Discurso durante a 28ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Insatisfação com o financiamento empresarial de campanhas políticas; e outros assuntos.

Autor
José Medeiros (PPS - CIDADANIA/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES, PARTIDO POLITICO. CIDADANIA.:
  • Insatisfação com o financiamento empresarial de campanhas políticas; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 14/03/2015 - Página 23
Assunto
Outros > ELEIÇÕES, PARTIDO POLITICO. CIDADANIA.
Indexação
  • ELOGIO, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, MINISTERIO PUBLICO FEDERAL, COMBATE, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), GOVERNO FEDERAL, APRESENTAÇÃO, PROPOSTA, REDUÇÃO, PROBLEMA, EXTINÇÃO, REELEIÇÃO, FINANCIAMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, EMPRESA PRIVADA.
  • APOIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, OBJETIVO, COMBATE, CORRUPÇÃO, POLITICA NACIONAL, ENFASE, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), GOVERNO FEDERAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, PRONUNCIAMENTO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, INCITAMENTO, VIOLENCIA, MOVIMENTAÇÃO, TRABALHADOR, SEM-TERRA.

            O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, amigos que nos acompanham pela TV Senado, que nos ouvem pela Rádio Senado e que nos acompanham pelas redes sociais, tal como ocorreu no mensalão, revivemos, hoje, ante o escândalo da Petrobras, mais um exemplo do quão devastador pode ser para o País o fato de permitirmos que se estimule a manutenção desse ambiente tão propício à corrupção. No meu entendimento, para muito além de intensificar as investigações de identificar e punir culpados, é indispensável que instituamos mecanismos preventivos com medidas eficazes para coibir a proliferação de tanta improbidade. Estou convencido de que um desses mecanismos reside na adoção de um modelo diferente de financiamento de campanha.

            Recentemente, o nosso Bloco, que é composto pelo PSOL, pelo PCdoB, pelo PSB e pelo PPS, decidiu entrar de cabeça na discussão da reforma política. E, entre as sugestões, está o fim da reeleição e está também a defesa do fim do financiamento de campanhas por parte de empresas jurídicas.

            Hoje em dia, ser tesoureiro de partido político, Sr. Presidente, constitui, na verdade, uma atividade de risco. O tesoureiro de um partido, na verdade, é um preso em potencial. As possibilidades de desvio de conduta, em meio à lógica já subvertida de uma estrutura viciada, sobretudo pela flexibilidade das brechas legais e pela contumácia da tolerância para contradições arraigadas em comprometimentos espúrios, demonstra a inevitável falência do atual sistema de captação de recursos para disputas eleitorais.

            Na verdade, o financiamento de campanha é uma caixa-preta que precisa ser aberta, destruída, e deve-se começar do zero. As campanhas se parecem, cada dia mais, com um roteiro de filme de Hollywood.

            Parecem trailers de filmes: câmeras com movimentações dignas de grandes cineastas, recursos visuais, e a grande verdade é que isso custa. E custa muito. Qualquer pequeno filme hoje está na ordem de 4 ou 5 milhões, e as campanhas já se aproximam disso. Hoje, a preocupação de uma campanha é a produtora, são os recursos visuais, a parte de mídia, a parte de marketing, que é nociva, não só do ponto de vista do custo e do que isso advém, mas também do ponto de vista de que os candidatos se tornaram atores.

            Hoje, a Presidente Dilma colhe o desgaste de ter sido dirigida por diretores, por cineastas, por marqueteiros que criaram um Brasil ideal. Hoje, ela paga pelo que vendeu. O País está cobrando a fatura, porque as pessoas compraram aquilo.

            Há poucos dias, postei no Twitter que não vejo que a Presidente Dilma enganou. Não vejo. Sou contrário a essa discussão de impeachment, porque ninguém votou enganado. O PT estava, há 12 anos, no poder. Todo mundo sabia e sabe de cor o discurso. Agora, veio um programa eleitoral benfeito, bem produzido e caro, mas a discussão também não é essa. Estamos a falar justamente desse escândalo que ora incomoda o País.

            O relacionamento promíscuo entre empresas doadoras e a classe política corrupta pode ser evitado por meio de um novo sistema que estabeleça o financiamento público exclusivo, ou que, no mínimo, limite drasticamente a arrecadação, permitindo apenas quando proveniente de pessoas físicas e impondo um teto para as doações, além de assegurar absoluta transparência na prestação de contas. Urge que empresas não possam mais doar para receber em troca vantagens futuras. A gente tem que entender que não existe almoço grátis. Se o cidadão tem uma construtora ou se ele tem qualquer outra empresa, e ele doa, ele vai querer receber.

