Discurso durante a 49ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do Dia Internacional do Café, em 14 do corrente.

Autor
Ricardo Ferraço (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Ricardo de Rezende Ferraço
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro do Dia Internacional do Café, em 14 do corrente.
Aparteantes
Antonio Anastasia.
Publicação
Publicação no DSF de 15/04/2015 - Página 158
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, CAFE, ENFASE, IMPORTANCIA, PRODUTO, ECONOMIA, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES).

            O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco Maioria/PMDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado.

            Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, comemoramos hoje o Dia Internacional do Café. A data de 14 de abril foi escolhida para a celebração, não apenas em nosso País, mas no mundo inteiro, da bebida que, desde o começo do século passado, representa a economia, representa a cultura e a capacidade empreendedora de brasileiros - mineiros, capixabas, paranaenses, paulistas, baianos.

            O grão de origem africana nos move a fazer uma reverência a uma atividade que se confunde com o desenvolvimento econômico do nosso País, sobretudo do meu Estado, o Espírito Santo, servindo de base não apenas à agricultura, mas também ao processo de diversificação da base econômica brasileira.

            Desde o século XIX, o café era o grande item da pauta de exportações brasileiras, e todos nós, capixabas, dedicávamos a ele quase todos os nossos esforços. É como se olhássemos para o território do Espírito Santo e víssemos um cafezal de ponta a ponta. As perspectivas geradas pelos negócios cafeeiros já haviam motivado pesados investimentos governamentais na construção de um moderno porto em nossa capital, Vitória. Nos anos de 1930, o Brasil e o Espírito Santo tentavam reverter as dificuldades da grande recessão de 1929, época em que o preço do café desabou, trazendo muita angústia e muito prejuízo a muitos Estados brasileiros.

            Até os anos 1940 e 1950, o café era a principal expressão econômica brasileira, além de ser também a maior empregadora e geradora de oportunidade para trabalho e geração de renda no nosso País e também no Espírito Santo.

            O café teve um papel decisivo, portanto, na história do Espírito Santo, que se confunde com a própria organização de nossa economia. Apesar de ter um território limitado, o Estado se consolidou no tempo como o segundo produtor brasileiro de café, além de exibirmos uma elevada qualidade e produtividade tanto na produção do café arábica, como do café conilon, fruto, produto e resultado da capacidade empreendedora, sobretudo, dos nossos antepassados italianos, alemães, pomeranos, brasileiros, que, através de um modelo de produção familiar e de uma estrutura fundiária muito adequada, produziram e colocaram o Espírito Santo na página de muito êxito na produção do café.

            O nosso Estado, portanto, ao longo da história, se destacou na produção dessas duas variedades. Nas montanhas, na região mais fria do nosso Estado, o arábica.

            Mas, na planície, nas regiões mais quentes, o nosso conilon.

            Hoje, somos o segundo produtor nacional de café, mas o primeiro no cultivo do café conilon, respondendo por, aproximadamente, 80% da produção nacional de café, meu prezado Senador e ex-Governador do Estado irmão, vizinho e amigo, Anastasia, que também vem de um Estado que é grande produtor de café, não apenas em volume, mas também em qualidade e em diversas variedades.

            O cafeicultor capixaba conquistou a marca da qualidade e da competitividade no campo como fruto do seu esforço, do seu trabalho, da sua capacidade empreendedora, da sua raça, mas também é produto de pesquisa, tecnologia, com a contribuição destacada do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural.

            Com pioneirismo e espírito desbravador, o café já representou 80% das receitas governamentais do Espírito Santo. Atualmente, o café, naturalmente, não tem essa dimensão econômica, porque a nossa economia se diversificou, mas, ainda que não tenha esse peso econômico, o café é fundamental na manutenção dos capixabas do interior do Estado.

            O arranjo produtivo do café gera e proporciona mais de 300 mil postos de trabalho em território capixaba.

            O Sr. Antonio Anastasia (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Permite-me um aparte, Senador Ricardo Ferraço?

            O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Com muita honra, ouço o estimado amigo, o Senador, ex-Governador do Estado de Minas Gerais, Governador Anastasia.

