Discurso durante a 29ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários acerca de declaração feita pelo Senador Walter Pinheiro acerca das manifestações populares ocorridas no último dia 15.

Autor
Waldemir Moka (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Waldemir Moka Miranda de Britto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CIDADANIA. GOVERNO FEDERAL. :
  • Comentários acerca de declaração feita pelo Senador Walter Pinheiro acerca das manifestações populares ocorridas no último dia 15.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2015 - Página 44
Assunto
Outros > CIDADANIA. GOVERNO FEDERAL.
Indexação
  • LEITURA, DECLARAÇÃO, AUTORIA, WALTER PINHEIRO, SENADOR, ASSUNTO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REFERENCIA, RESPOSTA, MANIFESTAÇÃO, POPULAÇÃO.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, AUSENCIA, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, PROPOSTA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, PAIS.

            O SR. WALDEMIR MOKA (Bloco Maioria/PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta Rose de Freitas, Senadores aqui presentes, vou ler algo que me chamou a atenção. Confesso que é algo que certamente partiu da indignação, creio eu.

            É uma matéria da jornalista Natuza Nery, de Brasília, de 15 de março de 2015, às 20h24.

            Ela deve ter entrevistado o Senador logo após as manifestações, ainda no calor do momento.

            Diz a matéria:

Num raro desabafo, um senador petista colocou para fora toda sua frustração com o governo ao ler uma reportagem da Folha na qual um ministro, em caráter reservado, diz que a Polícia Militar inflou os números das manifestações em São Paulo neste domingo.

Petista histórico, [o meu amigo, por quem tenho grande admiração desde a época em que fomos Deputados juntos, na Câmara dos Deputados] o Senador Walter Pinheiro (BA) afirmou que o governo, ao qual apoia, não consegue ouvir a sociedade, não consegue admitir erros, está atolado em letargia e se perde em avaliações erradas de que os protestos foram liderados por eleitores do tucano Aécio Neves.

Pinheiro também contraria o discurso oficial de que as manifestações contra a presidente da República visam provocar um “terceiro turno”.

“Tem uma frase dizendo que a polícia inflou [ele diz]. Pelo amor de Deus, acreditar que um ministro pense isso. Eu lamento que um ministro tenha dito isso. Ao invés de ficar preocupado se tinha 10 ou 10 mil, pois não devia se preocupar com a quantidade, deveria se preocupar com o recado, não importa de quem veio”, disse [Walter Pinheiro].

(...) Pinheiro diz que o governo precisa tentar entender quais são esses recados das ruas. “Na minha opinião, esses recados vêm desde a eleição. Não é terceiro turno, é continuidade do recado. Temos que parar e olhar para trás para ter capacidade e coragem de falar dos erros (...). E continuou, entre incrédulo e abismado, o desabafo: “Pelo amor de Deus! Não é possível, não é possível, não é possível!”, desabafou.

No PT, Dilma tinha sido alvo de críticas quanto à condução do governo no atual momento de crise, mas não é comum alguém verbalizar insatisfações publicamente, como fez [esse extraordinário homem público, o Senador Walter] Pinheiro.

“Vou ficar avaliando se a manifestação é de classe baixa, de média, de alta? Nós não ganhamos a eleição com essa margem folgada na sociedade. Nós tivemos um recado na eleição. Pelo amor de Deus.”

Segundo ele, “não é problema com o Congresso, é com a sociedade. É com isso que estou preocupado. O meu governo não consegue falar com a sociedade, (...)!”

“É sempre esse discurso pra dentro. E qual é o rumo? O que vamos apresentar pra sociedade? Aí chega um cara e diz que a Polícia Militar inflou o número de manifestantes? Quase 90 dias de governo e não se consegue dar uma palavra. Será que ninguém entende que tem alguma coisa errada? (...) O que é isso?”, indagou. 

Para ele, ao invés de olhar a manifestação para saber quem estava e quantos eram, tem que tentar entender onde o governo está errado. “A única forma de fazer isso é admitir erros. O conteúdo está errado, não é só a comunicação. Se meu conteúdo estiver errado, não chegará do outro lado. Porque eu não estou falando a língua do povo.”

            Vejam, Senador Ricardo Ferraço e Presidente Rose de Freitas, isso foi dito por alguém que, V. Exª conhece, que o Senador Ricardo Ferraço conhece e que eu, particularmente, conheço muito. Sei da sua seriedade, sei que isso nasceu espontâneo de Walter Pinheiro, porque o Walter sempre foi assim, ele expressa exatamente aquilo que pensa.

