Discurso durante a 22ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a gravidade da cheia que atinge o Estado do Acre.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE:
  • Preocupação com a gravidade da cheia que atinge o Estado do Acre.
Publicação
Publicação no DSF de 05/03/2015 - Página 207
Assunto
Outros > CALAMIDADE
Indexação
  • REGISTRO, APREENSÃO, RELAÇÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, LOCAL, ESTADO DO ACRE (AC), MOTIVO, INUNDAÇÃO, CIDADE, RIO BRANCO (AC), XAPURI (AC), BRASILEIA (AC), TARAUACA (AC), EXCESSO, VOLUME, AGUA, RIO ACRE, EFEITO, PREJUIZO, SERVIÇOS PUBLICOS, ENFASE, SAUDE, EDUCAÇÃO, TRANSPORTE, DEFESA, NECESSIDADE, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Eu queria agradecer aos colegas Senadores e dizer que é com tristeza que eu ocupo a tribuna do Senado hoje para dar este relato, que é um relato que eu não queria fazer: é um relato de sofrimento, de perda, de prejuízo, que a população de Rio Branco vem enfrentando há alguns dias e que se intensificou no dia de hoje.

            Eu acabei de chegar do Acre. Eu estive lá no fim de semana, peguei um voo, vim cedo aqui e busquei um contato com o Palácio do Planalto. A Presidenta Dilma me recebeu, o Chefe da Casa Civil, Ministro Aloizio Mercadante, me recebeu. E a Presidenta Dilma, numa conversa pessoal, no seu gabinete, procurou se informar da situação do Acre; imediatamente, ligou para a Presidente da Caixa Econômica Federal, para o Ministro Gilberto Kassab, para o Ministro Gilberto Occhi; e determinou que o Governo se fizesse presente no Acre.

            O Ministro Occhi tinha estado comigo, com os colegas do Senado, o Gladson, o Petecão, com a Bancada Federal, com o Coordenador Angelim, com vários colegas Deputados, com o Líder Sibá Machado e outros, sexta-feira, em Rio Branco. Fomos visitar Brasileia - Brasileia estava vivendo uma situação de calamidade pública -, Xapuri, Epitaciolândia, uma situação de emergência. E Rio Branco ainda vivia, na sexta-feira passada, uma situação de emergência, com decreto do Prefeito Marcus Alexandre, reconhecido, inclusive, pela Defesa Civil nacional. O Governador Tião Viana procurava socorrer Assis Brasil, Brasileia, Epitaciolândia, Tarauacá, todos os Municípios atingidos. Nós que estávamos em Rio Branco, já com muita preocupação, sentimos, vimos, vivenciamos uma situação que é quase inacreditável que é o Rio Acre atingir o nível e a cota que atingiu.

            A maior cheia de que se tinha notícia até o início dos anos 90 foi a cheia de 1988. Tínhamos o Governador Flaviano Melo à frente do Estado, e a cota foi 17,12m. Essa cheia do ano de 1988 chocou o povo do Acre: 17,12m. Para não me alongar, o Rio Acre está hoje quase 1,5m acima dessa cheia que chocou o Brasil. Um metro e meio acima! A maior cheia de que se tinha notícia, depois dessa de 1988, foi a cheia de 1997. Tínhamos na Prefeitura de Rio Branco o Prefeito Mauri Sérgio e tínhamos à frente do Governo do Acre o ex-Governador Orleir Cameli. O certo é que, naquela cheia, o Rio Acre alcançou 17,66m. De fato, foi chocante. Ela superou em quase meio metro a outra cheia. Em uma cidade que tem 132 anos de existência, Presidente Paim, buscando os mais antigos e os registros, nós nunca tivemos nada parecido. Agora, o Rio Acre, surpreendentemente, em 48 horas, alcança 18,40m, uma cota inimaginável.

