Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa do ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva; e outros assuntos.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Defesa do ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva; e outros assuntos.
IMPRENSA:
Aparteantes
Cássio Cunha Lima, Fernando Bezerra Coelho, Lindbergh Farias.
Publicação
Publicação no DSF de 06/05/2015 - Página 103
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > IMPRENSA
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, LIDER, VOLUNTARIO, COMUNIDADE, ENFASE, IMPORTANCIA, LIDERANÇA, MORADOR, DIALOGO, GOVERNO, REGISTRO, REUNIÃO, ORADOR, PRESENÇA, AGENTE, AÇÃO COMUNITARIA, ESTADO DO ACRE (AC), ASSUNTO, MELHORIA, RIO BRANCO (AC), CIDADE, INTERIOR, ENTE FEDERADO, COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, FESTA, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, TRABALHADOR.
  • ANUNCIO, CONVITE, AUTORIA, TIÃO VIANA, GOVERNADOR, ESTADO DO ACRE (AC), VISITA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, ENTE FEDERADO, MOTIVO, INAUGURAÇÃO, INSTALAÇÕES, CENTRAL (BA), ATENDIMENTO, TELECOMUNICAÇÃO, MARKETING, REGISTRO, REALIZAÇÃO, HOMENAGEM, EX PRESIDENTE, PRESENÇA, ORADOR, GOVERNO ESTADUAL, CRITICA, DIVULGAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, EPOCA, ACUSAÇÃO, AUSENCIA, COMPROVAÇÃO, REFERENCIA, PARTICIPAÇÃO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, HIPOTESE, CORRUPÇÃO, BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES).

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Eu queria aqui dizer que passei esse final de semana no meu Estado, trabalhando sexta-feira, sábado.

            E eu queria dizer que hoje é o Dia do Líder Comunitário. Quero cumprimentar a todos que trabalham sem salário. Desde a época em que fui prefeito, eu tive o privilégio de ser ajudado por essa organização comunitária e de ajudar também a estimular essa organização comunitária que é fundamental para que se tenha, nas cidades, a interlocução de cada morador através de um líder comunitário, de um presidente de bairro, pessoas dedicadas.

            E, neste fim de semana, eu tive uma longa reunião com representantes da Famac e da Umarb, liderados pelo Gilson, pela Terezinha e pelo Panelada e por outros importantes líderes, que são amigos. Ontem, eu tive uma reprodução no meu escritório e queria daqui, da tribuna do Senado, agradecer e dizer que aprendi muito na conversa que tivemos. Eu me reuni com 80 líderes comunitários e ouvi mais de 30 exposições num nível elevado, buscando sempre colaborar com o melhor funcionamento da cidade de Rio Branco, capital do Acre, e das cidades do interior.

            Eu participei no sábado de uma festa em homenagem ao Dia do Trabalho. Foi um baile de manhã, num clube tradicional de aposentados da Sborba, um clube de operários de Rio Branco, que eu ajudei a reformar, onde o Governador Binho fez uma ampla reforma e restauração. É fantástico! É uma festa tradicional só de aposentados, pessoas muito simples. E lá há uma dança, um forró, que dura a manhã inteira até o começo da tarde. É uma das festas mais animadas de que eu participo e de que faço questão sempre de participar. Eu queria registrar isso, encerrando essas homenagens, fazendo um registro aqui de que lá tive o privilégio de dançar com a Profª Lídia Deodato, uma senhora aposentada, animada, conversando... E dancei muito com ela, Senador Magno Malta, com um probleminha, Senador Walter... Problema, não, uma solução: hoje ela faz 104 anos. No sábado, ela estava lá conosco. E eu aproveito para desejar um feliz aniversário para ela, porque vida longa Deus já lhe deu. Então, a Profª Lídia, com a sua família, dançando... Isso mostra que o Senador Walter, o Senador Magno Malta, Senador Capi e todos nós temos aí uma possibilidade pela frente, já que sou testemunha de que nós estamos alcançando algo fantástico que é mais tempo de vida. Fica aqui a minha homenagem a essa professora que tanto colaborou com o nosso Estado. Fiz uma homenagem na minha página no Facebook, que reproduzo aqui.