            E não se trata de dizer que o Walter Pinheiro está rebelde ou coisa parecida. É claro que eu não falei com o Walter Pinheiro. Até vou pedir desculpas, mas como isto foi publicado por um jornal de credibilidade, a jornalista é uma jornalista também de credibilidade e está entre aspas, eu suponho que isso realmente foi dito pelo meu amigo Senador Walter Pinheiro.

            E a partir disto é que quero dizer que penso exatamente como o Senador Ricardo Ferraço. E sou um Senador - V. Exªs me conhecem - que tem independência e boa vontade, sou aqui capaz de fazer sacrifícios eleitorais se conseguir enxergar que existe um propósito nos ajustes fiscais a fim de tirar o País dessa letargia, como diz e afirma o Senador Walter Pinheiro.

            Aqui está um Senador que quer contribuir, Senadora Presidente, que quer ajudar o seu País. Acho que temos que parar de pensar em eleição e temos que pensar nas próximas gerações; parar de pensar em eleição e sinalizar, mostrar isso para as próximas gerações.

            Este é um País que tem um potencial incrível, e nós temos que tirá-lo, neste momento, do marasmo político, com uma crise sem proporção que é essa crise da Petrobras, e agora essas manifestações. Porque se o Governo não tiver a capacidade de admitir os erros, Senador Ricardo Ferraço, essas manifestações só vão aumentar, eu tenho isso comigo. Se não vier alguém - eu gostaria que fosse a própria Presidente Dilma, afinal de contas, ela foi eleita para isso - e disser com todas as letras: “Olha, eu tentei fazer uma política anticíclica, tentei salvar os empregos, tentei estimular o crédito, mas isso não deu certo, ou pelo menos deu certo, depois se exauriu e criou esse problema”.

            Um dos problemas dos caminhoneiros, por exemplo, é a oferta de crédito de 2,5% ao ano, que estimulou gente que nunca tinha pensado em comprar um caminhão e aí se aventurou. Gente que tinha um negócio e produzia, como é o caso dos grandes produtores de algodão, de soja e de milho. Eles perceberam, com aquele crédito ofertado, que era possível, além de produzirem seu produto, terem uma frota para transportar. De repente, foram colocados no mercado mais de um milhão de caminhões, havia oferta para esse frete. Quando acabou a carga, porque a indústria diminuiu a produção, porque a produção lá em Mato Grosso diminuiu, atrasou, aí o frete ficou lá embaixo, porque havia um monte de oferta de caminhões e pouca carga. Nesse momento, o frete baixa e aumenta o óleo diesel. O custo do combustível passa de 35% ou 40% do valor do frete para 60%, e a equação não fecha mais. É disso que estamos falando.

            Então, é preciso fazer os ajustes fiscais que a Presidente Dilma mandou para a Casa. Nós precisamos conversar a respeito disso, discutir esse sacrifício, que é de toda a população.

            Agora, é difícil pedir sacrifício para a população quando você vê - vou usar uma expressão chula - a roubalheira na Petrobras que não acaba mais.

            Parece siri, não é? Você tenta puxar um siri, aí sai uma trinca junto, tudo “escangalhado”. É verdade isso! É um negócio de maluco. Quer dizer, nós precisamos fazer isso. É preciso tratar essas coisas com seriedade porque, senão, junto com essa crise vai o Congresso. E, aí, perde-se a representatividade.

            Aliás, o movimento de ontem, do qual fiz questão de não participar não porque tivesse algum tipo de receio, porque a população do meu Estado, graças a Deus, me conhece, mas eu não queria e não quero parecer oportunista. Porque quem convocou, quem liderou o protesto não foi nenhuma liderança política. Foi espontâneo, nasceu da indignação, nasceu daqueles que querem ter um País em que as coisas sejam mais sérias, mais transparentes e, sobretudo, mais dignas.

            Eu quero aqui dizer que vim hoje, fiz questão de estar aqui, para dizer que na minha cidade, lá na capital do meu Estado - a minha cidade é minha querida Bela Vista, uma cidade pequenina, lá na fronteira, onde começa este País -, em Campo Grande, onde estudei e por quinze anos fui professor, onde concluí o meu curso de médico, eu vi uma mobilização que nunca tinha visto antes, uma mobilização pacífica, ordeira, de gente que pedia: “Pelo amor de Deus, nós temos que salvar o nosso País”.

            É isso que eu recolhi e me sinto na obrigação de dizer. Às vezes, você fica tanto tempo como Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador, que dá a impressão de que é dono do seu mandato. Não é assim! Nós temos um mandato para representar a população do nosso Estado. Se não prestamos atenção, nós nos distanciamos disso.

            Estou disposto a dar a minha parcela de contribuição, mas quero discutir o que virá depois desse ajuste fiscal. Nós vamos fazer o ajuste, a população vai passar por esse sacrifício. E daí, o que vem depois? Também vamos cortar as despesas do Governo? Vamos fazer com que o Governo também faça a sua parte? Isso é fundamental.