            Eu conversei com o Governador Tião Viana. Hoje, participei de audiência com o Ministro Occhi, com empresários, com representantes de instituições, junto com o Prefeito Marcus Alexandre, com o Governador Tião Viana e com toda a Defesa Civil. Inclusive, o Secretário Nacional de Defesa Civil está há dois dias em Rio Branco - amanhã completa o terceiro dia -, junto com o Ministro Occhi, o Ministro da Integração, que foram a pedido da Presidenta Dilma. E estamos com 130 mil pessoas atingidas. Só em Rio Branco, são 55 bairros. Rio Branco está chegando a 100 mil pessoas atingidas.

            Eu estou aqui com algumas fotografias. A imprensa toda tem feito uma cobertura, mas eu acho que agora é que eles poderão passar a dimensão do que estamos vivendo. Se for possível mostrar, isto aqui é uma parte da cidade de Rio Branco: não há nenhuma rua que não esteja alagada. Aqui, há outra cena também muito triste: outra região da cidade completamente tomada pelas águas.

            Nenhum serviço público está funcionando, nenhuma escola, nenhum posto de saúde, e as pessoas estão desabrigadas. Boa parte da população foi para casa de parentes, porque a cheia atinge 40% da cidade. Uma parcela, aquela mais necessitada, aquela que tem menos, aquela que pode menos, aquela que sofre mais, Senador Paim, que é motivação da nossa luta política, está tendo que se resumir a morar em um abrigo de 2x3. Nós o visitamos com o Ministro. É um abrigo muito organizado pelo Prefeito Marcus Alexandre, pelo Governador Tião Viana, com toda uma equipe de voluntários - são mais de 1,5 mil voluntários trabalhando. Mas é de cortar o coração! Nesse abrigo, só no Parque de Exposição, são quase 2 mil casinhas como esta, um biombo de 2x3, onde há uma cama, alguns colchões, onde ficam seis, sete pessoas ali durante a noite, inclusive crianças.

            As imagens são de muita tristeza. São imagens como esta que mostram bem o drama: a casa completamente coberta. Isto na capital de nosso Estado, depois do drama de Brasileia, de Xapuri. Vejam aqui: não deu tempo de tirar o carro, que está completamente submerso, a casa submersa. Perto de 40% da cidade de Rio Branco estão sem energia. E o abastecimento de água está correndo sério risco - sério risco! - de mais 10 cm... E eu espero que não aconteça, porque o Governador Tião Viana, com sua equipe, liderada pelo Edvaldo Magalhães - eu conversava com ele -, conseguiu um milagre de fazer com que houvesse mais 18cm para que se desligue completamente o sistema de abastecimento da capital.

            Vejam a altura de orelhão, de carro, a situação que a gente vive.

            Eu venho à tribuna do Senado Federal e, amanhã, vou voltar para o Acre, porque cada um pode ajudar naquilo que lhe cabe. Já fui Prefeito, fui Governador, mas estou procurando fazer esse contato com o Governo Federal, ajudando a dar as condições para que o Governador Tião Viana e o Prefeito Marcus Alexandre possam coordenar esse trabalho.

            Ontem, saiu do controle. Eu conheço bem o Prefeito Marcus Alexandre, trabalhamos sempre muito juntos, mas eu o vi abatido, porque ele, que organizou tão bem o acolhimento das famílias, com o apoio do Governador Tião Viana, agora sabe que as águas subiram tanto que estão atingindo áreas enormes da cidade aonde nunca ninguém pensou que a água chegaria. E, ali, não há como chegar e tirar mais ninguém; não há ruas para transitar. Então, é uma situação muito difícil.

            E digo da tribuna, como dei entrevista ontem: graças a Deus, diante dessa tragédia toda, que o Acre tenha um Governador como o Tião - colega seu aqui, Paim, durante 12 anos no Senado. Graças a Deus que, neste momento de extremíssima dificuldade, tenhamos um Prefeito como Marcus Alexandre, Prefeito de Rio Branco. Eles estão incansáveis: o Tião não dorme três horas por noite; o Prefeito Marcus Alexandre, a mesma coisa, estando como zumbis, tentando socorrer a todos, tentando ajudar em tudo.

