para criar no campo novas condições de trabalho; proporcionar aos agricultores os meios e os instrumentos de produção; prestar-lhes assistência técnica; dar-lhes escolas, hospitais, crédito, estradas e diminuir, senão suprimir, os altos tributos que recaem sobre a produção e que a dificultam diretamente.

            Atualmente, quando o agrobusiness brasileiro constitui uma das principais âncoras da economia nacional e quando a agricultura familiar aparece como pilar da segurança alimentar no País, torna-se bastante razoável defender os interesses da produção rural. Para que o milagre brasileiro nos campos se fizesse possível, era necessária a adoção de políticas públicas abrangentes e eficientes.

            Neste ponto, Srªs e Srs. Senadores, a atuação parlamentar do Senador Jonas Pinheiro era insuperável. Para usar um termo moderno, Sr. Presidente, o Jonas não era um Parlamentar fake, não era de uma atuação fake, como se diz nas redes sociais, não era um perfil falso. Ele realmente vivia o que pregava.

            Jonas era a essência do homem do campo. Ele era um legítimo representante daquele pobre homem que puxa a enxada, mas sem preconceitos. O melhor de Jonas era que ele, assim como Giuseppe Garibaldi, era um herói de dois mundos, ele transitava em qualquer ala da política sem deixar de representar o homem simples do campo. Era querido pelo agrobusiness, pelo grande produtor, pelo médio. Ele representava o homem rural em todas as suas escalas, sem preconceito contra o grande nem contra o pequeno.

            Lutador incansável, protagonizou a defesa do mundo agrícola, fomentando a prática política que criou o ambiente extremamente favorável para que a produção rural atingisse o estágio em que se encontra. Se o Brasil hoje é um exemplo para o mundo na produção de alimentos, há certamente a colaboração do ilustre Parlamentar.

            Falar hoje de agricultura, Sr. Presidente, no Estado de Mato Grosso é até muito fácil, porque Mato Grosso hoje desponta em todos os índices nacionais e, por que não dizer, internacionais. Mato Grosso tem o primeiro rebanho do País. Mato Grosso é o maior produtor de milho, é o maior produtor de grãos, de soja, é o maior produtor de pluma de algodão. Então, falar de filho bonito é muito fácil. De filho bonito todo mundo quer ser pai, não é verdade? Mas Jonas era de uma época em que ele era uma voz que clamava no deserto praticamente sozinho, quando, em Mato Grosso, o cerrado só servia para plantar mandioca. Ele foi um dos pioneiros a defender a agricultura daquele Estado.

            Tudo isso o Senador Jonas realizou com muita simplicidade, Sr. Presidente. Talvez, seja esta atitude um dos principais ensinamentos que ele legou para a posteridade: transformar problemas complexos por meio de soluções simples, claras e objetivas. Jonas era uma dessas figuras, Sr. Presidente, e, sem jogar confete, ele muito se assemelhava a V. Exª na simplicidade. Um homem torna o cargo grande, mas o cargo não lhe sobe à cabeça. E Jonas era uma dessas figuras, simples, mas aquela simplicidade o tornava grande.

            E eu concluo, Sr. Presidente, citando um pensamento também do Senador Jonas Pinheiro, que, a meu ver, sintetizava a forma como pensava a política. Dizia ele:

O povo é simples e quer coisas simples: quer alimento, quer vestuário e quer moradia; quer também escolas e hospitais; mas, antes de tudo, o povo quer trabalho. Ao final das contas, o povo anseia, desesperadamente, por dignidade. Simples também são as coisas que o povo não quer: o povo não quer viver na miséria, não quer ser explorado, nem quer ser ludibriado com promessas que nunca se hão de cumprir.

            Temos aí um repositório de boas práticas e uma riquíssima fonte de inspiração para o mundo político. O País daria um grande passo se as observasse, porque o discurso dele continua atual. Parece que está falando para os dias de hoje.

            E eu não poderia, Sr. Presidente, deixar de fazer um registro aqui. Após fazer o lembrete dessa data, desse homem que muito orgulhou o Estado de Mato Grosso, o Brasil e, com certeza, esta Casa, eu não poderia deixar de lembrar um fato lamentável que aconteceu também com ele.

