Discurso durante a 16ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com os reflexos na economia nacional do bloqueio de rodovias federais por transportadores rodoviários.

Autor
Luiz Henrique (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Luiz Henrique da Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRANSPORTE:
  • Preocupação com os reflexos na economia nacional do bloqueio de rodovias federais por transportadores rodoviários.
Aparteantes
Ana Amélia, Blairo Maggi, José Agripino, José Medeiros, Omar Aziz, Waldemir Moka.
Publicação
Publicação no DSF de 25/02/2015 - Página 376
Assunto
Outros > TRANSPORTE
Indexação
  • APREENSÃO, GREVE, MOTORISTA, CAMINHÃO, BLOQUEIO, ESTRADA, MOTIVO, DEFASAGEM, VALOR, FRETE, CONTRADIÇÃO, AUMENTO, PREÇO, OLEO DIESEL, AMEAÇA, AUSENCIA, ABASTECIMENTO, ALIMENTOS, COMBUSTIVEL, PREJUIZO, AGROINDUSTRIA, ENFASE, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO PARANA (PR), ESTADO DE MATO GROSSO (MT), GOIAS (GO).

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, trago a esta tribuna um problema gravíssimo que pode afetar ainda mais a economia brasileira. Falo do bloqueio que, em rodovias de vários Estados, está sendo realizado por transportadores rodoviários, que vem causando já graves problemas ao meu Estado, relativamente à indústria alimentícia, à indústria de laticínios, à indústria de frango, à indústria de suínos. Se essa greve permanecer por mais alguns dias, terá que haver milhares de abates de frangos e de suínos; se essa greve permanecer por mais alguns dias, a agroindústria, que opera nessas áreas e no leite, vai paralisar as suas atividades.

 Quero, ao fazer este pronunciamento, estabelecer uma verdade relativamente ao caminhoneiro, Sr. Presidente. O caminhoneiro é, acima de tudo, um ser paciente: dirige por estradas desgastadas, esburacadas, desviando de depressões e de motoristas imprudentes. O caminhoneiro é um trabalhador persistente: continua a rodar, mesmo em estradas péssimas, com frete defasado, combustíveis e autopeças de preços constantemente majorados. O caminhoneiro é um trabalhador resistente: sai de casa sem saber se volta, tantos são os riscos do transporte e a bandidagem que vem ocupando cada vez mais as rodovias. O caminhoneiro é um ser eficiente: opera verdadeiros milagres, ao fazer as mercadorias chegarem ao destino no prazo.

 Há um bloqueio de rodovias, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná, mas esse bloqueio afeta os consumidores de todo o País. As mercadorias não estão saindo nem do campo nem das indústrias e vêm provocando o “agonizamento” da crise econômica por que estamos passando. Esse bloqueio vem promovendo: a desestabilização de setor âncora da economia brasileira, com perdas elevadas, que demandam longo período para recomposição da cadeia produtiva; risco de perda do status sanitário do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná, de Mato Grosso, de Goiás, especialmente por conta do abate de animais nas granjas; paralisação de aproximadamente 50 mil produtores rurais, 5 mil transportadores logísticos, que não aderiram ao bloqueio, e mais 100 mil colaboradores diretos e indiretos da cadeia produtiva; rompimento dessa cadeia, por meio da eliminação de ovos férteis; cancelamento diário do abate de mais de 6,5 milhões cabeças de frango, só na Região Sul do País; risco eminente de desabastecimento de gêneros de primeira necessidade, como leite, carne, combustível, entre outros; risco de descarte maciço de animais com terminação inadequada para abate e processamento; risco efetivo de perda de mercados externos por descumprimento de contratos de exportação. E o que levou os caminhoneiros, desesperados, a tomar essa atitude extrema? O abrupto aumento dos combustíveis e a operação por transportadores de frete abaixo da tabela.

 Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estivemos hoje, o Senador Jorge Viana e eu, com o Ministro da Justiça, nosso ex-colega Parlamentar José Eduardo Cardozo, e fizemos um apelo dramático para que o Governo, reunindo os Ministros que tenham interação com a área, promova urgentemente uma reunião para negociar o fim dessa greve-bloqueio. O Ministro José Eduardo acedeu em realizar, hoje à noite, uma reunião a que espero compareçam também os representantes dos trabalhadores do setor de transporte rodoviário brasileiro, para que essa greve tenha fim. É o apelo que faço ao Governo Federal: negocie urgentemente essa greve, para que a nossa economia, combalida, não sofra ainda mais!

 O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. PT - RS) - Meus cumprimentos, Senador Luiz Henrique.

 O aparte concedido, naturalmente.

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Concedo com todo o prazer, Senador Moka. O Estado de V. Exª também está sofrendo as consequências dessa paralisação.

 O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) - É verdade. Eu acho que hoje o País inteiro sofre. São vários casos de postos de combustíveis com bombas já sem condição de abastecer; existe a questão de produtos alimentícios; a questão do escoamento da safra. O meu Estado, Mato Grosso do Sul, depende basicamente desse transporte rodoviário. E uma coisa, só para complementar, é que me parece, salvo melhor juízo, que esses movimentos são espontâneos. Não há alguém organizando. E isso demonstra exatamente a insatisfação, porque o caminhoneiro não consegue. A informação que tenho é a de que o combustível representa 60% do custo do trabalho, do transporte. Então, não há como, é impossível, com essa margem, continuar transportando. Eles estão pedindo, parece-me, parcelamento, adiamento de parcelas e de financiamento, como Finame, e de algumas coisas a mais, a sanção daquela lei dos caminhoneiros, aqui votada, estão aguardando a sanção presidencial. E, claro, que essa questão do óleo diesel depende também dos Governadores. No meu Estado, estive hoje com o Governador Reinaldo Azambuja, e ele está estudando a possibilidade de diminuir a alíquota do ICMS. É uma forma de ajudar, mas a verdade é que não vejo... E V. Exª, ao dar a notícia de que esteve com o Senador Jorge Viana, com o Ministro José Eduardo Cardozo... É preciso que o Governo sinta que isto talvez seja aquilo que mais prejudica toda uma população, que é o desabastecimento. É preciso, urgentemente, que o Governo entre, converse com interlocutores que possam realmente representar - parece-me que esse movimento é espontâneo -, mas certamente que há lideranças que possam dialogar, conversar. E não adianta reprimir esse movimento. O que vai resolver é exatamente conseguir um diálogo, no sentido de que eles possam parar a greve, mas com um avanço nessa negociação. Sou de um Estado em que o produtor rural sempre foi e sempre será parceiro daquele amigo que é o caminhoneiro, porque é absolutamente imprescindível para nós do Mato Grosso do Sul essa questão do transporte. Parabenizo V. Exª pelo tema, ao tempo em que faço também, somo-me a V. Exª, Senador Jorge Viana, para que o Governo, urgentemente, possa estabelecer um diálogo e que possamos realmente acabar...

(Soa a campainha.)

 O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) - ... com essa paralisação. Mas deixo claro meu posicionamento aqui: acho que o caminhoneiro está fazendo isso por absoluta insatisfação e condições de poder exercer o seu trabalho com esse aumento que veio em cima do óleo diesel, o combustível necessário do seu transporte. Muito obrigado, Senador Luiz Henrique.

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - V. Exª tem toda a razão. Na verdade, há uma sucessão de problemas enfrentados pelos transportadores rodoviários. São os buracos, é a lama, são as depressões das rodovias, é o aumento abrupto do combustível, é a prática de pagamento de frete abaixo da tabela, ou seja, é todo um grau enorme de insatisfação, o que dificulta a negociação.

 O Governador Raimundo Colombo tentou identificar negociadores para procurar debelar esse bloqueio, pelo menos no território do Estado de Santa Catarina, e não encontrou. Esse movimento foi de combustão espontânea. E o que é pior: está crescendo, está levando a sua metástase para os portos.

 Recebi, há pouco, a notícia de que, nos portos catarinenses, também está começando o bloqueio. De modo que é preciso resolver logo essa questão, porque vai afetar também a exportação de produtos nacionais.

(Soa a campainha.)

