Discurso durante a 37ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta ao Congresso Nacional quanto à necessidade de um plano completo capaz de retirar o País da crise que enfrenta.

Autor
Rose de Freitas (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Rosilda de Freitas
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL.:
  • Alerta ao Congresso Nacional quanto à necessidade de um plano completo capaz de retirar o País da crise que enfrenta.
Aparteantes
Magno Malta, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/2015 - Página 247
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL.
Indexação
  • REGISTRO, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, BASE, PAIS, MOTIVO, CRISE, ENFASE, REFORMA POLITICA, CRITICA, AUSENCIA, PLANO, GOVERNO FEDERAL.

            A SRª ROSE DE FREITAS (Bloco Maioria/PMDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, obrigada. Fiquei com medo de o senhor dizer aí o tempo - tanto tempo foi dito aí -, dizer há quanto tempo estamos nesta Casa.

            O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco União e Força/PR - MT) - Presidente tem o tempo que quiser!

            A SRª ROSE DE FREITAS (Bloco Maioria/PMDB - ES.) - Muito obrigada.

            Eu quero agradecer e dizer que o que me faz assumir esta tribuna foi a preocupação novamente, a preocupação com que nós estamos acompanhando todas as reuniões que são feitas com a finalidade de que sejam adotadas neste País as medidas necessárias para que nós possamos enfrentar a crise pela qual passa o Brasil.

            Infelizmente, Sr. Presidente, eu não estou vendo, não estou ouvindo e não vêm às nossas mãos propostas como a modernidade da política exige, propostas amplas para oferecer ao País uma solução neste momento de crise em todos os setores - faltam recursos para investimentos e até para custeio, custeio da saúde, da educação. Nós estamos ouvindo falar que teremos um ajuste fatiado.

            Para mim, Sr. Presidente, diante da crise que estamos enfrentando, não existe possibilidade de se fazer em partes aquilo que não se quer fazer no todo. Toda a crise tem que ser enfrentada, não há compartimentos a serem olhados. Não podemos dizer que vamos resolver o problema da saúde para depois resolvermos o problema da educação. Não podemos fazer isto, não há tempo. O Brasil se prepara para uma nova manifestação, e isso não é por modismo, mas por incômodo.

            Não há nesta Parlamentar, do alto de oito mandatos - estou exercendo o oitavo agora -, nenhum sentimento que não seja o de juntar forças, Senador Blairo Maggi, Presidente que ora ocupa a Mesa, unir esforços para que possamos superar esta crise. Qualquer outra conversa sobre este assunto é mera filosofia.

            Falamos hoje que o Ministro Levy deve vir com novas medidas da sua pasta que contemplem o interesse do País como um todo. Também acho que nas preocupações da Presidente Dilma não há nenhum sentimento de derrotismo ou de dizer que nós não queremos que o Brasil saia da crise. Isso seria pura irresponsabilidade. Isso não faria jus a minha posição como cidadã brasileira, muito menos como Senadora, muito menos como Deputada, muito menos como Constituinte-mãe, ou qualquer coisa que possa se juntar a minha postura política.

            Hoje fiquei um tanto estarrecida quando discutíamos a questão da dívida dos Estados, situação por que passam todos os Municípios deste País, pois parece que é feito para desfazer logo em seguida. Nós estamos precisando, sim, Senador Roberto Requião... V. Exª dizia da minha quietude, que, ao contrário, é inquietude; que, ao contrário, é insatisfação; e que, ao contrário, é indignação. Sou daqueles Parlamentares que hoje estão discutindo dia e noite qual é a saída final.

            Uma coisa são as atitudes que o Congresso pode tomar. Todos os dias lutamos para que haja um pacto nestas duas Casas a fim de que se possa colocar na Ordem do Dia as votações que são pertinentes e que são exigidas pela população brasileira.

            Na vez passada, disse que há mais ou menos 20 anos - estou aqui há quase 30 anos - ouço falar da reforma política.

