Discurso durante a 65ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do Senador Luiz Henrique.

Autor
Telmário Mota (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RR)
Nome completo: Telmário Mota de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento do Senador Luiz Henrique.
Publicação
Publicação no DSF de 12/05/2015 - Página 11
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA, SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, COMENTARIO, HISTORIA, ENFASE, ATIVIDADE POLITICA.

            O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paim, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, eu vinha no carro vendo V. Exª, Senador Paim, fazer alguns comentários sobre essas duas perdas para o Brasil.

            A vida tem este ciclo: nasce, cresce e morre. Mas ficam aqui grandes ensinamentos.

            Luiz Henrique nasceu em 25 de fevereiro de 1940. Em 1971, ele ocupou seu primeiro cargo político no Diretório Municipal no MDB. Depois, Deputado Estadual; e após, cinco vezes Deputado Federal; três vezes Prefeito; duas vezes Governador na sua terra natal; e terminou a sua vida política como Senador da República.

            Um homem que viveu esse período ocupando cargos importantes em um país que, como estamos vendo, hoje passa pela pior crise, talvez, ética e moral da sua história. E Luiz Henrique parte num momento em que não deveria partir. Mas quem sou eu para questionar os desígnios de Deus? Aos 75 anos, talvez o melhor momento do seu amadurecimento político, com uma carga, uma enciclopédia política viva da maior importância para modelar ou para ser exemplo a ser seguido pelos políticos brasileiros.

            Luiz Henrique, vimos aqui, colocou a candidatura dele, dentro do próprio Partido, em uma posição extremamente democrática, numa disputa que chamou para o debate positivo questões em que, se Luiz Henrique não tivesse participado, talvez continuássemos na mesmice, sem acrescentar, sem evoluir ou sem buscar um caminho diferente para a política brasileira.

            Ele, sempre ponderado, moderado, trouxe à baila essa questão, essa disputa, que foi salutar para esta Casa, e criou um clima em que vários Senadores tiveram a oportunidade de externar o processo político, mostrando alternativas, quebrando continuidades de rotinas.

            Então, Santa Catarina não está de luto sozinha. O Brasil vive esse luto, porque Luiz Henrique transitou nos diversos cargos políticos deste País, no Legislativo e no Executivo, onde deixou um legado ético, moral, que por si só fala muito.

            Então, neste momento de tristeza, de saudade, de perda do povo catarinense, da família, da família do Senado, eu acho que o Brasil deveria refletir sobre a biografia desse Senador, uma biografia invejável do ponto de vista moral e ético e também do ponto de vista do sucesso.

            Foi um homem que galgou diversos cargos importantes deste País e que nunca se afastou do Partido a que ele se filiou primeiramente. Essa é outra grande demonstração da sua coerência política.

            Então, Luiz Henrique...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senador Telmário Mota, permite-me participar do seu pronunciamento?

            O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Fique à vontade.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - A palavra que o senhor usou agora eu queria destacar: coerência política.

            Na Constituinte - e eu fui Constituinte com ele -, percebi que, na época o PMDB o mais avançado, mais defensor da cidadania, dos direitos humanos, da qualidade de vida do nosso povo, lá estava o Senador Luiz Henrique, ao lado de Bernardo Cabral, influenciando no relatório. Ele tinha linha direta com Ulysses Guimarães e, muitas vezes, era dele que nós nos socorríamos. Ele falava, por sua vez, com Mário Covas, que também está lá em cima - eles devem estar conversando muito -, sobre muitas questões que nos interessavam. Ele fez parte, inclusive, da comissão dos direitos do trabalhador. Esse era Luiz Henrique.

            Eu não falei no meu pronunciamento sobre esse ponto, que quero destacar agora, aproveitando, Senador Telmário Mota, a sua fala com o brilhantismo de sempre.

            O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Eu que agradeço e incorporo essa lembrança. V. Exª tem autoridade para falar isso, porque eu já disse aqui e repito várias vezes: V. Exª também é um homem extremamente correto e coerente e orgulha esta Casa. V. Exª conviveu, contemporaneamente, em outros mandatos com o Luiz Henrique. Eu, que convivi apenas três, quatro meses, já tenho dele esse balizamento, essa referência, imagino V. Exª, que é ali de um Estado bem pertinho, que labutou - como dizem na minha terra - várias vezes com ele em diversas questões: questões sociais, como a trabalhista, questões democráticas, como a reestruturação do País, a abertura do País. Então, V. Exª tem toda autoridade para fazer esse comentário. Só esclarece ao Brasil.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - V. Exª permite? Só mais um detalhe. O Luiz Henrique é uma figura tão querida! Logo que terminaram as eleições passadas, eu vim aqui e disse: poxa, Senador Luiz Henrique, vocês fizeram barba, cabelo e bigode. Todo mundo que você apoiou ganhou.” E disse ele: “É, Paim, mas eu tentei dialogar com algum companheiro seu; o quadro poderia ser até melhor para todos nós, mas não foi possível.” Olha a grandeza dele: mesmo na vitória, ele teve um gesto de grandeza, defendendo que temos de olhar para frente e dialogar muito. Ele falou daqueles setores que querem o melhor para o País.

            O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Isso demonstra a sua biografia, como ele a construiu. Um único partido. Vamos a uma contabilidade rápida: quatro anos como Deputado Estadual, mais cinco mandatos como Federal, mais três como prefeito, mais dois como Governador, Senador... Quer dizer, passa aí, talvez, dos 40 anos...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Com certeza. Passa dos 40, li aqui no Correio Braziliense.

            O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - ... ocupando cargos relevantes e deixando uma trilha de modelo a ser seguido.

