Discurso durante a 19ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apelo em favor de um entendimento entre o Governo e os caminhoneiros visando ao fim da greve.

Autor
Luiz Henrique (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Luiz Henrique da Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRABALHO:
  • Apelo em favor de um entendimento entre o Governo e os caminhoneiros visando ao fim da greve.
Publicação
Publicação no DSF de 28/02/2015 - Página 73
Assunto
Outros > TRABALHO
Indexação
  • COMENTARIO, MOTORISTA, CAMINHÃO, REALIZAÇÃO, GREVE, REIVINDICAÇÃO, REGULAMENTAÇÃO, PROFISSÃO, RECUSA, AUMENTO, PREÇO, OLEO DIESEL, REGISTRO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, LOCAL, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), MOTIVO, FALTA, FORNECIMENTO, PRODUTO, SUPERMERCADO, RAÇÃO, PRODUÇÃO AGROPECUARIA, POSSIBILIDADE, PREJUIZO, IMPOSSIBILIDADE, TRANSPORTE, ESCOAMENTO, PRODUÇÃO AGRICOLA, SOLICITAÇÃO, ENCERRAMENTO, BLOQUEIO, ESTRADA.

            O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho a esta tribuna para fazer um apelo, um apelo veemente, um apelo ansioso, um apelo preocupado: um apelo para que caminhoneiros, Governo e empresários encontrem definitivamente um fim para que seja absolutamente normalizada essa questão de tamanha profundidade social.

            Já ocupei esta mesma tribuna para exaltar a profissão do condutor de caminhões, de carretas; aqueles que fazem, pelo transporte rodoviário, o abastecimento do País; aqueles que garantem combustível nos nossos veículos e comida na nossa mesa; aqueles que são o elo entre a produção, a distribuição e o consumo. E quero repetir as palavras com que exaltei essa categoria tão importante e tão relevante para a economia do nosso País, tão importante e tão relevante para o crescimento da economia do nosso País, tão importante e tão relevante para o desenvolvimento do nosso País.

            Vou repetir aquilo que falei: o caminhoneiro é, acima de tudo, um ser paciente - dirige por estradas desgastadas, esburacadas, desviando de depressões e de motoristas imprudentes. O caminhoneiro é um trabalhador persistente, que continua a rodar mesmo nessas estradas péssimas, com frete defasado, combustíveis e autopeças de preços majorados. O caminhoneiro é um trabalhador resistente, sai de casa sem saber se volta, tantos são os riscos do transporte, com a bandidagem que vem ocupando cada vez mais as rodovias. O caminhoneiro é um ser eficiente. Apesar de tudo, enfrentando tudo, opera verdadeiros milagres ao fazer com que as mercadorias cheguem ao destino no prazo.

            Quero, portanto, salientar que, se aquele trabalhador que é resistente, que é paciente, que enfrenta diariamente longas e cansativas jornadas, chegou ao ponto de sobrepor com a sua força a força da lei que garante o direito de ir e vir das pessoas, é porque chegou acima do limite dessa resistência e dessa paciência.

            Daqui, desta tribuna, preocupado com a gravidade desse problema e entendendo a gravidade desse problema, verifico como certos fatos históricos tiveram repercussões dramáticas na história mundial. Relembro, por exemplo, a greve dos caminhoneiros no Chile, que foi aquele movimento que desencadeou a tomada do poder pelos militares sob o comando do General Pinochet. Aquela greve foi o motivo, foi a causa, foi a explicação que os militares chilenos deram para tomar o poder.

            Quero relembrar aqui quão importante para o País é normalizar essa situação. Por isso, quero lembrar que, com a preocupação que sempre tive em relação a essa questão, junto com o 1º Vice-Presidente desta Casa, Senador Jorge Viana - a quem quero prestar minha solidariedade pelas enchentes que assolam o Acre, a ele e ao Governador Tião Viana, e falar ao povo acriano o quanto está infortunando o Senador Jorge Viana essa grave crise climática que mais uma vez se abate sobre o Estado e sobre o povo do Acre -, que interpretava as mesmas preocupações, fui ao Ministro da Justiça, nosso ex-colega Parlamentar José Eduardo Cardozo. Solicitamos veementemente que, embora o Governo estivesse com dificuldade de identificar interlocutores dentre os caminhoneiros, que procurasse colocar à mesa de negociação representantes da classe trabalhadora, convocando para isso a CUT, a CGT e outras centrais de trabalhadores, e os empresários que têm maior demanda de transporte, da área que motivou essa greve, da área dos grãos, da área dos produtos alimentares, da área dos derivados de frango, da área dos suínos, da área de leite, para que sentassem à mesa para pôr fim a essa greve. O Ministro Cardozo foi ágil e já no dia seguinte ocorreu a reunião que a imprensa toda anunciou.

            Estabeleceram-se ali alguns princípios: a sanção da Lei dos Caminhoneiros sem nenhum veto; o estabelecimento de novo prazo para pagamento dos financiamentos, que estendia uma trégua de 12 meses; e a garantia governamental de que o óleo diesel não sofrerá nenhuma majoração nos próximos seis meses. Esses três princípios foram estabelecidos, e também se decidiu continuar a mesa de negociações para resolver as outras pendências.

            Eu faço um apelo à Presidente Dilma Rousseff para que constitua um gabinete de crise relativo a esse assunto, para que delegue a um de seus Ministros, quem sabe a Ministra Kátia Abreu, a coordenação desse processo, a fim de que a negociação prossiga e de que se chegue a um bom entendimento entre os caminhoneiros, as empresas e o Governo.

