Discurso durante a 41ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à queda de investimentos no Fies; e outros assuntos.

Autor
Ataídes Oliveira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/TO)
Nome completo: Ataídes de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Críticas à queda de investimentos no Fies; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 01/04/2015 - Página 236
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE, MOTIVO, ALTERAÇÃO, NORMAS, ACESSO, PRAZO, PAGAMENTO, FINANCIAMENTO, AUMENTO, CUSTO, FUNDO DE FINANCIAMENTO AO ESTUDANTE DE ENSINO SUPERIOR (FIES), ANO, ELEIÇÃO, APREENSÃO, ESTUDANTE, AUSENCIA, PARTICIPAÇÃO, PROGRAMA.

            O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Oposição/PSDB - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o ex-Presidente Lula e a Presidente Dilma conseguiram mudar o sentido de dois ditados populares milenares. Primeiro: “depois da meia-noite não se escurece mais”. Escurece sim! A cada momento nós nos deparamos com um escândalo. Escândalos com o dinheiro do povo. Bilhões e bilhões de reais sendo jogados no ralo a cada momento. Portanto, hoje, depois da meia-noite, neste Governo se escurece sim!

            O outro ditado é: “O que se planta se colhe”. O ex-Presidente Lula e a Presidente Dilma plantaram uma desordem neste País. Acabaram com a economia deste País.

            Destruíram a economia deste País.

            E quem vai colher não é a Presidente Dilma e nem o ex-Presidente Lula. Quem está colhendo é o povo brasileiro. Então, esse é mais um ditado que, doravante, não poderemos utilizar no nosso dia a dia.

            Já falei aqui, Sr. Presidente, a respeito do pleno emprego. Vim a esta tribuna e mostrei que a metodologia usada pelo Governo é errática, enganosa e mentirosa. Lamentavelmente, o desemprego neste País é algo em torno de 20%.

            Também falei sobre o Pronatec, esse programa extraordinário, porém administrado com muita irresponsabilidade e incompetência. Mais de R$8 bilhões foram para o ralo!

            A Presidente Dilma, esta semana, disse na imprensa que cometeu erros na administração do Fies. Hoje eu quero falar sobre o FIES. Na semana seguinte, voltarei a esta tribuna, se for da vontade de Deus, para falar sobre o seguro-defeso, um seguro concedido aos pescadores na época de piracema, quando eles não podem pescar para seu sustento. Em 2013, o Governo gastou quinhentos e poucos milhões de reais com o seguro-defeso. Em 2014, gastou R$2,5 bilhões, praticamente.

            Tudo isso aqui é um crime eleitoral. Gastaram demais e gastaram errado. Agora, não há mais como meter a mão no bolso do brasileiro. Não sabem o que fazer, querem aumentar impostos.

            Mas vamos falar sobre o Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), criado em 1999 pela Medida Provisória 1.827/99, convertida na Lei 10.260/2001, ou seja, no Governo Fernando Henrique Cardoso, Senador Anastasia.

            Olhem o que fizeram com o nosso Fies. Gastos descontrolados. Em 2010, o Governo Federal mudou as regras de acesso ao Fies: reduziu a taxa de juros de 6,5% ao ano para 3,4% ao ano. Até aí, coisa maravilhosa. Mas havia um objetivo, que era a eleição. O Governo aumentou o prazo para pagamento do financiamento para três vezes a duração do curso mais um ano e ampliou o prazo de carência para o início dos pagamentos para 18 meses contados da formatura. Com isso, os gastos com o Fies tiveram um salto de 104%, só em 2011, primeiro ano após as mudanças.

            Em 2014, foram gastos 1.456% a mais do que em 2010. Vou repetir: em 2014, ano da eleição, como foi feito no Pronatec e em outros programas, foram gastos 1.456% a mais do que em 2010, último ano com as regras antigas.

            E aqui tenho os valores: 2004, R$ 634 milhões; 2005, R$604 milhões; 2006, R$207 milhões; 2007, R$685 milhões; 2008, R$736 milhões; 2009, R$866 milhões; 2010, R$880 milhões - e aí a coisa começou a acontecer; em 2011, já foi R$1 bilhão e 810 milhões; 2012, R$4,200 bilhões; 2013, R$7,5 bilhões, e 2014, R$13,700 bilhões. Olhem só: em 2013, R$7,5 bilhões; 2014, R$13,700.

            Vamos lá! Vamos que o Governo paga. Mas esse Governo é povo, é o povo brasileiro.

