Comunicação inadiável durante a 59ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Indignação pela forma como foram reprimidos os professores que protestavam ontem em frente à Assembleia Legislativa do Estado do Paraná.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
GOVERNO ESTADUAL:
  • Indignação pela forma como foram reprimidos os professores que protestavam ontem em frente à Assembleia Legislativa do Estado do Paraná.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 01/05/2015 - Página 43
Assunto
Outros > GOVERNO ESTADUAL
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, BETO RICHA, GOVERNADOR, ESTADO DO PARANA (PR), MOTIVO, REPRESSÃO, VIOLENCIA, POLICIA MILITAR, OBJETIVO, COMBATE, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, AUTORIA, PROFESSOR, ASSUNTO, APROVAÇÃO, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, PROJETO DE LEI, ALTERAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, SERVIDOR PUBLICO ESTADUAL.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Srª Presidenta.

            Srªs e Srs. Senadores, quem nos ouve pela Rádio Senado e nos assiste pela TV Senado, hoje é com imensa tristeza que eu ocupo esta tribuna.

            Sempre venho aqui com indignação. Sempre venho aqui para comemoração. Sempre venho aqui com alguma denúncia de fatos acontecidos.

            Hoje, é com tristeza que ocupo a tribuna. E ocupo com tristeza porque o meu Estado, o Estado do Paraná está de luto. Está de luto pela forma como foram tratados os professores, os trabalhadores na educação que faziam ontem um manifesto na Assembleia Legislativa.

            Eu queria aqui, Srª Presidenta, relatar o que se passou, o que aconteceu. Estive ontem, com o Senador Roberto Requião, na Assembleia Legislativa do Paraná e também participei, com os professores, da manifestação que faziam. Aliás, estive junto com os professores quando eles foram atingidos por bombas de gás lacrimogênio, por cassetetes da polícia. Uma truculência incomparável - nunca tinha visto antes - do Governador do Estado do Paraná, o Sr. Beto Richa.

            Estivemos eu e o Senador Requião, em nome deste Senado - não fui como Senadora do Paraná, nem ele -, representando o Senado da República, fomos conversar com os Deputados e pedir, por favor, que os Deputados não fizessem, ontem, a aprovação de um projeto que alterava a Previdência Social dos servidores públicos. Nós dependemos, ainda, de um parecer do Ministério da Previdência Social. Tivemos uma audiência com o Ministro Carlos Gabas, conversamos com ele, mas ele não tinha todos os elementos - porque o Estado do Paraná não enviou - para fazer um posicionamento em relação a esse projeto.

            Fizemos um apelo, eu e o Senador Requião, ao Presidente da Assembleia. Havia quase dois mil policiais militares fazendo um cinturão de segurança não só à Assembleia Legislativa, mas também ao centro cívico do Estado do Paraná, e mais de dez mil professores reunidos em praça pública. Sabíamos que uma tragédia poderia acontecer e pedimos, encarecidamente, que o projeto não fosse votado ontem.

            Não conseguimos esse intento, Srª Presidenta. Não conseguimos fazer com que a Assembleia se sensibilizasse. O projeto começou a ser votado e a polícia, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, do nada, porque a tentativa de entrada na Assembleia pelos professores foi quase nula, começou a atirar bomba de gás lacrimogênio. E não estava lá preparada apenas, Senadora Rose, para defender o prédio da Assembleia. Nós sabemos como são esses enfrentamentos quando tem que defender o prédio público ou o patrimônio: faz um enfrentamento e recua. A polícia não recuou. Mesmo os professores, os trabalhadores da educação saindo, querendo correr, querendo se proteger, a polícia continuou jogando bomba de gás lacrimogênio, continuou atirando com bala de borracha, continuou soltando cachorros em cima dos professores e em cima dos trabalhadores da Imprensa. Aliás, os cachorros que estavam sendo utilizados eram pitbulls, que não são cachorros para fazer enfrentamento de manifestação pública. Esses cachorros morderam professores, morderam jornalistas. Nós estamos com mais de 200 feridos no Paraná, pessoas em hospitais.