            O Sr. Antonio Anastasia (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Muito obrigado, eminente Senador Ricardo Ferraço. Eu queria, em primeiro lugar, cumprimentar V. Exª pela iniciativa de trazer aqui, à tribuna do Senado, a comemoração dessa data internacional tão relevante, o Dia Internacional do Café. Como V. Exª muito bem disse ao longo do seu pronunciamento ora em curso, o café é uma grande riqueza do Estado do Espírito Santo, como também o é de meu Estado, Minas Gerais. Somos o primeiro produtor brasileiro de café, metade da produção, e sabemos que o Brasil tem cerca de metade da produção mundial do café, o que significa um dado muito expressivo para nossa economia. E, como V. Exª bem conhece, o café é uma cultura extremamente democrática, está presente em propriedades que são médias e pequenas, e também organizada em cooperativas, que são grandes, mas que permitem uma renda expressiva para os produtores de café. Eu queria relembrar que, em 2013, realizamos, em nossa capital, a cidade de Belo Horizonte, o Congresso Mundial do Café, que, pela primeira vez, ocorreu fora de Londres. Esse evento da Organização Mundial do Café contou com sua participação bastante ativa. Eu queria, portanto, congregar-me a esse seu pronunciamento, endossando os cumprimentos aos cafeicultores também de meu Estado, Minas Gerais, onde o café tem uma posição econômica fundamental, como eu disse, especialmente por democratizar a renda e o capital. Portanto, parabéns! Tenho a certeza de que Minas e Espírito Santo, com os demais Estados produtores, fazem do Brasil essa grande potência internacional do café. E devemos ainda mais, como sei que é de seu interesse, agregar valor a esse produto tão importante, para que o Brasil, em breve, à semelhança da Alemanha, da Suíça e da Itália, seja exportador do café devidamente processado. Meus cumprimentos ao eminente Senador Ricardo Ferraço pela iniciativa!

            O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Com a autorização de V. Exª, incorporo suas palavras ao meu pronunciamento. V. Exª, como bom Governador que foi, atento e sensível à importância da atividade cafeeira no Estado de Minas Gerais, conseguiu o feito inédito de levar para o seu Estado uma reunião da Organização Internacional do Café, que tradicionalmente se reúne em Londres. Pela primeira vez, essa Organização se reuniu no Estado de Minas Gerais. Foi, na prática, um encontro memorável em razão de a cafeicultura brasileira se apresentar ao mundo. Os debates foram muito profícuos, e o apoio de V. Exª foi fundamental para que o mineiro e Diretor-Geral da Organização Internacional do Café, Dr. Robério Silva, pudesse honrar Minas Gerais, pudesse brindar Minas Gerais e o Brasil com esse evento, que deixou um legado extraordinário. Portanto, agradeço o aparte de V. Exª.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para homenagear todos que dedicaram e dedicam sua vida ao café e para reverenciar o seu legado, venho também à tribuna para contar um pouco da história de um símbolo da atividade cafeeira em meu Estado e em nosso País. Eu me refiro e faço um registro relacionado à saga do Grupo Tristão, que completou, na prática, 80 anos no último dia 23 de fevereiro. Trata-se de uma história marcada pela capacidade e pela ousadia deste extraordinário empreendedor capixaba José Ribeiro Tristão, que foi sucedido por seu filho, Jônice Tristão, ex-Senador da República por um período, representando o Estado do Espírito Santo no Senado Federal.

           Empenhado em cultivar valores, ideias e ideais que levaram a atividade a um nível de relevância nacional e internacional, o fundador do grupo empresarial, o saudoso José Ribeiro Tristão, e depois o seu filho, Jônice Tristão, formaram uma marca ao longo de oito décadas, que é símbolo e sinônimo de elevada reputação e de credibilidade quanto aos valores essenciais a qualquer nível de atividade humana e profissional.

           No início dos anos 30, o Sr. José Ribeiro Tristão abriu um pequeno bazar na cidade querida de Afonso Cláudio, nas montanhas do Espírito Santo, no interior do meu Estado. O estabelecimento pequeno e modesto vendia desde alimentos e implementos agrícolas até tecidos e artigos de armarinho.