            Sr. Presidente, meu querido e bom amigo Capiberibe, eu queria fazer aqui uma fala acerca da ida do Presidente Lula, amanhã, ao Acre, mais uma ida dele a nosso Estado. Depois, vou me referir a essa tentativa de reportagem que uma importante revista brasileira fez, procurando manchar a biografia de um dos maiores líderes deste País, que é o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

            Começo dizendo que, a convite do Governador Tião Viana, o Presidente Lula chega ao Acre e nos honra com sua presença. Ele que é um amigo do Acre e que nos ajudou, ao longo de décadas, a erguer o nome do Acre, a mudar o Acre para melhor. Desde o tempo de Prefeito, de Governador, depois com o Governador Binho e, agora, com o Governador Tião Viana; com o Prefeito Angelim, agora com o Prefeito Marcos Alexandre e com os demais Prefeitos do interior, sempre tivemos no Presidente Lula um amigo, um aliado, um líder, um guia.

            O Governador Tião Viana convida o Presidente Lula para a inauguração das instalações da Central de Atendimento Contax. Trata-se de um empreendimento que está instalado perto da Via Verde.

            O projeto é uma iniciativa do então Senador Tião Viana e hoje Governador, meu irmão, que se dedicou - e teve o apoio do Presidente Lula - para instalar esse telemarketing no Acre. Vai começar com dois mil empregos, mas pode chegar a cinco mil.

            É esse o tipo de lobby que o Presidente Lula faz, o lobby do bem. O Senador Bezerra está aqui. V. Exª sabe que o seu Estado é outro depois do Governo do Presidente Lula. E, se formos justos, vamos dizer que o Nordeste e o Norte deste País são outros depois do Presidente Lula.

            Independentemente das falhas que possam ter ocorrido, não é justo, não é justo que transformem as qualidades do Presidente Lula em defeitos! Isso tem que ter fim. Não é possível! Isso beira o preconceito!

            O Governador Tião Viana e eu, amanhã, vamos homenagear o Presidente Lula no Acre. Eu vou estar aqui. Só vou à noite, porque, no outro dia, ele e o Presidente da Bolívia, Evo Morales, vão estar no Acre - o Presidente Lula vai pernoitar no Estado - para inaugurar o mais moderno frigorífico de peixes da região Norte e Nordeste deste País. Do País! É um investimento do Estado do Acre em parceria com a iniciativa privada. E o Presidente Lula, que esteve na parte da alevinagem, na parte do projeto, vai, amanhã, inaugurar essa obra, que é a parte final da industrialização do que eu chamo de manejo de água para produzir proteína animal. E esse frigorífico, que já está em teste, vai ser inaugurado amanhã.

            Eu queria deixar aqui registrado que vamos fazer uma grande homenagem ao Presidente Lula, um desagravo, por conta das agressões que ele vem sofrendo nos últimos meses. Ele não tem sossego nem como ex-Presidente. Enfrentou um gravíssimo problema de saúde, que superou, graças a Deus, mas agora se faz uma verdadeira caçada ao Presidente Lula, por meio de alguns veículos de comunicação.

            Eu ouço o Líder, ex-Ministro e nosso colega Fernando Bezerra.

