Discurso durante a 40ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à suposta tentativa de deslegitimação do resultado da eleição presidencial ocorrida em outubro último; e outros assuntos.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Críticas à suposta tentativa de deslegitimação do resultado da eleição presidencial ocorrida em outubro último; e outros assuntos.
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
Publicação
Publicação no DSF de 31/03/2015 - Página 29
Assuntos
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, EVENTO, AUTORIA, BANCADA, CONGRESSISTA, MULHER, PARTICIPAÇÃO, RENAN CALHEIROS, PRESIDENTE, SENADO, OBJETIVO, DISCUSSÃO, REFORMA POLITICA, VISÃO, FEMINISMO.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB), ELOGIO, ATUAÇÃO, COMENTARIO, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, LOCAL, DIRETORIO NACIONAL, PARTIDO POLITICO, OBJETIVO, DISCUSSÃO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, POLITICA, CONCLUSÃO, EXISTENCIA, AMEAÇA, DEMOCRACIA, NECESSIDADE, REFORMA POLITICA.
  • CRITICA, PARCELA, POPULAÇÃO, CONGRESSISTA, MOTIVO, DEFESA, ILEGITIMIDADE, RESULTADO, ELEIÇÃO, CARGO ELETIVO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. . Pronuncia o seguinte discurso.

Sem revisão da oradora.) - Não, Senador, deixe-me explicar. Eu fiz uma permuta com o Senador Telmário, que fala como orador inscrito, e, por isso, eu falo como oradora inscrita agora. Foi por essa razão. Presidente, se V. Exª me per- mite, quero iniciar meu pronunciamento.

    Primeiro, quero agradecer o Senador Telmário pela permuta e dizer que, antes de iniciar o pronunciamento que me traz à tribuna neste momento, eu gostaria de abrir um parêntese para comunicar um grande e belo evento organizado pela Bancada Feminina, sob a liderança da Senadora Marta Suplicy, uma vez que aconteceu em seu Es- tado, o Estado de São Paulo, realizado na última quinta-feira.

    Fomos - boa parte das Deputadas Federais, Senadoras da República, acompanhadas de inúmeros Deputados Federais, do Presidente do Senado Federal, Senador Renan Calheiros, do Presidente da Câmara dos Deputados, De- putado Eduardo Cunha - à Fiesp, Sr. Presidente, em que realizamos o primeiro de tantos outros atos que deveremos realizar nas capitais e nas cidades brasileiras, que decorre de uma campanha nacional em que nós da Bancada Femi- nina estamos envolvidas, que é a campanha relativa à reforma política, mais especificamente para tratar da questão de gênero dentro da reforma política. Essa campanha é denominada Mais Mulheres na Política, Sr. Presidente, porque temos o entendimento de que, se a reforma não servir para aperfeiçoar o processo de representação democrática, não será exatamente aquela reforma esperada pelo conjunto da sociedade brasileira. Mas eu vou voltar a esta tribu- na, Sr. Presidente, para falar acerca desse assunto.

    Eu, hoje, quero tratar da avaliação do quadro político que fizemos durante todo o último final de semana. De sexta-feira, dia 27, até o dia de ontem, dia 29, a Direção Nacional do meu Partido - o PCdoB, que, aliás, no último dia 25 comemorou o aniversário de 93 anos de fundação - e o Comitê Central do Partido Comunista do Brasil, como parte dessas comemorações, estiveram reunidos debatendo não só questões estratégicas, mas, sobretudo, o quadro de crise que atravessamos hoje, em boa parte do mundo e, especialmente, em nosso País, o Brasil.