            Urge reduzir a influência do poder econômico no resultado das eleições. Urge tornar as campanhas mais simples e mais baratas. Acredito que tal urgência deva sobrepor-se a todas as outras, no contexto das reformas que o Brasil reclama ante a crescente sangria desatada que diariamente irriga inconfessáveis interesses e drena bilhões dos nossos cofres.

            Há pouco, estava aqui, na tribuna, o Senador Cássio Cunha Lima, que levantou um tema até interessante: nós já temos a moeda “barusco”: um barusco, dois baruscos, três baruscos.

            Realmente, foi impactante e assustadora a forma como foi colocado o assunto ali, na CPI da Petrobras, por esse senhor. No momento em que ele falava, não conseguíamos nem imaginar aquelas somas vultosas, vertendo da principal empresa brasileira.

            Nesse tempo inteiro, desde pequeno, ouço que o petróleo é nosso e, depois, posteriormente, que a Petrobras é nossa. E fica aqui uma pergunta: “Nossa”, de quem, cara pálida? “Nossa”, de quem? Do Barusco, do Sr. Paulo Roberto Costa, de um partido político? A Petrobras, por 60 anos, foi uma empresa sólida, uma empresa que deu orgulho nacional, mas a grande verdade é que o brasileiro, hoje, vê o Sr. Barusco falando na TV, vê a lista do Procurador, Sr. Janot, e acho que fica se perguntando: “Petrobras, nossa?”

            A Petrobras é nossa, mas, quando o brasileiro atravessa a fronteira, compra gasolina no posto com a bandeira da Petrobras por metade do preço, por metade do que paga aqui, no Brasil.

            Recentemente, foi cantado em verso e prosa que tínhamos conseguido autonomia em petróleo. Recentemente, regozijamo-nos com a descoberta do pré-sal, tecnologia nossa. Eu compararia, proporcionalmente, o pré-sal ao Pró-Álcool. Lá atrás, quando houve a crise do petróleo, o Brasil descobriu uma nova tecnologia; ficamos protegidos da crise, porque tínhamos descoberto um novo produto.

            O Brasil tem sido ator energético importante no cenário internacional. É por isso que nos preocupa essa crise da Petrobras. Essa crise não é só da empresa Petrobras. Essa crise afeta o interesse nacional. Não se engane: aqui, não se está falando só de uma polarização entre PSDB e PT, não se está falando só em quem é contra o Governo Dilma ou a favor do Governo Dilma. Essa crise é para refletirmos.

            A crise da Petrobras é maior do que as dificuldades da empresa, ela passa um pouco pela soberania nacional também.

            Não pensemos nós que essa crise não está sendo vista com interesses, os mais diversos possíveis, por países, por especuladores. Agora mesmo já sabemos que as ações ordinárias da Petrobras caíram cerca de 60%. Interessa a quem isso? O Brasil fraco energeticamente interessa a quem? E essa crise serve para refletirmos, refletirmos principalmente - eu não diria manobra - numa compra de ações.

            Existe um investidor que todos no mercado financeiro conhecem, alguém que já foi designado como “o grande acabador de países” - esse foi o termo na época colocado, porque ele especulava no momento da outra crise que houve, há uns 10 anos. George Soros era conhecido como o especulador que atacava economias, e os países tinham pavor dele, porque ele é um hábil negociador do mercado financeiro. No entanto, passaram quase despercebidas as grandes compras que esse investidor fez de ações da Petrobras. Vejam bem: por que um experiente homem do mercado financeiro, um experiente negociador, compraria as ações da Petrobras? Está comprando justamente porque a Petrobras é uma empresa de excelência, é uma empresa de ponta, e é uma empresa que tem jeito.

            Precisamos avançar da retórica política para começar a pensar nos interesses nacionais - governo, oposição e todos nós -, no sentido de podermos ver o patrimônio que temos e de que essa empresa pode começar a ser a Petrobras dos brasileiros, não a Petrobras do PT, não a Petrobras do Barusco, do Paulo Costa ou de quem quer que seja.