            O Sr. Fernando Bezerra Coelho (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - PE) - Senador Jorge Viana, eu não poderia deixar de aparteá-lo no momento em que V. Exª faz justiça ao trabalho, à liderança, à vocação pública desse pernambucano, desse brasileiro que teve o privilégio e a honra de governar o Brasil por oito anos. E V. Exª disse muito bem. Se o Estado de V. Exª, o Acre, presta uma homenagem, amanhã, ao Presidente Lula pelas diversas iniciativas de promoção do desenvolvimento, sobretudo na materialização desse importante call center da Contax, que vai se instalar no seu Estado, gerando mais de 2 mil empregos, não foi diferente no meu Estado de Pernambuco. Semana passada, eu tive o privilégio de acompanhar a Presidenta Dilma na inauguração da unidade industrial da Jeep. Pernambuco fabricando carros, automóveis. A planta nasce já com a capacidade instalada de 250 mil veículos. É tida como a mais moderna planta de automóveis da atualidade, capaz de atender às exigências dos mais exigentes mercados consumidores, como é o caso do mercado norte-americano. Na festa de inauguração, todos nós, pernambucanos, fizemos a justiça de reconhecer que aquela inauguração só foi possível dada a parceria do Presidente Lula com o nosso ex-Governador Eduardo Campos. E o Presidente Lula foi sensível. Ele teve coragem de reabrir o regime automotivo do Nordeste para permitir que um empreendimento daquele porte pudesse se instalar. Além da fábrica de carros, nós já temos 16 outras fábricas de fornecedores e sistemistas, e existe a possibilidade concreta, no momento em que a economia brasileira entra num período de desaquecimento, de essa unidade industrial ampliar a sua produção para mais de 400 mil veículos, gerando a oportunidade de Pernambuco se reencontrar com a sua história, com o seu destino, promovendo de forma indelével a reindustrialização do meu Estado. Portanto, o Presidente Lula tem muitos méritos. Ele é amigo do povo de Pernambuco, ele foi parceiro das grandes transformações que se operaram no meu Estado, e estaremos sempre aqui para fazer justiça ao seu trabalho e também, assim como V. Exª, fazer aqui um contraponto, às vezes, às acusações infundadas, às críticas ácidas, exageradas que se dirigem a esse brasileiro que foi capaz de liderar o Brasil e de fazer um trabalho de inclusão social que deu oportunidade a milhões de brasileiros de ter comida na mesa, de ter emprego, de ter salário e, sobretudo, numa região pobre, de onde eu venho, que é o Nordeste brasileiro, deu oportunidade de o Nordeste diminuir as suas gritantes disparidades regionais. Eu quero me solidarizar com V. Exª nesse pronunciamento que faz na tarde de hoje, prestando esta homenagem, prestando justiça à ação política e à liderança do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Muito obrigado, Senador Fernando Bezerra. V. Exª, que é um bom nordestino, sabe muito bem as mudanças que o Presidente Lula conseguiu fazer no seu tempo de governança no Nordeste, no Norte e no Centro-Oeste, mais especificamente, mas foi o Brasil que mudou. Se ele tivesse apenas combatido a miséria e feito apenas a inclusão de 40 milhões de brasileiros numa classe social que trouxe dignidade aos brasileiros, já teria sido um exemplo para o mundo, mas o Presidente Lula nos ajudou muito mais.

            Falo aqui porque fui Governador com o Presidente Fernando Henrique dirigindo este País. Reconheci sempre no Presidente Fernando Henrique um estadista, um grande brasileiro, que ajudou o Acre e que deu sua contribuição ao País. Houve um período em que tentaram enxovalhar o Presidente Fernando Henrique. Eu ganhei manchete nos jornais e crítica de aliados, porque fiz boa defesa do Presidente Fernando Henrique, falando da integridade e da honradez dele.

            Por isso eu venho à tribuna, com toda tranquilidade, a mesma tribuna em que se revezam alguns, trazendo injustiça, calúnia, agressão ao Presidente Lula, à Presidenta Dilma, o que extrapola muito o que deveríamos entender como política.

            Sun Tzu, que normalmente é usado como referência quando o assunto é política, já dizia: “Política é a guerra sem derramamento de sangue, e guerra é a política com derramamento de sangue.”

            A política brasileira é sangue puro hoje. Não tenho dúvida de que mais do que nunca vale aquilo que Nelson Rodrigues falou. Está presente na elite brasileira, está presente em setores esse complexo de vira-lata. Não se aceita o resultado de uma eleição, não se aceita que um operário retirante, pau de arara, passando miséria no Nordeste, tenha virado um dos maiores líderes do País, tenha assumido o Governo, tenha ajudado a mudar o Brasil. Não se aceita!

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - V. Exª me concede um aparte, Senador Jorge?

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Sem dúvida. Eu só queria avançar um pouco mais.