           Após a grande crise iniciada em 1929, Sr. Presidente, Tristão apostou no café como moeda de troca, de escambo, expandindo suas atividades comerciais. Como homens de visão e de ousadia, viram naquele ambiente a oportunidade de transformar o limão em limonada.

           Já nos anos 60, sob o comando do Sr. Jônice, a Tristão partiu para os negócios de exportação de café. O produto continuava a ser uma das bases da economia brasileira na época. Em abril de 1960, a Tristão realiza sua primeira exportação a partir do Porto de Vitória, tendo como destino o porto francês de Havre. Na primeira exportação, 250 sacas de café foram embarcadas.

           A crise acentuou-se em 1966 - a atividade do café é cheia de ciclos, é muito sazonal -, quando houve em nosso Estado um elevado êxodo rural, sobrando, então, apenas algumas poucas lavouras de café pertencentes a uma pequena quantidade de abnegados produtores, que ainda mantinham a esperança na manutenção dessa cultura, que está no sangue e na própria construção dos nossos capixabas. O Estado se esforçou à época para que o Governo Federal reconsiderasse a política de erradicação. Em 1969, como resultado de muitas lutas, o Instituto Brasileiro do Café aprovou finalmente um plano de renovação do parque cafeeiro do nosso País.

           As regiões capixabas privilegiadas à época pelo plano foram somente as que estavam acima de 600 metros de altitude, que deviam também atender à exigência naturalmente do café Arábica, um café vocacionado para esse tipo de relevo, de geografia e de clima. Com isso, diversos Municípios do meu Espírito Santo, principalmente do norte, ficaram fora do programa, até porque a nossa região norte tem características naturais para vocação do café Conilon. A apreensão era, portanto, generalizada, em função da ausência de perspectiva e de alternativas econômicas para muitas e muitas famílias capixabas que, nesse momento, não viram alternativa senão buscarem abrigo e porto seguro em outras regiões. Foi nesse momento que muitos capixabas migraram para Rondônia, que muitos capixabas migraram para Bahia, em busca de alternativas que pudessem proporcionar uma vida digna aos seus familiares.

           No início dos anos 70, pioneiros locais, lideranças e autoridades promoveram uma campanha de conscientização entre os produtores, incentivando o plantio do café Conilon. Concluiu-se que uma possível solução era a introdução de nova variedade de Conilon mais resistente às pragas que poderia ser plantada nas regiões mais quentes, devido à rusticidade e à resistência dessa variedade. Mas não havia financiamento nem apoio, muito menos para quem vendesse esse produto. Portanto, tratava-se de atividade de elevado risco.

           Era grande a incerteza, pois o mercado era muito pequeno, e os preços, àquela altura, naquela conjuntura, estavam bastante deprimidos, não remunerando o trabalhador e o produtor rural, o cafeicultor, pelo esforço de cultivar, de manter sua lavoura, de manejar sua lavoura, o que exige muito esforço, muito talento e muito investimento. O melhor argumento a favor era que a indústria de café solúvel, já muito consumido naquela época na Europa e nos Estados Unidos, utilizava esse produto como matéria-prima pelas suas características e poderia ser o canal adequado para que a produção de café Conilon encontrasse um mercado seguro.

            Foi nesse momento, mais uma vez, que a liderança firme, criativa e ousada do Sr. Jônice Tristão não apenas apoiou esse esforço em nosso Estado, como também liderou e, à época, instituiu o que nós podemos chamar de sistema integrado. Foi àquela época que ele assumiu um compromisso moral e pessoal com os capixabas: “Capixabas, vocês podem estar certos...

(Soa a campainha.)

            O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco Maioria/PMDB - ES) - ...de que a Realcafé, que implantarei aqui no Estado, comprará toda a produção de café Conilon. Pretendemos expandir a nossa fábrica e consumir, cada vez mais, o produto. Plante, que a Tristão garante”.

            Essa foi a afirmação, esse foi o compromisso moral do Sr. Jônice Tristão, que, à época, não assinou documento algum, contrato qualquer, mas a palavra dele era uma palavra balizada, já àquela época, em muitos anos de reputação e de credibilidade na realização dos seus negócios em nosso Estado, o que dava, naturalmente, sequência e consequência de que a palavra dele valia mais do que qualquer documento, Senador Flexa, ou do que qualquer cheque e assim por diante.

