Discurso durante a 11ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene destinada a comemorar os 150 anos do nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

Autor
Wellington Fagundes (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Wellington Antonio Fagundes
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão solene destinada a comemorar os 150 anos do nascimento do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
Publicação
Publicação no DCN de 06/05/2015 - Página 4
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, CANDIDO MARIANO DA SILVA RONDON, MARECHAL, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ENFASE, CARREIRA, EXERCITO, LUTA, DIREITOS, COMUNIDADE INDIGENA, COMENTARIO, CONTRIBUIÇÃO, MUNICIPIO, RONDONOPOLIS (MT), MIMOSO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), DEFESA, NECESSIDADE, CONCLUSÃO, OBRA PUBLICA, ESTRADA, LIGAÇÃO, MUNICIPIOS, MOTIVO, AUMENTO, TURISMO.

     O SR. WELLINGTON FAGUNDES (Bloco União e Força/PR - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revi-

são do orador.) - Eu quero saudar nosso companheiro Deputado Waldir Maranhão, meu colega de profissão, médico veterinário, hoje Vice-Presidente da Câmara dos Deputados do Congresso Nacional.

    Eu também quero cumprimentar meu companheiro do Estado de Mato Grosso, o Deputado Nilson Leitão, que foi também requerente desta sessão solene na Câmara dos Deputados. Em parceria, estamos aqui traba- lhando para homenagear esse que fez tanto pelo nosso Estado, pelo nosso País, assim como desenvolvemos outros trabalhos no Congresso Nacional.

    Eu também gostaria de cumprimentar o meu companheiro Dr. José Barroso Filho, Ministro do Superior Tribunal Militar; representando o Ministério da Defesa, o Chefe de Assuntos Estratégicos do Ministério da De- fesa, o Sr. General de Exército Gerson Menandro Garcia de Freitas; representando o Comandante do Exército, General de Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, o Chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia, o Sr. General de Exército Sinclair Mayer; e, representando aqui a família do homenageado, o neto do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, o Sr. Almanzor Meireles Rondon.

    Ainda cumprimento o Embaixador da República das Filipinas, Sr. José Dela Rosa Burgos; e, representan- do o Prefeito do Município de Santo Antônio de Leverger, Mato Grosso, nosso companheiro Valdir Ribeiro, o assessor especial da prefeitura Sr. Sebastião Ferreira Leite.

    Srs. Generais e todos os presentes representando o Exército brasileiro, população e as Srªs e os Srs. Se- nadores e Deputados, esta sessão especial do Congresso Nacional, que tive a honra de requerer no Senado Federal, em conjunto com o nosso companheiro Deputado Nilson Leitão, na Câmara dos Deputados, presta homenagem a um dos homens mais extraordinários que o Brasil já conheceu, o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, de quem tenho a felicidade e o prazer de ser conterrâneo. Um homem notável, cuja exemplar história de vida nos orgulha até hoje, 150 anos depois de seu nascimento. Poucos brasileiros fizeram tanto pelo País como esse sertanejo lá do meu Estado Mato Grosso. Infelizmente, porém, sua contribuição permanece

ainda desconhecida para muitos brasileiros, mas é uma história de vida conhecida mundo afora.

Daí a importância de uma sessão como esta, principalmente para que a juventude tenha acesso a um

pouco da história desse brasileiro.

A história me assegura dizer que Marechal Cândido Rondon é um dos brasileiros mais ilustres do século

XX. E é o que pretendo fazer neste tempo, com a permissão de todos vocês.

    Servidor público dedicado, militar patriota e diligente, um aventureiro destemido, Marechal Rondon foi um conhecedor formidável do interior de nosso País. Foi um homem de letras e de ciências, amante dos livros, defensor ferrenho do progresso técnico. Acima de tudo, colegas Senadoras e Senadores, era um humanista, amante do seu povo e do seu País.