            Ontem, nossa prefeitura municipal de Curitiba serviu quase que como um hospital de campanha, com centenas de manifestantes feridos. Tivemos que mobilizar médicos do Município, conseguir ambulância. E a polícia não recuava sequer para que a gente pudesse recolher os feridos, para que os professores pudessem recolher os feridos.

            Eu estou falando aqui, Senador Moka, não foi de ver na televisão, eu estava lá, eu estava no Estado do Paraná. Eu estive na Assembleia Legislativa e estive junto com os manifestantes. E, enquanto nós conversávamos sem nenhuma afronta, as bombas continuavam sendo atiradas, continuavam sendo agredidos os nossos professores, os nossos trabalhadores na educação.

            Eu me pergunto por quê. Por que fazer isso? Por que com tanta truculência? Por que com tanta violência? Nossos professores não são bandidos. Nossos professores não estavam lá para depredar prédio público. Eles estavam lá para lutar por um direito que é deles, por um fundo previdenciário que, há mais de 17 anos, tem contribuição dos servidores públicos, que, há mais de 17 anos, tem uma poupança previdenciária. Por que fazer isso? Por que os nossos trabalhadores e os nossos professores foram agredidos dessa forma?

            Quero lamentar aqui muitíssimo, Sr. Presidente Jorge Viana, a posição do nosso Governador Beto Richa, que, ao invés de se colocar contra a violência, pedir desculpas, fazer publicamente um ato de solidariedade aos manifestantes, dizer que errou, chamar para conversar, foi lá e defendeu a violência policial. E defendeu sabe por quê, Senador Pimentel? Defendeu dizendo que os professores eram arruaceiros, baderneiros, que tinha Black Bloc misturado com os professores do Paraná. Mentira! Não há uma imagem de mascarado naquela manifestação. Eu estava lá, eu vi. Não havia pedras, não havia paus. Foi um massacre, e não confronto, como a mídia está dizendo.

            Eu lamento muitíssimo pelos professores, pelas professoras, pelos pais, pelas mães, pelas crianças da creche que tinham ali no Centro Cívico, que tiveram que ser retiradas, Senador Cristovam, por conta do gás lacrimogêneo. Foi uma tristeza muito grande o que nós presenciamos no Estado do Paraná.

            Eu concedo um aparte a V. Exa.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senadora, informaram-me que o regulamento não permitiria, mas, em um tema como esse, não posso deixar de trazer um debate. Eu quero me solidarizar com a senhora. Recebi seu convite. Lamento não poder ir nesta data, mas eu estou disposto a estar presente neste momento. A senhora citou as mães, citou os pais, citou os professores, e eu cito outra entidade que foi sacrificada ontem: eu cito o Estado do Paraná. É triste ver imagens como aquelas vindas de um Estado glorioso, que tem sido um exemplo até em muitas coisas passadas para nós. Professor apanhando de polícia é algo que entristece qualquer um. A capa do Correio Braziliense de hoje é “Triste pátria que despreza a educação”, é em cima do que aconteceu no Paraná.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu a parabenizo por não ter deixado passar em branco uma coisa como essa, como representante do Paraná que é e como brasileira indignada com aquilo. E isso de que havia Black Blocs ou o que seja a senhora já mostrou que não havia. Mas, ainda que houvesse, tinha que haver competência para separá-los dos professores que ali estavam.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Exatamente.

            Muito obrigada, Senador Cristovam. É assim que eu penso também, porque as cenas que nós vimos lá, dos professores machucados, dos professores chorando, dos professores sendo atacados, são cenas que vão ficar para sempre na nossa memória e vão envergonhar muito a história do Paraná.

            O autoritarismo que o Governador Beto Richa, Governador do PSDB, utilizou para fazer o enfrentamento com os professores, é lamentável que o Paraná dê mais um exemplo desse autoritarismo, dessa covardia. Eu diria um governante covarde, um governador que não teve competência para fazer o debate, a discussão política.