            E quando chega a hora de votar, um Parlamentar vota equivocado, o outro sai naquele momento porque tinha um afazer... Parece-me que não querem fazer. Ressalto, porém, a vontade e a determinação do Presidente Renan, pela pauta que ele está colocando, pela forma democrática com que ele debate as questões - muitas vezes até, em um momento da discussão, ele teria um pensamento diferenciado dos demais, mas ele aceita que é essa a forma de agir e aqueles assuntos preponderantes são colocados com a urgência que merecem.

            Se alguém acha que pode iludir ou enganar a população brasileira, engana-se. Não há espaço pra isso. Este é um País que viveu 20 anos de ditadura. Eu me lembro, jovem, de percorrer as ruas para falar da liberdade. Não há nada mais importante do que a liberdade, não há nada mais importante do que a democracia. Mas a democracia, no presidencialismo, é democracia concentrada. Se fosse parlamentarismo, seria diferente - mas eu não vou advogar essa tese, já que nós não conseguimos votar a coincidência de mandatos.

            Ontem, no Senado Federal, foi votada a questão das coligações. Foi um avanço? Foi. Mas por que no Brasil, dentro do Congresso Nacional, das duas Casas, há o hábito de dizer que “nós já avançamos”? Quando você vai medir o tamanho desse avanço, percebe que ele é quase irrisório, pequeno. Incomoda que nós possamos pensar que este Brasil não tem pressa. Quem, na verdade, acaba não tendo pressa é a classe política, que se assenta em seus plenários, diante das suas Mesas Diretoras, e coloca ali a pauta e, de repente, alguém fala “não dá pra votar isso hoje” - sem nenhuma discussão, sem aferir no sentimento nacional se essas decisões podem ser jogadas para depois de amanhã.

            Nós temos estudantes sem recursos, hospitais sem recursos. O meu Estado está vivendo uma enorme crise na saúde, não temos recursos para custeio de nada. Os hospitais estão querendo fechar. Sobre o aeroporto, basta dizer que, desde 2008, está parado - foi licitado, está tudo pronto para dar a ordem de serviço, mas isso não acontece.

            Os brasileiros desta Casa e os brasileiros que estão na rua podem achar até que não têm muito a ver com o que acontece aqui. Têm! E os brasileiros que não estão nas ruas amanhã irão para as ruas, porque ao verem o que acontece aqui e o que acontece na outra Casa e do outro lado da rua, verão que só mesmo se movimento e mostrando o que pensam e o que querem é que poderemos, enfim, ter um país democraticamente altaneiro.

            Portanto, antes de se preocuparem com os interesses de seus segmentos corporativos, preocupem-se, sobretudo, com o Brasil, para onde vamos com este Brasil que está sendo desenhado todos os dias e todas as horas.

            Eu não pretendo ocupar a tribuna desta Casa muitas vezes para fazer uma espécie de choro, de lamentação. Mas pretendo alertar para o que estava escrito naquela frase, naquele cartaz: que a paciência estava se esgotando. Foi aquele sentimento que mobilizou o povo brasileiro.

            Portanto, sem me alongar, porque hoje, na verdade, é um dia histórico para as mulheres do Brasil inteiro. Hoje eu sei que quebro um tabu, e quebro com a confiança dos meus pares, por ser a primeira mulher a presidir a Comissão de Orçamento no Congresso Nacional.

            Na caminhada intensa e vigorosa que percorremos, Governador Blairo Maggi, Presidente desta sessão, nós enfrentamos desafios, nós enfrentamos discriminação, nós enfrentamos limitações que nos eram impostas. Quando aqui chegamos, eram poucas as mulheres.

            Senador Cássio, V. Exª tinha 21 anos, foi o mais jovem Constituinte deste País. Hoje deve ser pai. Não me diga que é avô, porque vou me surpreender. Não, avô não pode ser. Portanto, está aí um Senador. Está ali o Senador Roberto Requião, cabelos brancos. E está aqui uma Parlamentar que teve restrições na sua liberdade pessoal, por lutar por democracia neste País, por dizer que nós acreditamos que a democracia é a fonte da riqueza, sem limitações, do pensamento livre e aberto. E quem chegou aqui chegou pelo voto, soberano voto. Quem está do outro lado da rua também.