            Faço essa referência porque tivemos grandes brasileiros presidindo este País: Presidente Itamar, Presidente Fernando Henrique, Presidente Lula. Mas será que é justo agora querer acusar o Presidente Lula de lobista? O que o Presidente Lula tem feito? Palestras, como sempre fez o grande Presidente Fernando Henrique. É convidado para dar palestra no mundo inteiro. Ganham muito dinheiro com isso. São bem pagos, como é Bill Clinton. Por isso falo do complexo de vira-lata.

            Agora tentam vincular o Presidente Lula a uma reportagem chocha, malfeita, dirigida por uma revista importante brasileira, para tentar destruir a biografia do Presidente Lula. O Brasil tem um pouco desse complexo. Fez isso com Getúlio Vargas, levando-o ao suicídio; fez isso com Juscelino Kubitschek e tenta fazer com Lula. Só que os tempos são outros. Estamos vivendo plena democracia. Não é possível! Vamos esperar a história para fazer o bom registro? Acho que podemos fazer o bom debate aqui. Os erros do nosso Governo, os erros do PT, do sistema político, do PSDB, de todos os partidos podem vir à baila, inclusive do governo do Presidente Lula. Só não vale a tentativa de destruir uma biografia que o Brasil haverá de reconhecer no futuro, mas precisa, com honestidade, reconhecer no presente.

            Ouço, com muita satisfação, o ex-Governador, colega Senador e Líder Cássio Cunha Lima.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Senador Jorge, agradeço a oportunidade do aparte, que sempre possibilita o debate sobre esse momento, que é muito grave, da história do Brasil, e não podemos deixar de enxergá-lo dessa forma. Em primeiro lugar - falo como Líder do PSDB -, em nenhum instante o PSDB questionou o resultado das eleições. Não houve o devido reconhecimento do gesto, mas um gesto vale por mil palavras: foi o próprio Senador Aécio Neves, que disputou a eleição com a Presidente Dilma, que, tão logo o resultado foi proclamado, ou até mesmo antes da proclamação oficial da Justiça Eleitoral, que telefonou para a Presidente Dilma Rousseff e a cumprimentou pela vitória. Portanto, esse gesto deixa claro que não há qualquer questionamento de nossa parte em relação ao resultado das eleições, tanto é que, particularmente, em relação aos processos que tramitam na Justiça Eleitoral, e a lei deve ser para todos - você não pode ter uma legislação para prefeitos, para governadores e uma outra legislação para quem quer que seja que esteja ocupando a Presidência da República -, eu acho que quem perde eleição não pode governar, em nenhuma hipótese. Se, por uma razão ou outra, alguém for punido pela Justiça Eleitoral com a perda do mandato, a sociedade tem que ser chamada para decidir, e falo porque tive um mandato injustamente cassado pela Justiça Eleitoral, como também o Senador Capiberibe, que preside esta sessão. 