    Foi uma reunião muito densa, classificada pelo nosso Presidente, Renato Rabelo, como uma reunião importante. E, de fato, foi, porque, com muita paciência, ouvimos opiniões de mais de uma centena de companheiros, camaradas,

dirigentes do Partido Comunista do Brasil, de toda esta extensa Nação e dos mais diferentes setores, de um membro

da juventude, Sr. Presidente, Senador Elmano, a uma representante de mulher, a um representante comunitário, a Ministro, a pessoas que ocupam cargos de Secretários Estaduais. A partir daí, eu quero aqui dizer como o nosso Par- tido se mantém unido principalmente nos momentos mais difíceis da vida brasileira, da vida da democracia brasi- leira. Uma reunião tensa, densa, mas marcada com um profundo espírito de unidade e de desejo de participar e de contribuir para a superação do problema, entendendo que superar o problema significa caminhar rumo ao avanço e jamais caminhar rumo ao retrocesso.

    Portanto, Sr. Presidente, neste período ainda das comemorações dos nossos 93 anos de fundação, essa última reunião do Comitê Central serviu também para convocar a 10ª Conferência Nacional, que deverá ter como tema, além da continuidade do debate acerca da situação política do momento, desta grave crise por que passamos, deveremos debater o lugar e o papel do nosso partido nesta nova realidade que emerge, sobretudo da luta necessária, além de ser uma conferência chamada com o firme propósito de debater a sucessão na Presidência Nacional de nosso Partido. Renato Rabelo, que é o nosso Presidente já há mais de uma década, manifestou o seu interesse em deixar a Presidência, jamais a militância, jamais a possibilidade de continuar contribuindo e formulando com o Partido. E entendendo que é necessária essa alternância de poder dentro do nosso Partido, convocamos especialmente essa 10ª Conferência para debater essa sucessão.

    Sr. Presidente, essa nossa longa trajetória, de 93 anos de existência, de heroicas lutas e importantes realizações da legenda comunista, revela que sua existência é uma exigência histórica. Deriva de aspirações profundas do nosso povo de construir uma nação próspera, democrática, soberana e de pujante progresso social, projeto que, pela con- vicção de nosso partido, o PCdoB, só triunfará se tivermos como rumo e horizonte a transição ao socialismo. Mais de nove décadas de lutas do PCdoB, Sr. Presidente, resultaram num rico legado à Nação e aos trabalhadores, do qual se destacam jornadas empreendidas em conjunto com as forças progressistas, como as que foram travadas contra o Estado Novo, de 1937 a 1945, e contra a ditadura militar, de 1964 a 1985. Essas e outras jornadas que custaram, in- clusive, a prisão e a própria vida de muitos de nossos camaradas, de nossos militantes, militantes comunistas, assim como de outros grandes patriotas, proporcionaram a conquista da democracia, na qual a Nação, hoje, apóia-se para edificar o seu presente e o seu futuro.

    Eu faço esta pequena introdução, Sr. Presidente, para dizer o quanto é atual, ainda, a luta em defesa da demo- cracia em nosso País, diante dessa crise, e é uma grave crise, não adianta querermos aqui tapar o sol com a peneira. Vivemos uma crise profunda no Brasil, uma crise de que temos entendimento de ser uma crise política, com nuances de crise econômica, uma crise ética, moral e que pode levar a uma crise da ordem institucional. Então, não dá para dizer que está tudo bem - vivemos uma crise e dela temos que sair, Sr. Presidente.

    Agora, repito, temos que sair no caminho do avanço, e não permitir que aconteça agora o que aconteceu no passado. Crises levaram a retrocesso, V. Exª muito mais do que eu viveu nesses momentos, em que, aparentemente em defesa da ética, movimentações e grandes mobilizações foram feitas, mas que culminaram em regimes autoritários, em regimes de exceção, em regimes antidemocráticos. Agora, nós não podemos jamais permitir que isso aconteça.

    Portanto, um dos pontos centrais da reunião do Comitê Central desses últimos dias - e que será um dos pon- tos centrais do debate da sucessão na conferência que será realizada em maio - é, sem dúvida, a defesa da demo- cracia, a necessidade de se impulsionar a contraofensiva. Para isso, para que se impulsione uma contraofensiva, é necessário, é fundamental, é imprescindível, Senador Capi, a construção de uma frente ampla, uma frente, acima de tudo, em defesa dos avanços, dos direitos conquistados e da própria democracia brasileira. E eu me refiro a V. Exª, Senador Capi, porque V. Exª foi um dos tantos brasileiros, ao lado de Janete Capiberibe e de tantos outros - aqueles à que eu acabei de me referir -, que viveram durante muito tempo na clandestinidade, porque tiveram seus direitos democráticos cortados.