            Pois bem, os capixabas acreditaram no Sr. Jônice Tristão e plantaram café. E ele cumpriu a sua parte. No dia 24 de abril de 1971, o Sr. Jônice inaugurou, em Viana, Município da região metropolitana de Vitória, a Realcafé Solúvel do Brasil, dimensionada, à época, para processamento de 100 mil sacas de café em grãos, incluindo o total da safra estadual do café Conilon. Ou seja, os produtores que estavam sem expectativa, que não tinham mercado, viram na implantação dessa fábrica a solução para que eles pudessem distribuir seu produto. Esse empreendimento, portanto, movimentou a vida cafeeira do Espírito Santo e se tornou um grande marco na recuperação econômica do Espírito Santo, abalado por crises conjunturais.

            Em 1978, o Grupo Tristão tornou-se o maior exportador brasileiro de café, mantendo-se nessa posição pelos dez anos seguintes. No mesmo ano, as empresas Tristão abriram subsidiárias em Londres e em Nova Iorque, tornando-se um dos primeiros grupos brasileiros com presença internacional, ampliando os negócios e a importação de café da África, da Ásia, da América Central e de outros países latino-americanos, além, obviamente, do Brasil. Ou seja, com suas atividades operacionais em Londres e em Nova Iorque, ele não apenas importava café do Brasil, mas importava café de outras regiões do mundo, para a constituição do blend. E, com isso, ele ocupou, naturalmente, por dez anos seguidos, a liderança do movimento exportador brasileiro de café.

            Com essas palavras, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, registro, no Dia Internacional do Café, minha homenagem ao cafeicultor brasileiro, ao cafeicultor capixaba, na pessoa do Sr. Jônice Tristão, pelo exemplo de honradez, de dignidade e de ousadia como líder do Grupo Tristão, em seus 80 anos de fundação, honrando os capixabas e honrando o Brasil.

            É uma homenagem modesta, porém sincera, Presidente Paulo Paim, que faço aos cafeicultores brasileiros, na pessoa do Sr. Jônice Tristão, por esse legado, por essa vida marcada pelo trabalho, pela dignidade e pela honradez.

            Muito obrigado a V. Exª, às Srªs Senadoras e aos Srs. Senadores.

            O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco Maioria/PMDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado.

            Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, comemoramos hoje o Dia Internacional do Café. A data de 14 de abril foi escolhida para a celebração, não apenas em nosso País, mas no mundo inteiro, da bebida que, desde o começo do século passado, representa a economia, representa a cultura e a capacidade empreendedora de brasileiros - mineiros, capixabas, paranaenses, paulistas, baianos.

            O grão de origem africana nos move a fazer uma reverência a uma atividade que se confunde com o desenvolvimento econômico do nosso País, sobretudo do meu Estado, o Espírito Santo, servindo de base não apenas à agricultura, mas também ao processo de diversificação da base econômica brasileira.

            Desde o século XIX, o café era o grande item da pauta de exportações brasileiras, e todos nós, capixabas, dedicávamos a ele quase todos os nossos esforços. É como se olhássemos para o território do Espírito Santo e víssemos um cafezal de ponta a ponta. As perspectivas geradas pelos negócios cafeeiros já haviam motivado pesados investimentos governamentais na construção de um moderno porto em nossa capital, Vitória. Nos anos de 1930, o Brasil e o Espírito Santo tentavam reverter as dificuldades da grande recessão de 1929, época em que o preço do café desabou, trazendo muita angústia e muito prejuízo a muitos Estados brasileiros.

            Até os anos 1940 e 1950, o café era a principal expressão econômica brasileira, além de ser também a maior empregadora e geradora de oportunidade para trabalho e geração de renda no nosso País e também no Espírito Santo.

            O café teve um papel decisivo, portanto, na história do Espírito Santo, que se confunde com a própria organização de nossa economia. Apesar de ter um território limitado, o Estado se consolidou no tempo como o segundo produtor brasileiro de café, além de exibirmos uma elevada qualidade e produtividade tanto na produção do café arábica, como do café conilon, fruto, produto e resultado da capacidade empreendedora, sobretudo, dos nossos antepassados italianos, alemães, pomeranos, brasileiros, que, através de um modelo de produção familiar e de uma estrutura fundiária muito adequada, produziram e colocaram o Espírito Santo na página de muito êxito na produção do café.

