Comunicação inadiável durante a 43ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do Sr. Carlos Augusto Amariz; e outro assunto.

Autor
Fernando Bezerra Coelho (PSB - Partido Socialista Brasileiro/PE)
Nome completo: Fernando Bezerra de Souza Coelho
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento do Sr. Carlos Augusto Amariz; e outro assunto.
MINAS E ENERGIA:
Publicação
Publicação no DSF de 07/04/2015 - Página 35
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > MINAS E ENERGIA
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, RADIALISTA, ORIGEM, PETROLINA (PE), ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • COMENTARIO, MELHORAMENTO, DESENVOLVIMENTO, BIOTECNOLOGIA, PAIS, ENFASE, ESTUDO, INCLUSÃO, ESPECIE, PRODUTOR, COMBUSTIVEL ALTERNATIVO, ORIGEM, PRODUTO VEGETAL, ADAPTAÇÃO, REGIÃO NORDESTE, DEFESA, INTERCAMBIO, TECNICO, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), EMPRESA, PESQUISA, PRODUÇÃO, AGAVE, PAIS ESTRANGEIRO, AUSTRALIA, OBJETIVO, AUMENTO, OFERTA, INSUMO, PRODUÇÃO INDUSTRIAL, COMBUSTIVEL, BRASIL, REFERENCIA, CONTRIBUIÇÃO, ECONOMIA NACIONAL.

            O SR. FERNANDO BEZERRA COELHO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - PE. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Srª Presidente, minha companheira Gleisi Hoffmann, Senadora pelo Paraná. Eu, na realidade, venho a esta tribuna para fazer dois registros.

            O primeiro é compartilhar com os Srs. Senadores e com as Srªs Senadoras, avanços recentes na biotecnologia, em especial na introdução de novas espécies produtoras de biocombustíveis, com grande potencial de adaptação ao Semiárido brasileiro.

            Recentemente, tomei conhecimento, por meio de matéria publicada em sítio eletrônico americano, a respeito de celebração de protocolo de intenções, acompanhado de plano de trabalho, entre a Embrapa e a Byogy, controladora da AusAgave, empresa australiana pesquisadora e produtora do agave, da variedade azul tequilana, a qual tive a oportunidade de conhecer em 2011, em missão oficial à Austrália, quando Ministro da Integração Nacional.

            O objetivo do acordo firmado é o de realizar pesquisas tanto em laboratório como no campo, para verificar a adaptação no Brasil do agave, na variedade azul tequilana, introduzida na Austrália a partir de importação de material genético do México e com boa adaptação em pesquisas voltadas à produção de etanol e fibra em regiões com condições de solo e clima semelhantes ao Semiárido brasileiro, onde a cana-de-açúcar, por exemplo, somente pode ser produzida com uso intensivo de irrigação.

            Segundo a matéria, a parceria entre a Embrapa e a AusAgave visa a proporcionar a redução do custo de produção do biocombustível, permitindo a reposição da produção de gasolina, diesel e combustível de aviação, bem como a produção de fibras renováveis.

            A AusAgave passou os últimos 15 anos desenvolvendo propriedade intelectual com o fito de produzir variedades do agave para a cadeia produtiva do etanol e fibras no mundo, que podem ser cultivadas em solos de baixa fertilidade natural e com baixa demanda de água e fertilizantes.

            Conforme informações da empresa, o custo de produção está em torno de US$0,07 por libra. Esperam reduzir para menos de US$0,05 por libra. Com esse custo, afirmam que terão uma competitividade maior na produção de biocombustíveis, em especial o etanol e o combustível de aviação, com relação aos derivados do petróleo.

            As pesquisas atualmente em curso pela AusAgave na Austrália, que serão realizadas no Brasil, poderão permitir a produção de uma cultura alternativa, com uso de menos insumos, herbicidas e mais tolerantes à seca e às condições do Semiárido brasileiro, criando as condições favoráveis e sustentáveis para uma substituição dos hidratos de carbono e do combustível fóssil.

            Srªs e Srs. Senadores, tenho, particularmente, muita alegria em tomar conhecimento dessa notícia e da evolução das tratativas entre a Embrapa e a AusAgave.

            Em 2010, quando ocupava o cargo de Secretário de Desenvolvimento Econômico do Governo de Pernambuco, assisti a apresentações acerca de experiências exitosas com o agave no México, onde é utilizado para a produção da bebida típica desse país, a tequila, e, em menor escala, como fonte de frutose para um adoçante similar ao xarope de frutose de milho e insulina para a indústria alimentícia.