            E hoje, se essa crise está instalada, foi por falta de habilidade, porque, como nós vimos aqui a Srª Venina denunciar ao País, ela várias vezes tentou alertar e, em vez de investigarem o que ela dizia, mandaram-na para a Tailândia, ou para Singapura. Isso nos faz pensar que não estavam preocupados com a Petrobras brasileira.

            O certo é que veio a investigação e, no jargão policial, a casa caiu. 

            A casa caiu, mas dá para comemorar como Oposição? Não, não dá para comemorar.

            Neste momento, nós precisamos é nos preocupar com algumas coisas. Primeiro, com a imagem da Petrobras, porque a cada dia ela se torna... O mercado vive de especulação e, quanto mais se ataca a imagem da Petrobras, menores ficam os valores de suas ações. Eu creio que, neste momento, o Governo brasileiro tem uma responsabilidade imensa, até porque foi este Governo que criou esse imbróglio todo - se não criou, pelo menos é responsável.

            Não sou especialista em mercado financeiro, não sou um homem do mercado, mas, se as ações estão em baixa, que o Tesouro possa agir. Assim como já houve salvamento dos bancos, do mercado financeiro e de diversos setores, que possa haver um plano B, um plano de salvação para a Petrobras. Que o Tesouro possa, já que as ações estão em baixa, recomprar essas ações. Vamos começar um plano de tornar a Petrobras, realmente, uma empresa do Brasil, uma empresa brasileira, para que o brasileiro possa bater no peito e dizer: “A Petrobras é nossa.”

            Que a Petrobras não seja mais usada para manter projetos políticos. Precisamos, inclusive, blindá-la contra isso, porque todos que entendem do setor dizem que, se o preço do combustível não tivesse sido artificialmente mantido, a empresa estaria em melhores condições. Hoje, inclusive, seria possível falar em combustível com menor preço.

            Sr. Presidente, como eu havia falado: a quem interessa um Brasil energeticamente pobre? Nós competimos, no cenário internacional, com países poderosíssimos. V. Exª mesmo fez um discurso ontem sobre o nosso Estado, que é exportador de commodities e que padece, imensamente, por falta de infraestrutura logística. V. Exª está há quase 30 anos batendo na mesma tecla: que nós precisamos ser competitivos. E precisamos, mas nós competimos com países que têm boa infraestrutura.

            Vou citar como exemplo os Estados Unidos, que são ponta em termos de infraestrutura, são ponta em termos de hidrovias, em termos de ferrovias, de rodovias, dos mais diversos tipos de logística, e são nossos concorrentes diretos na exportação de commodities. E nós temos uma dificuldade imensa em focar nesse setor.

            O Estado do Mato Grosso, por exemplo, tem só uma rodovia praticamente, um grande corredor. Temos duas rodovias principais - BR-364 e BR-163, que em determinado ponto se sobrepõem e criam uma cintura no País - e alguns pedaços de rodovias, é isso o que temos para competir com países que têm uma verdadeira teia de aranha em termos de infraestrutura.

            Então nós ficamos nesse cenário em que não temos infraestrutura, com a nossa logística arrebentada, o nosso setor energético dependendo de políticas que têm começo, às vezes chegam ao meio, mas não têm fim. Não temos um plano nacional que determine para onde este País está indo em termos de energia. Aí fazemos descobertas com tecnologia brasileira, começamos a tirar petróleo em águas profundas, descobrimos o pré-sal, descobrimos como tirar energia, como criar petróleo a partir de recursos vegetais como o álcool, mas não há continuidade. Começamos um programa de gás, e ele para no meio do caminho. E agora nós temos uma Petrobras que, além de ser uma empresa de petróleo, faz o papel de agência e faz papéis os mais diversos possíveis. Não existe um foco, porque a Petrobras acaba cuidando de gás, de biodiesel, de álcool, dos combustíveis fósseis - cuida até de setores que têm interesses conflitantes entre si.

            E fica a pergunta: para onde nós vamos? Na verdade, precisamos de um rumo, de um projeto energético para que possamos ser atores principais no cenário internacional, para que o Brasil possa evoluir de coadjuvante para protagonista.

            Sr. Presidente, no meio desse imbróglio todo, dessa confusão toda criada por falta de planos, de planejamento em relação a coisas que mudam, surge esse cenário da Lava Jato. Todos lamentamos, mas também é uma oportunidade, porque toda crise gera uma oportunidade. Infelizmente, vemos a Presidente Dilma perder uma oportunidade atrás da outra, mas temos que ter em mente - o Senado Federal, a Câmara Federal, o Legislativo brasileiro e todas as instituições, todos os brasileiros - que os nossos adversários, os nossos concorrentes no cenário internacional não perdem tempo.