            O nosso Estado, portanto, ao longo da história, se destacou na produção dessas duas variedades. Nas montanhas, na região mais fria do nosso Estado, o arábica.

            Mas, na planície, nas regiões mais quentes, o nosso conilon.

            Hoje, somos o segundo produtor nacional de café, mas o primeiro no cultivo do café conilon, respondendo por, aproximadamente, 80% da produção nacional de café, meu prezado Senador e ex-Governador do Estado irmão, vizinho e amigo, Anastasia, que também vem de um Estado que é grande produtor de café, não apenas em volume, mas também em qualidade e em diversas variedades.

            O cafeicultor capixaba conquistou a marca da qualidade e da competitividade no campo como fruto do seu esforço, do seu trabalho, da sua capacidade empreendedora, da sua raça, mas também é produto de pesquisa, tecnologia, com a contribuição destacada do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural.

            Com pioneirismo e espírito desbravador, o café já representou 80% das receitas governamentais do Espírito Santo. Atualmente, o café, naturalmente, não tem essa dimensão econômica, porque a nossa economia se diversificou, mas, ainda que não tenha esse peso econômico, o café é fundamental na manutenção dos capixabas do interior do Estado.

            O arranjo produtivo do café gera e proporciona mais de 300 mil postos de trabalho em território capixaba.

            O Sr. Antonio Anastasia (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Permite-me um aparte, Senador Ricardo Ferraço?

            O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Com muita honra, ouço o estimado amigo, o Senador, ex-Governador do Estado de Minas Gerais, Governador Anastasia.

            O Sr. Antonio Anastasia (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Muito obrigado, eminente Senador Ricardo Ferraço. Eu queria, em primeiro lugar, cumprimentar V. Exª pela iniciativa de trazer aqui, à tribuna do Senado, a comemoração dessa data internacional tão relevante, o Dia Internacional do Café. Como V. Exª muito bem disse ao longo do seu pronunciamento ora em curso, o café é uma grande riqueza do Estado do Espírito Santo, como também o é de meu Estado, Minas Gerais. Somos o primeiro produtor brasileiro de café, metade da produção, e sabemos que o Brasil tem cerca de metade da produção mundial do café, o que significa um dado muito expressivo para nossa economia. E, como V. Exª bem conhece, o café é uma cultura extremamente democrática, está presente em propriedades que são médias e pequenas, e também organizada em cooperativas, que são grandes, mas que permitem uma renda expressiva para os produtores de café. Eu queria relembrar que, em 2013, realizamos, em nossa capital, a cidade de Belo Horizonte, o Congresso Mundial do Café, que, pela primeira vez, ocorreu fora de Londres. Esse evento da Organização Mundial do Café contou com sua participação bastante ativa. Eu queria, portanto, congregar-me a esse seu pronunciamento, endossando os cumprimentos aos cafeicultores também de meu Estado, Minas Gerais, onde o café tem uma posição econômica fundamental, como eu disse, especialmente por democratizar a renda e o capital. Portanto, parabéns! Tenho a certeza de que Minas e Espírito Santo, com os demais Estados produtores, fazem do Brasil essa grande potência internacional do café. E devemos ainda mais, como sei que é de seu interesse, agregar valor a esse produto tão importante, para que o Brasil, em breve, à semelhança da Alemanha, da Suíça e da Itália, seja exportador do café devidamente processado. Meus cumprimentos ao eminente Senador Ricardo Ferraço pela iniciativa!