            Não pode se olvidar do que este País está dizendo. Esta Casa não pode deixar de falar, de dizer. Não podemos nos sentar acomodadamente vendo o Senador Cássio, ao microfone, a defender suas teses e suas ideias, trazendo para cá a continuidade dos seus sonhos e dos seus ideais. Precisamos que esta Casa se mexa, que procure construir um pacto, discutindo com os Ministros e com quem de direito, mas que procure dizer ao País que está interessada, sim, em ajudá-lo a sair desta crise.

            Temos que dialogar. Não adianta dizer que eu não acredito no Ministro da Fazenda. Não vou dizer. Eu tenho que acreditar. Ele foi escolhido, por uma delegação de confiança, para fazer propostas que sejam coerentes com aquilo que pode hoje derrotar esta inflação famigerada, que ressurge com força, que tem uma musculatura inaceitável diante dos nossos olhos porque, até outro dia, o País estava fortalecido, preparado para o franco desenvolvimento.

            Tivemos muitas conquistas, avançamos demais, Senador Paulo Paim. Estávamos numa caminhada que não era trôpega, era firme; estávamos pisando no solo com a certeza de que o povo brasileiro desta vez, pagando suas dívidas, tinha que crescer.

            Vamos falar de um Governo que tirou 40 milhões de brasileiros da pobreza. Muito bem, além de tirar da pobreza, tem que se dar a oportunidade de que eles cresçam.

            E agora estamos falando de um país diferente. Estamos falando de um país que não consegue mais galgar os níveis de investimento, cumprir seus contratos, ter de volta os investimentos para as áreas sociais. Isso não é possível, isso é inimaginável.

            Eu me vejo diante dessa peça orçamentária, tendo de raciocinar, sobretudo - sobretudo -, com a visão de quem quer que o povo brasileiro saiba que orçamento é esse, o que existe de fato. Não vamos fazer, nem adotar, nem aceitar qualquer tipo de maquiagem em torno de números que são importantes para a superação dessa crise.

            E que o Sr. Ministro da Fazenda possa se debruçar sobre os seus papéis, em intensas conversas com a Presidente da República; interagir e compartilhar o seu pensamento com os outros Ministros, para dizer publicamente qual é o plano.

            Esta é a pergunta: qual é o plano? Qual é o projeto de amanhã ou de depois de amanhã? Sabemos. Vamos discutir a indexação das dívidas dos Estados, vamos falar sobre um problema imediato que está batendo à porta do Governo.

            Mas quero perguntar novamente: qual é o plano? Não pode o Ministro da Fazenda vir a esta Casa, sem nenhum tipo de reforma, nenhum tipo de ajuste, Senador Paulo Paim, fatiado, para dizer ao País que vai resolver o que está nesse biombo, o que está nessa gaveta, o que está ali no armário, o que está mais adiante.

            Nós queremos saber: há o reconhecimento de que há uma crise no País? Existe. Mas qual é o plano? Não se convocou o Ministro Levy para que ele chegue aqui e nos fale qual é a saída para o projeto da dívida dos Estados e Municípios. Nós estamos aqui conversando exatamente sobre a necessidade que temos de que o Ministro nos mostre, que a Presidente nos mostre, seus Ministérios, qual é a visibilidade que podemos ter para que possamos votar, senão entraremos num quadro - e é por isso que chamo a atenção do Presidente - de colocar uma pauta em que esta Casa vai se digladiar para decidir se vota ou não vota e como vota.

            Vamos conhecer as medidas adotadas aqui, em uma folha de papel, no dia seguinte, ou vamos debater a crise nacional?

