Pronunciamento de Ana Amélia em 13/04/2015
Discurso durante a 48ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Homenagem ao ex-Senador Paulo Brossard; e outros assuntos.
- Autor
- Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
- Nome completo: Ana Amélia de Lemos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM:
- Homenagem ao ex-Senador Paulo Brossard; e outros assuntos.
-
GOVERNO ESTADUAL:
-
MOVIMENTO SOCIAL:
- Publicação
- Publicação no DSF de 14/04/2015 - Página 33
- Assuntos
- Outros > HOMENAGEM
- Outros > GOVERNO ESTADUAL
- Outros > MOVIMENTO SOCIAL
- Indexação
-
- HOMENAGEM POSTUMA, VOTO DE PESAR, MORTE, PAULO BROSSARD, EX SENADOR, RIO GRANDE DO SUL (RS), EX MINISTRO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), APRESENTAÇÃO, PESAMES, FAMILIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
- ANUNCIO, VOTAÇÃO, MATERIA, OBJETIVO, ALTERAÇÃO, INDICE, CORREÇÃO, DIVIDA, ESTADOS, MUNICIPIOS, CREDOR, UNIÃO, COMENTARIO, APRESENTAÇÃO, EMENDA, REFERENCIA, RESSARCIMENTO, ENTE FEDERADO, VALOR, PAGAMENTO, EXCEDENTE, ABATIMENTO, SALDO DEVEDOR, PERIODO, EXERCICIO FINANCEIRO, COMPENSAÇÃO, ENCARGOS FINANCEIROS, EXERCICIO FINANCEIRO SEGUINTE.
- COMENTARIO, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, MOTIVO, PEDIDO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, NUMERO, MINISTERIO, INEXISTENCIA, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Apoio Governo/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Senador Roberto Requião, eu estava presidindo quando fiz referência ao falecimento do nosso conterrâneo, um dos políticos mais notáveis deste século no nosso Estado, o Senador Paulo Brossard, que foi Consultor-Geral da República, Ministro da Justiça, Ministro do Supremo Tribunal Federal, Senador da Republica. E só esse currículo de funções relevantes desempenhadas já seria suficiente para mostrar a qualidade pessoal e o preparo intelectual desse corajoso gaúcho da fronteira, lá de Bagé.
Eu convivi muito com o Ministro Paulo Brossard exatamente como jornalista e tive o privilégio de acompanhá-lo numa missão como Ministro da Justiça no Governo do Presidente Sarney, numa viagem oficial a Cuba.
Imaginem quais eram os integrantes daquela comitiva do Ministro Paulo Brossard: Raimundo Faoro, notável jurista do meu Estado; Cláudio Abramo, uma das figuras também mais comprometidas com a redemocratização, com a defesa do Estado de direito, com os direitos humanos; um conterrâneo seu, de quem há pouco fiquei sabendo pelas mãos de quem o senhor entrou no PMDB, Deputado Euclides Scalco, uma figura muito respeitada também do ponto de vista da sua integridade pessoal; e Leo Iolovitch, genro e um dos assessores mais próximos do Ministro Paulo Brossard.
Fizemos, em 85, uma viagem a Cuba. Roberto Muylaert era o Secretário de Serviços Penitenciários. Naquele momento, imaginava-se que se poderia debater. Fidel Castro, àquela época, estava na sua vigorosa integridade física, saudável e, como sempre, muito bem falante.
É claro que não havia interesse, apesar da relevância que aquela reunião tinha, em tratar das questões relacionadas a presos políticos, que eram oposição ao regime, e tão pouco questões relacionadas aos direitos humanos. Era do regime. Tínhamos que respeitar.
E veja só como Fidel Castro se sentou depois de entrada misteriosa. Há todo um ritual, chega, não chega, por aonde chega. É uma coisa realmente para criar a liturgia do poder que tem Fidel Castro, agora transferido ao seu irmão, Raul. E ele chega e se senta na frente do Ministro Paulo Brossard. Eu estava à mesa, na lateral, era a segunda pessoa, e estava também presente a grande jornalista Eliane Cantanhêde. E Fidel Castro chega, olha para Paulo Brossard e diz, com um vozeirão e uma pompa solene: “usted es ganadero”. Ou seja, foi falar com Brossard daquilo que é o atavismo maior de um homem vinculado às suas raízes e ao campo e que, como um gaúcho que se preze, Brossard tinha pelo campo, como Getúlio Vargas, como Brizola, como o próprio Assis Brasil, homens que se projetaram na política, mas nunca deixaram de ter esse vínculo e essa raiz forte com o campo, uma espécie de gênese, de DNA dessa vinculação.
E talvez isso também justifique muitas das teses da antropologia ou da sociologia humana em relação ao comportamento do gaúcho, que enfrenta o Minuano, que enfrenta as intempéries: ora um frio rigoroso, ora um verão inclemente.
