Discurso durante a 17ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Cobrança ao Governo Federal pela adoção de medidas em relação à greve dos transportadores rodoviários.

Autor
Paulo Bauer (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SC)
Nome completo: Paulo Roberto Bauer
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Cobrança ao Governo Federal pela adoção de medidas em relação à greve dos transportadores rodoviários.
Publicação
Publicação no DSF de 26/02/2015 - Página 558
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COBRANÇA, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, ASSUNTO, SOLUÇÃO, GREVE, MOTORISTA PROFISSIONAL, CAMINHÃO, ENFASE, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), MOTIVO, PREJUIZO, AGRICULTOR, CRITICA, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, NECESSIDADE, AUMENTO, DIALOGO, POPULAÇÃO.

            O SR. PAULO BAUER (Bloco Oposição/PSDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, quero, inicialmente, cumprimentar o nobre Senador Aloysio Nunes Ferreira pela brilhante manifestação, aqui, na tribuna, acerca dos acontecimentos que preocupam todos nós que prezamos a democracia e valorizamos as instituições do país vizinho, da Venezuela.

            Quero aqui, senhoras e senhores, referir-me ao mesmo tema que ontem trouxe a esta tribuna o Senador Luiz Henrique da Silveira, do meu Estado.

            Apesar de a manifestação do Senador Luiz Henrique, na data de ontem, ter sido contundente e muito esclarecedora e apesar de termos, inclusive, notícia de que, na noite de ontem, aconteceu uma audiência no Ministério da Justiça, da qual participaram vários Senadores, inclusive o Senador Luiz Henrique, não vimos e não temos notícia, até o presente momento, de providências, por parte do Governo Federal, em relação a um grave problema que estamos enfrentando em Santa Catarina e em todo o Brasil.

            Trata-se da manifestação promovida pelos transportadores de cargas, pelos caminhoneiros de vários Estados brasileiros, principalmente dos Estados do Sul do País.

            Tenho certeza, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, de que esse assunto não vai deixar de constar da preocupação dos brasileiros por simples esmorecimento, por diminuição de importância. Também tenho a convicção de que esse assunto não vai deixar de estar presente em toda a mídia brasileira, porque a manifestação que os caminhoneiros estão fazendo não é política, não é partidária, não é uma manifestação conduzida, organizada por entidades de classe, por sindicatos ou por centrais sindicais. É uma manifestação natural, que está acontecendo por conta da angústia, do desespero, da falta de perspectiva e, principalmente, da falta de condições de renda e de subsistência daqueles que vivem dessa profissão, desse trabalho.

            Em Santa Catarina, Srª Presidente, exatamente há cinco minutos, quando ali aguardava o horário para o meu pronunciamento, aconteceram coisas inéditas. Por exemplo, um empresário me telefonava, há instantes, Senador Alvaro Dias, para me dizer que tem uma empresa que atua no ramo de aves, exporta quase 50% da sua produção para outros países, tem um plantel de 300 mil aves espalhadas em várias propriedades de agricultores integrados. Esses agricultores precisam alimentar essas aves permanentemente, para que elas possam ser tornar adequadas ao abate e ao processamento. Das 300 mil aves que existem sob a orientação, sob o comando daquela empresa, 200 mil vão morrer amanhã. Não na semana que vem, mas amanhã! Sabem de quê? De fome! E sabem por que as aves vão morrer de fome? Porque não tem ração, porque a ração não chega com os caminhões que precisam transportá-las.

            A situação é crítica! A situação é caótica!

            As grandes empresas, as agroindústrias, as indústrias de carne, principalmente, estão neste momento em situação de desespero, porque os agricultores não sabem o que fazer. Igual problema acontece na produção de leite: são 6 milhões de litros de leite jogados no lixo todos os dias, em todo o Estado de Santa Catarina.

            E eu fico imaginando que tipo de ministério tem este Governo, que tipo de autoridade tem este Governo, que tipo de gente governa este País! Não é admissível e não é possível que não se tenha outra manifestação das autoridades federais, do Ministério da Agricultura, do Ministério do Desenvolvimento, do Ministério da Fazenda - das áreas que têm responsabilidade quanto ao assunto -, do Ministério dos Transportes. A única coisa que aconteceu, Srs. Senadores, foi a Polícia Rodoviária Federal no dia de ontem, ou melhor, na manhã de hoje, entrar em ação e, com balas de borracha, partir para cima dos caminhoneiros para desobstruir as rodovias em Santa Catarina.

            Eu sou legalista. Eu respeito a lei porque faço a lei. E acho que, sem dúvida nenhuma, se preciso, deve-se usar a força pública para permitir a ida e a vinda de todos porque isso é direito constitucional. Agora, o que não se permite e não se pode aceitar é que apenas a força pública seja usada e não se use a força da inteligência, a força da competência, a força da responsabilidade - coisas que faltam ao Governo do meu País.