            Então, eu acho... Eu tenho aqui que o Governo Federal tem que assumir culpas. Isso sim, dizer onde errou, explicar com clareza sobre os aumentos de impostos, de taxas, de luz e água, além de cortes de recursos em áreas como educação no caso do Fies. Enquanto o Governo continuar tergiversando sobre os motivos das manifestações, não dizendo claramente onde errou, a população vai seguir inquieta e os protestos podem se avolumar ainda mais nos próximos meses.

            O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Maioria/PMDB - ES) - V. Exª me permite duas breves observações...

            O SR. WALDEMIR MOKA (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Como não? Com prazer. 

            O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco Maioria/PMDB - ES) - ... a respeito desse extraordinário pronunciamento que V. Exª faz à Nação? São duas as observações, Senador Moka. Conhecendo V. Exª - com quem tenho compartilhado, como disse aqui, tantas lutas e bons combates -, assim como o Senador Walter Pinheiro, não me surpreende essa fala franca, esse desabafo aberto. Walter Pinheiro é um homem que Deus livrou do sentimento do medo porque nós o conhecemos aqui e sabemos que ele expressa o que pensa de forma muito aberta. Então, a fala do Senador Walter Pinheiro é uma fala absolutamente lúcida e, eu como V. Exª, peço também desculpas porque estamos falando aqui de um companheiro que não está presente, mas se estivesse presente, eu também assim me pronunciaria e quero crer que em algum momento, teremos essa oportunidade. Mas, veja bem V. Exª o alcance e a profundidade disso que está falando. Se o que está sendo proposto está correto, o que foi proposto estava errado. Porque o que está sendo proposto é a desconstrução de tudo aquilo a que nós brasileiros estivemos submetidos nos últimos anos. E não foi por falta de debate, de aviso, de que havia equívocos na condução da política energética brasileira, de que o Governo não poderia continuar com sua criatividade contábil, com suas pedaladas fiscais. Se tudo que está sendo feito está certo, o que foi feito estava errado. Ou vice-versa. Então essa é uma premissa para que nós possamos... Eu também, como V. Exª, sou movido à boa vontade, mas a boa vontade tem que ter regra, tem que ter premissa. E outra coisa importante que V. Exª fala. Mandato não é propriedade particular de quem exerce, mandato é uma delegação, mandato é uma representação. Nós não estamos acima da lei, nós temos limites, deveres e responsabilidades e qualquer excesso tem que ser questionado. Nós precisamos ter absoluto cuidado com o exercício daquilo que nós estamos fazendo aqui, porque nós devemos, sim, a todo momento, satisfação à população, dos nossos atos. É a modesta contribuição que trago a V. Exª, mas cumprimentando-o pelo esmero e pela precisão das suas palavras.

            O SR. WALDEMIR MOKA (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Muito obrigado, Senador Ricardo Ferraço, e eu quero terminar.

            Nós somos 81 Senadores. É muito fácil, nesta Casa, uma conversa, que seja com as Bancadas partidárias, uma conversa franca, uma conversa aberta. Nós vamos neste caminho aqui. Ele é difícil, ele é espinhoso, mas, logo depois, nós vamos ter o País saindo dessa crise. É isso que eu quero ouvir, porque, aí, eu vou poder dizer, lá, no meu Mato Grosso do Sul, “nós temos que fazer isso, porque nós temos que cumprir essa etapa.”

            Agora, sem discutir com ninguém, mandar para cá e achar que, aqui, nós vamos aprovar isso, sem um debate, sem conversar, aí, não dá, porque, aquilo que eu disse, eu vou ficar sintonizado, exatamente, com a população que me outorgou, que me deu o direito de, aqui, representá-la, e disso eu não vou abrir mão.

            Não sou Senador de oposição. O meu partido, o meu MDB velho de guerra, do qual eu faço parte desde 1978, e é o meu nono mandato pelo mesmo Partido, e olha que eu já divergi inúmeras vezes, mas não saio da minha trincheira.

            Então, eu estou aqui e não vou abrir mão, mas, a qualquer momento, desde que convencido, eu quero dizer, eu sou um Senador independente, posso votar a favor ou posso votar contra, mas a minha índole, a minha boa vontade, neste momento, é de pensar no meu País. E, se eu tiver que fazer algum sacrifício eleitoral, mas, visando a que esse País vai sair disso, dessa letargia, eu sou capaz de fazer, mas preciso ser convencido para isso.

            Por enquanto, eu vou ficar com o discurso do meu amigo, desse, por quem eu tenho uma enorme satisfação, que é o Senador Walter Pinheiro.

            Muito obrigado, Senadora Rose de Freitas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2015 - Página 44