Pois aí começou Fidel Castro a discorrer, Senador Roberto Requião, tudo sobre pecuária. E o fez como se fosse um médico veterinário ou um grande criador de gado, ou um especialista em genética ou coisa que o valha. E ali ficamos mais de duas horas naquela conversa. Ele falou sobre tudo, sobre todas as raças, sobre o que Cuba poderia fornecer, sobre a ovinocaprinocultura, sobre as raças de gado existentes no Rio Grande e pelo Brasil.
Sonolentos, Raymundo Faoro e Cláudio Abramo caíram ali, porque era um tema completamente árido e fora do que aos dois interessava. Queriam ouvir e falar sobre questões institucionais, questões políticas, até do próprio relacionamento de Cuba com os Estados Unidos, naquela época, muito mais duro do que hoje, quando as portas já começam a se abrir, pelo menos, ao diálogo.
Então, Paulo Brossard foi um homem que esteve à frente do seu tempo.
Eu vou repetir uma frase dele, porque aqui o Senador que me antecedeu, João Capiberibe, mencionou a questão da corrupção: se é sistêmica, como ela é, se é cultural, se é possível matar essa doença que corrói o nosso País naquilo que é mais precioso, que é o nosso patrimônio, inclusive cultural.
Em 1978, Brossard deu essa declaração e usou esta frase, que tem de ser lida na época, mas vale para hoje: “A democracia neste País é relativa, mas a corrupção é absoluta”.
Essa frase vale para hoje, porque, também do ponto de vista da nossa democracia, embora nós aqui todos saudemos a democracia brasileira como consolidada, ela é relativa, na medida em que os direitos do cidadão não são respeitados.
Então, sob esse aspecto nós podemos dizer que ela é, como disse Brossard naqueles anos, relativa, mas a corrupção, absoluta.
Palavras de Paulo Brossard em 1978.
É dessa forma que eu, então, renovo a homenagem a esse grande político, lembrando um episódio em que eu tive a honra de estar presente. Fui convidada para integrar a comitiva do então Ministro da Justiça Paulo Brossard, e nessa visita, depois, também vimos que Fidel Castro conhecia profundamente não só tudo sobre pecuária, mas conhecia, também profundamente, porque ele tem tempo para estudar, o desempenho do avião Brasília, fabricado pela Embraer. O avião Brasília e outros aviões brasileiros da Embraer eram muito necessários à aviação regional na ilha de Cuba.
Então, eu trago essa lembrança para dizer os motivos pelos quais eu tinha mais razão ainda, como jornalista, como cidadã e agora como política, de destacar essa figura, que tinha um pouco de Getúlio Vargas; tinha muito de Assis Brasil, que era parlamentarista como ele; de Raul Pilla, na sua veemência e na sua forma de ser; mas ele era sobretudo Paulo Brossard, essa figura que a gente não vai esquecer jamais.
À Dona Lúcia Brossard - e eu tenho o prazer de conviver com ela e com as filhas, com os genros e com o filho - quero dizer que nós aqui renovamos o nosso voto de pesar.
Senador Requião, V. Exª foi governador do Paraná e sabe que a relação dos entes federados com a União está cada vez mais fragilizada, mais entrando em choque. Eu diria até que a crise federativa é tão aguda quanto a crise política, quanto a crise de valores, quanto a própria crise institucional.
Amanhã, finalmente, nós teremos a hora da verdade. Vamos saber se poderemos votar a mudança do indexador, porque o Governo já empurrou isso com a barriga por muito tempo. Agora mesmo, o Ministro Joaquim Levy pede, em nome do tal ajuste fiscal, que isso seja prorrogado e que ela só entre em vigor a partir de 2016. O Senador Eunício Oliveira, Líder do seu partido nesta Casa, Senador Requião, assegurou que houve um acordo para que terça-feira, amanhã, dia 14 de abril, nós votemos. É o terceiro item da pauta, e eu espero, sinceramente, que essa matéria seja votada.
Apresentei a Emenda nº 3, determinando que, a partir do dia 1º de janeiro de 2016, o valor pago a mais, em 2015, pelo Estado à União deve ser ressarcido naquele ano, mediante abatimento adicional do saldo devedor ou compensação aos pagamentos dos encargos a serem efetuados ao longo do próximo ano, critério a ser definido pelo devedor, não pelo credor.
Uma emenda parecida com a minha foi apresentada pelo Senador Romero Jucá, porém com data diferente. Eu proponho a partir de 1º de janeiro, e ele, 31 de janeiro.
Penso que, dessa forma, poderemos conseguir amanhã, com essa emenda, a garantia, porque, como tantas vezes foi adiada a votação dessa matéria, o compromisso do Ministro Joaquim Levy, a quem eu respeito, não significa que será cumprido. Então, é preciso que esteja escrita na lei essa condicionante, para que os Estados tenham a certeza e a segurança jurídica de que vão ser ressarcidos.
