Discurso durante a 10ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene destinada a homenagear o Presidente da República João Goulart.

Autor
José Medeiros (PPS - CIDADANIA/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão solene destinada a homenagear o Presidente da República João Goulart.
Publicação
Publicação no DCN de 05/05/2015 - Página 13
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JOÃO GOULART, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, COMENTARIO, HISTORIA, ATUAÇÃO, POLITICA, ENFASE, CONQUISTA (MG), DIREITOS, TRABALHADOR.

     O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Socialismo e Democracia/PPS-MT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,

Ministro Manoel Dias, Ministro Carlos Lupi -- eu o chamei de Ministro, e ele me disse: “Ex não é nada”; eu digo:

é sim, sobretudo porque foi um Ministro que mostrou bem os princípios de Jango --, nós temos orgulho da

presença de V.Exas. neste momento em que trazemos a memória do grande homem que foi João Goulart, que teve uma vida de renúncia, mas uma vida coerente.

    Meu avô era muito fã de Jango. Dizia que Jango “era um político que tinha lado”. Eu, muito jovem, não entendia o que ele queria dizer. Obviamente depois, na faculdade, estudando a história, entendi o que signifi- cava ter lado, e esse lado todos nós sabemos: Jango era do lado dos trabalhadores brasileiros.

    O fato de ele ter sido um homem capaz de renúncia, capaz de renunciar a si próprio, é de ser louvado aqui. Renunciar ao poder, renunciar à mosca azul do poder não é coisa para qualquer um. Quantos homens pinçados na história da humanidade não foram protagonistas de verdadeiras chacinas, de verdadeiros geno- cídios, simplesmente por estarem em busca da manutenção do poder, de alimentar a mosca azul?

    Jango renunciou por várias vezes. Renunciara, já uma vez, ao Ministério do Trabalho, do então Presidente Getúlio Vargas. Quando as forças contrárias aos trabalhadores brasileiros tentaram lhe pressionar, ele ficou do lado dos trabalhadores. Depois, veio uma renúncia muito maior: a renúncia ao mandato presidencial. Isso não é para qualquer um, isso é para poucos homens.

    Este Congresso, esta Casa, em dado momento -- isso está insculpido na pedra da história --, foi prota- gonista da deposição, da cassação de Jango. Registro aqui, portanto, nossa vergonha por termos participado desse momento. Mas registro também nossa alegria por, em 2013, esta Casa ter tido o grande momento de resgatar a memória do País, de resgatar o mandato de João Goulart.

    V.Exa., Senador Acir, traz novamente este ano a homenagem desta Casa a esse grande brasileiro. E é bom que todos os anos se faça isso. Mesmo assim, não faremos reparo a tão grande injustiça cometida.

    Eu gostaria de ler um pequeno trecho sobre episódio de nossa história. É bom que rememoremos a his- tória. Certo pensador disse que um país que não relembra sua história está condenado a repeti-la, e é muito importante que esse triste momento não se repita nunca mais.

“A História do Brasil diz que, na madrugada do dia 1º para o dia 2 de abril de 1964, o Presidente do Senado, o Sr. Auro de Moura Andrade, determinou vaga a Presidência da República, porque o Pre- sidente da República estava em lugar incerto e não sabido fora do Brasil.

O Chefe da Casa Civil do Presidente João Goulart entregou uma carta ao Presidente: ‘O Presidente da República encontra-se em Porto Alegre, na residência do Comandante do III Exército, à frente das tropas legalistas’. O Sr. Auro de Moura Andrade não tomou conhecimento.

Deputado Federal à época, Tancredo Neves protesta aos gritos:‘Sr. Presidente, o número do telefone é este. Telefone para ele, e atenderá a casa residencial do Comandante do III Exército; e V.Exa. falará com o Presidente. Ou nos dê 3 horas e, daqui a 3 horas, o Presidente estará aqui’.

O Sr. Auro de Moura Andrade não tomou conhecimento: decretou vaga a Presidência da República e empossou o Deputado Mazzilli; e esse Deputado Mazzilli integrou-se ao Ministério.

A história era realmente bem diferente. O Sr. Presidente da República João Goulart estava no Rio de Janeiro. Aí se toma conhecimento de que tropas militares, sob o comando de Mourão Filho, saíram de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro.

O Presidente João Goulart telefonou ao seu ex-Ministro da Guerra, então Comandante do II Exército, Amaury Kruel, e pediu-lhe que se dirigisse a Juiz de Fora para parar as tropas. E Amaury, lamenta- velmente, argumentou: ‘Sr. Presidente, eu, desde que saí do Ministério da Guerra, não tenho a força e a autoridade que o senhor está imaginando. Se o senhor der uma declaração, der uma nota repu- diando o comunismo, dizendo dos males do comunismo e de seu Governo que é, eu saio em direção às tropas do Mourão, em Juiz de Fora’. João Goulart, após pensar e refletir, teria dito: ‘Todo mundo sabe que eu não sou comunista, que o meu Governo não tem nada a ver com isso, mas não posso dar essa nota, porque essa nota será recebida perante a história como um ato de covardia’.” (Palmas.) “Na hora, para tentar se sair melhor, fez essa acusação. Kruel, então, respondeu:‘Então, eu não posso! Eu não posso ir em direção a Juiz de Fora. As tropas de São Paulo irão em direção ao Rio de Janeiro’. (...).

O Embaixador Lincoln Gordon relata em seu livro que a Operação Brother Sam estava em andamento e que as tropas navais, a frota naval americana já estava vindo ao Brasil com a decisão de invadir -- ou melhor, não invadir; o termo era ‘ajudar o Governo constituído no Brasil’ -- e que, naquele mo- mento, tinha a convicção de que aconteceria aqui uma divisão como a que aconteceu entre Coreia do Norte e Coreia do Sul e Vietnam do Norte e Vietnam do Sul.

Esse argumento foi quase que definitivo para a decisão do Presidente João Goulart. O General Ladá-

rio, insistindo na sua fidelidade, disse: ‘Presidente, eu faço o que o senhor quiser, mas sou obrigado

a dizer que as informações que eu tenho do III Exército e as que me vêm do centro do País são ne-

gativas’, e o Presidente decidiu viajar para o Uruguai.”

É importante dizer que o Presidente não estava com 9%, com 15%, com 20% de aprovação. Sabem quanto ele tinha de aprovação pelo IBOPE? Eram 80%. Era um Presidente que tinha o apoio popular e que foi arrancado a fórceps da Presidência da República. Essa é a história.

Para fazer justiça, quero dizer que esse texto é parte do discurso do Senador Pedro Simon, quando da devolução simbólica, por esta Casa, do mandato do Presidente João Goulart.

Por que é importante rememorarmos? Para que seja realçada a grandeza e para que fique de exemplo para as nossas gerações, para mim e para todos que estão aqui, como se porta um grande estadista. Jango não foi só um Presidente da República, não foi só um político. Ele ficou vivo na história. Quem tentou matá-lo só con- seguiu reavivá-lo mais. Então, não é retórica dizer Jango vive. Estão vivos seus atos, sua história, seu exemplo.

Mais uma vez parabéns ao PDT, ao Senador Acir Gurgacz por esta lembrança. Que esta Casa a repita nos próximos anos, nos outros e nos outros.

Muito obrigado (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 05/05/2015 - Página 13