    Então, é com esse compromisso histórico com a causa democrática, que o nosso Partido entende ser necessá- rio alertar o povo para o fato de que a nossa própria democracia é que está sendo ameaçada, Sr. Presidente, porque, infelizmente, uma parte formada por oportunistas, conservadores, saudosos do período neoliberal vem promoven- do uma verdadeira escalada reacionária, defendendo, inclusive, o golpe contra o Governo democrático, conquistado legitimamente nas urnas nas últimas eleições, que é o mandato da Presidenta Dilma.

    O objetivo dessa intentona da direita, que ocorre num contexto de forte impacto da crise capitalista mundial sobre os países em desenvolvimento, de uma ofensiva do imperialismo na América Latina, não tem outro propósito senão a tentativa de ceifar o ciclo democrático progressista iniciado em 2003, com a eleição de Lula para Presidente da República. E muitos podem até dizer: “Mas a crise é real, não é construída artificialmente.” De fato, a crise é real, e é contra ela que nós temos que trabalhar, é contra ela que nós temos que lutar, permitindo não o retrocesso, mas, sim, o avanço.

    Vamos ver como tudo evoluiu nos últimos tempos. Não quero ser dona da verdade, apenas tentar fazer, de forma bem resumida, a avaliação que todos nós temos. Primeiro, estourou no Brasil uma operação chamada Lava Jato, que dura quase um ano e que vem elucidando, apontando, mostrando ao conjunto da população brasileira as coisas que muitas vezes eram conhecidas por se ouvir dizer do corredor, mas hoje estão sendo desvendadas, mos-

tradas. Refiro-me à operação que está mostrando as inúmeras ações criminosas que ocorreram em torno da Petro-

bras e diretamente contra a Petrobras, que não só é a maior empresa do Brasil, mas que é o próprio orgulho do povo brasileiro - ações desenvolvidas por servidores da empresa, empresários que atuam diretamente em contratos com essa empresa e por políticos. Não quero condenar absolutamente ninguém, pois é ao Ministério Público, ao Poder Judiciário que cabe o papel de investigar e de mostrar com provas o grau e o nível de envolvimento de cada um, quer políticos, empresários ou servidores públicos.

    No decorrer dessa operação, vivemos uma eleição, talvez a mais disputada dos últimos tempos no Brasil, que culminou com a vitória legítima da Presidente Dilma. E eu digo legítima, uma vitória apertada, entretanto, legítima e, como diz o Presidente do meu Partido, Renato Rabelo, uma vitória épica, uma vitória importante, porque a popu- lação brasileira teve a oportunidade, durante o período eleitoral, de poder ouvir, ver e analisar o que aconteceu, no Brasil, num passado mais distante, num passado mais recente e aquilo que poderia vir a acontecer no futuro - e a maioria optou em reeleger a Presidenta Dilma para, novamente, dirigir os destinos deste País.

    Mas é inegável que o que ficou também das eleições foi uma disputa extremamente acirrada entre as forças de apoio à Presidente Dilma e as forças oposicionistas, ao ponto de que a oposição não considerou o episódio en- cerrado a partir da realização do segundo turno, não. Continuou a dar curso àquilo que nós chamados de terceiro turno, Sr. Presidente. Então, vivemos uma disputa acirrada até o momento.

    Aliado a isso, vivemos um problema na nossa economia. Muitos dizem que esses problemas na economia brasileira revelam que a Presidente Dilma mentiu ao povo brasileiro. Não é essa a verdade; não é essa a verdade! E muitos dizem também que é falácia o fato de que alguns membros do Governo ou dos partidos da base de apoio ao Governo se baseiam numa fundamentação falsa e equivocada de que seria a tentativa, dizem eles, de justificar a crise da economia brasileira com uma crise internacional.