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Agradeço ao Senador Moka.

 Concedo a palavra, com grande prazer, ao Senador José Agripino, se V. Exª assim me conceder.

 O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - V. Exª me concede um aparte?

 O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. PT - RS) - Com certeza. É um tema de suma importância, tanto que passei V. Exª para orador inscrito, e não para comunicação.

 O Sr. José Agripino (Bloco Oposição/DEM - RN) - Senador Luiz Henrique, V. Exª, com muita propriedade, aborda um assunto que está inquietando o País inteiro. Você liga a televisão e o que se vê é o incômodo que os brasileiros estão tendo com o movimento dos caminhoneiros, porque eles transportam as cargas, transportam tudo que o brasileiro consome ou usa. Então, este movimento paredista dos caminhoneiros está incomodando o Brasil. Agora, eles ou fazem isso ou não têm a solução dos problemas deles, que não são ouvidos pelo Governo. É o preço do combustível, é estrada esburacada, é todo o tipo de problema a terminar pela questão da insegurança nas estradas. É um somatório de componentes, é uma série de coisas. E é preciso que eles, que prestam maravilhosos serviços aos brasileiros, de norte a sul, de leste a oeste, sintam que, no Congresso Nacional, no Senado da República, a manifestação deles, a inquietação deles está sendo ouvida e está sendo respeitada e considerada. E aqui vai a manifestação do Senado no sentido de que o Governo se mova, de que o Governo se mova para atender aquilo de que eles precisam para voltar a viver, para voltar a exercer a atividade deles com condições mínimas, até porque eles vivem do lucro do frete que fazem. Como vão, eles estão no prejuízo, eles vão decretar falência pessoal: não vão poder pagar a prestação da carreta, não vão poder sustentar a própria família. Vão passar a ter todo tipo de dificuldade, e foi isso que levou ao movimento paredista. O que leva a um movimento dessa magnitude é o quase desespero, que é o que está dominando a categoria dos caminhoneiros, que aqui vão contar com a manifestação de solidariedade do Senado, que V. Exª, com muita propriedade, interpreta e ponteia. Cumprimentos a V. Exª pela iniciativa singular.

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Eu temo, inclusive, Senador José Agripino, pelas instituições. Eu lembro que uma greve prolongada de caminhoneiros no Chile acabou sendo o estopim para a derrubada do Governo Allende. Por quê? Porque o Chile ficou desabastecido, e isso agravou a crise econômica.

 Então, eu temo que vá faltar gasolina, vá faltar comida, que os agricultores tenham uma perda irreparável se essa greve não terminar logo. Por isso eu noticiei aqui que, ao estar com o Ministro Cardozo, da Justiça, eu e o Senador Jorge Viana, recebemos dele a notícia de que aceitava as nossas ponderações e estava articulando uma reunião para hoje à noite, chamando os caminhoneiros para estabelecer uma negociação que ponha fim a esse movimento que nos aterroriza a todos, porque pode ter consequências imprevisíveis.

 Concedo a palavra a V. Exª.

 O Sr. José Medeiros (Bloco Democracia Participativa/PPS - MT) - Senador...

 O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - Senador Luiz Henrique.

