Fala da Presidência durante a 65ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do Senador Luiz Henrique do ex-Ministro da Agricultura Mendes Ribeiro Filho.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento do Senador Luiz Henrique do ex-Ministro da Agricultura Mendes Ribeiro Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 12/05/2015 - Página 6
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, APRESENTAÇÃO, VOTO DE PESAR, MORTE, MENDES RIBEIRO, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO (MAPA), LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA, SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, COMENTARIO, HISTORIA, ENFASE, ATIVIDADE POLITICA.

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Passo a ler o pronunciamento que fiz, hoje pela manhã, na Comissão de Direitos Humanos do Senado da República, que teve o acolhimento de dezenas de entidades que estavam lá. E me comprometi a fazer esse mesmo pronunciamento, e o faço aqui com tristeza, mas lembrando a vida e a história de dois grandes líderes, dois grandes homens públicos.

     Começo dizendo que, quando a política perde alguns dos seus mais sagrados nomes, de seus faróis, de suas luzes, de seus mirantes e de seus mangrulhos, com certeza, o peito de todos nós que vivemos neste universo, que respiramos esse ar, dói, arde, queima, transborda, como um vulcão que explode e que chora. Parece que perde o rumo, ainda mais quando esses homens não passaram despercebidos nas nossas vidas, entraram nas nossas vidas, eram amigos.

     Ontem, domingo, 10 de maio, Dia das Mães, perdemos dois nomes do mais alto quilate da política brasileira, dois nomes que já estavam na história por suas condutas e por suas biografias: o ex-Ministro da Agricultura do Governo Dilma Rousseff e ex-Deputado Federal, o gaúcho Mendes Ribeiro Filho; e o ex-Governador de Santa Catarina e atual Senador da República Luiz Henrique da Silveira. Ambos eram militantes dos direitos humanos. Ambos eram militantes no antigo MDB e do atual PMDB.

     Conheci o Mendes Ribeiro, nos primeiros anos de 1980. Ele, fazendo campanha para Vereador lá na capital de todos os gaúchos, em Porto Alegre; e eu na luta sindical dos metalúrgicos. Jorge Alberto Portanova Mendes Ribeiro Filho era advogado. Iniciou sua carreira em 1982, quando foi eleito Vereador em Porto Alegre. Foi Deputado Estadual por dois mandatos e, nos governos do PMDB, comandou quatro Secretarias estaduais: Justiça, Obras Públicas, Saneamento e Habitação, e Casa Civil, lá no Rio Grande. Foi Deputado Federal por cinco mandatos e, no último mandato na Câmara dos Deputados, licenciou-se, de agosto de 2011 a março de 2013, para cumprir outra missão, comandar o Ministério da Agricultura, tendo sido o terceiro gaúcho do PMDB

a comandar a pasta.

     Senhoras e senhores, quando recebi a notícia da morte, do falecimento, enfim, da viagem eterna do nosso amigo Luiz Henrique, eu estava em minha residência, tomando um chimarrão, quieto no meu canto, apegado a mim mesmo, aos meus pensamentos sobre a conjuntura, preocupado com as duas MPs que vamos votar e com a terceirização, acarinhando meus próprios olhos mal dormidos, construindo ideias e traçando rumos, sonhos, porque, sem isso, o que seria das nossas vidas? O que seria dos nossos dias?

     Luiz Henrique da Silveira era um homem de sonhos, falava como um poeta e com a grandeza dos mestres, mas também com a coragem dos tigres. Ele iniciou sua vida pública em 1971, quando foi eleito Presidente do Diretório Municipal do MDB, lá de Joinville. Foi Prefeito de Joinville por três mandatos, Deputado Federal constituinte, Deputado Federal por cinco mandatos, Deputado Estadual, e Governador do Estado de Santa Catarina por dois mandatos, entre 2003 e 2010.

Integrou o chamado PMDB autêntico, grupo mais próximo de Ulysses Guimarães. Foi Ministro de Ciência e Tecnologia, em 1987 e 1988, já no governo de José Sarney. Presidiu o PMDB nacional de 1993 a 1996 e, em 2011, assumiu o cargo de Senador, no qual ficaria até 2019.