            O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Com a autorização de V. Exª, incorporo suas palavras ao meu pronunciamento. V. Exª, como bom Governador que foi, atento e sensível à importância da atividade cafeeira no Estado de Minas Gerais, conseguiu o feito inédito de levar para o seu Estado uma reunião da Organização Internacional do Café, que tradicionalmente se reúne em Londres. Pela primeira vez, essa Organização se reuniu no Estado de Minas Gerais. Foi, na prática, um encontro memorável em razão de a cafeicultura brasileira se apresentar ao mundo. Os debates foram muito profícuos, e o apoio de V. Exª foi fundamental para que o mineiro e Diretor-Geral da Organização Internacional do Café, Dr. Robério Silva, pudesse honrar Minas Gerais, pudesse brindar Minas Gerais e o Brasil com esse evento, que deixou um legado extraordinário. Portanto, agradeço o aparte de V. Exª.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para homenagear todos que dedicaram e dedicam sua vida ao café e para reverenciar o seu legado, venho também à tribuna para contar um pouco da história de um símbolo da atividade cafeeira em meu Estado e em nosso País. Eu me refiro e faço um registro relacionado à saga do Grupo Tristão, que completou, na prática, 80 anos no último dia 23 de fevereiro. Trata-se de uma história marcada pela capacidade e pela ousadia deste extraordinário empreendedor capixaba José Ribeiro Tristão, que foi sucedido por seu filho, Jônice Tristão, ex-Senador da República por um período, representando o Estado do Espírito Santo no Senado Federal.

           Empenhado em cultivar valores, ideias e ideais que levaram a atividade a um nível de relevância nacional e internacional, o fundador do grupo empresarial, o saudoso José Ribeiro Tristão, e depois o seu filho, Jônice Tristão, formaram uma marca ao longo de oito décadas, que é símbolo e sinônimo de elevada reputação e de credibilidade quanto aos valores essenciais a qualquer nível de atividade humana e profissional.

           No início dos anos 30, o Sr. José Ribeiro Tristão abriu um pequeno bazar na cidade querida de Afonso Cláudio, nas montanhas do Espírito Santo, no interior do meu Estado. O estabelecimento pequeno e modesto vendia desde alimentos e implementos agrícolas até tecidos e artigos de armarinho.

           Após a grande crise iniciada em 1929, Sr. Presidente, Tristão apostou no café como moeda de troca, de escambo, expandindo suas atividades comerciais. Como homens de visão e de ousadia, viram naquele ambiente a oportunidade de transformar o limão em limonada.

           Já nos anos 60, sob o comando do Sr. Jônice, a Tristão partiu para os negócios de exportação de café. O produto continuava a ser uma das bases da economia brasileira na época. Em abril de 1960, a Tristão realiza sua primeira exportação a partir do Porto de Vitória, tendo como destino o porto francês de Havre. Na primeira exportação, 250 sacas de café foram embarcadas.

           A crise acentuou-se em 1966 - a atividade do café é cheia de ciclos, é muito sazonal -, quando houve em nosso Estado um elevado êxodo rural, sobrando, então, apenas algumas poucas lavouras de café pertencentes a uma pequena quantidade de abnegados produtores, que ainda mantinham a esperança na manutenção dessa cultura, que está no sangue e na própria construção dos nossos capixabas. O Estado se esforçou à época para que o Governo Federal reconsiderasse a política de erradicação. Em 1969, como resultado de muitas lutas, o Instituto Brasileiro do Café aprovou finalmente um plano de renovação do parque cafeeiro do nosso País.

           As regiões capixabas privilegiadas à época pelo plano foram somente as que estavam acima de 600 metros de altitude, que deviam também atender à exigência naturalmente do café Arábica, um café vocacionado para esse tipo de relevo, de geografia e de clima. Com isso, diversos Municípios do meu Espírito Santo, principalmente do norte, ficaram fora do programa, até porque a nossa região norte tem características naturais para vocação do café Conilon. A apreensão era, portanto, generalizada, em função da ausência de perspectiva e de alternativas econômicas para muitas e muitas famílias capixabas que, nesse momento, não viram alternativa senão buscarem abrigo e porto seguro em outras regiões. Foi nesse momento que muitos capixabas migraram para Rondônia, que muitos capixabas migraram para Bahia, em busca de alternativas que pudessem proporcionar uma vida digna aos seus familiares.

           No início dos anos 70, pioneiros locais, lideranças e autoridades promoveram uma campanha de conscientização entre os produtores, incentivando o plantio do café Conilon. Concluiu-se que uma possível solução era a introdução de nova variedade de Conilon mais resistente às pragas que poderia ser plantada nas regiões mais quentes, devido à rusticidade e à resistência dessa variedade. Mas não havia financiamento nem apoio, muito menos para quem vendesse esse produto. Portanto, tratava-se de atividade de elevado risco.

