Pela Liderança durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a decisão da Presidente da República de não discursar no Dia do Trabalhador por suposto receio de manifestações populares.

Autor
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SP)
Nome completo: Aloysio Nunes Ferreira Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Comentários sobre a decisão da Presidente da República de não discursar no Dia do Trabalhador por suposto receio de manifestações populares.
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2015 - Página 527
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, DECISÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ASSUNTO, AUSENCIA, DISCURSO, DIA NACIONAL, TRABALHO, MOTIVO, AMEAÇA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE, AUMENTO, DESEMPREGO, IMPOSTOS, ADOÇÃO, MEDIDAS ADMINISTRATIVAS, REDUÇÃO, DIREITOS E GARANTIAS TRABALHISTAS.

            O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Oposição/PSDB - SP. Como Líder. Com revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, no próximo dia 1º de maio, nós não teremos o pronunciamento tradicional da Presidente da República.

            A Presidente Dilma tem falado todos os anos. O Presidente Lula, nos seus oito anos de mandato, apenas deixou de se pronunciar no dia 1º de maio por duas vezes, uma delas, inclusive, porque participava de uma cerimônia religiosa em São Bernardo do Campo.

            É uma tradição, um momento de celebração, momento de exaltação da força do trabalho e do valor do trabalhador, e, também, de celebração da luta dos trabalhadores do mundo inteiro. Da luta contra as condições de exploração do trabalho, da luta por novas perspectivas de desenvolvimento pessoal, da luta pela liberdade de organização, de luta pelas conquistas sociais. É, portanto, momento de celebração por aquilo que já se conquistou e momento em que, sobretudo, o Presidente da República aponta perspectivas de melhora, perspectivas de progresso, perspectivas de otimismo.

            Neste ano, a Presidente Dilma não vai se pronunciar. Segredo de polichinelo, não é preciso que ninguém venha nos dizer a razão do cancelamento dessa prestação televisiva programada. É o medo do panelaço que tem saudado os pronunciamentos da Srª Presidente a cada vez que se sabe que ela vai ocupar as redes de televisão. Imediatamente, quase que por reflexo condicionado, as pessoas se mobilizam, vão à janela, pegam a panela e pá! Fazem panelaço, buzinaço, o que for, o que estiver ao alcance das pessoas para manifestar a profunda insatisfação, a profunda irritação do povo brasileiro com o Governo da Presidente Dilma Rousseff.

            Afinal, Srª Presidente, eu compreendo a posição da nossa Presidente da República. Panelaço é sempre desagradável, é sempre ruim. Vaia é ruim, mas o homem público, a pessoa que está exercendo um cargo público tem que se submeter a isso com coragem e enfrentar se tem alguma coisa a dizer. Ela vai dizer o quê? Vai dizer: “Olha, aumentou o desemprego no Brasil.” Aumentou. Os dados desta semana mostram que o nível de desemprego de março aumentou para 6,2%, no terceiro mês do ano. Essa é uma média nacional, mas essa média encobre situações - como vem dizendo da tribuna, há muito tempo, o Senador Ataídes - em que o índice de desemprego é muito maior. Refiro-me, por exemplo, ao desemprego entre os jovens da faixa entre os 17 e 24 anos de idade, que ultrapassa os 15%.

            Não apenas o desemprego aumenta, mas diminui a renda do trabalho - diminui a renda do trabalho. Os dados oficiais mostram isso. A economia brasileira vem parando, parando, parando... A queda da arrecadação dos tributos federais, dos tributos estaduais é mais uma evidência da letargia em que se encontra a economia brasileira. E, como consequência disso, o desemprego real e o medo do desemprego está rondando as famílias.

            O aumento do desemprego na construção civil foi maior. E o aumento no comércio também. Por quê? Evidentemente, a construção civil, a compra, aquisição, a construção de casas, é alimentada pela expectativa de que o futuro poderá ser melhor, e, no entanto, a sensação de pessimismo é generalizada. As pessoas não se arriscam a fazer um investimento de longo prazo.

            Vejam Srs. Senadores, o comércio perde fôlego em consequência da diminuição da renda disponível pelas pessoas. Aumenta o desemprego, aumentam os juros, aumentam os impostos, aumenta a conta de luz, aumenta os combustíveis. E o que Presidente vai dizer para os trabalhadores brasileiros? Vai dizer que tudo aquilo que ela sustentou durante a campanha era mentira? Vai dizer que ela se enganou, quando disse que a situação fiscal brasileira era sorridente, era otimista durante a campanha eleitoral, para, logo depois da eleição, vir com a adoção de um pacote de ajustes que castiga o trabalhador, subtraindo-lhe direitos há muito tempo conquistados? O que ela vai dizer? Não tem o que dizer. Esse é o problema do Governo, não tem o que dizer, e, por isso, ela não diz. Quem diz é o Ministro da Fazenda, que é um superministro hoje. Quem diz, e diz nem sempre em voz alta, é o Vice-Presidente da República, que parece que foi encarregado pela Presidente Dilma Rousseff de operar o balcão de acordos políticos, fisiológicos para acomodar uma base cada vez mais rebelde. Um Vice-Presidente da República que se permitiu ligar para um Senador da República para pedir a ele que retirasse uma assinatura da CPI dos Fundos de Pensão, e recebeu um não, um redondo não desse Senador. Essa é a situação. Não tem o que dizer.

            Por isso, Srª Presidente, as panelas serão poupadas, mas, seguramente, haverá outras formas de manifestação, porque o copo de mágoa está muito prestes a transbordar, se é que já não transbordou.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2015 - Página 527