    Cento e cinquenta anos se vão desde o nascimento desse grande homem. Foi na cidade de Mimoso, distrito rural de Santo Antônio de Leverger, onde morou até os sete anos.

    Inclusive, quero registrar que, neste momento, na cidade de Mimoso, na comunidade de Mimoso, o Governador e seus secretários, o Prefeito, os Vereadores, os Deputados Estaduais, o Comandante do Exército estão prestando essa homenagem.

    Vale aqui o registro: Mimoso está localizado às margens do Pantanal mato-grossense, cercado pelas be- lezas desse patrimônio da humanidade. Vale a pena conhecer não só o Pantanal como também esse pequeno lugar, onde nasceu esse grande brasileiro.

    Neste 5 de maio, portanto, Mato Grosso reverencia Rondon. O distrito de Mimoso recebe uma sessão conjunta da Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal de Santo Antônio de Leverger. Também, no pátio da Escola Santa Claudina, construída por Marechal Rondon, que abriga uma sala com suas memórias, haverá a formatura de soldados do Exército Brasileiro.

    Além disso, está programado o lançamento do selo e do carimbo dos Correios em homenagem a Rondon, bem como a retomada das obras do Memorial Rondon, que começaram ainda no Governo Dante de Oliveira e que estiveram paradas até agora. Esse Memorial vem sendo construído há mais de uma década.

    Mato Grosso e o Brasil devem muito a ele. Só para citar um exemplo, Rondonópolis, minha cidade natal, leva esse nome em homenagem a Rondon, que instalou ali uma de suas estações telegráficas.

    Hoje, inclusive, uma das minhas lutas como Parlamentar é viabilizar uma ligação asfáltica entre Rondo- nópolis e Cuiabá, a MT-040, paralela à BR-163/364. A distância entre Rondonópolis e Cuiabá, através da BR- 364/163 - registra-se aqui -, é o trecho, segundo a Polícia Rodoviária, onde há mais acidentes frontais no Brasil.

Acidente frontal, normalmente, representa perda de vidas, e com vidas a gente não pode brincar.

    Por isso, também a importância da MT-040. Tenho a honra de aqui dizer que essa rodovia leva o nome do meu pai, João Antonio Fagundes, um retirante da Bahia, que foi da Bahia para Mato Grosso a pé. Essa estrada vai contemplar exatamente as belezas do Pantanal. Em grande parte, ela já está construída, de Rondonópolis rumo a Mimoso. E, também de Cuiabá até Mimoso, já está asfaltada. Falta um trecho no meio de aproximada- mente 80 quilômetros, mas grande parte dele está contemplada num grande programa de financiamento do Governo de Mato Grosso, através do BNDES, que é o MT Integrado. Tenho dito que esse é o maior programa social do Estado, visto que vai levar pelo menos uma via asfaltada a todas as cidades mato-grossenses, a cida- des mais antigas, como é o caso de Mimoso, com tanta história e às vezes esquecida. Por isso, essa estrada é

    fundamental para valorizar o Pantanal, para valorizar o potencial turístico do nosso Estado e, principalmente, para valorizar a comunidade de Mimoso. Com certeza, através dessa ligação, receberemos muito mais turistas. Mais pessoas terão acesso a essa história de Rondon, através do Memorial Marechal Rondon.

    Com isso, a comunidade deve ganhar novo impulso, e os usuários da rodovia ainda poderão fazer uma viagem mais segura, com a oportunidade de apreciar as belezas do Pantanal. Chamo esse projeto de “Estrada Verde: a rodovia da vida”. Esse projeto está perto de ser concluído. Como eu disse, faltam poucos quilômetros. Apelo ao Governo de Mato Grosso que priorize esse empreendimento, para o bem do povo de Mimoso e para o incentivo ao turismo local.

    Senhores e senhoras, Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon tem uma história bonita e impressio- nante. Permitam-me falar algo sobre essa trajetória de vida que me levou ao passado, há um século e meio, como em um filme - inclusive, a uma parte dele nós tivemos a oportunidade de assistir aqui.