            Assim foi na história. Não queremos demonizar países, mas vou citar os Estados Unidos novamente, que é hoje nosso concorrente. Quando digo “não demonizar” é porque não temos preconceito, creio que temos que ter o nosso vizinho mais rico como parceiro. Não se pode colocar ideologia na questão, como fazem alguns países vizinhos, demonizar os norte-americanos e, assim, prejudicar o País. Eles são a principal economia. Queremos negociar com os norte-americanos, mas temos que ter em mente que são nossos concorrentes e vão defender, em princípio, o modelo e o estilo de vida norte-americano - e estão corretos nisso. Agora, temos que ter em mente que precisamos proteger o que é nosso. Precisamos, sob pena de não sobreviver, saber que os interesses externos estão aqui e não nos são favoráveis.

            Agora mesmo estávamos falando - sem querer sair do assunto - sobre a greve dos caminhoneiros. O Senador Blairo Maggi fez um discurso aqui dizendo que o País tinha que se preocupar com isso, porque uma greve de caminhoneiros já derrubou um país. Eu me lembro, a história está aí para dizer, que a greve de caminhoneiros da década de 70 que derrubou Salvador Allende - a história conta, não sou eu que estou dizendo - foi patrocinada pela CIA, foi patrocinada pelos Estados Unidos. O governo não percebeu e deixou a greve fluir. Ela começou a travar todos os setores e culminou com o golpe violento de Pinochet.

            Não quero fazer julgamento aqui - era um momento político, os norte-americanos tinham seus interesses -, o que quero colocar é que nós não podemos nos dar ao luxo de errar tanto com uma coisa tão importante, com nossos assuntos tão importantes, porque os outros países estão aí competindo.

            Nós fazemos parte dos BRICS, bloco econômico composto por Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul, e vejo que começamos a perder frente a esses países. Estamos perdendo do ponto de vista energético, estamos perdendo em termos de educação.

            Agora há pouco falava com o Senador Cristovam Buarque, Senador Wellington Fagundes, que a Índia já exporta serviços para diversos países, e serviços com qualidade. O imposto de renda de boa parte dos norte-americanos é feito por contadores da Índia; boa parte das empresas seguradoras norte-americanas terceiriza os serviços de call centers para profissionais na Índia. E fica a pergunta: e nós? Bom, nós estamos exportando commodities. As poucas ilhas de excelência de alta tecnologia, nós estamos negligenciando, como é o caso da Petrobras.

            E nós temos potencial. A indignação fica porque nós temos potencial para fazer. Por exemplo, nós tínhamos a Engesa. Quem aqui não se lembra da Engesa, que fabricava tanques de guerra, que fabricava tratores de alta tecnologia? Sucateamos. Agora parece que está em curso o sucateamento da Petrobras.

            Recentemente, a Aeronáutica, através da Embraer - projeto nosso, projeto brasileiro, Senador Wellington -, fabricou um dos aviões mais modernos do mundo, cujo vôo inaugural foi há cerca de duas semanas. Tecnologia nossa.

            Como podemos ser competentes? Temos know-how, e por que não fazemos? Precisamos usar essa crise para refletir sobre isso. Nós temos capacidade, temos um clima favorável, temos um imenso país. Podemos ser protagonistas.

            Eu fico preocupado e me lembro do pensador, Senador Wellington: quem se comporta como verme não pode reclamar quando é pisado. E nós não podemos nos comportar como rastejantes nesse cenário internacional, porque temos potencial.

            O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Senador Medeiros, gostaria de aparteá-lo em relação a esse aspecto. V. Exª aborda vários assuntos, mas principalmente o da dependência brasileira. Eu acho que é importante essa análise tanto de parte da situação como da oposição.

            Há pouco, ouvimos outros pronunciamentos, em que Senadores da oposição já se dizem preocupados com a crise, mas buscam entendê-la. V. Exª aborda assuntos importantes em relação a esse aspecto, com o que já aconteceu no passado. Por exemplos, na década de 1950, os Estados Unidos tiveram uma superprodução de trigo. Naquela época, o Brasil não consumia trigo, consumia basicamente milho, para fazer broa de milho, que era o que sabíamos produzir, costume oriundo dos indígenas. Na época, os Estados Unidos começaram a exportar o trigo. Veio uma aliança para a renovação e o Brasil mudou seus costumes. Ainda hoje, o Brasil é um grande importador de trigo. Ou seja, mudamos nossos hábitos alimentares e passamos a ter total independência, sem precisar importar um produto que faz parte da atual cesta básica brasileira. Quando se fala em inflação, a primeira preocupação do brasileiro é com o pãozinho de todos os dias.