            Esta Casa, tenho certeza, não se nega, de maneira nenhuma, a enfrentar esta crise junto com o Governo brasileiro, a procurar a saída junto com o Governo brasileiro, a ajustar as medidas, ainda que doa na cota do sacrifício, que sempre cai no colo do brasileiro. Mas nós queremos que nos deem um plano. Este é o apelo que faço ao Presidente do Congresso Nacional, que aqui não está, mas, na figura de quem o representa, para dizer: sem um plano, completo, que ofereça ao Brasil a justificativa de tudo o que nós teremos que passar e fazer, não será possível pensar em saída de crise nenhuma.

            Concedo um aparte a V. Exª, Senador Paulo Paim.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Paulo Paim (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senadora Rose de Freitas - nós fomos Constituintes juntos -, eu tive a ousadia de fazer um aparte a V. Exª...

            A SRª ROSE DE FREITAS (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Muito me honra.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco Apoio Governo/PT - RS.) - ... que fala de um tema tão importante, que é o quadro nacional que se apresenta e que preocupa todos nós. Como V. Exª lembra, não dá para negar que estamos em um quadro negativo. Nas notícias que chegam a esta Casa e à sociedade, eu fico à procura, como dizia hoje pela manhã, de um discurso que não encontro. Por quê? Por exemplo, as duas MPs que chegam para votarmos, a 664 e a 665, que mexem na vida do pescador e do Seguro-Desemprego, que mexem na vida de quem ganha até dois salários mínimos e ganhará - poderá não ganhar mais um salário-mínimo, poderá vir a ganhar um doze avos -, que fala que o pescador, se ganhar...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Paulo Paim (Bloco Apoio Governo/PT - RS.) - ... o Bolsa Família, (Fora do microfone.) não terá o Seguro Defeso. É como V. Exª coloca: se é para fazer um debate, vamos fazer um debate global. Agora, só atingir a nossa gente humilde - como diz Chico Buarque, na sua canção Gente Humilde -, aí não dá. E não dá também para não querer dialogar, não querer negociar. Mesmo o Presidente Lula, no auge da sua primeira vitória, para passar aqui, neste plenário, a Reforma da Previdência, teve que negociar a PEC Paralela, que se tornou lei em seguida. Por isso, entendo e concordo com grande parte do seu pronunciamento. Foram momentos bonitos que vivemos nos anos anteriores, a partir do Presidente Lula - e não dá para negar também a estabilidade econômica com o próprio Presidente Fernando Henrique Cardoso -, mas não dá para agora, na hora do dito ajuste, e não ajuste fiscal, é um ajuste social.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Paulo Paim (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - É isso que me preocupa. Não é sequer no andar de baixo, é em quem está lá no porão. E é por isso que eu quero fazer, no mínimo, o bom debate, ponto por ponto, apontando um caminho maior, como V. Exª lembra. Qual é o foco? Qual é o caminho? O que queremos de fato? Vamos estabelecer um diálogo, mediante a crise, com o empresário e o trabalhador? Vamos. Vamos chamar o conselhão? Vamos. Vamos dialogar com o Congresso Nacional, com a Base do Governo e com a oposição? Vamos, em cima do interesse do conjunto do povo brasileiro. Faço este aparte rápido. Tenho o maior respeito por V. Exª e pelo seu pronunciamento, que, no meu entendimento, apontou nesse sentido. É preciso ter foco e uma pauta positiva. É isso o que o País espera. Tivemos uma grande mobilização, no dia 13 e no dia 15, e teremos outras, com certeza, a partir do dia 12. É preciso saber ouvir, como dizia Ulysses Guimarães, a voz rouca das ruas, ou, como eu às vezes digo, saber ouvir a batida do tambor. O tambor está batendo, e quem não quiser ouvir está cometendo um equívoco histórico. E nós não temos que ser irresponsáveis a ponto de não perceber isso. Parabéns a V. Exª.

            A SRª. ROSE DE FREITAS (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Eu digo que V. Exª é um dos Senadores, um dos políticos que mais admiro no Congresso Nacional. E não teria uma visão diferente, porque, às vezes, no exercício do poder, o olhar fica vesgo e não se consegue sentir o coração. Às vezes, não se consegue entender os gestos, os sinais que a população brasileira emite.