            Eu queria, aqui, fazer um registro de que a Presidenta Dilma cumpre um papel importante de ajudar, mas eu pedi uma ligação para ela. E, agora, ainda há pouco, estava o Chefe da Casa Civil me retornando. Eu devo falar com ela, de novo, de hoje para amanhã; ela me pediu que lhe desse um relato. Vim aqui para ajudar. Então, tenho que falar com quem mais pode.

            Nós não temos condição de calcular o tamanho do prejuízo que o Acre vai enfrentar e que as Prefeituras de Rio Branco, de Brasileia, de Xapuri, de Tarauacá e de Epitaciolândia vão enfrentar. Nós vamos ver uma situação de absoluta impossibilidade de existir alguma normalidade nos próximos dois anos. Porém, se as Prefeituras e o Governo vão viver um drama, um gravíssimo cenário, imaginem as famílias atingidas!

            Senador Paim, eu estava andando no Parque de Exposição, onde fica a maior parte dos abrigos - são 23 abrigos hoje; há dois dias, havia três abrigos; agora são 23. Igrejas, organizações empresariais da sociedade, todos estão se mobilizando e fazendo o acolhimento, já sem uma orientação direta da Prefeitura, no voluntarismo, porque não há mais controle da situação. Andando e visitando abrigos, com o Ministro Gilberto Occhi, o Prefeito Marcus Alexandre e o Governador Tião Viana, as pessoas se abraçam a você chorando e procurando mostrar o que sobrou da violência das águas do Rio Acre. Então, é uma situação muito triste, muito grave.

            E eu diria: Sr. Luciano Coutinho, Presidente do BNDES, Sr. Presidente do Banco do Brasil, Srª Presidenta da Caixa Econômica, Sr. Ministro da Fazenda, Sr. Ministro do Planejamento, os senhores e as senhoras precisam trabalhar um plano diferenciado, que leve em conta a calamidade que o Acre vive. O comércio acriano na capital, onde vive a metade da população do Acre, não vai ter condição de seguir com a mínima normalidade se nós seguirmos procurando cobrar os impostos como cobrávamos, se nós seguirmos procurando cobrar as prestações como cobrávamos, porque agora é hora de nós criarmos um ambiente que permita a reconstrução da cidade de Rio Branco, da sua economia, dos seus serviços públicos e da vida das pessoas e das famílias. Então, é muito importante.

            Saindo da tribuna, eu vou falar com o Ministro Chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e pretendo, de hoje para amanhã, falar com a Presidenta Dilma novamente - ela me pediu: “Jorge, assim que voltar, me relate o que está ocorrendo” -, para que criemos as condições para o Governador Tião Viana e o Prefeito Marcus Alexandre e para a população poder sentir que está tendo apoio para recomeçar a vida.

            Certamente, amanhã, esse rio vai baixar. Aí o problema vai se agravar, porque vai haver uma cidade destruída - uma parte dela destruída - e o mais grave: a vida de muitas famílias, também, destruída. Imaginem uma cidade em que as pessoas não têm o direito de ir e vir, pois não têm serviço de transporte; não se pode usar das ruas; das pontes que foram feitas, a única que está funcionando é uma ponte que eu fiz, quando Governador, no anel viário; a energia desligada; o esgoto não funcionando mais; e a gente numa situação em que não há controle nenhum, porque é a força da natureza.

            Então, é pedir a Deus que dê força ao povo do Acre. Estamos também pedindo a Deus que cessem as chuvas, que diminuam as chuvas para que o rio possa perder força e que possamos juntar todo o esforço necessário e possível para trabalhar juntos, solidariamente, com as autoridades federais, estaduais e municipais neste momento de tanto sofrimento.

            O Acre, Presidente Paim, já superou grandes desafios, já enfrentou gravíssimos problemas, mas posso afirmar que a cidade de Rio Branco nunca viu um desafio tão grande como esse. Eu confio e tenho fé em Deus de que haveremos de reunir as forças, as condições necessárias para superarmos mais esse, mas estamos aqui pedindo ajuda.