            Aqui no Brasil, cabe destacar que temos uma grande produção de outra variedade do agave, a sisalana, utilizada na produção de fibras, principalmente na Bahia, Estado com maior produção no País, seguido da Paraíba. Segundo o IBGE, a área plantada com a cultura do sisal, no ano passado, foi de 216 mil hectares. A área plantada tem sido reduzida a cada ano. Em 2006, a área plantada foi de 304 mil hectares.

            Na época, como Secretário de Desenvolvimento Econômico, criei um grupo de trabalho, no âmbito da Câmara Setorial da Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de Pernambuco, envolvendo representantes da indústria, dos produtores de cana-de-açúcar, trabalhadores, representantes dos governos, nas esferas estadual e federal, universidades e instituições de pesquisa, com a finalidade de discutir alternativas produtivas para a Zona da Mata do meu Estado.

            Recebi, naquela ocasião, relevantes contribuições e sugestões, a exemplo de produção de seringueira, eucalipto, bambu, apoio à pecuária leiteira, aquicultura, beterraba açucareira e o agave azul tequilano, entre outras culturas e atividades produtivas.

            Quanto ao agave, fui informado por Consultor Técnico do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar) das excelentes produção, produtividade e sinergias com a produção de cana-de-açúcar no Estado, concentrada na Zona da Mata e sazonal, com possibilidades de produção de açúcar, álcool e energia no período de entressafra, utilizando o agave produzido em áreas de transição entre a Zona da Mata e a região do Agreste.

            Para a produção de biocombustíveis a partir do agave azul, o processo é quase idêntico ao da produção com cana-de-açúcar, com a diferença de que, com o agave, faz-se necessário acrescentar, no processo, o cozimento da pinha, em autoclaves, para, em seguida, passar pelos demais processos de moagem, extração do caldo, fermentação e destilação.

            Os dados apresentados foram promissores e chamaram nossa atenção. Já como Ministro da Integração Nacional, em 2011, fui convidado pelo governo australiano e o Banco Mundial para realizar missão oficial de intercâmbio técnico nas principais áreas de atuação do Ministério, tendo em vista semelhanças entre os países, como dimensões continentais, clima, recorrência de desastres naturais, política de gestão de água e irrigação.

            Sabendo do início das experiências da Austrália com a produção do agave azul, conheci a unidade de produção da Ausagave, em Ayr, região de Queensland, no nordeste australiano. Estavam no terceiro ano de pesquisa, em parceria com a Universidade James Cook, com resultados animadores.

            Conferi, in loco, a adaptação e bons resultados das pesquisas em solo australiano, em uma região com baixa precipitação pluviométrica e de clima quente, semelhante ao Semiárido brasileiro, além de excelentes oportunidades para as indústrias de biocombustíveis e bioquímica.

            No retomo ao Brasil, solicitei à Codevasf a realização de gestões perante a Embrapa com vistas à pesquisa da adaptação e potencial produtivo do agave azul tequilano no território brasileiro, em especial no Semiárido do Nordeste.

            Tenho, portanto, grandes expectativas com a evolução do acordo que ora se celebra entre a Ausagave e a Embrapa.

            Darei todo o apoio necessário para a realização das pesquisas, que visam trazer alternativas inovadoras de produção e renda à população do Semiárido brasileiro, permitindo um grande salto na pesquisa, na ciência e na tecnologia do nosso País.

            E finalmente, Srª Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, é com muito pesar que também desta tribuna quero prestar a minha homenagem a Carlos Augusto Amariz, o homem da Jecana, o homem do Forró da Espora, o homem da Missa do Vaqueiro. Carlos Augusto, infelizmente, deixou-nos, na última quinta-feira, em Petrolina. Carlos Augusto tinha como pai José Mariano Gomes, que era funcionário público. Da estirpe de vaqueiros e do sangue espanhol da mãe, Joana Amariz Gomes, Carlos Augusto herdou o gosto pelas coisas do Sertão. Era casado com Francisca Mousinho Gomes e pai de quatro filhos: Marcelo Augusto, Rodrigo Luis, Maíra e Carla. "Sou de família de vaqueiros. Herdei do bisavô o nome Carlos; do avô herdei o Augusto, ambos eram vaqueiros", dizia Carlos Augusto.