    Ora, falacioso é quem não quer enxergar. Pretendem enganar a população aqueles que tentam dizer que o Brasil vive separado do mundo e que o Brasil é uma Nação imune ao que acontece no mundo. Ou será que não é verdade, Sr. Presidente, que o Brasil, que viveu durante tanto tempo com benefícios importantes do preço das commodities, não sofreu com a queda do preço das commodities, por conta da perda da capacidade de compra de muitos países: dos Estados Unidos, da Europa e da própria China?

    Eles cresciam, a cada ano, acima de dois dígitos, e hoje se prevê um crescimento de 7%, o que para eles, para quem crescia a 11% a 12%, é uma queda significativa, o mesmo que nós, no Brasil. Nós crescíamos uma média de 2,5%, de 3% ao ano, e passamos a ter um crescimento nulo. Não tivemos decréscimo, não tivemos recessão, mas não tivemos um crescimento significativo.

    Comparativamente, creio que estamos dentro da média internacional. Aliás, estamos acima da média interna- cional, porque, enquanto os outros países jogaram o ônus da crise, que é uma crise do sistema financeiro, capitalista, sobre as costas dos trabalhadores, nós não tivemos problemas de desemprego - repito, não tivemos problemas de desemprego -; nós não tivemos problemas de perda de direito dos trabalhadores. Não tivemos isso, Sr. Presidente.

    Então, todas as medidas, inclusive as medidas de desoneração, foram necessárias. A adoção dessas medidas foi necessária, exatamente para garantir que o povo mais humilde não sofresse em primeiro lugar.

    Mas chega uma hora, como feijão numa panela de pressão, em que ou desligamos o fogão, ou a coisa estoura. Ainda não vejo o Brasil na situação de ter a panela de pressão estourando, mas o País está num momento em que precisa tomar algumas medidas para conter um futuro colapso, que está muito distante, mas está adiante - muito distante, mas lá adiante.

    Foram anunciadas as medidas fiscais pela Presidenta Dilma. Nós temos dito - não apenas eu, mas vários Se- nadores e Senadoras que se revezam nesta tribuna para falar acerca das medidas de ajuste - que medidas de ajuste, no Brasil, são necessárias. Agora, se serão aprovadas exatamente da forma como vieram, não creio, porque a demo- cracia é isto: a independência dos Poderes com convivência harmoniosa.

    Amanhã mesmo, teremos, na Casa, num debate que já antecipadamente considero um dos mais importantes neste início dos trabalhos do Parlamento brasileiro, a presença do Ministro da Fazenda, Ministro Levy, que virá deba- ter com todos os Srs. Senadores e com as Srªs Senadoras a situação do Brasil e as medidas que estão sendo discutidas no Congresso Nacional. Vamos trocar ideias, vamos apontar, vamos ver em que podemos avançar, o que podemos mudar, o que devemos manter. É exatamente esse diálogo que nós teremos, Sr. Presidente.

    Então, este momento faz com que o Brasil, de fato, atravesse um período de dificuldade. Na Operação Lava Jato, o Ministério Público divulgou recentemente uma relação de pessoas que estão sendo investigadas, pessoas ligadas não apenas ao setor empresarial, mas também ao Parlamento brasileiro, ao Governo brasileiro.

    Veja, Sr. Presidente, é óbvio que a situação não é tranquila. Mas, repito, nós do PCdoB entendemos que, neste momento de dificuldade, temos que estar unidos em defesa do Brasil. Jamais - jamais! - aceitaremos que oportunis- tas de plantão utilizem este momento, como muitos fizeram no passado, para promover golpes. Não; isso nós não

aceitaremos, e lutaremos com todas as nossas forças.

 

Por isso, entendemos que a defesa do mandato da Presidenta Dilma, neste momento, é fundamental, Sr. Pre-

sidente, é primordial, porque defender o mandato legítimo da Presidência significa defender a própria democracia em nosso País.