            O aumento de gastos não gerou resultados positivos. Vamos lá! Os gastos exagerados não melhoraram os resultados do programa na mesma proporção. O número de alunos no programa aumentou 448% em 2010 e em 2013, mas o total de matriculados em nível superior subiu apenas 13% no mesmo período.

            O que significa isso? Eram os alunos que já estavam matriculados que estavam conseguindo pagar as suas mensalidades. Vejam só: o número de novas matrículas passou a subir apenas 3% ao ano, a partir de 2010. No ano das mudanças que flexibilizaram as regras antes, entre 2003 e 2009, subia em média 5% ao ano, ou seja, passou a subir menos.

            Os números acima demonstram que, a partir de 2010, o Fies absorveu majoritariamente alunos que já estavam nas faculdades. Esse não era o objetivo do Fies. O objetivo do Fies eram os novos alunos pobres, de famílias pobres, Sr. Presidente, que não tinham condições de ingressar na universidade.

            E aqui eu quero dar um testemunho. Estive, recentemente, falando com uma professora universitária de uma universidade do Distrito Federal, e ela me disse que o diretor dessa universidade botava gente nas ruas para buscar alunos, e ela, quase chorando, me disse que, como professora ali, ela estava percebendo que ela não ia formar profissionais para botar no mercado de trabalho. Está aí o resultado de R$7 bilhões para quase R$14 bilhões. Essa migração de alunos que já estavam na faculdade para o Fies aconteceu, porque as universidades perceberam que, com isso, passariam a operar com o risco de inadimplência zero. Evidentemente, não é? Quem ia pagar, doravante, seria, então, o povo brasileiro.

            Segundo um sindicalista de São Paulo, o Governo criou um capitalismo sem risco para as universidades. O valor médio das mensalidades, que vinha caindo, desde 99, passou a subir cerca de 2,9% ao ano, a partir de 2010. Isso aumenta a dívida de quem já está no Fies e prejudica ainda mais aqueles que continuam pagando seus próprios cursos sem a ajuda do Governo.

            O número de concluintes (formandos) caiu pela primeira vez em 11 anos. Veja que coisa contraditória: em 2013, foram 5,9% a menos de formandos do que em 2012. Repetindo: em 2013, foram 5,9% a menos de formandos do que em 2012, segundo o Censo Nacional da Educação. Isso aconteceu porque as pessoas receberam crédito para entrar na universidade e pagar as mensalidades, mesmo sem ter condições ou subsídios para fazer frente aos demais custos de frequentar um curso superior, como transporte e materiais de estudo.

            O dinheiro gasto com os alunos desistentes dificilmente retornará ao caixa do Governo. O beneficiário não se formará e, por isso, não terá condições de pagar o crédito que chegou a usar no período em que frequentou a universidade.

            O verdadeiro custo da expansão dos gastos, Sr. Presidente.

            Segundo levantamento do Estadão, a dívida atual dos alunos que aderiram ao Fies é de R$58,8 bilhões. Repito: R$58,8 bilhões é a dívida desses alunos que aderiram ao Fies nos últimos quatro anos.

            Como o Governo cobra juros de 3,4% ao ano, inferior à taxa oficial de inflação, de 6,41% - hoje está mais de 8% -, em 2014, mesmo que todos os beneficiários paguem em dia suas dívidas, o Governo terá que arcar com um déficit de mais de R$17 bilhões. O Governo não vai pagar nada. Quem vai pagar é o povo brasileiro.

            O rombo aumenta quando se compara a taxa de juros do Fies (3,4%) com o curso de captação de recursos pelo Governo (12% a 13% ao ano).

            Aí sim, é uma caixa-preta. Não há projeções oficiais desse custo. Não há controle. Nós falamos num déficit de R$17 bilhões, Senador Anastasia, mas, quando vem para o recurso do Governo, com índice de 12% a 13%, essa projeção não existe.

            Eu acredito que seja algo em torno de R$30 bilhões.

            O impacto só vai ser sentido daqui a pelo menos dez anos, quando os primeiros beneficiários das regras de 2010 começarem a pagar seus empréstimos.

            A farra de gastos agora provoca queda de investimentos no programa, evidentemente. Gastaram muito e gastaram errado, eu estou cansado de dizer isso nesta tribuna.