            Por outro lado, quero fazer um apelo aos nossos irmãos caminhoneiros que ainda estão parados na estrada, sofrendo eles próprios prejuízos com a manutenção dessa paralisação. Os prejuízos são de todos, são das empresas que não estão podendo abater frangos e suínos, são dos produtores de leite que não estão podendo vender os seus produtos e os estão jogando fora. Os prejuízos são de todo o brasileiro que tem automóvel e que está tendo dificuldade em obter seu combustível. Os prejuízos são de todos nós, que vamos vendo, dia a dia, escassearem-se os produtos e aumentarem os preços nos supermercados.

            Por isso, quero fazer um apelo aos caminhoneiros, que já demonstraram um poder extraordinário de mobilização, um poder extraordinário de coesão e de força, para que sustem todo e qualquer bloqueio que ainda exista nas estradas brasileiras, para que essa negociação se efetive em atos e para que, continuando a rodada de negociações, nós possamos obter uma normalização total e absoluta nesse caso.

            Recebi do meu ex-Secretário de Desenvolvimento Regional em São Miguel do Oeste, o Deputado Estadual suplente João Carlos Grando, uma manifestação do desejo de líderes dos caminhoneiros que estão estacionados no extremo oeste catarinense de virem a Brasília para conversarem com as outras partes, pois entenderam eles que não foram representados naquela negociação.

            Eu quero lhes dizer que estou à inteira disposição para recebê-los e levá-los ao Ministro Cardozo, para que possam apresentar suas reivindicações. Mas faço um apelo, em nome do País, em nome do conjunto do povo brasileiro, para que sustem o bloqueio, até porque poderão restabelecê-lo adiante se efetivamente as negociações não forem bem-sucedidas, se a questão não for resolvida.

            Senador Paulo Paim, V. Exª, que é um defensor incansável dos trabalhadores, há de concordar comigo que chegou o momento de haver uma distensão. É preciso haver uma distensão, até porque o Governo já estabeleceu como parâmetro a implementação do que foi negociado com o fim dos bloqueios.

            Então, quero fazer aqui esse apelo. Quem bloqueou, quem está bloqueando tem o poder de bloquear lá na frente, se efetivamente não se estabelecer uma negociação adequada.

            Os prejuízos são incontáveis. No caso do meu Estado, Santa Catarina - isto me preocupa muito -, a mortandade de suínos e de frangos será tão grande se se perpetuar esse bloqueio, que nós poderemos perder aquilo que foi duramente obtido por meio de uma luta de décadas.

            Governador do Estado, eu recebi em Paris o certificado que foi conferido à Santa Catarina, declarando-o Estado livre de aftosa, sem vacinação. Essa foi uma luta de anos, de décadas, de governos, e eu fui premiado, pois chegou o momento no meu Governo de ultimar todas as questões para que pudesse receber aquele diploma. Pois bem, Sr. Presidente, nós podemos perder esse alto grau de consideração sanitária que a Organização Mundial de Saúde Animal concedeu a Santa Catarina e a outros Estados. Por isso, quero fazer um apelo.

            Recebo do líder de São Miguel do Oeste, João Carlos Grando, algumas informações, que chegaram agora às minhas mãos.

            Hoje, quatro milhões de litros de leite estão com problemas de comercialização. Desses, dois milhões estão sendo jogados fora ao preço médio de R$0,80. Não há abates de frangos e de suínos no Estado. Falta ração para tratar os animais, que começam a morrer. E essa ração, Sr. Presidente, vem do Brasil central, principalmente de Mato Grosso. Pode-se ver o nível de interrupção da comunicação entre os vários Estados no transporte rodoviário. Parou a colheita em todo o Estado, por falta de combustível.

            Não há o produto em praticamente todo o grande oeste catarinense. E saliento que Santa Catarina tem 1% do Território nacional e é o quinto produtor de alimentos. A grande produção está nessa região do oeste catarinense. Aproxima-se o momento de colheita da soja, e não haverá condições de escoá-la com a continuidade desse bloqueio. Há falta de vários produtos nos supermercados da região, especialmente hortifrutigranjeiros, acarretando um quadro de desabastecimento preocupante.

            Isso, Sr. Presidente, já me dá a convicção de que é preciso aprofundar a negociação, o que implicaria suspender esse bloqueio. Os caminhoneiros estão na estrada, estão cansados, estão fatigados, com os nervos à flor da pele. Seria bom que fossem passar o fim de semana em casa, com suas famílias. Com isso, na segunda-feira, deveria intensificar-se a negociação.

            Quero dizer aos caminhoneiros catarinenses que estão no oeste catarinense e que não se sentiram representados naquela reunião feita no Palácio do Planalto que estou à inteira disposição para recebê-los aqui. O Senador Paim vai receber os caminhoneiros do Rio Grande do Sul que não se sentiram também representados, bem como o farão outros Senadores de outros Estados, para que se possa intensificar - digo mais uma vez - essa negociação.

            Mas é preciso agora desbloquear. É preciso agora a prática de um gesto, até porque - volto a dizer - quem bloqueou pode bloquear de novo.

            Mas, neste momento, até para que a agroindústria brasileira não venha a sofrer mais e para que o cidadão brasileiro não venha a sentir mais o desabastecimento nos supermercados, é fundamental que haja essa compreensão.

            Vamos para casa, gente! Vão abraçar os filhos de vocês e as esposas. Vão descansar um pouco. Podem ir a um jogo de futebol, que seja de várzea, não importa, os lá do oeste, para ver a grande Chapecoense. Podem ir ao cinema, descansar, para, na segunda-feira, retomar essa luta, designando líderes que possam aprofundar a negociação.

            Aqui, do Senado Federal, acredito que estou interpretando o pensamento não da maioria, mas da totalidade dos Senadores. Quero fazer este apelo: voltemos para casa agora, para ganhar mais tranquilidade em casa no futuro.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/02/2015 - Página 73