    Então, é partindo dessa realidade instável, perigosa, que nós do PCdoB, Sr. Presidente, ressaltamos que a ques- tão-chave do momento é rechaçar o golpismo; defender de modo resoluto a democracia e o mandato constitucional da Presidente Dilma. Avaliamos que se impõe como tarefa maior constituir, desde já - e aí, não basta diagnosticar a crise, é preciso apontar caminhos para a saída da crise. E nós temos o entendimento de que, hoje, uma tarefa primor- dial é constituir uma frente ampla com todas as forças possíveis do campo democrático e patriótico, pois somente uma frente que una as forças patrióticas, progressistas e democráticas da Nação será capaz de enfrentar, de isolar e derrotar a ofensiva retrógrada do consórcio oportunista e oposicionista.

    E aí, Sr. Presidente, vamos voltar às manifestações. Eu tenho certeza - e as próprias pesquisas feitas durante as manifestações de rua mostram isso - de que a grande parcela da população não está preocupada em tirar a Presi- denta Dilma; está preocupada em ajudar, em lutar para que o Brasil esteja nos trilhos. E o Brasil nos trilhos significa uma Nação que sabe combater a corrupção, mas, ao mesmo tempo, promover as mudanças estruturais e estrutu- rantes exigidas pela própria Nação, com o objetivo de aperfeiçoar os métodos de fiscalização, de participação, de governança em nossa Nação.

    Essa frente ampla que defendemos, Sr. Presidente, deverá se constituir, no nosso entendimento, em torno de bandeiras aglutinadoras, como a defesa da democracia, da legalidade, do mandato da Presidência, a defesa da Pe- trobras.

    V. Exª nos dá muita alegria, porque não havia assinado a Frente Parlamentar em Defesa da Petrobras, que foi instalada há uma semana, com muito sucesso, no Congresso Nacional, mas já é parte da Frente em Defesa da Petro- bras e conosco participará do desenvolvimento de inúmeras ações. Porque defender a Petrobras, defender a econo- mia, a engenharia nacional não significa ser conivente com a corrupção. Pelo contrário, nós deveremos ser muito, muitíssimo duros no combate à corrupção e exigir a punição daqueles e exigir a punição daqueles que comprova- damente se meteram em corrupção.

    Mas isso não significa defender o enfraquecimento da Petrobras, porque defender o enfraquecimento da Pe- trobras significa defender o enfraquecimento do Brasil como Estado, como Nação que tem mais de duzentos milhões de pessoas a cuidar, a zelar.

Essas são bandeiras importantes, assim como são também importantes a bandeira do combate à corrupção e

a bandeira do fim do financiamento empresarial das campanhas, pela retomada do crescimento econômico do País e pela garantia dos direitos sociais e trabalhistas.

    O fim do financiamento empresarial, Sr. Presidente, aliás, não é um assunto que une a todos aqui, mas sei per- feitamente que mesmo alguns Parlamentares que não defendem o fim do financiamento empresarial sabem que as coisas não podem continuar como estão hoje. Não podem! Precisamos mudar, porque o que permite a legislação eleitoral hoje? Tudo e mais um pouco, Sr. Presidente.

    É a própria legislação eleitoral do Brasil que diz que as campanhas partidárias, políticas são bancadas com re- cursos do setor privado. O limite que a lei determina é um limite muito alto: 10% do faturamento de uma empresa. Ora, uma empresa que fatura bilhões tem um limite, que não deixa de ser um limite, Sr. Presidente, mas 10% é mui- to alto. Isso faz com que, no Brasil, Parlamentares, Senadores, Deputados federais, estaduais, vereadores, prefeitos, governadores, presidentes, todos tenham suas campanhas eleitorais bancadas por empresas. Isso está errado, Sr. Presidente! Isso é um exemplo vivo e concreto daquele velho ditado: quando se coloca a raposa para cuidar do ga- linheiro. É verdade!

    Eu quero dizer que me entristeço muito ao ligar o rádio ou a televisão e ouvir alguns comentários, não de co- mentaristas políticos, não de estudiosos ou de cientistas políticos, mas comentários de apresentadores de programa de televisão, de telejornais. A cada notícia que dão, ao final, eles se vêem no direito de fazer um comentário. E que comentários são esses? Comentários que vão no seguinte sentido: mas, espere lá; como uma empresa doa para um candidato 20, 30 milhões de reais numa campanha?