            Então, não só no que se refere à questão estratégica da comunicação, da espionagem, mas com relação a tudo o que existe reinando no mundo. Agora, é claro, nós não podemos, como V. Exª afirmou, deixar de ter as nossas relações internacionais. Também não podemos discriminar, é claro. Nosso maior parceiro ainda são os Estados Unidos, o maior importador e exportador do mundo. Há pouco tempo, os Estados Unidos passaram por uma grande crise, e hoje estão se restabelecendo em razão da sua inteligência, da força econômica e estratégica. Mas também em relação à Europa e à Ásia, para onde também exportamos, principalmente nossas commodities do Centro-Oeste.

            Claro que queremos agregar valores. Ontem, fazíamos aqui um debate, e eu enalteci a inauguração, no Rio de Janeiro, do Porto do Futuro, um investimento de R$1,8 bilhão, que vai fazer com que o Brasil tenha maior capacidade de estruturação na sua importação e exportação, diminuindo o custo Brasil.

            Então, quero aqui parabenizá-lo, pois V. Exª, como Parlamentar de oposição, expressa também essa preocupação estratégica de o País saber que esta crise não pode ser uma crise para prejudicar ainda mais o País e principalmente a nossa população. Temos que ter maturidade, oposição e situação, a fim de encontrar o caminho.

            Lá no Rio de Janeiro, a Presidente Dilma fez um discurso em que sinaliza que precisa conversar com a oposição. Realmente, todos cobram humildade e bom senso do Governo de admitir alguns erros. É claro, é óbvio que erros acontecerão e sempre acontecerão. Por isso a negociação, como V. Exª busca. Chamar o Governo para um entendimento político é fundamental. Isso mostra a maturidade tanto de V. Exª como de outros Senadores que aqui já falaram.

            O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Senador Wellington, muito obrigado pelo aparte.

            Creio que, sem jogar confete, V. Exª, como parceiro, viajou ontem com a Presidente Dilma e tem muito a contribuir nesse processo. V. Exª, na sua trajetória política, sempre passou isso e deixou essa lição. Eu já vi V. Exª perder uma eleição no domingo e na segunda-feira se reunir com o vencedor e se propor a ser um parceiro da administração. Precisamos disso neste Governo.

            Lembro-me que Ulysses Guimarães disse certa vez: “Política não se faz com emoção”. Até porque nossos mandatos não são a extensão das nossas vontades, dos nossos desejos ou das nossas raivas. Nós estamos aqui representando os Estados, nós estamos aqui representando o País.

            A população que domingo vai para as ruas está indo justamente porque ficou frustrada com ações de seus representantes. E ações como a de não querer conversar, de se isolar. Porque, na verdade, a grande verdade é que ninguém detém a verdade. A grande verdade é que, no momento em que você tem a responsabilidade de comandar um país deste tamanho, um país com tal importância no cenário internacional, você precisa da situação, da oposição, dos independentes e de todo o mundo, para conseguir fazer frente às demandas, que são inúmeras, nós sabemos.

            Estamos no momento em que se diz, à boca pequena, que o País está à beira de uma quebradeira, que está em dificuldades financeiras e por vários motivos. Agora, cabe a nós fazer o quê?

            O Senador Cristovam perguntou: “Qual é o caminho?”. Esqueçam a polarização. Vamos esquecer os partidos, vamos esquecer as correntes. O que estas pessoas, que estão aqui colocadas pelo povo brasileiro, vão fazer?

            Ontem alguém disse aqui desta tribuna: “Não se enganem, a manifestação de domingo não é contra a Presidente Dilma, não é contra o PT, é contra a classe política”. E eu até digo: o político que tiver a coragem de ir até lá corre sério risco de ser enxotado, porque a indignação é contra tudo que aconteceu.