Até porque, vale lembrar, para os Estados exportadores - como o Rio Grande do Sul, o qual, com muita honra, eu represento, junto com o Senador Paulo Paim e o Senador Lasier Martins -, a Lei Kandir concede um ressarcimento ao incentivo na isenção do ICMS, no caso das exportações. A União tem que ressarcir o Estado que é exportador dessa desoneração fiscal, porém isso não é feito. Ou seja, a União obriga e exige que os Estados e os Municípios cumpram com ela esses compromissos e dispositivos legais, mas não cumpre a sua responsabilidade perante os entes mais fracos. Diz-se sempre que a corda arrebenta pelo lado mais fraco. E é verdade. Os Estados e Municípios, ao não cumprirem, são penalizados; mas a União é poderosa, e, quando não cumpre, não lhe acontece absolutamente nada.
Por isso, amanhã é o dia da verdade, e teremos que votar essa alteração no indexador. É claro que isso, Senador, fala sobre o estoque da dívida, não sobre o desembolso. O Estado do Rio Grande do Sul continua comprometendo 13% da sua receita líquida para pagar parte dessa dívida que tem com a União, o que é insuportável. Imagine que, se houver uma dificuldade - como agora nós teremos, com a economia entrando em recessão, desaquecimento, redução da atividade econômica e, portanto, redução também da receita -, 13% fica muito, muito mais pesado para um Estado que tem uma situação financeira extremamente delicada como o Rio Grande do Sul. É difícil honrar esse compromisso.
O seu amigo e correligionário, que recebeu todo o meu apoio, o Governador José Ivo Sartori, está fazendo um enorme esforço para conseguir manter o pagamento em dia dos servidores, Senador Requião, pelo estado em que o antecessor deixou as finanças do Rio Grande do Sul.
E o fato de permitir aprovação amanhã de mais endividamento não é a solução ideal.
Eu volto a lembrar o projeto do Senador Roberto Requião, desculpe-me, do Senador Luiz Henrique da Silveira, que propôs que 20% desse total do acordo da dívida, 20% desse comprometimento seja aplicado pelo Estado em mobilidade urbana e em transporte coletivo. Eu sou Relatora desse projeto, Senador Requião, ele é do Senador Luiz Henrique, e eu espero que ele possa ter também, mas não tenho nenhuma esperança diante da situação de aguda crise que vive o País.
Termino, Senador Requião, dizendo o seguinte: ontem, no Brasil, era esperado que não houvesse uma manifestação tão acentuada quanto a do dia 15 de março. Afinal, não tinha decorrido nem um mês da primeira manifestação, a do dia 15 de março, que foi um sucesso. Não se esperava o insucesso, mas previa-se que a mobilização de domingo, dia 12 de abril, não fosse tão acentuada. Mas, independentemente disso, chamou-me muito a atenção a sensatez e a sensibilidade política do Vice-Presidente Michel Temer, que, ao contrário do dia 15 de março, disse o seguinte, para resumir - em outras palavras, claro: “Mesmo que o protesto não tenha sido tão grande, tão expressivo quanto no dia 15 de março, não podemos ignorá-lo”.
O Governo não pode ignorar o que aconteceu ontem, Senador. E aí está a diferença de uma pessoa que tem, pelo menos, a sensibilidade e o respeito por quem foi às ruas de norte a sul do País para levar o seu protesto.
E eu gostei muito de um cartaz que um menininho levou. No cartaz, de um garoto de 8 ou 10 anos, estava escrito: “Nem esquerda, nem direita: quero caminhar para frente.”
Esse envolvimento, Senador Requião, da sociedade e até das crianças nesse processo é extremamente educativo, é didático.
Também como V. Exª, acho que falar em impeachment da Presidente da República está fora de propósito. Hoje, não há nenhum motivo plausível e razoável, do ponto de vista do fundamento jurídico, para isso.
Do ponto de vista político, até se pode discutir; mas, do ponto de vista jurídico, não. E nós temos que falar de lei.
Eu penso que o Governo precisa não fazer ouvidos moucos. Não pode fazer o papel de avestruz no sentido de, exatamente, ignorar o que está acontecendo. E, para isso, precisa tomar uma atitude. Já passou o tempo! Uma atitude que não é defendida aqui por uma Senadora independente. Não! Foi defendida pelo Presidente da Casa e por muitos outros parlamentares. Não é possível, na situação de dificuldade por que estamos passando, que tenhamos 39 Ministérios, gastando sem controle, em cartões corporativos, milhões e milhões de reais, sem transparência.
E é exatamente esse sinal que o Governo ainda não deu à sociedade brasileira para justificar as duas medidas provisórias que tanto problema e tanta celeuma estão causando nesta Casa. Ela atacou exatamente naquilo que, na campanha eleitoral, negou-se que iria acontecer: tirar direitos trabalhistas.
Não importa! Mexeu em direitos trabalhistas. Mexeu. Mexeu ao mudar o seguro-desemprego. Necessário? Pode ser necessário, mas, do ponto de vista político, foi exatamente negar aquilo que foi prometido durante a campanha eleitoral. E é por isso que a sociedade está se manifestando. São eleitores de outros partidos, nem de partidos do Governo.
Queria dizer a V. Exª que, enquanto não entender esse recado das ruas, o Governo vai ter dificuldade de obter um maior apoio.
Obrigada, Senador. Não foram os 45 minutos, mas deu para resumir o recado de hoje.
Obrigada.