    Rondon tinha origem indígena, descendente das etnias bororó e terena. E, como tal, dedicou grande atenção para o conhecimento e respeito das nações indígenas, lançando as bases para uma política governa- mental de defesa de suas terras e de seus costumes.

    Em 1910, o Governo brasileiro, inspirado por Rondon, resolveu assumir a defesa dos direitos indígenas. O trabalho desse sertanista é reconhecido até hoje pelas lideranças indígenas do século XXI.

Rondon inspirou sertanistas como o lendário Darcy Ribeiro, os bravos irmãos Villas Bôas e o médico Noel

Nutels, e, até os dias atuais, o pensamento indigenista continua baseado em ideias desse grande brasileiro.

Repito: era um humanista que defendia a paz, o diálogo e o respeito mútuo. “Por meios violentos, nada

se constrói”, costumava dizer Marechal Rondon. É um ensinamento, diria eu, muito apropriado para os dias de hoje, em que estamos imersos num clima de violência em todos os segmentos da vida. Essa frase deveria es- tar estampada na capa dos cadernos escolares, nos para-brisas de veículos, nos para-choques de caminhões. Como Rondon, precisamos cultivar a cultura da paz, dizendo não à violência em todas as suas formas. Vale a pena refletir sobre isto: “Por meios violentos, nada se constrói.”

Pois bem, Marechal Rondon costumava chamar os índios de “populações desprotegidas, perseguidas e flageladas, vivendo na maior miséria, desalojadas de suas terras e, quando em contato com os que se supu- nham civilizados, eram reduzidas a uma triste servidão, sem apoio das leis, feitas para beneficiar os opressores”.

Em suas incursões pelo interior do Brasil, Rondon acudiu a milhares de índios e contribuiu para a demar- cação de suas terras e sempre se esforçou para que a sociedade se interessasse pelos “irmãos primitivos”. Por essa sua visão e sua dedicação aos índios, Rondon chegou a ser indicado ao Prêmio Nobel da Paz.

Mas quero também relembrar aqui o trabalho que realizou na implantação das linhas telegráficas, que lhe rendeu o título de Patrono das Comunicações. Foi um trabalho gigantesco, tanto que a data de hoje, 5 de maio, seu aniversário, foi escolhida para ser o Dia das Comunicações.

Rondon iniciou sua carreira pública como tenente do Exército. Desde cedo, trabalhou na instalação de estradas e, principalmente, de linhas telegráficas que ligassem os grandes centros urbanos a cidades e povoa- dos da Amazônia. Essa era uma atividade estratégica, Srªs e Srs. Deputados e todos aqui que nos assistem, do ponto de vista da segurança nacional e do desenvolvimento econômico. Para a segurança, eram obras impor- tantes, porque finalmente se estabeleciam comunicações diretas com a região amazônica do Mato Grosso, à época desguarnecida.

Eram obras importantes também para o desenvolvimento, porque incorporavam à economia nacional uma área em grande parte inexplorada do território brasileiro, num contexto em que o mundo vivenciava o surto de crescimento da Segunda Revolução Industrial e precisava, portanto, de mercados e de matéria-prima, sobretudo a borracha, abundante na Amazônia brasileira.

Para se ter uma ideia do cenário inóspito onde Rondon atuou, quando coordenou a instalação do telé- grafo, no início do século XX, a viagem mais rápida entre o Rio de Janeiro e o Estado do Mato Grosso fazia-se de barco: primeiro, pelo Oceano Atlântico; depois, pelos Rios Paraná e Paraguai. Era uma viagem de mais de um mês, conforme narra o historiador Todd Diacon.