            Até meados do mês de março, havia queda de investimentos de 58% nos dois primeiros meses de 2015, se comparados com o mesmo período de 2014. Janeiro e fevereiro de 2014, R$2,4 bilhões; janeiro e fevereiro de 2015, R$1bilhão. Ou seja: “Agora não se gasta mais dinheiro com o Fies, nós já ganhamos a eleição. Agora, alunos, vocês vão ter que pagar caro por isso, mas vocês já votaram em mim. Então, agora, está tudo feito”.

            Pagamentos atrasados: em 13/03/2015, a Justiça mandou o Governo pagar às universidades os atrasados de dezembro. Por isso, foram emitidos mais de R$376 milhões em Certificados Financeiros do Tesouro (CFT-E1), que só podem ser utilizados pelas instituições para quitar tributos federais. Ou seja, o Governo não tinha dinheiro para pagar as universidades. Fizeram, então, uma permuta, uma permuta contra a lei, porque a lei não permite que este procedimento seja adotado: permutar Certificado Financeiro do Tesouro por despesa do Governo.

            Parte da dívida existe.

            Estelionato eleitoral. Em 2014, ano da reeleição, foram gastos no Fies, então, R$13,7 bilhões, equivalentes a 0,24% do PIB. No ano anterior, sem eleições, os gastos foram de R$7,5 bilhões, equivalentes a 0,15% do PIB. Um aumento de 82,67%. Eu já havia dito, estou aqui ratificando: em 2013, R$7,5 bilhões; em 2014, ano eleitoral, R$13,7 bilhões, se não me falha a memória.

            Nova mudança de regras para tentar conter o rombo. Em 2015, ano sem eleição e com severas restrições orçamentárias, o Governo decidiu que: não terão acesso ao Fies alunos com menos de 450 pontos no Enem e com nota zero na redação - mas 2014 era uma farra, não precisava, podia ter zero pontos e zero também na redação, que estava matriculado -; não arcará com reajustes superiores a 6,4% nas mensalidades - são as regras adotadas agora -; apenas instituições com nota 5 (avaliação máxima) terão acesso pleno ao programa, sendo que as que tenham nota 3 ou 4 terão acesso limitado. Nada disso existia.

             As mudanças podem representar economia superior a R$4 bilhões em 2015.

            Isto aqui não representa, no meu entendimento, corte de despesas. Não, de forma alguma. Estão deixando de jogar o dinheiro no lixo porque agora não precisam desse eleitor; vão precisar dele em 2016 e, especialmente, em 2018.

            As mudanças podem representar essa economia. Isso não é economia.

            Prejuízo aos mais pobres. Vamos lá: o Governo passou a exigir que os beneficiados pelo Fies tenham feito pelo menos 450 pontos no Enem. Essa exigência de nota mínima atinge em cheio os mais pobres, sem sombra de dúvida. O filho do rico estuda em escolas particulares de primeira linha; o filho do pobre, quando consegue vaga numa escola pública, está de parabéns.

            E eu não me esqueço de uma frase do Senador Cristovam Buarque, que carrego sempre comigo: “No dia em que o filho de um político estudar na mesma escola do filho de um pobre, a educação no País será outra”. Frase do nosso querido Senador Cristovam Buarque.

            Famílias com renda de até cinco salários mínimos: mais de 90% dos alunos que não conseguem atingir 450 pontos no Enem. Mais de 90%!

            Famílias com renda superior a 10 salários mínimos: menos de 20% não conseguem fazer 450 pontos. Então, agora, só o filho do rico vai usufruir do Fies.

            Erros reconhecidos pela Presidente Dilma - ratifico o que eu disse no início - em entrevistas nos dias 16 e 30 de março: a Presidente Dilma afirmou que o Governo errou ao deixar a inclusão no Fies nas mãos das universidades e ao permitir que alunos com zero na redação do Enem tivessem acesso ao programa.

            Ou seja, a Presidente Dilma agora está jogando para cima das universidades. A responsabilidade é de quem administra o dinheiro público, e não das universidades.

            Sr. Presidente, esse Fies é um programa maravilhoso para os nossos jovens que não têm condições de ir para a universidade. Eu vim de família extremamente pobre. Sei o quanto me custou fazer dois cursos superiores, mantendo quatro empregos, faculdades a 15km da minha residência, pagando as duas universidades, muitas vezes, tirando da passagem do ônibus e da boca. E agora essa farra com R$58 bilhões está aí. É por isso que hoje o Governo não tem dinheiro para outras coisas.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/04/2015 - Página 236