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Como também tentaram comigo, inclusive.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Exatamente.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Felizmente, a tempo, a justiça foi feita.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Então, em primeiro lugar, quero fazer esse reparo de que não há questionamento do resultado da eleição. Contudo, acredito que, na República, não há ninguém imune a investigação. Eu tenho um profundo respeito pessoal pelo presidente Lula.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu sei disso.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - V. Exª sabe disso.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - E de tempos.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Tenho com ele uma relação de muito respeito, desde a época da Assembleia Nacional Constituinte. Agora, a revista Época tão somente noticiou um fato, que é a abertura de um inquérito, de um procedimento investigatório por parte do Ministério Público Federal, e nós não podemos ter estranheza em relação ao funcionamento das instituições. Eu acho que o momento que o Brasil vive exige, mais do que em qualquer outro instante, o fortalecimento das instituições, para que nós possamos fazer com que elas funcionem de forma plena. Então, a revista Época traz uma informação, como deve ocorrer no mundo moderno e, sobretudo, no Estado de direito, numa democracia como a nossa. Há, desde o dia 20 de abril, um procedimento aberto pelo Ministério Público Federal para investigar o ex-Presidente Lula, e isso não retira do Presidente Lula os méritos de avanços, de conquistas que foram registradas no Nordeste, no Norte, no Estado que eu represento, a Paraíba, até porque nós estamos diante de muitos episódios. São muitos os acontecimentos que exigem uma reflexão e, mais do que isso, em alguns casos, uma apuração. Só nesse fim de semana, nós tivemos a matéria da revista Época e a matéria da revista Veja, que é duramente atacada por algumas pessoas mais próximas ao Governo. Houve o desaparecimento das gravações do Conselho da Petrobras, e é preciso esclarecer isso. Se há uma reunião do Conselho que é gravada, não faz sentido você, depois, acabar com esse arquivo. Grava-se por quê? Se se grava, é para deixar isso arquivado. Nós temos mecanismos digitais que permitem um arquivo quase infinito nas nuvens. Então, é preciso saber: foram apagados esses arquivos por quê? Há uma suspeita, sim, e a República, a Nação, a sociedade brasileira têm o direito de saber se foi uma queima de provas, se foi uma queima de arquivos. Isso é gravíssimo, Senador Jorge. Em nome da trajetória do Brasil, nós precisamos apurar esses episódios. Então, acredito que a temperatura política está muito alta. Não sou daqueles que defendem sangue na política. Acho que tem de haver respeito às posições, às ideias, mas tudo isso, Senador, nasce de acontecimentos recentes que não foram por nós provocados - digo nós, a oposição brasileira. Poderiam até ter sido provocados por nós, mas não foi a oposição brasileira que deflagrou a Operação Lava Jato. A Operação Lava Jato está dentro das regras legais do País, tocada por instituições que precisam ser fortalecidas neste momento, e não desmoralizadas, como são o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o próprio Poder Judiciário, em nome daquilo que é fundamental para o fortalecimento da nossa democracia. Concluo o aparte, com a generosidade do tempo que V. Exª me concede, apenas para mostrar que, por mais difícil que seja, por mais doloroso que pareça, nós não podemos fugir do enfrentamento dessas questões. Nós não podemos fazer de conta que as reuniões do Conselho de Administração da Petrobras, que, coincidentemente, foram presididas, durante muitos anos, pela Presidente Dilma Rousseff, simplesmente foram deletadas quando se pediu acesso a elas. Nós não podemos deixar de reconhecer que existe, sim, hoje, um procedimento investigatório e que, na República, ninguém é imune à investigação. E não vamos, pelo amor de Deus, confundir investigação com condenação. Ninguém está aqui dizendo que fulano ou beltrano está condenado a essa função. As pessoas, às vezes, acham que o pedido de investigação é uma condenação prévia, quando não o é. Agora, são tantos acontecimentos, são tantos fatos que se sucedem, que se cria toda essa ambiência, esse calor, que leva a esse debate mais candente da política brasileira. Mas temos de ter muita responsabilidade, muita serenidade, para que, neste instante, as instituições e os valores da democracia, entre eles a liberdade de imprensa, possam ser preservados e jamais atacados.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Sem dúvida.

            O aparte de V. Exª me deixa muito honrado, por conta da história de vida que V. Exª tem, pelo democrata que é e pela sinceridade que usa aqui, falando, inclusive, da relação histórica com o Presidente Lula. Mas é exatamente nesses aspectos que V. Exª levanta que eu gostaria de me pegar.

            O Brasil está entrando em um caminho muito perigoso, e, lamentavelmente, setores da imprensa fazem uso desse artifício ao pegar um procedimento preliminar ou mesmo o início de uma investigação e ao fazer com que aquilo já seja apresentado em matérias que carregam na mão, como julgamento e, pior, como condenação. Essa é uma prática que nosso País está experimentando.

            A vida de brasileiros é destruída apenas porque se vai abrir um procedimento. É o caso! Não existe inquérito contra o Presidente Lula, existe procedimento preliminar. E a revista Época trabalhou, como se Lula fosse um condenado, em cima de suposições. É isso que questiono.