(Interrupção do som.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Nós temos assistido no Brasil manifestações muito grandes contra o Governo Federal, contra a Presidenta. Mesmo em junho de 2013, nós tivemos manifestações até violentas - aí, sim, com Black Blocs participando - e nós não tivemos, por parte do Governo Federal - inclusive que se requeria que usasse a força militar para fazer a repressão -, um posicionamento assim. Tentamos separar isso e fazer com que as manifestações fossem respeitadas.

            Aliás, nós vimos agora também, recentemente, no Brasil, a educação mesmo daqueles que queriam o regime militar, e, no Paraná, nós vimos a força militar para aqueles que lutavam pela educação.

            Nós estamos recebendo aqui estudantes e professores das escolas de Brasília. Quero fazer uma saudação muito especial a vocês e dizer que o que aconteceu lá no Paraná nos deixa muito tristes. É importante vocês estarem aqui, como educadores, com os estudantes...

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... porque ontem os nossos estudantes também sofreram repressão.

            Eu queria agradecer ao Presidente do Senado, Presidente Renan, que prontamente, quando pedimos uma comissão especial para ir ao Paraná, deferiu. Fui junto com o Governador Roberto Requião; infelizmente não tivemos a companhia de outros Senadores por uma questão de transporte, por uma questão de deslocamento, mas foi importante a presença do Senado.

            Já conversei, pela manhã, com o Senador Paim, conversei também com o Deputado Paulo Pimenta e, na quarta-feira, faremos uma audiência pública das Comissões de Direitos Humanos da Câmara e do Senado para que possamos trazer aqui os paranaenses, as lideranças dos nossos movimentos, mas também o Governador Beto Richa, também o Secretário de Segurança, também o Comandante da Polícia, para explicar a esta Casa por que agiram dessa forma.

            Faremos também uma denúncia junto ao Sistema Interamericano dos Direitos Humanos, junto à Anistia Internacional. Estive lá, estava presidindo a reunião o nosso Senador Donizeti, que prontamente leu, e prontamente a CDH aprovou o requerimento.

            Não podemos deixar que isso continue assim. Não podemos deixar que o Governador não responda por essa barbaridade que foi feita. Espero sinceramente que as Lideranças deste Senado, independentemente do partido político - inclusive do PSDB, que é o partido do Governador -, possam estar junto conosco no enfrentamento a essa violência. Essas Lideranças têm aqui se manifestado e aqui defendido as manifestações, o direito de protestar, os manifestantes de todas as manifestações que temos visto no Brasil. Espero, sinceramente, que o partido do Governador, em nível nacional, também repudie o que nós vivenciamos no Paraná.

            Sinto-me envergonhada de subir a esta tribuna, como paranaense, pelo que assisti ontem no meu Estado. É lamentável que o Paraná tenha dado um testemunho tão degradante...

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... ao Brasil e ao mundo pelas cenas que vimos. Realmente é lamentável.

            Quero deixar aqui a minha profunda tristeza, a minha solidariedade aos professores, aos trabalhadores na educação, e dizer que não vamos ficar só na solidariedade, só nesta manifestação. Vamos, sim, buscar justiça. E vamos buscar fazer com que esse Governador responda pelos atos que cometeu. Fazer com que esse Governo responda pela violência que teve junto aos professores e trabalhadores na educação.

            Vamos também agir para que não precisemos ter a aprovação de ontem pela Assembleia vigorando no Estado do Paraná. Entraremos com medida judicial contra essa decisão, porque é uma decisão que, com certeza, até por não ter a anuência do Ministério da Previdência, é uma decisão ilegal.

            Agradeço, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o tempo que tive aqui a mais, porque realmente requeria.

            E faço aqui mais uma saudação às nossas crianças, aos alunos do Distrito Federal, aos educadores que estão aqui hoje visitando o Senado da República, e, infelizmente, eles visitam num dia em que o meu Paraná chora pelos educadores, chora pela educação.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/05/2015 - Página 43