            Vou citar aqui o comediante Rafinha Bastos, Senador Wellington Fagundes. Sobre as manifestações de junho de 2013, ele disse certa vez, definindo as manifestações, porque ninguém entendia muito bem o que estava acontecendo. Perguntado, ele disse que ia comparar essa população que estava na rua com aquela esposinha que se casou novinha. Todo dia o marido chegava em casa, ela colocava o chinelo e a toalha no lugar certo, e ele cada vez exigindo mais. Colocava os pés no sofá, todo folgado, cada vez mais folgado, e os anos foram se passando. Certa vez, ele estava no banheiro, e pediu: “Traga-me o xampu”. E ela, num acesso de raiva, quebrou o closet, quebrou tudo. Quando ele saiu do banheiro, ela já estava com a mala pronta, pegou o carro e saiu. E ele ficou se perguntando: “Mas por causa de um xampu?”. Não era o xampu. E agora, novamente, a população na rua.

            Eu creio que perdemos uma oportunidade. Naquele momento, em junho, esta Casa e a Casa coirmã se debruçaram sobre os grandes temas nacionais e fizeram um aporte que deu, naquele momento, vazão às inquietações da população.

            Mas creio que nos acomodamos. E creio que o próprio Governo Federal deixou passar uma oportunidade, porque viu o que havia acontecido. Mas foi para a televisão e vendeu um projeto bonitinho. E eu até digo: se o programa do Santana tivesse sido menos um pouquinho, neste momento a Presidente Dilma não estaria nessa dificuldade.

            Agora cabe, para fechar isso, o que V. Exª citou aqui: é preciso conversar, é preciso chamar os diversos atores e conversar. E, principalmente, humildade, porque, com todo respeito pela Presidente Dilma, o que tenho ouvido aqui, dos seus Pares, que não ousam obviamente talvez externar isso, é que não tem havido conversa com os aliados.

            Estamos falando aqui de todos esses assuntos, Excelência, porque é o que nos avizinha. Domingo haverá manifestação. E, não se enganem, ela será grande. E quando falamos de Petrobras, listas e mais listas, isso tudo é combustível para a indignação de domingo.

            E faço aqui um apelo ao Governo: não coloque a polícia. Estou sabendo, Sr. Presidente, que está sendo preparada uma grande operação, de todos os setores policiais, o Exército na rua. Não façamos isso, deixemos o povo extravasar.

            Eu aqui quero fazer um reparo. Creio que uma das maiores lideranças deste País, se não a maior, cometeu um erro, talvez o maior erro da sua vida política, ele que sempre se portou como um democrata. O ex-Presidente Lula jamais poderia, como bravata ou intencionalmente, ter dito aquela frase de que ia convocar o exército do Stédile. Tentou lançar essas manifestações para a oposição, numa estratégia política. Ela não é da oposição. Se a oposição for lá será enxotada. A forma como os partidos de oposição estão se comportando, Sr. Presidente, é a seguinte: até apóiam, mas sabem que, se forem lá, serão enxotados. O Presidente Lula disse aquela frase e os aloprados da Via Campesina e do MST saíram quebrando instituições de pesquisa. Estão nas ruas, de certa forma, querendo apoiar o Governo, mas estão prejudicando o Governo e o País, porque podem gerar conflitos e causar mortes no domingo. Espero que o Governo seja comedido.

            Quero deixar esse alerta, assim como alertei aqui na questão dos caminhoneiros, quando falei que ia se espalhar pelo País, e não fui ouvido, assim como outros Parlamentares também não. O Brasil parou e houve desabastecimento. Espero que o Governo desta vez tenha sensatez e não ponha a polícia para enfrentar os manifestantes. É uma manifestação legítima, não contra o Governo, mas contra todos nós.

            Preocupo-me muito com o alerta do Senador Cristovam, de que talvez a nossa geração entre para a história como a classe política que não conseguiu fazer frente às demandas do País. Infelizmente, temos que admitir isso aqui, mas temos a oportunidade ainda de rever isso. Se não temos como mudar o passado, que possamos mudar daqui para frente.

            Sr. Presidente, voltando ao assunto da Petrobras, eu falei sobre tantas coisas, mas acredito que, hoje, a Petrobras não é só a Petrobras, está ligada a todos os outros assuntos nossos, desde a vida política até a questão econômica, até a soberania nacional. Jamais imaginei que a Petrobras pudesse ter tanta influência na vida nacional, e, agora, vemos que tem.