(Soa a campainha.)

            A SRª. ROSE DE FREITAS (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Quero dizer a V. Exª que longe de mim pensar que quero fora do poder a Presidente que foi eleita legitimamente, porque quem preza a democracia sabe que as regras democráticas precisam ser mantidas. Mas para que tudo isso aconteça dentro da legitimidade tem que acontecer dentro da lealdade. E a lealdade que queremos agora é do Governo com o País, do Governo com o povo brasileiro.

            Quando as medidas são tomadas e elas se divorciam do melhor sentimento, essa balança que pesa sempre de um lado, pesa mais do lado do povo brasileiro. Quando se fala em sacrifício, o povo brasileiro é quem primeiro aperta o cinto, é quem primeiro corta na carne.

            Desta vez, precisamos que seja diferente. Nós estamos falando do País, do nosso País, do povo brasileiro.

(Soa a campainha.)

            A SRª ROSE DE FREITAS (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Nós estamos falando desta Nação deste tamanho, poderosa e rica como é, mas que, por questão de gestão, já passou por todos os solavancos da corrupção que assolou o País inteiro. Quando se diz que foram repatriados para o Brasil R$186 milhões de um só cidadão, de uma só operação corruptiva e corrompida, dos valores em relação à Petrobras, eu digo que é preciso que estejamos atentos: temos que debelar de vez a inflação do País. Aliás, país nenhum vai à frente se tiver o nosso nível de corrupção, ou pelo menos se a trama do seu desenvolvimento estiver pari passu com tantos fatos de corrupção. Isso nos envergonha muito.

            Mas paralelo ao que temos que fazer como dever de ofício e como dever...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            A SRª ROSE DE FREITAS (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Senador Magno Malta, nós temos que fazer o dever de casa. Esta Casa - Câmara e Senado - tem que unir forças, chamar o Ministro da Fazenda e dizer: “Nós queremos o plano”.

            Qual é o plano, qual é a estratégia? Dizer o que vai fazer depois de amanhã e depois de uma semana dizer que será diferente, que teremos mais uma oportunidade pela frente, não é justo com esta Pátria, não condiz com os sentimentos dos brasileiros que elegeram a Presidente Dilma. Eu quero a sua permanência no Governo, quero que ela encontre a saída e nos aponte, dentro da Casa, que prioridades temos que votar a fim de tirar o Brasil da crise.

            Tenho que dizer que nada na minha vida, absolutamente nada, me incomoda mais do que a sensação de incompetência, de impotência, a sensação de estar “escanteada”, jogada num canto, e o assunto que vamos discutir, resolver, não ser debatido conosco. Acho que é menosprezar a força do Congresso e o papel institucional que ele tem num processo como esse.

            Quero agradecer a V. Exª, Sr. Presidente, acrescentando, ao final do discurso, que nós mulheres que administramos nossas casas, que cuidamos de nossas famílias, que fazemos o papel de verdadeiras guardiãs dos interesses na sociedade brasileira, em qualquer lugar que estejamos, temos uma conduta muito honesta...

(Soa a campainha.)

            A SRª ROSE DE FREITAS (Bloco Maioria/PMDB - ES) - ... à frente das casas que administramos, à frente dos órgãos que presidimos. Portanto, acho que posso chegar aqui - e falo como mulher -, com a preocupação que tenho de o País não ter a capacidade de promover um debate à altura do que o momento e a crise exigem.

            O Sr. Magno Malta (Bloco União e Força/PR - ES) - Um aparte, Senadora?

            A SRª ROSE DE FREITAS (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Pois não, Senador Magno Malta.