            V. Exª tem razão. Não podemos fazer isso. Eu estou dizendo que fiz, que assinei documento defendendo o Presidente Fernando Henrique, mas existem teses jornalísticas de que Paulo Francis morreu porque estava denunciando corrupção na Petrobras em pleno governo do Presidente Fernando Henrique. Aquilo precisava ter sido investigado, mas não o foi.

            A Petrobras é a maior empresa. Treze por cento do PIB brasileiro estão diretamente ligados à Petrobras. Existem diretores que assumiram que estavam roubando e que têm de ir para a cadeia. O Sr. Paulo Roberto, diretor há anos, assumiu isso. Perfeito! O Sr. Youssef assumiu a delação. Agora, o Sr. Paulo Roberto chega lá e fala que deu dinheiro para o PP, que deu dinheiro para tesoureiro do PT, meu Partido, mas ele diz também que passou R$10 milhões para o Presidente do PSDB. Em memória do Presidente do PSDB, que é ex-Senador, ex-colega nosso, que já não está aqui para se defender, alguém, com serenidade, sem condenar ninguém, tem de fazer uma apuração disso, porque senão se fica apurando...

            Quando se acusa alguém do PT, aí tem credibilidade o delator ladrão, assaltante.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - É isto que se está defendendo, Senador: que se apure. É exatamente isso. Que se apure quem quer que seja!

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Exatamente! Não pode ser algo dirigido.

            Dei uma entrevista nesse fim de semana. “Ah, o senhor está questionando o Juiz Moro?” De jeito nenhum, nem o Juiz Moro, nem a Justiça. O que fica evidente, pela própria imprensa divulgando, é que me parece que existem pessoas, ocupando funções importantes em instituições responsáveis por inquéritos e por apuração, fazendo uso partidário-político, querendo dirigir uma investigação. E agora apontam as baterias contra o Presidente Lula.

            O que diz a reportagem nesses procedimentos preliminares? Que o Brasil está exportando dinheiro, está exportando emprego, está gerando emprego lá fora com o financiamento de serviços. O Brasil é um aprendiz na exportação de serviços. Nessa matéria, o Brasil está muito aquém do que deveria estar se quisesse ser uma grande Nação.

            O BNDES não exporta dinheiro. O BNDES, quando financia um projeto fora do Brasil, gera e financia emprego aqui, no Brasil. V. Exª foi Ministro, Senador, e sabe que, para que todos os recursos de financiamento sejam destinados para obra no exterior, o serviço tem de ser contratado no Brasil, a mão de obra e o material têm de ser contratados no Brasil. É assim que funciona, diferentemente do que ocorre em outros países. A China faz o contrário: a China financia empresas estrangeiras.

            Nós temos uma lei desde a época do Presidente Fernando Henrique, a Lei Complementar nº 105, de 2001, que estabelece claramente as regras para que se tenha acesso. É possível que qualquer juiz ou qualquer Parlamentar requeira a abertura e o sigilo de operações financeiras envolvendo exportações. Isso está na Lei Complementar nº 105, de 2001. Isso é possível! E agora se vende numa reportagem que o Presidente Lula, como se fosse um lobista, está se beneficiando.

            Volto a repetir: o Presidente Fernando Henrique pode fazer palestra, pode ganhar R$300 mil ou R$500 mil, pode viajar no avião de quem o está contratando para fazer uma palestra em qualquer lugar do mundo. Isso pode, mas o Presidente Lula não pode. Por quê? Por que é operário? Por que é do PT? Eu acho que isso é que é muito ruim para o nosso País.

            Demora mais ou menos 450 dias um projeto desses de financiamento de serviços fora do Brasil para ser aprovado no BNDES.

            O BNDES, na presidência do Prof. Luciano Coutinho, com sua equipe técnica, tem algo de que temos de nos orgulhar: é um banco que dá lucro.

