O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes que nos acompanham pela Rádio Senado, é com profundo pesar que ocupo a tribuna do Senado na tarde desta quarta-feira em razão das mortes de dois grandes companheiros, ocorridas nos últimos dias: o Deputado Estadual Manoel Santos e o ex-Deputado Federal Pedro Eugênio, ambos filiados ao PT. 

            O falecimento prematuro desses dois invejáveis guerreiros deixou de luto o nosso Partido e extremamente triste a nossa militância, que ficou órfã da liderança, do caráter, da inteligência e da garra de Manoel e de Pedro.

            Manoel Santos era negro e filho de agricultores, nascido em Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco. Começou a trabalhar na roça aos seis anos de idade e, a despeito de todo o preconceito e das condições adversas a que esteve submetido, rompeu esse cerco para trilhar uma carreira brilhante.

            Foi um dos fundadores do PT em Pernambuco e, no início da década de 90, assumiu o comando da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco, a Fetape, onde foi um leão na defesa dos interesses dos homens e das mulheres do campo.

            Sua luta o levou à presidência da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, a Contag, atividade que, por mais de dez anos, ele exerceu com um empenho exemplar, ampliando para todos os cantos do Brasil o seu trabalho em favor da dignidade dos trabalhadores rurais e do movimento sindical no campo.

            Mané, como nós o chamávamos, foi, aliás, o primeiro secretário rural da Central Única dos Trabalhadores, a CUT, exercendo uma militância contagiante em favor da organização sindical dos trabalhadores rurais brasileiros e da agricultura familiar.

            Foram muitas as ocasiões em que o vi arriscar a própria vida, no ambiente por vezes inóspito e sem lei em que o campo se transforma em razão dos conflitos agrários, para defender os trabalhadores rurais.

            Atualmente, Manoel Santos estava no exercício do seu segundo mandato de Deputado Estadual, liderando a Bancada do PT na Assembleia Legislativa de Pernambuco.

            Morreu aos 63 anos, lutando contra um câncer de esôfago, que acabou por vencê-lo no último domingo.

            A morte de Manoel Santos não apagará, no entanto, o seu brilhante legado de luta em favor dos trabalhadores rurais, da dignidade dos homens e das mulheres do campo, da busca por uma sociedade mais solidária e mais justa.

            Essas bandeiras que ele tanto empunhou ao longo da sua vida seguirão erguidas por aqueles que acompanharam o seu trabalho e, principalmente, pelos brasileiros cuja vida foi mudada graças ao trabalho desse grande homem público que nós perdemos.

            Quanto a Pedro Eugênio, nem bem tínhamos absorvido o impacto da notícia da morte de Manoel Santos, fomos surpreendidos ontem pelo falecimento, também precoce, do ex-Deputado Federal Pedro Eugênio.

            Pedro era um homem de mente brilhante, de uma inteligência extremamente refinada. Era economista formado pela Universidade Federal de Pernambuco e muito ligado ao saudoso ex-Governador Miguel Arraes. Exerceu, nas gestões dele, à frente do Governo do Estado, o comando das Secretarias de Agricultura, do Planejamento e da Fazenda.

            V. Exª deseja um aparte?

            A Srª Ana Amélia (Bloco Apoio Governo/PP - RS) - Eu queria...

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Um aparte à Senadora Ana Amélia.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Apoio Governo/PP - RS) - Senador Humberto Costa, eu queria informar a V. Exª que, na condição de Presidente da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, já protocolei um requerimento de voto pesar pela morte de Manoel dos Santos. Por tudo que V. Exª revelou aí, pela liderança que ele teve no comando da Contag, a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura. E eu tive a oportunidade de, como jornalista, conhecê-lo e entrevistá-lo, por ocasião de alguns momentos importantes de interesse dos produtores rurais. Então, já fiz, em nome da Comissão de Agricultura, um voto de pesar pela morte do Manoel dos Santos. E também fiquei triste com a morte do Pedro Eugênio, porque convivi com ele na Frente Parlamentar em Defesa da Micro e Pequena Empresa. Ele foi líder, chegou a presidir essa frente parlamentar junto com o Senador José Pimentel, também um grande defensor do sistema, Senador Armando Monteiro. E o Pedro Eugênio era sempre uma pessoa de uma moderação, de uma ponderação, uma pessoa extremamente atenta e preocupada com a agenda das micro e pequenas empresas. Então, o setor perdeu um grande aliado. E eu queria me associar à manifestação de V. Exª nesses dois episódios, que são perdas muito grandes para a política brasileira, respeitando toda a forma de pensar, as ideologias, tudo. São seres humanos que deram uma grande contribuição à vida nacional. Então, era essa a manifestação que eu precisava fazer à V. Exª, Senador Humberto Costa.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Agradeço sensibilizado o parte de V. Exª. E vejo, sem dúvida, uma atitude muito bonita, muito positiva, esse registro que V. Exª faz aqui, bem como o voto de pesar dirigido à família de Manoel dos Santos.