            Eu vim à tribuna para compartilhar com o Senado Federal, dizer que nós do Acre estamos unidos para enfrentar este momento, mas precisamos de ajuda. E a ajuda maior que nós podemos ter é a do Governo Federal. A Presidenta ofereceu essa ajuda. Não pode haver burocracia no meio do caminho. Não dá tempo. Não dá tempo de ficar querendo levar em conta situações que não podem ser levadas em conta numa dificuldade como essa.

            Nesta semana ainda, o Governador Tião Viana pretende entregar 900 casas que estão prontas - está lá o Ministro Occhi -, e estavam querendo burocratizar um processo de entrega de casas construídas pelo Governo dentro do Programa Minha Casa, Minha Vida. A Presidenta Dilma pediu que desburocratize, que faça a entrega. Vamos tirar 600 famílias dos abrigos, porque essas casas são exatamente para essas famílias - consequência da cheia de 2012 - que vivem em áreas de risco e áreas alagadas.

            Então, a minha posição, aqui na tribuna, é de que se mude completamente a ação das instituições financeiras, que possamos ter uma ação de todo o Governo Federal, de acolhimento, de socorro ao Prefeito Marcus Alexandre, ao Governador Tião Viana. E devo cumprimentar os colegas da Bancada federal, porque estão todos - ninguém está procurando tirar proveito numa hora dessa - procurando, à sua maneira, ajudar. E eu, como ex-prefeito e ex-governador, sinto-me na obrigação de ajudar ainda mais.

            Então, vou estar aqui em Brasília, hoje e amanhã, procurando encaminhar algumas questões que acertei com o Prefeito Marcus Alexandre e com o Governador Tião Viana e, amanhã à noite, volto para estar no Acre, porque, além desse trabalho que eu possa fazer como Vice-Presidente do Senado e como Senador, eu quero estar junto nesse momento de sofrimento e dor do povo, porque para muitos não resta outra coisa nesse momento a não ser a solidariedade. Se o povo sente que não está sozinho, ele tem força de enfrentar e vencer as dificuldades que a natureza, essa cheia do Rio Acre nos põe.

            Eu estou fazendo postagens, na minha fan page, que funciona como um jornal informativo, do nível do rio, do que está ocorrendo na cidade. Há postagens que são vistas por 250 mil pessoas, por 150 mil pessoas; todo mundo está atento.

            Eu quero agradecer essa rede de solidariedade que está acontecendo no Brasil, dizer que existem contas bancárias - há o Acre Solidário - e que todos podem ajudar. Nós já ajudamos tanto quando outros enfrentavam dificuldades e, nesse momento, somos nós que estamos precisando de ajuda. Tomara que, com essa solidariedade, com o apoio necessário da Presidenta Dilma, a gente consiga vencer esse desafio, que é muito maior do que as forças do Prefeito de Rio Branco e do Governador Tião Viana, que têm se dedicado tanto.

            Então, fica aqui esse relato, Senador Paim. Queira Deus que amanhã eu possa estar aqui na tribuna, na sessão, não só presidindo, mas, quem sabe, trazendo o informe de que as águas começaram a baixar e que o sofrimento começa a diminuir.

            Mas, por enquanto, o que eu tenho a informar é que a situação do Acre se agravou muito, que está fora do controle - apesar de estar em normalidade -, e que, se o rio seguir subindo, nós vamos ter que adotar medidas extremas, até desocupar parte da cidade de Rio Branco definitivamente. Mas eu prefiro não pensar nessas possibilidades e apenas, aqui, agradecer a todos que estão ajudando e dizer que nós vamos, sim, ter forças, se Deus quiser, para vencer esse momento de extremíssima dificuldade, de absoluta calamidade pública que a cidade de Rio Branco, capital do Acre vive.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/03/2015 - Página 207