            Competência, responsabilidade e criatividade, seguramente, este Governo não tem. Este é um Governo para galinhas e não um Governo para pessoas! E infelizmente as galinhas estão morrendo; os porcos também; e daqui a pouco vão morrer as vacas que produzem o leite. O agricultor não consegue entender como é que ele trabalha, produz e o produto não pode ser escoado.

            Qual é a culpa, Senador Flexa Ribeiro? De quem é a culpa? É deste Governo. É deste Governo que, na eleição, para ganhar a eleição, anunciou uma situação de felicidade, de prosperidade, de tranquilidade. E agora vimos que mentiu, que usou a propaganda eleitoral para iludir e enganar os brasileiros. Felizmente, não conseguiu fazê-lo em Santa Catarina, onde o Aécio Neves levou quase 70% dos votos, mas em outros Estados do Brasil conseguiu grande sucesso.

            Aliás, a cada dia eu fico mais impressionado, Senador Wellington, porque o que eu menos vejo é gente com estrela no peito. Antigamente havia muita, todos se orgulhavam de percorrer os salões do Congresso e os plenários do Legislativo com estrelas no peito dizendo qual era o seu time e de que lado estavam. Hoje não as usam mais. Por quê? Porque não têm razão para usá-las. O Governo não é um governo para gente, para brasileiros que trabalham.

            Eu penso que, se a legalidade recomenda providências para que possamos assegurar o direito de ir e vir de todos e tenhamos, inclusive, que usar a força para desobstruir rodovias, nós devemos fazê-lo depois de o Governo lançar mão de todos os outros mecanismos para dialogar, para convencer, para compreender a ansiedade daqueles que passam por dificuldades.

            Motorista de caminhão, Senador Bezerra, chorando, sentado no capô! Está na mídia, é só olhar. Motorista que chora porque não sabe como vai chegar em casa, porque não ganha o suficiente para voltar para sua própria casa: não tem outra opção senão fazer protesto. E por que ele não tem as condições para voltar para casa? Porque este Governo, o Governo do PT, o Governo do Brasil, deu financiamentos em excesso, sem responsabilidade, subsidiados, para que muitos comprassem caminhões que não teriam o que transportar - é o que acontece hoje e por isso os fretes baixam de preço, a lei da oferta e da procura determina isso.

            Por que este Governo não é bom? Não é bom porque ele aumentou o combustível, porque ele vai botando PIS e Cofins em cima do combustível. Poderia hoje anunciar a sua retirada e fazer com que o preço do combustível, principalmente do diesel...

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO BAUER (Bloco Oposição/PSDB - SC) - ... necessário ao transporte de cargas, fosse reduzido.

            Poderia revogar a ideia da Cide, que já está em curso e que vai ser implementada em pouco tempo. Sem dúvida, o Governo teria muitas coisas a fazer antes de usar a força policial, mas não as faz.

            O Governo da Presidente Dilma é o governo mais mentiroso que a República brasileira conheceu em toda a sua história, porque, no dia da vitória dessa senhora que preside o nosso País, ela disse - e eu ouvi, Senadora Angela Portela, e V. Exªs ouviram também -, em um discurso que ela fez vestida de branco, ao lado do ex-Presidente Lula, seu padrinho político, o seguinte: “Vou governar fazendo diálogo”.

            E eu pergunto: o diálogo com bala de borracha?

(Interrupção no som.)

            O SR. PAULO BAUER (Bloco Oposição/PSDB - SC) - ...porque percebo que todos ouviram apesar de o som ter faltado.

            O Brasil não ouviu, mas com certeza entendeu que nós queremos um Governo ativo, um Governo que fale a verdade, uma Presidente que saiba dialogar, que chame seus ministros para o diálogo, que compreenda a manifestação desta Casa, porque aqui, sim, estão os brasileiros de verdade, eleitos pelo povo, como também os da Câmara.

            E o que nós falamos aqui não nasce de uma mente insana e nem de uma mente irresponsável. O que nós falamos nesta tribuna nasce daquilo que ouvimos nas ruas, daquilo que sabemos estar prejudicando ou vivenciando cada brasileiro.

            Nós estamos aqui, mais uma vez, assim como Luiz Henrique fez ontem, pedindo ao Governo - se é que o Governo nos ouve - que tome uma providência...

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO BAUER (Bloco Oposição/PSDB - SC) - ... porque senão o País para. E, se o País parar, não vai ser só por falta de leite e por falta de carne e porque galinhas morreram nos quintais de Santa Catarina: o Brasil vai parar, Senadora Marta Suplicy, porque vai faltar gasolina, porque vai faltar comida no supermercado, porque vai faltar todo tipo de providência e de gêneros que alimentam os brasileiros.

            Ou o Governo ouve a nossa voz, ou ele vai descobrir como é difícil viver a surdez.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/02/2015 - Página 558