Pronunciamento de José Medeiros em 30/03/2015
Discurso durante a 40ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Considerações sobre as possíveis causas do descontentamento da população com o governo da Presidente Dilma Rousseff.
- Autor
- José Medeiros (PPS - CIDADANIA/MT)
- Nome completo: José Antônio Medeiros
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
GOVERNO FEDERAL:
- Considerações sobre as possíveis causas do descontentamento da população com o governo da Presidente Dilma Rousseff.
- Publicação
- Publicação no DSF de 31/03/2015 - Página 41
- Assunto
- Outros > GOVERNO FEDERAL
- Indexação
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- ANALISE, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, GESTÃO, GOVERNO FEDERAL, COMENTARIO, SITUAÇÃO, POLITICA, CONCLUSÃO, INEFICACIA, IMPLEMENTAÇÃO, POLITICAS PUBLICAS, REGISTRO, INDICE, DESAPROVAÇÃO.
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, amigos que nos acompanham pela TV Senado, que nos ouvem pela Rádio Senado, que nos acompanham pelas redes sociais e amigos que nos acompanham nesta Casa, eu ouvi, agora há pouco, o discurso da Senadora Vanessa e tenho ouvido atentamente o discurso da base do Governo, falando sobre o cenário recente e, também, colocando como se fosse da responsabilidade da oposição tudo que está acontecendo nas ruas e todo esse descontentamento com a Presidente Dilma.
Sr. Presidente, eu não faço parte do time O Quanto Pior, Melhor. Também não faço parte do time que só vê nos adversários defeitos. Eu vejo que tivemos avanços e, aliás, todos os governos têm seus erros e têm seus acertos, e capitalizam com os acertos, têm desgastes com os erros.
Mas é muito importante para a democracia que cada um assuma os seus erros, e eu vejo, neste momento, que se tenta jogar para a oposição a tese de golpe, com a qual não posso compactuar. Golpe pressupõe a retirada de um presidente à força, a fórceps. E não é isso que vejo que está acontecendo.
Na verdade, temos um governo que teve avanços. E, quando falo desse governo, refiro-me aos quase 16 anos que já se vão. Houve avanços: ele teve avanços nas áreas sociais, teve o mérito de manter a estabilidade econômica, teve o mérito de avançar nos programas sociais, teve a grandeza de copiar bons projetos. Isso tem que ser colocado nos seus devidos lugares.
Agora ele também teve erros. E creio que o maior erro do Governo tenha sido colocar o departamento de marketing primeiro que o departamento técnico. A cada projeto, a impressão que se tem é que, primeiro, se pensou no nome do projeto, antes de se pensar na elaboração do projeto em si, de forma que, com o passar do tempo, as expectativas foram sendo frustradas, até porque a consecução de projetos demanda tempo.
Nós tivemos o trem-bala. Falou-se tanto nesse trem-bala, na sua modernidade, e depois ele acabou não acontecendo.
Falou-se na questão energética, aí tivemos a questão da conta de luz. Fez-se aquela propaganda toda, mexeu-se no setor elétrico, mexeu-se nos contratos, e isso também tem consequência, porque nós trabalhamos com contratos, trabalhamos com confiança, e isso nos traz problemas.
Depois, foi o pré-sal, Sr. Presidente. Lembro-me de que o pré-sal foi cantado em verso e prosa; parecia que era o eldorado e que teríamos 40 empresas participando desse leilão e que ia ser uma maravilha. O que aconteceu? O leilão acabou tendo uma empresa só participando, e aqueles ganhos que se falava que íamos ter não foram tantos assim. O leilão acabou acontecendo, e a empresa arrematou pelo preço mínimo - se não me engano, 40% do valor que se tinha anunciado.
Depois, tivemos a gasolina: manteve-se a gasolina a fórceps ali, a preços artificiais, e agora estamos pagando, também, a conta.
A Petrobras foi protagonista no período eleitoral de uma das campanhas: “A Petrobras é nossa, temos que preservar a empresa.” E hoje, sem força nenhuma, sem ajuda nenhuma da oposição, a imprensa divulga que a Petrobras perdeu 60% do seu valor.
E as coisas continuaram. Estou citando aqui o que aconteceu, essa linha do tempo, para podermos refletir se está ocorrendo um golpe por parte da oposição ou não.
Agora ficamos sabendo - ficamos sabendo, não; isso já se sabia antes - que a contabilidade teria sido bastante criativa. Ou seja, houve uma maquiagem mesmo dos números para alcançarmos o chamado superávit. Aliado a isso nós tivemos um baixo crescimento nos últimos dois anos.
Então, o que ocorre? A pergunta que fica é: em que momento a oposição contribuiu para esse descontentamento que está nas ruas? E aqui não estou a falar mal do Governo; estamos fazendo uma constatação. Tudo que citei aqui aconteceu, a imprensa divulgou, o Governo discutiu, mas eu não consigo ver onde está o dedo da oposição. Essa é a reflexão que temos que ter.