    Quão bom é esse candidato para essa empresa? O que esse candidato, uma vez eleito, fará a favor desta em- presa? E por que essa mesma empresa não doa essa mesma quantidade para instituições filantrópicas, por exemplo, de apoio a crianças portadoras de câncer, a viciados em drogas, a moradores de rua? Não; 20 milhões para aqueles não, mas para financiar campanhas sim. Aí vem um outro ditado: “É dando que se recebe”.

    Então, veja, Sr. Presidente, não dá! Se falamos em aperfeiçoar a democracia, nós temos que separar o Poder Público do poder privado e manter, fortalecendo cada vez mais, a independência dos Poderes, sobretudo do Poder Legislativo. E parte dessa independência passa por uma reforma do sistema político eleitoral brasileiro. E, repito, eu sou uma ardorosa defensora da proibição do financiamento privado, de empresas privadas, às campanhas eleitorais.

    Aliás, eu abraço, no todo, a proposta da coalizão que é formada por inúmeras entidades, personalidades, mais de cem, duzentas entidades, puxadas pela CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), pela OAB (Ordem dos

    Advogados do Brasil), por entidades juvenis e centrais sindicais, que no bojo da sua proposta de reforma política

    apresentam o fim do financiamento empresarial de campanha. Eu abraço!

    Mas sei, também, que muitos daqueles que acham que esse não é o remédio para sair do problema. Então, que nós nos unamos e encontremos um denominador comum, tendo, é claro, como norte o fato de que é mais im- portante agirmos naquilo que nos une, orientarmo-nos por aquilo que nos une, do que nos separarmos por aquilo que nos desune. Porque, vejam, todos nós sabemos que o sistema tem que mudar. A fórmula, a receita que cada partido, que cada Parlamentar tem para a saída é que difere. Mas, se nos agarrarmos ao fato primordial e primeiro, que é a necessidade da reforma, aí poderemos caminhar, poderemos dar uma resposta que a Nação brasileira exige. Aliás, essa etapa histórica da nossa democracia exige, e isso é necessário para que não experimentemos retrocessos.

    Portanto, a formação da frente ampla, a necessária retomada da iniciativa política das forças democráticas e progressistas exige o protagonismo, também, da Presidenta Dilma e a participação destacada do ex-Presidente Lula.

    A esquerda partidária e os movimentos sociais, sem abdicar de sua pauta específica, devem se empenhar nes- sa tarefa candente. Cabe em especial à Presidenta Dilma, no nosso entendimento, apoiada num núcleo de articula- ção política plural, condizente com uma coalizão ampla e heterogênea, pactuar uma recomposição que assegure ao Governo a maioria no Congresso Nacional, demanda que implica esforços para agregar os partidos de centro como parte importante da base aliada.

    Sobre o tema da corrupção, a posição que eu já acabei de falar aqui, do meu partido, o PCdoB, sempre foi e é muito clara, Sr. Presidente: o combate à corrupção deve prosseguir, e os corruptos e corruptores devem ser julgados e punidos.

    Contudo, alertamos, nós do PCdoB, que há, no âmbito da reforma política já em votação no Congresso Nacional,

    um movimento do campo político conservador e de outros setores para não só manter o financiamento empresarial

    - como eu disse, muitos não são a favor do fim do financiamento empresarial -, mas alguns são contra qualquer tipo de mudança nessa parte de financiamento eleitoral. E aí, Sr. Presidente, não dá!

    Portanto, eu tenho certeza e convicção absoluta de que o que nós precisamos fazer é reunir a maioria. E a maio- ria hoje, eu não tenho qualquer dúvida em afirmar, a maioria no Congresso Nacional, aqui no Senado Federal ou ali ao lado, na Câmara dos Deputados, a maioria está movida por boas intenções, movida pela consciência de que de fato é preciso promover essas reformas profundas.

