Pronunciamento de Ana Amélia em 13/04/2015
Fala da Presidência durante a 48ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Leitura de um artigo do Senador José Sarney publicado no jornal Folha de S. Paulo, referente à morte do ex-senador Paulo Brossard.
- Autor
- Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
- Nome completo: Ana Amélia de Lemos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Fala da Presidência
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM:
- Leitura de um artigo do Senador José Sarney publicado no jornal Folha de S. Paulo, referente à morte do ex-senador Paulo Brossard.
- Publicação
- Publicação no DSF de 14/04/2015 - Página 14
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM
- Indexação
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- LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, PUBLICAÇÃO, FOLHA DE S.PAULO, AUTORIA, JOSE SARNEY, EX PRESIDENTE, SENADO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ASSUNTO, HOMENAGEM POSTUMA, VOTO DE PESAR, MORTE, PAULO BROSSARD, EX SENADOR, RIO GRANDE DO SUL (RS), EX MINISTRO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), ELOGIO, VIDA PUBLICA.
A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Apoio Governo/PP - RS) - Tomo a liberdade, na presidência dos
trabalhos do início desta tarde, de fazer a leitura, pelo senso de oportunidade, por ter o autor sido Presidente desta Casa e Presidente da República e por referir-se à morte de um ex-colega do meu Estado do Rio Grande do Sul, o ex-Senador Paulo Brossard.
Então, com a licença dos Srs. Senadores - e, tenho certeza, com o apoio deles -, faço a leitura do texto do Senador José Sarney sobre Brossard.
O artigo foi publicado no jornal Folha de S.Paulo de hoje, cujo título é: “Brossard , herói da resistência”:
Paulo Brossard deixa o exemplo do político íntegro, do cidadão exemplar. Perde o Rio Grande, perde o Brasil e perdemos nós
Desaparece a mais brilhante e preparada legenda dos homens públicos rio-grandenses que sucedeu à geração gaúcha de 1930, que trouxe Getúlio Vargas ao poder.
Não era um gaúcho dos gestos largos, da retórica dos guerreiros da fronteira, das vestes pampeiras da bombacha e do chimarrão. Mais para um lorde inglês a falar no Parlamento ou um professor da Sorbonne falando do positivismo. A linguagem de Paulo Brossard era erudita, pausada, elegante. Em vez do cha- péu pampeiro e do lenço no pescoço, era um chapéu de feltro e uma gravata larga, num nó grande tipo plastrão. Elegante e muito influenciado por Raul Pilla, que também foi meu colega no Palácio Tiradentes. Paulo Brossard [Senadora Vanessa Grazziotin] teve oportunidade de servir ao Brasil nos três Poderes da República: Executivo, Judiciário e Legislativo. Foi, quando eu Presidente [referindo-se ao autor, Se- nador José Sarney], Procurador-Geral da República, Ministro da Justiça e Ministro do Supremo Tribu- nal Federal. Neles deixou a marca do jurista de grande conhecimento, guardada na jurisprudência do STF e no Ministério da Justiça, o notável político que foi a ponte a tecer as soluções controversas. Mas foi no Congresso que deixou sua marca do grande parlamentar, do grande orador a figurar entre os maiores, ao lado de Joaquim Nabuco, Gaspar Silveira Martins, Ruy Barbosa, Visconde do Rio Branco, Carlos Lacerda, Afonso Arinos. Sua causa, a redemocratização. Era duro sem ser descortês, temerário às vezes, mas ouvi-lo era ouvir um Wagner adocicado em seus momentos altos de Tristão e Isolda. Começou como deputado estadual, discípulo de Pilla, combatendo Henrique Lott na“novembrada”, como chamou o 11 de novembro de 1955. Foi um liberai que ninguém conseguiu aprisionar. Nem na disciplina partidária, nem na negação dos seus princípios. Apoiou a saída de Jango, engajado na luta do Rio Grande contra o PTB, Getúlio, Brizola e o populismo.
Mas, logo que o golpe de 1964 descamba contra o direito, ei-lo rompendo e se filiando às hostes da oposição. Pela sua bravura foi afastado de sua cátedra na universidade. No Congresso, foi uma das maiores e mais permanentes vozes contra os governos militares. É ele o grito que é ouvido, o líder que é seguido e o soldado que fica na linha de tiro. Foi um dos maiores amigos que tive na vida. Sempre estávamos juntos, pessoalmente, por telefone ou por pensamento. Não cumpri a última promessa que fiz há dez dias: visitá-lo em Porto Alegre.
Não resisto a transcrever as palavras que proferi no Senado quando ele saía do Congresso: “Passada a tempestade, quantas vezes nos sentávamos neste plenário, Brossard largava a adaga e a baladei- ra, sentava-se junto à fogueira da convivência, pegava a chávena e a cuia do chimarrão da conversa amiga e começávamos grandes e inesquecíveis colóquios literários. Grande cultura, grande inteli- gência. Íamos e vínhamos na lembrança de livros e autores. Mas sempre aportávamos na história parlamentar, na evocação das grandes figuras e dos grandes momentos do parlamento”.
Brossard deixa o exemplo do político integro, do cidadão exemplar, do grande patriota.
Perde o Rio Grande, perde o Brasil, perdemos nós.
O texto é do ex-Presidente desta Casa e Presidente da República José Sarney, 84 anos, membro da Aca-
demia Brasileira de Letras, que foi presidente da República de 1985 a1990.
Feito esse registro pela Mesa, Senadora Vanessa, caros colegas Senadores Roberto Requião, Alvaro Dias, Senador Fernando Bezerra, Senador Capiberibe, eu imagino que esteja a Mesa fazendo uma homenagem ini- cial ao falecimento de Paulo Brossard e também ao autor desse artigo, que expressa, com precisão, com muita fidalguia e com muita lealdade, a homenagem a um amigo que se foi. Então, é assim que começamos.
Com a palavra, o Senador Alvaro Dias.