            Eles usaram o exemplo do financiamento de um projeto em Gana. A revista trabalha e tem informações do Itamaraty. Coloca que a suspeita data de 30 de março de 2012. Ora, Lula estava doente nesse período. Ele foi a Gana, na África, um ano depois. Ele estava doente, recuperando-se de um câncer. Como é que Lula poderia influenciar diretamente os empréstimos do BNDES para uma obra em Gana? Isso foi feito não apenas para a Odebrecht, empresa citada como se estivesse em conluio com o Presidente Lula, mas também para a Andrade Gutierrez. Mais ainda, quem se encarregará de parte das construções em Gana? Observe-se também - é bom que a gente relembre - que essa é uma obra multinacional, que recebeu recursos da União Europeia - disso a reportagem não fala - e que recebeu recursos da China muito mais vultosos que os do Brasil. A China vai bancar boa parte dessa obra citada.

            Eu queria que a boa informação chegasse para o povo brasileiro. Que se carregue na tinta das críticas, mas não é possível a realidade desses serviços no mundo inteiro hoje. Eles geram algo perto de US$6 trilhões ao ano. Somente o mercado mundial de serviços de engenharia lida com US$400 bilhões, e as exportações correspondem a 30% desse mercado.

            Vou dar um número. Vejam só: entre 2008 e 2012, o apoio financeiro do Brasil às suas empresas exportadoras de serviços - repito, de 2008 a 2012 - foi de apenas US$2,2 bilhões por ano, para que ficasse esse dinheiro aqui, para que houvesse a geração de emprego aqui, para que houvesse a industrialização aqui. Mas vamos fazer uma pergunta: quanto foi que a China, no mesmo período, investiu? A média anual do Brasil foi de US$2,2 bilhões por ano; a da China foi de US$45 bilhões por ano; a dos Estados Unidos foi de US$18 bilhões por ano; a da Alemanha foi de US$15 bilhões por ano; a da Índia foi de US$9,9 bilhões por ano. E aí vêm os críticos, com complexo de vira-lata, querendo que o Brasil fique pior?

            Se o Brasil está investindo pouco nessa estrutura de negócios, que é fundamental para um país que queira disputar o mundo, não faz sentido termos de vir aqui, não faz sentido o Presidente Lula, com serviços prestados ao País, ter de ficar se justificando ou ter de ver sua biografia, sua história sendo atingida de forma absolutamente desigual.

            Não estou questionando - e ninguém pode questionar - a livre imprensa, pois isso é fundamental, é base da nossa democracia. Mas eu queria dizer que o Presidente Lula andou pelo mundo todo, como o Presidente Fernando Henrique, para receber homenagens, para receber títulos de doutor honoris causa. O lugar que ele mais visitou foram os Estados Unidos. Mas não pode ir à África? Como é que funciona isso? O Presidente Fernando Henrique e o Presidente Lula fazem palestras no Brasil e no exterior para vários setores, em vários países, como Estados Unidos, México, Suécia, Coreia, Argentina, Espanha, Itália e outros. Mas agora tentam colar algo que é muito injusto para o Presidente Lula.

            Eu queria, então, concluir, Sr. Presidente, dizendo que o Presidente Lula nunca foi operador de si mesmo. O Presidente Lula sempre foi assumidamente um sonhador, um homem que sonha com um País melhor.

            Encerro aqui, dizendo que, graças a bons brasileiros - não foi só o Governo do PT, nem o Presidente Lula, nem a Presidenta Dilma -, no nosso Governo, as grandes mudanças aconteceram. Hoje, o Brasil é o quinto maior País em extensão e o quinto País em população; tem a sétima economia mundial; é o segundo maior exportador de alimentos; é o maior exportador de soja, de café, de açúcar, de suco de laranja, de carne bovina e de frango; é o terceiro produtor de frutas; é o primeiro produtor de jatos regionais; é o quarto produtor de veículos, e está crescendo; é o quarto maior na indústria naval; é o segundo produtor de minério de ferro; é o nono produtor de aço; é o quarto maior produtor de cimento; é o quarto maior produtor de celulose; é o primeiro produtor de celulose de eucalipto. Nosso País é o quinto maior produtor têxtil. Nosso País é o segundo maior gerador de energia hidroelétrica, o primeiro produtor de etanol, o terceiro produtor de biodiesel e o sétimo gerador de energia elétrica. Nosso País, nosso Brasil é o terceiro maior mercado de computadores pessoais, é o quinto em telefonia celular, é o quinto em telefones fixos. O nosso País é o quarto em usuários da internet; o terceiro em número de servidores; o quarto país em extensão de rodovias; a quarta maior força de trabalho, com 104 milhões de trabalhadores; o sétimo mercado de consumo do mundo. Esse é o país que o Presidente Lula ajudou a construir, esse é o país que a Presidenta Dilma tem o desafio de levar adiante: superar o baixo crescimento, a inflação alta e vencer esse pessimismo.