            Eu destaco muito isso, Senador Paim, porque hoje a questão política no Brasil passa, talvez, pelo momento mais crítico da sua História. E o pior é que, às vezes, pessoas como o já saudoso Luiz Henrique são confundidas com as mazelas, as falcatruas e as peripécias dos péssimos políticos.

            Então, quero aqui me somar à dor, à perda, à saudade, à paixão que aquele povo de Santa Catarina tinha pelo Luiz Henrique, com uma convicção verdadeira.

            Eu vi vários depoimentos. O Luiz Henrique tinha um amor por Santa Catarina que passava do normal. E não era para menos. Um Estado que lhe deu muito, mas que ele respondeu com a dignidade que lhe foi peculiar nesse processo político. Então, o Senado está enlutado, o Brasil está enlutado. Santa Catarina perdeu um filho, um nobre filho, um modelo a ser seguido, não só para o povo de Santa Catarina, mas, principalmente, para o nosso País, que hoje passa por essa crise moral e ética.

            E ficamos aqui com esta missão: um olho no padre e o outro na missa, olhando esses modelos a serem seguidos e não perder de vista as transformações, Senador Paim, que são necessárias no Brasil. Quero aqui ser solidário com todos aqueles que sentem essa dor mais de perto, principalmente os eleitores do Luiz Henrique, os familiares, os amigos. Quero dizer que terminar...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Mas antes que V. Exª termine, permita-me, ainda, dizer que as gerações futuras haverão de se lembrar do Senador Luiz Henrique só um episódio mais recente que eu vou buscar, Senador Telmário Mota. Esse projeto da renegociação da dívida dos Estados, que para o Rio Grande do Sul significa, até 2030, mais ou menos uma economia de R$15 bilhões, só aconteceu porque o Relator foi o Senador Luiz Henrique. Articulou, negociou, como eu digo, teve a paciência dos mestres e a coragem dos tigres. Dialogou com todos. Foi ao Executivo, vinha à Presidência da Câmara, à Presidência do Senado, até que aprovamos o projeto que beneficia a grande maioria dos Estados. Esse era Luiz Henrique. Por isso eu tive a ousadia de participar do seu pronunciamento aqui, da tribuna, lembrando alguns momentos da parceria que estabelecemos com ele aqui. Íamos ao gabinete dele, eu, o Simon e o Zambiasi; depois, eu, o Simon e a Ana Amélia, e aqui, mais presente agora, com o Senador Lasier. E ele sempre dialogando, tanto na construção do projeto como agora, na proposta de regulamentação. Eu diria que Luiz Henrique era um homem do mundo, um humanista e um militante dos direitos humanos.

            O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Eu faço minhas as suas palavras. Mas, como eu digo, V. Exª, com essa brilhante memória, há de se lembrar que, nesse Pacto Federativo, neste momento de crise, de arrecadações, de repasse de recursos tributários para os Municípios e para os Estados, ele fechou com chave de ouro esse trabalho brilhante que V. Exª destaca e ressalta, com muita propriedade de causa.

            Concluo, Senador Paim, Presidente da sessão, neste momento de dor, de tristeza, de despedida e, por que não dizer, de alegria por esta Casa ter convivido com ele nesses últimos momentos da sua vida. Ele me disse que tinha estado agora em uma missão externa, se não me engano na Rússia.

            O Senado perdeu um grande Senador, o Brasil perdeu um grande político e Santa Catarina perdeu um grande aliado.

            Vá em paz, Luiz Henrique, vá com Deus. Segura na mão dele e segue. E segue e leva para ele o sentimento deste nosso povo brasileiro. Este povo tão sofrido, este povo tão esperançoso, este povo que precisa, cada dia mais, de homens públicos como foi V. Exª na sua passagem tão rápida, 75 aninhos só, nesta Terra.

            O Senado agradece, o Brasil agradece, Santa Catarina clama, chora, mas aplaude o filho que ela colocou no Brasil. Vá com Deus.

            Obrigado.

 

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Muito bem, Senador Telmário Mota.

            Faço questão de reafirmar: quantas reuniões no seu gabinete, meu querido Senador Luiz Henrique, que ora parte - Senadora Ana Amélia, Senador Simon, eu, repito, Zambiasi, e depois com Lasier. Sempre, sempre construindo o melhor para todos. V. Exª chamava representantes de todos os partidos, e por isso construímos um grande entendimento que permitiu a renegociação da dívida dos Estados. Enfim, você deve estar lá no alto, iluminado pela força do ser maior do universo que é Deus.

            Um abraço a todos. O Brasil, claro, hoje, chora a sua perda.

            Fica também esse mesmo carinho para o meu querido amigo e Deputado Federal Mendes Ribeiro, que partiu no mesmo dia. Vocês devem ter se encontrado lá no alto, sob a benção, sempre, do Senhor do Universo, Deus.

            Assim, a Presidência fará cumprir todas as solicitações que aqui li. Estou, neste momento, como Presidente da Casa, seguindo o ritual do Regimento e por recomendação do Presidente Renan Calheiros, que só não está aqui, como não estão dezenas de Senadores, porque se deslocaram para o Estado de Santa Catarina para acompanhar o velório e os momentos finais, onde está sendo velado o nosso querido Senador Luiz Henrique.

            Enfim, com essa tristeza e faltando até palavras em um momento como este, levantamos a presente sessão, nos termos do art. 220 do Regimento Interno.

            Vá em paz, Senador Luiz Henrique.

            Vá em paz, Deputado Federal Mendes Ribeiro.

            Está levantada a sessão.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Está encerrada a sessão.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/05/2015 - Página 11