 O Sr. José Medeiros (Bloco Democracia Participativa/PPS - MT) - ... a notícia que o senhor traz na sua fala é muito importante, não tenha dúvida. Estamos falando aqui da vida do País, e o que nos deixa pasmos é a dificuldade do Governo em se mexer, porque já faz quase duas semanas que eu, nessa tribuna, falei a respeito desse tema, quando essa greve ainda estava em seu embrião - eu alertei nessa tribuna. Eu disse: Olha, é importante que o Governo preste a atenção nisso, porque tende a se espalhar pelo País, porque o calo que apertava em Mato Grosso aperta o sapato do caminhoneiro no restante do País, a situação é uma só. Mas todo mundo se preocupava só em conversar sobre se o Ministro estava recebendo fulano ou sicrano. O Governo estava preocupado com esse tema, e nós alertávamos aqui que esse movimento iria se espalhar. Pois bem, já se vão duas semanas, esperou-se o País praticamente parar, já estamos com desabastecimento, já estamos com praticamente o caos instalado. E hoje, agora - ainda bem! -, dizem que o Governo começa a abrir o diálogo. E eu, naquele momento, já dizia que o Governo tem arapongas de toda sorte, pagos com bons salários. Não queremos que esses arapongas fiquem “arapongando” movimentos sociais, mas podem, pelo menos, olhar os sites de vez em quando, pegar uma página de jornal, fazer um recorte e chegar para um Ministro desses e falar: “Ministro, olha aqui, lá, no Estado tal, já está começando um movimento grevista em que eles estão pedindo isso e isso”. E aí, o Ministro poderá julgar se essa notícia é relevante para a vida do País ou não. Não precisava nem grampear telefone, não precisava falar nada, bastava mostrar uma página de jornal e dizer: “Lá está acontecendo isso aqui” - para ver se é importante tomar atitude ou não. Agora, duas semanas na vida do País, caminhoneiros parados, rodovias todas já estranguladas. Nós aqui, às vezes, quando falamos, Senador, alguma coisa de cunho mais político, na mesma hora nós já temos o feedback do Governo se defendendo. Assim foi no caso em que o Ministro recebeu os advogados, que nós - e a oposição bem colocou aqui - achamos que não tinha sido uma atitude legal. Tomaram a atitude na hora de ir para os jornais se defender. Isso aqui muita gente falou, mas não se deu atenção. Agora, o senhor muito bem faz esse pronunciamento aqui, porque cabe ao Governo sentar e resolver o problema logo. Do contrário, tende a acontecer isto que o senhor falou: vem o desabastecimento, já esse problema se mistura com outro, daqui a pouco está emendada greve de caminhoneiro com petrolão, com o restante e, aí, vira confusão mesmo. Mas isso aí é o Governo que vai julgar se é importante ou não, porque importante nós já falamos que é. Muito obrigado, Senador.

 O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - Senador Luiz Henrique.

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Obrigado, Senador José Medeiros.

 O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - Senador Luiz Henrique, eu pediria um aparte a V. Exª.

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Pois não, já vou conceder.

 O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - Aqui, Senador.

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Eu só gostaria de assinalar o seguinte: no Mato Grosso, o Governador Pedro Taques, nosso ex-colega, chamou as grandes empresas do setor agropecuário de grãos e operou lá um acordo, estabelecendo que nenhum transporte fosse feito abaixo da tabela. Isso teve um efeito dissuasivo naquele Estado. Eu espero que, nessa reunião de hoje, a imprensa diga a todo o País,...

(Soa a campainha.)

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - ... transmita a todo o País que os empresários do setor agropecuário, os grandes empresários, as grandes empresas - BR Foods, JBS, Bunge e tantas outras - estão dispostas a bancar essa majoração de preço no frete, porque isso já pode ter um efeito de desmobilização.

 Por outro lado, eu espero que dessa reunião saia um programa de ação para que, numa discussão que não termine com os trabalhadores rodoviários, se estabeleça negociação sobre cada um dos temas que estão sendo reivindicados.

 Alguém me pediu um aparte...

 O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - Obrigado.

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Ah! É um grande prazer, Senador Omar Aziz.

 O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - Quem está aqui pela ponta direita...

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Desculpe.

 O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - ... não é visto. Não há como ser visto.

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Não há como não vê-lo, pela sua trajetória política.