     Conheci - nós todos conhecemos - o amigo, o homem Luiz Henrique durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte. Eu estava lá com ele, ao lado de Covas, Ulysses Guimarães, Lula, Fernando Henrique e tantos outros. Ele, fazendo a sua parte, lutando por um Brasil Nação, por melhores dias para os brasileiros. Atuou nas Comissões de Organização dos Poderes e Sistema de Governo, mas também na Comissão de Trabalho e Legislação Social, porque tinha compromisso com a nossa gente. E, ali na Constituinte, eu percebi que estava diante de um grande homem, e passei a admirá-lo mais ainda, convivendo com ele aqui no Senado, o político, o Senador, o brasileiro, o colega, o amigo, o pai, o esposo, o avô.

     Ele foi imprescindível na proposta de renegociação das dívidas dos Estados e Municípios. Ele foi o Relator. Um grande trabalho, um grande articulador, um diplomata. As gerações futuras ainda vão aplaudir as lembranças do grande trabalho que esse cidadão, Senador Luiz Henrique, fez para o País.

     Senador Luiz Henrique era um extraordinário homem público, democrata e humanista, um brasileiro apaixonado pelo que fazia. A sua marca e o seu atavismo eram notados por todos. Estava lá, nas pequenas coisas cotidianas, nos acalorados embates aqui no Congresso Nacional. Um líder nato, que compreendia que a força do diálogo é base da boa política. O Brasil, com certeza, chora a sua morte.

     Ontem à noite, embora o céu de Brasília apontasse chuva, a gente via que algumas estrelas brilhavam. O céu de Brasília brilhou apesar das nuvens escuras, porque mais uma estrela estava indo para o alto. E todos nós choramos, e eu aqui chorei de tristeza, e de alegria por ter convivido com o Senador Luiz Henrique.

     Assim, foi quando eu me lembrei de uma canção de que ele gostava muito e que faz parte de um DVD que ele me deu há cerca de um mês. Diz a letra da canção:

     Vai tua vida

     Teu caminho é de paz e amor

     A tua vida

     É uma linda canção de amor

     Abre os teus braços e canta

     A última esperança [parece que ele estava prevendo que estava indo]

     A esperança divina

     De amar em paz

     [...]

     Existiria a verdade

     Verdade que ninguém vê

     Se todos fossem no mundo iguais a você [Senador Luiz Henrique]

Senador Luiz Henrique da Silveira, se todos fossem iguais a você! Assim falam as antigas Escrituras:

Uma geração vai, outra geração vem, porém a terra para sempre permanece. E nasce o sol, e põe- -se o sol, e volta ao seu lugar de onde nasceu. O vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte e assim continua. Vai girando o vento e volta fazendo assim o círculo da vida.

    Esses homens, Mendes Ribeiro e Luiz Henrique, como bons sulistas, que amavam uma cavalgada, seus pingos, estão lá nas pradarias do céu, nas invernadas tropeando. Estão nos galpões campeiros se aquecendo junto ao fogo de chão, tomando um chimarrão. Estão cantando, proseando e, quem sabe, refletindo sobre o

momento do País. E junto a quem? Junto a Getúlio Vargas, João Goulart, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Floriciano Paixão, Marcos Freire, Mário Covas, Cristina Tavares, Ruth Cardoso, Florestan Fernandes, Plínio de Arruda Sampaio, João Herrmann, Paulo Brossard, Rodolpho Tourinho e, com certeza, tantos outros!

     Estão lá numa grande plenária a dialogar sobre o nosso País. Estão lá, sim, estendendo as mãos de forma fraternal, numa grande comunhão, a comunhão que não vê barreiras ideológicas. São homens que já lapidaram a pedra bruta de uma vida e ofereceram suas vidas para o País.

     Termino dizendo que a eternidade a esses homens pertence. A história esses nomes eternizaram, cada um do seu jeito. Assim, eu digo: vida longa para os ideais na simbologia destes dois Líderes: Senador Luiz Henrique da Silveira e Deputado Federal Mendes Ribeiro Filho!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/05/2015 - Página 6