           Era grande a incerteza, pois o mercado era muito pequeno, e os preços, àquela altura, naquela conjuntura, estavam bastante deprimidos, não remunerando o trabalhador e o produtor rural, o cafeicultor, pelo esforço de cultivar, de manter sua lavoura, de manejar sua lavoura, o que exige muito esforço, muito talento e muito investimento. O melhor argumento a favor era que a indústria de café solúvel, já muito consumido naquela época na Europa e nos Estados Unidos, utilizava esse produto como matéria-prima pelas suas características e poderia ser o canal adequado para que a produção de café Conilon encontrasse um mercado seguro.

            Foi nesse momento, mais uma vez, que a liderança firme, criativa e ousada do Sr. Jônice Tristão não apenas apoiou esse esforço em nosso Estado, como também liderou e, à época, instituiu o que nós podemos chamar de sistema integrado. Foi àquela época que ele assumiu um compromisso moral e pessoal com os capixabas: “Capixabas, vocês podem estar certos...

(Soa a campainha.)

            O SR. RICARDO FERRAÇO (Bloco Maioria/PMDB - ES) - ...de que a Realcafé, que implantarei aqui no Estado, comprará toda a produção de café Conilon. Pretendemos expandir a nossa fábrica e consumir, cada vez mais, o produto. Plante, que a Tristão garante”.

            Essa foi a afirmação, esse foi o compromisso moral do Sr. Jônice Tristão, que, à época, não assinou documento algum, contrato qualquer, mas a palavra dele era uma palavra balizada, já àquela época, em muitos anos de reputação e de credibilidade na realização dos seus negócios em nosso Estado, o que dava, naturalmente, sequência e consequência de que a palavra dele valia mais do que qualquer documento, Senador Flexa, ou do que qualquer cheque e assim por diante.

            Pois bem, os capixabas acreditaram no Sr. Jônice Tristão e plantaram café. E ele cumpriu a sua parte. No dia 24 de abril de 1971, o Sr. Jônice inaugurou, em Viana, Município da região metropolitana de Vitória, a Realcafé Solúvel do Brasil, dimensionada, à época, para processamento de 100 mil sacas de café em grãos, incluindo o total da safra estadual do café Conilon. Ou seja, os produtores que estavam sem expectativa, que não tinham mercado, viram na implantação dessa fábrica a solução para que eles pudessem distribuir seu produto. Esse empreendimento, portanto, movimentou a vida cafeeira do Espírito Santo e se tornou um grande marco na recuperação econômica do Espírito Santo, abalado por crises conjunturais.

            Em 1978, o Grupo Tristão tornou-se o maior exportador brasileiro de café, mantendo-se nessa posição pelos dez anos seguintes. No mesmo ano, as empresas Tristão abriram subsidiárias em Londres e em Nova Iorque, tornando-se um dos primeiros grupos brasileiros com presença internacional, ampliando os negócios e a importação de café da África, da Ásia, da América Central e de outros países latino-americanos, além, obviamente, do Brasil. Ou seja, com suas atividades operacionais em Londres e em Nova Iorque, ele não apenas importava café do Brasil, mas importava café de outras regiões do mundo, para a constituição do blend. E, com isso, ele ocupou, naturalmente, por dez anos seguidos, a liderança do movimento exportador brasileiro de café.

            Com essas palavras, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, registro, no Dia Internacional do Café, minha homenagem ao cafeicultor brasileiro, ao cafeicultor capixaba, na pessoa do Sr. Jônice Tristão, pelo exemplo de honradez, de dignidade e de ousadia como líder do Grupo Tristão, em seus 80 anos de fundação, honrando os capixabas e honrando o Brasil.

            É uma homenagem modesta, porém sincera, Presidente Paulo Paim, que faço aos cafeicultores brasileiros, na pessoa do Sr. Jônice Tristão, por esse legado, por essa vida marcada pelo trabalho, pela dignidade e pela honradez.

            Muito obrigado a V. Exª, às Srªs Senadoras e aos Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/04/2015 - Página 158