            E talvez até pelo erro de ter se colocado tantas tarefas. Eu acho que podemos rever esse modelo, e o Ministério das Minas e Energia se tornar maior do que a Petrobras, porque hoje eu noto que a Petrobras está maior do que o próprio Ministério das Minas e Energia. Que possamos segmentar, não sei, e colocar foco na empresa, de forma que o País possa fazer um pacto de recuperação dessa grande empresa, e isso tem que ser urgente. Eu creio que tem que ser urgente em relação a todas as outras agendas, porque o Brasil reclama, ante a crescente sangria desatada que diariamente irriga os inconfessáveis interesses de que já falamos aqui e que drenam bilhões dos nossos cofres públicos.

            Há pouco, o Senador Cássio Cunha Lima disse aqui que essa grande demanda política que nós tivemos, passamos o dia inteiro, por doze horas, nos debruçando sobre a discussão da correção da tabela, equivalia apenas a três Baruscos, referindo-se aos R$300 milhões que ele confessou terem sido desviados.

            E, para finalizar, quero colocar um pouco a colher também nessa correção da tabela, que penso que foi mais um erro do Governo. Para um Governo que arrecadou mais de R$1 trilhão no ano passado, pouco significavam esses R$900 milhões. Nós já estamos com uma inflação de mais de 7%. Uma correção de 6,5% já não cobria nem isso. Então por que não dar o que havia sido enviado? Parece que foi um veto por capricho. Houve todo um desgaste político, desagradando mais uma classe, que é a classe que vai para a rua, a classe média, que é a grande classe pagadora, porque recolhe na fonte, Sr. Presidente.

            Então, eu penso que o Governo, se começar a ouvir mais, a conversar mais, vai encontrar soluções, porque existe boa vontade da oposição. Esse caos todo, em que se diz: "Ah, existe golpismo", não existe nada. A oposição neste País, na verdade, foi inexistente. Se há uma coisa que o PT teve nesse tempo inteiro foi um céu de brigadeiro, um mar de tranquilidade para exercer o seu Governo, porque se a oposição não chegou ao poder, foi por incompetência dela própria, porque não fez oposição. Se o Governo não se mostrou competente para colocar um modelo de País, a oposição também não mostrou um norte. E é por isso que temos que avançar além dessa discussão que está aí nas ruas, de coxinha e petralha, e aqui, a polarização PSDB-PT.

            Precisamos avançar. Porque, aqui, quando se diz alguma coisa, alguém diz: “Ah, foi FHC”, e outro diz: “Foi o PT”. Precisamos avançar. O discurso tem que ser maior.

            Para finalizar, Sr. Presidente, eu creio firmemente que devemos nos debruçar não só no intuito de recuperar a Petrobras, mas também de haver uma conversa franca dos atores políticos não para a oposição se aliar ao Governo, não em prol do PSDB, do PPS, do PSOL, do PT, não em prol de cada partido, mas em prol do Brasil.

            Estamos aqui eu e V. Exª, por exemplo, que representamos o Estado de Mato Grosso, e os nossos amigos mato-grossenses não estão preocupados com essa discussão política, com a polarização entre os partidos. Eles querem saber se a carga de milho que produzem lá em Sorriso vai chegar à China de forma competitiva. Eles querem saber se, ao saírem de Cuiabá para fazer o trajeto de 200km até Rondonópolis, vão ter condições de ir ou se vão demorar seis horas enfrentando aquela estrada. Eles querem saber se o plano de aviação, de regionalização vai funcionar. Eles querem sair de Brasília, de Cuiabá, de São Paulo ou de qualquer lugar e ir para a sua cidade, sabendo que lá vai haver um aeroporto, um voo. Na verdade, as demandas são grandes, e a polarização política não faz frente a essas demandas. A população não quer saber dessa discussão. Ela quer que os problemas se resolvam, e aqui nós temos que dar resposta a isso.

            Espero que, domingo, cada ator político deste País possa sair com outra visão, porque talvez esse choque, essa indignação da sociedade - esse será o segundo ato de indignação - possa servir de alerta. E nós temos que saber que as coisas têm limite.

            Sr. Presidente, ficam essas reflexões. Esta Casa nada pode fazer, além de debater, de abordar o problema, de alertar. Este é o papel do Legislativo: debruçar-se, ter responsabilidade, preocupar-se com a soberania nacional e também com as nossas dificuldades internas. Para isso, precisamos nos esquecer das emoções, das vaidades e nos preocupar com o que realmente interessa à população brasileira.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/03/2015 - Página 23