            O Sr. Magno Malta (Bloco União e Força/PR - ES) - Senadora Rose, eu quero cumprimentar V. Exª, que tem uma história de luta, uma história de vida, pela lucidez do seu pronunciamento. Agora mesmo, o Presidente me perguntava: “Qual era a atividade da Senadora Rose antes de vir para a política?” Eu falei: “Luta, luta, luta, luta! Eu a conheci assim.” E, quando eu era um jovenzinho de 22 anos, cheguei ao Espírito Santo cheio de sonhos, tirando drogado da rua, consegui um horário de 15 minutos na Rádio Capixaba, na quarta-feira, chamado Um Fio de Esperança. E, Senador Blairo, antes desses meus 15 minutos, havia um programa chamado Sala do Povo, com Rose de Freitas. Era o povo denunciando, era o povo falando, e ela brigando. Briga, briga, o povo, cheio de gente. Encerrou, eu entrei. Entrou minha vinheta: Um Fio de Esperança, com Magno Malta. Quando abro a Bíblia e começo a lê-la, ela empurra a porta. “Não, deixa eu entrar no ar!” E eu disse: “Deixar entrar no ar por quê?” E querendo tomar o microfone de mim. “Não, porque chegou uma mulher com um problema aqui, e eu preciso denunciar.” E eu: “Denuncia no seu. No meu, não!” Desligaram o microfone. Eu a botei para fora do estúdio, porque ela queria entrar de todo jeito com a mulher debaixo do braço e tal. Eu falei: “Não, o meu programa é evangélico. Eu vou pregar agora. Você entrar de jeito nenhum. Bota no seu!” E ela saiu e ficou lá fora naquele aquário de vidro, esbravejando comigo e atrapalhando a minha pregação. Acabei mandando botar uma música e fui para o corredor pedir: “Minha senhora, a senhora tenha paciência! Espera terminarem meus 15 minutos. E a senhora entra no ar.” Foi assim que eu conheci a Senadora Rose de Freitas, que tem uma história de luta e está abalizada, está credenciada para falar o que falou pela sua própria história. A história do Parlamento brasileiro não se confunde, mas traz uma fatia enorme da história da Senadora Rose de Freitas, desde a Câmara dos Deputados até a sua chegada, como primeira mulher, à Vice-Presidência daquela Casa, por méritos, por reconhecimento de luta, de trabalho e, depois, ao tornar-se Senadora da República, pela via do voto - nós tivemos duas suplentes do Espírito Santo que assumiram -, pelo seu mérito, pela sua luta de trabalho pelos Municípios do Espírito Santo, um tipo de guerreira que não conhece Natal, que não conhece passagem de ano, dia 31, que fica por aqui atrás de querer resolver os dramas dos Municípios do nosso Estado. E aqui eu falo uma verdade das mais... Assim como eu tenho muita coragem para falar a verdade e dar nome de quem eu preciso dar, falando coisa verdadeira, sem me acanhar, para elogiar também, eu não preciso realmente me acovardar para fazê-lo. E V. Exª tem toda a autoridade e autorização para falar dos temas que V. Exª falou. V. Exª, daqui a pouco, vai assumir a Comissão Mista de Orçamento, a primeira mulher novamente. V. Exª está predestinada para essas coisas e abalizada pela sua história, que eu estava contando ali para o Senador Blairo Maggi. V. Exª faz, numa grande lucidez, a sua colocação. Não dá para atropelar o Parlamento; não dá para você... O Senador Paim faz uma fala lúcida, embora seja do Partido da Presidente. Ele faz um aparte lúcido ao seu lúcido discurso, dizendo: “Quando a corda quebra, quebra para o lado do mais fraco, sem que o mais fraco seja ouvido, e aqueles que são chamados a quebrar a corda, ou quebrar as varas juntos, para pender para o lado do mais fraco...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco União e Força/PR - ES) - ... também não são chamados; são convidados tão somente para romper a corda, para que caia do lado do mais fraco.” Eu comungo com V. Exª, comungo com o Senador Paim, e, se depender de mim, do meu voto... E hoje eu não preciso ser chamado para nada, não. Meu Líder está sentado ali, na mesa, o Senador Blairo Maggi. Ele vai lá, vai ouvir a Presidente, vai ouvir tudo que é Ministro, e depois ele pode trazer tudo o que eles falaram. Eu vou ouvir tudo calado, vou olhar para ele e vou dizer: “Tenho a maior admiração por V. Exª, Senador Blairo, mas eu voto contra tudo.” Não fui chamado nem para fazer o pacote de bondade. E agora eu também não fui chamado para dizer que o pacote de bondades será tomado. Ela está querendo ser Tiradentes com o meu pescoço, e com o meu pescoço não o será. Está querendo fazer graça com o chapéu alheio. Não será com o meu. Então. V. Exª, que tem uma outra linguagem, diferente da minha, falou todas as verdades, do alto da sua capacidade de vivência com o Parlamento e vivência com o Executivo. Sua capacidade de se relacionar com outros Presidentes, desde Fernando Henrique, a tratar com o Presidente Lula, e V. Exª que, em muitos momentos tentou ser uma mão de ajuda ao Governo Federal, já agora, nesse desastre para o que nós estamos caminhando. O Senador Paim, no alto da sua lucidez, fala do equilíbrio da economia desde Fernando Henrique Cardoso. Difícil é ver um petista falar isso, reconhecer, porque eles não reconhecem, porque quem inventou o Brasil foi o PT. Eu tenho medo de eles falarem que quem rezou a primeira missa foram eles, lá, em Porto Seguro. Entende? Reconhecer isso, e realmente é... Muito obrigado, Senadora Rose de Freitas. V. Exª nos representa a todos no Espírito Santo com muito orgulho...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco União e Força/PR - ES) - ... pela sua história e também por este momento importante. Nós, que somos liderados por V. Exª na Bancada, a sua maneira ávida de correr atrás dos Ministérios, dos nossos interesses, a sua batalha pelo aeroporto do nosso Estado. Até ouvi umas notas lá que não traduzem a verdade, que saíram nos jornais, e não traduzem a verdade. V. Exª, quando faz suas afirmações, elas são verdadeiras com relação ao nosso aeroporto, e V. Exª tem corrido atrás disso. E esperamos que o Ministro Padilha, que tem tratado com V. Exª, conosco, de fato, ao receber e ter tomado conhecimento de toda problemática, saiba que temos que ser a bola da vez, que somos a bola da vez, que aquela rodoviária de avião que tem no Espírito Santo precisa ser resolvida agora. E V. Exª está certa quando faz suas afirmativas.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco União e Força/PR - ES) - E V. Exª na tribuna certamente traz um tema que é a verdade do coração dos brasileiros. Os mais indultos e aqueles que mais conhecimento têm, aqueles que pagam impostos e aqueles que são isentos de impostos, os nossos aposentados, aqueles que vivem de proventos da pesca, como disse o Senador Paulo Paim, sentem-se representado na sua fala. E eu me orgulho muito disso.