    Além disso, Sr. Presidente, nós entendemos que não dá para a reforma política deixar o que é principal de lado e trabalhar no que é secundário; o que é secundário, mas que pode promover uma antirreforma política, que resulte na exclusão ou na redução drástica das minorias nas casas legislativas.

    Está aí o exemplo da coligação partidária. Esta Casa aprovou, em primeiro e segundo turno, o fim da coligação partidária. Eu sei, há um entendimento de que o objetivo de quem votou a favor - e a grande maioria do Senado votou a favor, contra o nosso voto do PCdoB, a grande maioria aprovou o fim das coligações partidárias - e o espírito que move essa proposta não é o da busca da exclusão da representação das minorias no poder, não; mas tão somente o de buscar frear essa quantidade absurda, desnecessária de partidos políticos que existem no Brasil.

    Aqui está o Senador Capiberibe, meu Líder. Líder do PSB e que compõe... Aliás, quem lidera nosso Bloco é a Senadora Lídice, não é, Senador Capiberibe? Mas o PSB se posicionou a favor do fim das coligações. Agora, ao lado do posicionamento do fim das coligações, defende-se o quê? A possibilidade da criação daquilo que chamamos de coalizão partidária, das federações partidárias, que é a possibilidade de unir partidos que não são idênticos, mas se aproximam no pensamento e nas ideias, a possibilidade de esses partidos formarem uma federação e concorrer às eleições e manterem-se unidos no pós-eleições. É assim que acontece no Uruguai, é assim que acontece no Chile, é assim que acontece em tantos países em que coalizões é que disputam campanhas eleitorais.

    Enfim, Sr. Presidente, nós, do PCdoB, aprovamos um documento muito importante, um documento que pro- cura ser o norte de nossas ações políticas, que procura dar o norte para as ações políticas deste momento. É um do- cumento que aponta também saídas para esta crise, repetindo sempre que o centro para a saída da crise deve ser o fortalecimento da democracia, a manutenção dos direitos do povo e dos trabalhadores brasileiros. Já na campanha da Presidenta Dilma, nós dizíamos: “Continuar para avançar nas mudanças.” Então, é essa a tarefa a que o povo bra- sileiro está sendo chamado.

    Eu quero dizer que voltarei à tribuna para tratar deste assunto, Sr. Presidente, e vou querer analisar, um pou- co mais detalhadamente, a questão do ponto de vista econômico. É preciso que se ponham os pontos nos is. Existe aquele velho ditado que diz que uma mentira, repetida cem vezes, ou seja, uma análise - não precisa ser uma men- tira - equivocada, repetida cem vezes, acaba se transformando em verdade.

    Querer dizer que é falácia o fato de o Brasil não sofrer uma crise internacional... Não é verdade. Nós estamos sofrendo a consequência disso sim, Sr. Presidente, mas precisamos tomar lições com momentos importantes de nossa história, tomar lições com momentos do presente e entender que o momento é o da busca da unidade, uma unidade ampla, mas que se forme em torno daqueles verdadeiros democratas, daqueles que defendem o Brasil, que defendem o povo. No meu entendimento, isso passa pela defesa de nossas estruturas democráticas, das próprias

    estruturas do Estado brasileiro, como, por exemplo, a própria defesa da Petrobras.

    Então, esse foi um pouco do debate vivido por mim, pelo meu Partido, neste último final de semana,

    que, repito, está muito disposto a seguir trabalhando ao lado do povo brasileiro, ao lado do Governo, dentro do Parlamento, fora do Parlamento, para que possamos, unidos, superar esta crise e dela transformar o Brasil em um país de grandes oportunidades para nossa gente, porque, afinal de contas, não somos um país plena- mente constituído, tampouco uma democracia plenamente constituída; somos um país e uma democracia em construção.

    Então, viver momentos difíceis e delicados é natural no processo democrático.

    Agora, o ideal é que possamos manter a unidade para superar e avançar, transformando o Brasil numa nação que se preocupa, ainda mais, com o povo e com sua gente.

    Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/03/2015 - Página 29