 O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - Obrigado. Nos últimos 12 anos é a primeira greve que o Governo está enfrentando que é diferente das outras greves. Até agora, eram greves em que a produção não chegava ao consumidor - são greves que são administradas: você pode passar 10, 20, 30 dias em greve, e o máximo que vai acontecer é depois repor e, pontualmente, afeta-se um setor. Esta greve é diferenciada, porque ela atinge uma cadeia produtiva no País. Ela não é uma greve qualquer. Foi necessária a sua ida e a do Senador Jorge Viana para conversar com o Ministro para que ele pudesse tomar providência. Não, essa aí não. Essa deveria ter sido antecipada, porque o que você vê hoje no País são importantes setores da nossa economia paralisados por falta de insumos, por falta de componentes, porque a greve os está afetando. Isso é de norte a sul e de leste a oeste neste País, isso não está restrito a um segmento, a um setor da sociedade. Então, é muito mais sério do que as pessoas estão colocando quando dizem pura e simplesmente: “Olha, os caminhoneiros pararam”. Não, parou um setor produtivo importantíssimo para a nossa economia, até porque nós não temos ferrovias, as nossas hidrovias não funcionam como deveriam funcionar, e nós dependemos muito das nossas estradas - ainda que seja preciso fazer muito para melhorá-las - para que possamos ter uma cadeia produtiva e gerar empregos. Um país que passa por um momento difícil em que gerar emprego depende do funcionamento da sua logística, da sua infraestrutura e, quando uma logística importante dessa para... Não é uma greve qualquer, não é uma greve... Eu, em princípio, sou contra qualquer tipo de greve. A greve é o extremo que o trabalhador, o servidor, ou alguém usa para reivindicar. E o que nós estamos vendo é algo pior. Esses caminhoneiros foram incentivados a comprar novos caminhões, às vezes mais do que um. E agora, como eles não tiveram o frete necessário no mês de janeiro e fevereiro, não vão conseguir pagar as suas prestações.

(Soa a campainha.)

 O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - Juro sobre juro, isso vai afetá-los e não há frete que vá cobrir. Não é o reajuste pura e simplesmente de cinco, dez ou vinte por cento no frete que vai resolver, até porque, se aumentar o frete, aumenta o consumo final e, aumentando o consumo final, quem paga é o consumidor lá na ponta. Você vai aumentar o frete do suíno para que a indústria de Santa Catarina volte a funcionar. Aumentou o frete do suíno, vai pesar no bolso do consumidor final, do trabalhador. Então, não é uma questão que o Ministro da Justiça... É preciso o senhor e o Senador Jorge Viana irem lá? Não! Nós estamos falando de uma questão de Estado, nós estamos falando sobre a nossa produção! Nós não estamos falando pura e simplesmente: “Ah, parou um setor de servidores do Governo Federal” - e fazem de conta que não está acontecendo nada, passam trinta, sessenta, noventa dias em greve, eles vêm aqui para a porta do Senado, não se resolve absolutamente nada, mas não acontece absolutamente nada com a cadeia produtiva do Brasil. Isso é sério! Isso é sério!. Não é o Ministro Cardozo, é a Ministra da Agricultura, é a Casa Civil, é o Ministro da Justiça...E não adianta ameaçar com multa, porque eles não têm quem multar. Os homens que estão falando hoje pelo Brasil afora são simples trabalhadores que não comandam sindicato, não sabem nem que sindicato existe. Vão multar... E aí aparece no jornal: “Olha, a multa será de R$100 mil por hora”. Isso é brincadeira! Neste momento, o Governo, preocupado com a crise econômica no nosso País que ataca um setor importante da cadeia produtiva, tinha que ter um comitê de crise, e não esperar a noite não. Deveriam sair daqui, agora, pessoas do Ministério da Agricultura, da Casa Civil e do Ministério da Justiça para negociar imediatamente. Vinte e quatro horas é perda de muito serviço, de muito trabalho neste País. Quarenta e oito horas, muito mais! E essa greve não começou ontem, como disse o Senador do Mato Grosso. Essa greve vem sendo anunciada há muito tempo. Já era para ter se antecipado a essa questão. Pessoalmente, sou contra greves. Acho que a greve é o instrumento final. Mas não dá para... Desculpe, a sua iniciativa foi ótima, Senador Luiz Henrique; a iniciativa do Senador Jorge Viana, ótima. Mas não é preciso dois Senadores saírem do Senado para dizerem ao Ministro da Justiça ou para qualquer que seja o Ministro que nós não estamos enfrentando uma greve qualquer. Nós estamos enfrentando uma greve que corta no meio a nossa cadeia produtiva, que gera emprego, como os agronegócios, a agricultura. Uma série de coisas está sendo prejudicada. Por isso, parabenizo a sua iniciativa.

(Soa a campainha.)