            A SRª ROSE DE FREITAS (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Senador, concluindo, quero agradecer a V. Exª por essas palavras. V. Exª sabe tocar o coração das pessoas e, com certeza, tocou o meu. E não sei se me chamava de senhora, porque acho que você falou assim: “Você é muito menina, para estar fazendo isso que você está fazendo. Respeite o cidadão!” E quero dizer que suas bandeiras sempre foram motivo de orgulho nessa Casa. Então, suas palavras para mim têm o poder de me emocionar.

            Só queria concluir, Sr. Presidente, dizendo, embora o Senhor não saiba (Fora do microfone.), sou também uma pessoa ligada à área de terras, porque já ajudei meu pai a medir muitas terras. E os meus cursos são incompletos, até porque a política me chamou antes. E eu só quero deixar um versículo aqui, que é um versículo de São Paulo, que ficava em cima da mesa de Mário Covas e que dizia: “Muito será cobrado a quem muito se houver confiado.”

            Não é por acaso que a Presidente Dilma está sentada naquela cadeira e não é por acaso que ela preside o Brasil. Espero que ela se lembre desse versículo e saiba que tem que corresponder a essa confiança, ainda que hoje, sob percalços, para que o Brasil não possa sofrer as consequências da falta de decisão oportuna, para que possamos sair dessa crise.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/2015 - Página 247