A SRª ANGELA PORTELA (Bloco Apoio Governo/PT - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Srªs e Srs. Senadores, semana passada o mundo cristão celebrou a Semana Santa, trago a reflexão sobre o tema deste ano, escolhido pela igreja católica para marcar a passagem da tradicional data religiosa. Falo, senhores e senadores e senadoras, de uma data que representa religiosidade, humanismo e espiritualidade, que por estes dias, elevam o pensamento cristão.

            São dias em que todo o povo cristão busca pensar sobre o mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, evento histórico-religioso, que se dá, entre o Domingo de Ramos e o Domingo de Páscoa; formando, segundo a Igreja Católica, um rito de passagem da morte para a vida, para uma nova vida, como nos ensina a Bíblia Sagrada.

            No meu Estado de Roraima, a passagem da Semana Santa é celebrada por meio de um evento tradicional, que mistura atividades artístico-culturais - shows, feiras, cânticos e competições esportivas -com atos administrativos - como o lançamento de importantes projetos para a cidade - e, ainda, com gestos religiosos e a tradicional Encenação da Paixão de Cristo.

            Refiro-me, senhores parlamentares, ao maior espetáculo da região Norte, que há mais de 30 anos se realiza no município de Mucajaí, recebendo centenas de pessoas, que vão prestigiar e valorizar artistas locais bem como renovar sua fé em Cristo.

            Em Mucajaí, o evento religioso, que acontece desde 1981, promove um dos maiores eventos turísticos do município, no período da Semana Santa, quando parte considerável da população do Estado se desloca para aquela cidade, com o nítido desejo de prestigiar a Encenação pública da Paixão de Cristo.

            De responsabilidade da Prefeitura Municipal que, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, organiza e dá vida ao evento, a Semana Santa de Mucajaí, tem chamado a atenção não só do público que o prestigia, mas, também, do mundo acadêmico.

            A Encenação da Paixão de Cristo em Mucajaí oferece à população visitante conhecimento, entretenimento e possibilidade de geração de emprego e renda. De tanta Importância para a região, a Encenação da Paixão de Cristo foi objeto de estudo científico.

            Os acadêmicos Renato Silva Lima e Ismar Borges de Lima analisaram a realização do evento 'profano-sacro', sob a perspectiva do turismo, e defenderam o que segue:

"A construção do complexo cenográfico, sem dúvidas, contribuirá para a reestruturação da Semana Santa e Cultural, dos equipamentos turísticos e dos espaços públicos de uso coletivo. Portanto, o complexo cenográfico tem um papel crucial que vai além daquele de agregar valor ao evento e impulsionar o turismo sazonal de viés religioso. Com o zoneamento, as regras sociais podem ser instituídas, fazendo com que se desmaterialize a sensação de um evento 'profano-sacro', rompe-se com a noção de um evento majoritariamente hedônico do que religioso."

            Participei, juntamente com a população da encenação do sofrimento de Jesus, deste ano, tendo a oportunidade de perceber o valor social e religioso deste evento, bem como sua contribuição para o desenvolvimento socioeconômico de nosso Estado.

            Srs. Senadores e Senadoras, destaco, por oportuno, outra tradição da Igreja Católica, que busca reunir fiéis. Falo da Campanha da Fraternidade. E, por oportuno, destaco que, como faz todos os anos, há quase 50 anos, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), escolheu como exercício na Campanha da Fraternidade deste ano, o desafio de refletir sobre o tema: "Fraternidade: Igreja e Sociedade".

            Quem acompanha as campanhas da fraternidade da CNBB deve se lembrar de temas como a fome (1985), o conflito fundiário (1986) e do tema crianças e adolescentes carentes (1987).

            Deve se lembrar, também, de temas como os meios de comunicação (1989), o desemprego (1999), os efeitos danosos das drogas (2001), a defesa da vida (2008), a água no planeta (2011), Saúde Pública (2012) e Juventude (2013).

            Com o tema que escolheu para este ano, penso que a CNBB quis chamar a atenção da sociedade para a responsabilidade da igreja com os problemas sociais e econômicos, mas, sobretudo, com problemas políticos que o país atravessa, especialmente com o problema da corrupção.

            Nesta Campanha da Fraternidade, a questão da ética e da moral abriu o leque de discussões sobre atos de corrupção que se repetem, ano após ano, sem que governos e/ou grupos políticos consigam destruí-la de vez.

            Com este tema, a igreja católica se dirigiu aos milhares de fiéis, em momento crucial no qual se discute o rol de denúncias de corrupção na Petrobras, nosso maior patrimônio. Pensando assim, reporto-me ao debate acerca da reforma política, tema caro à CNBB.

            Vejo como necessidade urgente, a realização de uma reforma política capaz de por fim ao sentimento de impunidade que, há anos, preenche a mente de muitos dilapidadores dos cofres públicos.

            A propósito, dei minha contribuição à reforma política, apresentando um leque de propostas, que vão desde o financiamento público exclusivo de campanhas, até a ampliação da participação das mulheres na política, passando por projetos que estabeleçam perda de mandato por desfiliação partidária sem justa causa e institua cláusula de desempenho para partidos políticos.

            Enfim, defensora do direito de expressão religiosa de todos os cidadãos e cidadãs, penso que registrar aqui desta tribuna dois eventos importantes do mundo católico, é mostrar que a democracia pressupõe unir fatos políticos ao cotidiano de eventos religiosos, sem, no entanto, desrespeitar a laicidade do Estado.

            Era o que tinha a registrar. Muito obrigada