            Carlos Augusto iniciou a vida de comunicador no Serviço de Alto- Falantes Brasil Publicidade, de Manoel Alves Sibaldo, o Menininho, lá em Petrolina. Isso lá pelos anos de 1962. Desde então, Carlos Augusto nunca mais largou o microfone.

            Depois, ao lado do Padre e depois Senador Mansueto de Lavor, a convite do Bispo Dom Antônio Campelo de Aragão, fundou a Rádio Emissora Rural: A Voz do São Francisco. Alvorada Alegre, Forró no Balundeiro e Forró na Cuia Grande foram alguns dos programas que apresentou na Emissora Rural. Não demorou muito, topou outro desafio: implantar a Rádio Grande Rio AM. Na nova emissora, lançou o Forró do Povo, que logo virou um sucesso.

            Fiel ao ditado "cobra que pode vive do seu veneno", foi à luta e comprou seu espaço na emissora. Apesar de ser obrigado a pular da cama cedinho para ir trabalhar na rádio, confessava que jamais se acostumou com isso: "Gosto de dormir até tarde", afirmava.

            Não era raro ele ser acordado cedinho, pelas duas ou três da manhã, por um telefonema de um ouvinte, pedindo para comunicar um nascimento ou mesmo um falecimento durante o programa. Atendia a todos. "A vida e a morte são as maiores comunicações do rádio", ensinava.

            Longe dos microfones, um de seus orgulhos foi o título de tetracampeão da cidade, conquistado pelo América Futebol Clube, quando ele foi Presidente. Entre os anos 1989 a 1992, foi Vice-Prefeito de Petrolina.

            Amigo de Luiz Gonzaga se emocionava ao recordar um fato que considerava inusitado, durante homenagem de Petrolina ao imortal Rei do Baião. Milhares de pessoas estavam nas ruas. Para lembrar a música Asa Branca, foi feita uma revoada de pombos. Emocionadas, as pessoas ergueram as mãos para o alto. Uma das pombinhas, em vez de voar para a liberdade, pousou justo na mão de Carlos Augusto. "Só de pensar, fico arrepiado”, confessava. Seriam “coisas” do Luiz? Carlos não negava, também não descartava.

            Em 1967, revitalizou a Festa do Vaqueiro de Petrolina, que todos os anos reúne centenas, milhares de vaqueiros. No início da década de 70, para chamar a atenção contra a matança indiscriminada que estava dizimando o jegue, animal símbolo do Sertão, lançou em seu programa, na emissora rural, a ideia de se realizar uma corrida de jegues.

            No início, foi motivo de chacota. Muita gente na cidade torceu o nariz, dizendo que não ficaria bem para uma cidade como Petrolina ter uma corrida de jegues, "uma coisa provinciana". Obstinado, Carlos Augusto foi em frente e, em 1972, realizou a 1a Jecana, uma incrível gincana de jegues. Quando a imprensa do Recife, do Rio e de São Paulo elogiou a iniciativa, os críticos silenciaram.

            Todos os anos, a Jecana atrai milhares de pessoas da cidade e das regiões vizinhas para participar da festa. São três dias de uma divertida mistura de futebol, corrida de jegues e burros, desfile de animais à fantasia, comida sertaneja e muito forró, até a madrugada. A festa faz parte do calendário turístico da minha cidade, a cidade de Petrolina, e é realizada no distrito do Capim.

            Apesar do sucesso da Jecana, Carlos lamentava o fato de ainda pairar sobre o jegue o fantasma da extinção. Por isso, pregava, quase como uma ideia fixa, a criação desses animais de forma produtiva, para que sua carne fosse exportada a países onde é muito apreciado, como o Japão, por exemplo, o que geraria divisas para o Brasil e emprego para o nordestino e, principalmente, evitaria a extinção do jegue, hoje um animal sem serventia, que, substituído pela moto como meio de transporte, vive abandonado na beira das estradas, causando, sem querer, acidentes muitas vezes fatais.

            Depois da temporada de eventos com a Jecana do Capim, Forró da Espora e fechando com a Missa do Vaqueiro, sempre muito acolhedor, Carlos Augusto recebia em sua residência amigos e conhecidos, servindo um tradicional pirão de bode.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esta é uma justa homenagem que faço desta tribuna a esse guerreiro, defensor ferrenho da cultura popular do Sertão e grande comunicador e radialista que nos deixou na última quinta-feira.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/04/2015 - Página 35