            Muito obrigado.

            Incorporo ao meu discurso o aparte de V. Exª.

            A Srª Fátima Bezerra (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Senador.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) -Senadora Fátima Bezerra.

            A Srª Fátima Bezerra (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Senador Humberto, não só em meu nome, mas em nome também de todos que fazem o PT do Rio Grande do Norte, quero aqui trazer a nossa palavra de solidariedade, pela perda, tanto do companheiro Manoel dos Santos como do companheiro Pedro Eugênio. Confesso à V. Exª que recebemos essa notícia com muito dor. E eu quero aqui dizer também para V. Exª que tive a alegria de conviver com ambos. Manoel dos Santos, a história de vida, sua trajetória, um homem que deu uma grande contribuição à luta em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras deste País, a luta do campo, a luta em defesa da reforma agrária, a luta em defesa da agricultura familiar. Deixo aqui, portanto, nosso abraço à família de Manoel dos Santos, o abraço, inclusive, de todos que fazem a federação dos trabalhadores e trabalhadoras na agricultura do nosso Estado. E, também, com relação ao Deputado Pedro Eugênio, tive a alegria de conviver com ele, Senador Humberto, como Deputada, na Câmara dos Deputados, e pude ver de perto, também, o seu espírito público, a sua dedicação. Ele que, como Deputado, representou com muita dignidade, com muita honradez, com muita competência o povo de Pernambuco. Deu uma importante contribuição também para a Região Nordeste. Coordenou a Bancada do Nordeste também. Portanto, deixo aqui, e repito, a nossa solidariedade à família, ao PT de Pernambuco e aos pernambucanos que sentem, neste momento, sem dúvida nenhuma, essa dor em decorrência, exatamente, do falecimento de Manoel dos Santos e de Pedro Eugênio. Mas a eles as nossas homenagens; a eles, Senador Humberto, a certeza e a convicção de que aqui continuaremos lutando para realizar exatamente os sonhos que traziam no peito: os sonhos por mais justiça social, os sonhos por um Nordeste e por um Brasil inclusivo e generoso.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Agradeço o aparte de...

(Interrupção do som.)

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - V. Exª me dá uma tolerância um pouquinho maior, só para eu concluir aqui meu discurso?

            Incorporo o discurso de V. Exª e comunicarei também às famílias de ambos.

            Como secretário, Pedro Eugênio coordenou muitos dos relevantes e simbólicos programas sociais lançados por Arraes, especialmente os voltados aos trabalhadores rurais, como o Chapéu de Palha e o Promata.

            Foi Deputado Estadual por um mandato e, por três vezes, eleito Deputado Federal, as duas últimas pelo PT, do qual foi Vice-Líder na Câmara dos Deputados e Presidente estadual até meados do ano passado.

            Nas últimas eleições, não conseguiu renovar o mandato, mas nada disso paralisou a sua intensa atividade política. Pedro Eugênio era um homem de ideias, um permanente estudioso, que, assim como Manoel Santos, também ofereceu muito de sua vida pública em favor das causas do movimento sindical rural e das populações do campo.

            Durante a ditadura militar, foi preso e torturado. Mas, longe da amargura, era um homem afável, sereno e de muito bom humor. Sua luta e seu ideal de vida eram transformar a realidade brasileira - e de Pernambuco, em especial - para melhor, e desses valores e dessas causas Pedro Eugênio nunca se distanciou.

            Era um grande conciliador, um articulador político de mão cheia, um homem de trânsito em todos os setores, que gozava de muito prestígio pelas suas grandes qualidades.

            Ultimamente, estava internado, recuperando-se de complicações decorrentes de uma cirurgia coronariana e morreu, assim, aos 66 anos, na última segunda-feira, dia 20 de abril.

            Para nós do PT de Pernambuco, a perda desses dois grandes companheiros é irreparável. Manoel Santos e Pedro Eugênio ilustravam o nosso partido e emprestavam-lhe uma capacidade de liderança e uma bagagem de lutas inestimáveis.

            Estamos todos de luto, e será um esforço profundo, para nós, superar as perdas desses dois guerreiros das elevadas causas públicas. Particularmente, perdi dois grandes amigos, que me deixam uma imensa lacuna no diálogo e no aconselhamento político e uma enorme saudade pela privação da convivência com ambos.

(Soa a campainha.)

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Quero externar aqui os meus mais profundos sentimentos aos familiares, aos amigos e aos eleitores dos companheiros Manoel Santos e Pedro Eugênio, pelos quais estou requerendo, a esta Casa, votos de pesar, e dizer que desejo que Deus os conforte e abrande a enorme dor dessas lamentáveis perdas.

            Muito obrigado pela tolerância, Sr. Presidente.