 O Sr. Omar Aziz (Bloco Maioria/PSD - AM) - Obrigado pelo aparte, Senador.

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Agradeço a V. Exª, que acrescentou, e muito, ao discurso que venho fazendo ao abordar também o prejuízo para o próprio transportador com a possível inadimplência em relação ao veículo que ele adquiriu para transportar os produtos agropecuários do País.

 Agradeço, Sr. Presidente, a condescendência.

 A Srª Ana Amélia (Bloco Democracia Participativa/PP - RS) - Senador.

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - E volto a fazer um apelo.

 Senadora Ana Amélia.

 A Srª Ana Amélia (Bloco Democracia Participativa/PP - RS) - Eu queria apenas endossar a sua manifestação e também o que disse o Senador Omar Aziz com tanta fundamentação. Isso revela apenas o grau de insatisfação com uma série de problemas que nós estamos vivendo. É preciso haver um critério de emergência e urgência para tratar dessas questões, Senador Luiz Henrique. Eu gostaria de dizer que, em algumas unidades da Federação, como no meu Estado, unidades produtivas correm o risco de paralisar por conta exatamente da greve dos motoristas. Nós entendemos as razões que esta categoria está tendo para justificar a paralisação e as consequências para toda a economia do País, revelando a força do rodoviarismo, a dependência do transporte de carga por rodovia no Brasil. E vejo na manifestação de V. Exª algumas das grandes empresas vinculadas à produção do agronegócio que estão dispostas a aceitar a majoração dos preços. Agora, todo o processo vai sofrer o impacto...

(Soa a campainha.)

 A Srª Ana Amélia (Bloco Democracia Participativa/PP - RS) - ... dessa paralisia, inclusive os donos das transportadoras, porque um caminhão parado é como um avião parado, ele não está rendendo para pagar a prestação junto à revendedora do veículo. Aí vem aquela cascata, a bola de neve com o impacto da paralisação sobre toda a economia. Cumprimento V. Exª, com o desejo de que essa greve mostre a força da categoria e mostre também a gravidade dos problemas econômicos que o País está enfrentando. É preciso para eles emergência, união e competência também, Senador Luiz Henrique.

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Eu agradeço e concluo, Sr. Presidente, dizendo que efetivamente o caminhoneiro é, acima de tudo, um trabalhador paciente, condescendente, persistente, resistente e eficiente. E, se partiu para esse extremo, de forma...

(Interrupção do som.)

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - ... não articulada, sem chefia, sem liderança (Fora do microfone.), é porque vive realmente uma grave situação.

 Concedo a palavra, com muito prazer, ao Senador Blairo Maggi.

 O Sr. Blairo Maggi (Bloco União e Força/PR - MT) - Muito obrigado, Senador Luiz Henrique. Só para cumprimentar V. Exª pelo pronunciamento. Eu estava no meu gabinete acompanhando a sua fala e também de outros colegas que passaram hoje pela tribuna falando sobre esse assunto. Eu mesmo vou ocupar a tribuna daqui a pouco também para falar sobre esse assunto, uma vez que o meu Estado é um dos que mais foram afetados por esse movimento. Então quero cumprimentá-lo, porque sei que Santa Catarina sofre não tanto pela questão dos grãos, mas pela questão do transporte já do alimento pronto para a mesa do brasileiro. E esse é um processo que, se não for estancado urgentemente, em meia dúzia de dias, no máximo, mais três ou quatro dias, começa o desabastecimento nos supermercados de gêneros alimentícios. Então, a situação é grave, gravíssima, eu diria, e precisam Governo e os demais elos dessa cadeia sentar para chegar a um consenso. Mais tarde eu usarei da tribuna e farei então um pronunciamento sobre esse assunto. Muito obrigado, Sr. Presidente.

 O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Senador Blairo Maggi, serão, lá em Santa Catarina, no Paraná, no Rio Grande do Sul e mesmo no seu Estado, milhares de frangos e suínos que terão que ser abatidos e enterrados. Isso pode gerar uma grave crise sanitária para este País. Este assunto é da maior gravidade! É preciso rapidez na negociação para que essa greve termine.

 Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/02/2015 - Página 376