            Quando ele ainda estava nesta Casa, no cumprimento do seu mandato, o Senador Jonas fez uma apólice de seguro para ele e para a sua esposa, no nome da sua esposa. No quarto ano de mandato aqui, nesta Casa, o Senador Jonas veio a falecer. Regularmente, era descontado no seu holerite, aqui, pelo Senado Federal, em nome de uma seguradora, as parcelas do seguro, que foram todas pagas regiamente. O que aconteceu, Sr. Presidente? Lendo os jornais desta semana, eu fiquei pasmo, porque já se encaminha para o décimo ano. Hoje, nós estamos no sétimo aniversário, e a viúva do Senador Jonas Pinheiro ainda não recebeu a sua apólice de seguro. E, por que não recebeu?

            Não recebeu, Sr. Presidente, pela velhacaria que, infelizmente, não é rara nesse meio, nesse mundo dos seguros. A conversa é muito alegre, é muito alvissareira na hora de vender a apólice, mas, na hora de pagar, infelizmente, a maioria dos brasileiros passa pelas mesmas dificuldades.

            A esposa do Senador Jonas Pinheiro, Srª Celcita Pinheiro, está aqui, na nota do jornal A Gazeta, dizendo o seguinte - eu vou ler só um parágrafo, porque, em que pese ter acontecido com a esposa do Senador Jonas Pinheiro, isso acontece todos os dias e, neste momento, com certeza, está acontecendo com muitos outros brasileiros -, vejam bem: “Passados 30 dias do falecimento [diz a matéria], Celcita Pinheiro requereu o pagamento da indenização. No entanto, em dezembro de 2008, a viúva recebeu a informação de que não seria possível o pagamento, porque o Senador teria omitido que tinha um problema cardíaco.”

            Ora, Sr. Presidente, aqui fica um alerta sobre o qual devemos nos debruçar, para livrarmos a população brasileira desse tipo de velhacaria.

            Eu penso que, se a seguradora se preocupa com esse tipo de coisa, que seja feito um exame, em cada um, na hora de vender o seguro. Que já se faça o seguinte: vamos vender um seguro. Então, se o Senador Capiberibe está comprando uma apólice de seguro, eu, como seguradora, devo lhe propiciar um check-up inteiro, já que eu quero me resguardar de qualquer possível doença. Mas eu lhe vendo o seguro, pego o seu dinheiro, enriqueço-me, e, quando você precisa da apólice, não a recebe. “Você tinha gripe, você tinha alguma coisa”. Quem é que pode saber o que está acontecendo?

            Recentemente, estive assistindo ao discurso do também saudoso Steve Jobs, dono da Apple, que morreu recentemente. Ele falava para os estudantes em Stanford, numa formatura, que estava bem, que estava curado do câncer. Havia feito todos os exames, mas, dali a um ano, morreu de câncer. Quem é que tem bola de cristal para saber o que está acontecendo? Ninguém sabe o que vai acontecer. Eu não sei se desço da tribuna aqui e tenho um ataque ali. A meu ver, estou bem.

            Mas é assim, Sr. Presidente, que o cidadão brasileiro tem sido tratado. O Senador Jonas Pinheiros, após pagar regiamente, a sua esposa está aí, numa luta - ela também já idosa -, e não recebeu nenhum centavo.

            E, em que pese a Justiça já ter mandado - eu vou citar aqui a seguradora, para que fique o registro - a Federal Seguros pagar, até agora a seguradora resiste em efetuar os pagamentos. Aí, quando terminar essa quizila, provavelmente ela já terá gasto boa parte do que ela deveria receber com advogados, sem falar do desgaste psicológico que uma coisa dessa causa.

            Fica este registro aqui, Sr. Presidente, porque precisamos, como Casa Legislativa, começar a pensar também nesse setor, que tanto ganha neste País e que tem esses, vamos dizer, comportamentos não tão republicanos.

            São estas as minhas palavras, Sr. Presidente. Agradeço a oportunidade.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/02/2015 - Página 30