            Eu acredito que nós vamos superar, que, no final do ano, começo de 2016, o Brasil, que hoje é um gigante, que é um País que ameaça as grandes potências mundiais, vai voltar a um curso de crescimento. Mas isso só vai acontecer se nós sairmos desse complexo de vira-lata, de preconceito, de tentar se impedir a toda hora a Presidenta Dilma de governar; 2014 acabou, a eleição ficou para trás, nós estamos em 2015.

            Eu venho aqui à tribuna, sei que outros colegas vão fazê-lo - antes de encerrar, passo para o meu querido colega Lindbergh fazer uma intervenção -, já concluí a minha fala, só vou encerrar agradecendo, mas vim aqui por uma questão de justiça. O Brasil deve muito ao Presidente Lula. Este País é hoje o que é graças a muitos brasileiros, mas ao Presidente Lula, que tem sido um exemplo para todos nós de paixão pelo Brasil, de dedicação ao Brasil. E eu espero que a imprensa, com o direito de criticar, possa fazer mais justiça ao Presidente Lula e à sua biografia.

            O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senador Jorge Viana, eu vou ser bem breve, falarei sobre o mesmo tema ainda hoje, mas eu quero elogiar V. Exª pelo belíssimo discurso. E eu quero me associar na defesa deste grande brasileiro, nosso Presidente Lula. Olhando os fatos da matéria, sinceramente, V. Exª falou muito bem, não há uma investigação, não há um inquérito, é um procedimento preliminar. Agora fruto de quê? Fruto da ignorância - desculpe-me por falar assim -, da má vontade, maldade e ignorância. Ex-presidentes no mundo inteiro viajam...

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Parece uma encomenda, não é?

            O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - ...viajam, na verdade, fazendo defesa das empresas do seu País. O Presidente Lula, quando viajava como Presidente da República por aí afora, fazia isso, levava as empresas brasileiras. É importante que se diga, quando eu falo de ignorância, que os empregos, os financiamentos do BNDES, diferentemente de outras agências de crédito, que... No caso do BNDES, só pode haver empregos aqui no Brasil, os empregos são gerados aqui no País. Então, sinceramente, eu faço este aparte... Eu vou falar sobre o tema mais detidamente, mas eu acho que a ignorância, a má vontade estiveram presentes nesse episódio. Mas, com certeza, isso não vai abalar o nosso Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já teve um grande papel neste País e ainda vai ter um grande papel neste nosso Brasil. Eu volto a falar sobre este tema mais tarde, estou inscrito para falar sobre o mesmo tema que V. Exª. Muito obrigado.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Muito obrigado, Senador Lindbergh. Acho que o Brasil precisa usar melhor seus líderes ex-presidentes, tanto o Presidente Fernando Henrique quanto o Presidente Lula; eles merecem respeito. Não faz nenhum sentido esse tipo de caça ao Presidente Lula, que a gente vê em setores da imprensa. Não posso generalizar, não estou generalizando.

            Quero parabenizar o Governador Tião Viana, vou estar no meu Estado reconhecendo a figura, o líder que é o Presidente Lula, os feitos do seu governo, a sua luta, e ele vai nos ajudar a entregar obras feitas com muito trabalho pelo Governador Tião Viana, que são a esperança de uma economia sustentável para o nosso Estado.

            Parabenizo o Governador Tião Viana pelo trabalho feito, por estar homenageando o Presidente Lula e levando o Presidente da Bolívia para ver o exemplo do Acre no manejo e na produção de pescado, na industrialização com frigorífico dessa proteína animal, tão importante para a alimentação do mundo inteiro.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/05/2015 - Página 103