E eu digo isso porque, neste momento, o Governo conclama a um pacto pelo País, a uma coalizão de forças para tirarmos o País. Mas, para começo de debate, é importante colocarmos as coisas nos devidos lugares, para que haja confiança. E eu vejo a oposição aqui muito aberta a participar desse diálogo de reconstrução, para recolocar o Brasil nos trilhos. Eu vejo a oposição reunindo-se com Ministros, dando sugestões, tentando fazer com que as coisas voltem aos seus devidos lugares. Até porque uma crise como a que estamos passando desgasta a todos. E não é só pelo desgaste político; é, acima de tudo, porque, acima das divergências partidárias, nós temos os interesses nacionais, os interesses do País, pois estes estão acima de qualquer coisa.
E eu me tenho preocupado muito, Sr. Presidente, porque hoje li, na primeira página do Valor Econômico, que mais um dos projetos que foram propagados com grande alarde já vai ao chão agora, sob o argumento do ajuste fiscal. Trata-se da concessão das ferrovias.
Mato Grosso, que é o Estado que represento, estava muito esperançoso sobre esse aporte na infraestrutura do Estado. Há poucos dias, estive na Valec, que é a empresa responsável pelo setor ferroviário no Brasil. O projeto está todo encaminhado, mas ele depende de aporte financeiro do Governo. As empresas não vão investir se não tiverem um lastro de confiança, se o Governo não der uma contrapartida na concessão desses contratos. Mas hoje o Valor Econômico trouxe a notícia de que ele não vai acontecer. Então, é mais um projeto que não acontece. Gastaram-se milhões com esse projeto, e ele não vai acontecer. É uma pena!
Mas aí eu volto ao ponto: é mais um ingrediente na quebra de confiança das pessoas no Governo, e sem ajuda nenhuma da oposição, porque não havia, lá em Mato Grosso, por exemplo, um Parlamentar que fosse que não estivesse apoiando esse projeto. O projeto a que me refiro é o da Fico, ferrovia que atravessaria todo o Estado de Mato Grosso e seria uma espinha dorsal, a qual seria alimentada pelos caminhões que trariam grãos. Essa ferrovia ia continuar, e o projeto era de que ela se tornasse uma ferrovia transcontinental, fazendo até uma saída para o Pacífico. Um projeto lindo! E também, agora, sabemos que não vai acontecer.
Outro projeto que, pelo menos para Mato Grosso, trouxe grande expectativa foi o da duplicação do corredor da BR-364/163. Mas esta semana também fiquei sabendo que as obras estão paradas. As construtoras pararam por falta de pagamento.
Só para dar um exemplo, Sr. Presidente, da importância desse corredor, ele liga a cidade de Rondonópolis a Cuiabá. Rondonópolis é a segunda cidade do Estado de Mato Grosso, e lá se encontra o maior terminal ferroviário de carga da América Latina. Milhares de toneladas de grãos vão para ali, para serem escoadas rumo aos portos. E todos os caminhões para ali convergem e caem num único corredor: a BR-364/163, local onde as rodovias se sobrepõem.
Era justamente esse corredor que estava sendo duplicado. E a necessidade já está para lá de urgente, porque são 200km nos quais, às vezes, se demoram seis horas de viagem para percorrer, tamanho o gargalo em que se tornou aquilo ali. Mas as obras também estão paradas.
Paralelamente a isso, Sr. Presidente, esse corredor já contribui, anualmente, com 280 mortes por acidentes. Isso equivale a uma boate Kiss todo o ano - aquela boate que pegou fogo, na qual morreram mais de 270 pessoas. Equivale a quase dois aviões desse que recentemente caiu.
Então, nós estamos vendo que são projetos importantes, em que o Governo teve a iniciativa, criou a expectativa e, logo em seguida, quebrou essa expectativa. E esse amontoado de expectativas frustradas - e eu citei só alguns aqui, do Estado de Mato Grosso, mas sei muito bem da situação em que se encontra o Porto de Rio Grande, em que toda a população da cidade está de luto porque as atividades foram encerradas naquele complexo naval.
Mas eu vejo que a base do Governo, longe de apontar caminhos - e o próprio Governo, longe de apontar caminhos -, tenta jogar o problema...
(Soa a campainha.)
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - ... jogar o problema - já concluo, Sr. Presidente - para os outros. Meio comum até na espécie humana. Diz-se que, desde Adão e Eva, isso já é comum: o problema não é meu, o problema é do outro. Mas, tal como a luz do sol que as nuvens não têm como impedir, a verdade, da mesma forma, em um momento, aparece. E a verdade está aí estampada. E a população notou que estava sendo ludibriada (esse é o termo) e foi às ruas.
Gostaria eu, como membro da oposição, que a oposição, Sr. Presidente, tivesse o mérito de levar aquele tanto de gente à rua. Seria um bom debate. Mas, infelizmente, o mérito não é nosso. O mérito é de todo o Governo.
Fica este desafio para o Governo de poder assumir os erros; de poder ter a grandeza, também...
(Soa a campainha.)
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - ... de pedir ajuda; de poder dizer, com sinceridade: “Eu errei, me ajudem!”
Eu não tenho dúvida de que cada um dos Parlamentares aqui estará aberto. Agora, é preciso ter clareza. É preciso avançar além daquele discurso que o Ministro Miguel Rossetto fez depois das manifestações. Eu creio que, se houver clareza, esta Casa não se furtará a ajudar. Agora, é preciso o paciente querer ser ajudado.
Muito obrigado, Sr. Presidente.