A primeira viagem que Rondon fez, por terra, do Rio de Janeiro ao Mato Grosso, em 1900, numa das ex- pedições para instalar o telégrafo no Estado, durou cerca de dois meses. Foram dois meses apenas para chegar lá. Comparando, naquela época, demorava-se 45 dias para chegar de vapor até o Japão. Vejam que distância! Era mais rápido chegar ao Japão que chegar a Mato Grosso.

Além da dificuldade de deslocamento, a viagem de Rondon contava com inúmeros riscos: enfermida- des, ataques de animais selvagens, investidas de índios hostis. Mas seu conhecimento da região, juntamente com sua energia, com seu vigor de sertanista e com sua disciplina, fazia com que cumprisse as missões que lhe eram atribuídas. Esse espírito de bravura e de determinação logo rendeu a Rondon o prestígio e o respeito da Nação, na forma de uma rápida ascensão na carreira.

Primeiramente, Rondon atuou na Comissão de Linhas Telegráficas do Estado do Mato Grosso, no início como auxiliar, depois como chefe. Chegou, posteriormente, à direção da Comissão Estratégica de Instalação de Linhas Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas, também conhecida como Comissão Rondon. Sob os aus- pícios de Cândido Rondon, essa Comissão instalou, entre 1907 e 1915, 2.268km de linhas telegráficas e 25 es- tações de telégrafo, conta o historiador Elias Bigio.

Rondon ainda haveria de desempenhar diversas outras posições do Governo brasileiro, tanto civis quan- to militares. Incluem-se, nesse contexto, a liderança da Comissão de Inspeção de Fronteiras; a presidência da Comissão Internacional Peru-Colômbia, voltada a mediar o contencioso existente entre esses dois países; a chefia do Serviço de Proteção ao Índio; e a Direção de Engenharia do Exército Brasileiro, entre outras funções.

Suas expedições foram registradas em fotografias e no cinema, um legado para a posteridade. Mais do que isso, foi um homem de uma visão de futuro.

Essas demarcações territoriais resultantes dos levantamentos topográficos feitos por ele são possíveis hoje só por satélite e ajudaram a definir as fronteiras nacionais e internacionais. A exatidão do trabalho de Ron- don era tanta, que hoje é confirmada pela tecnologia existente, como a do GPS e outras.

O Meridiano 52, que atravessa o Brasil Central, desde o Amapá, passando por Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul, leva o nome de Cândido Mariano Rondon.

A divulgação desse trabalho de Rondon chamou a atenção do ex-Presidente dos Estados Unidos Theo- dore Roosevelt, um naturalista que já havia realizado expedições na África e também na América do Sul.

Era Rondon também um grande colaborador das ciências naturais e geográficas. Fazia-o por princípio:

a filiação às tradições intelectuais positivistas implicava a crença nas forças da ciência e também do progresso. Isso fez com que o incansável Marechal buscasse, sempre que possível, reservar um tempo para contribuir com a pesquisa científica, mesmo que envolvido em outras atividades profissionais.

Roosevelt e Rondon fizeram uma viagem em que foram catalogadas mais de 2,5 mil aves e aproximada- mente 500 mamíferos, répteis, anfíbios e peixes, segundo informa o historiador Elias Bigio.

Além disso, durante os trabalhos da Comissão Estratégica de Instalação das Linhas Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas, a Comissão Rondon, o Marechal Rondon e sua equipe elaboraram um relatório sobre história natural, águas termais, astronomia e exploração de rios e outras tantas. Por causa da atuação de Ron- don, descreveram-se 15 novos rios, que passaram, então, a figurar no mapa de Mato Grosso. A Comissão en- viou mais de 20 mil exemplares de material botânico, mineral, geológico e antropológico ao Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Segundo Roosevelt, a América pode apresentar ao mundo duas realizações ciclópicas: ao Norte, o Canal do Panamá; ao Sul, o trabalho de Rondon. Inclusive, um dos rios mais importantes do nosso Estado leva exa- tamente o nome de Rio Roosevelt.

Que grandes feitos! O reconhecimento de Rondon nacional e internacional foi imediato.

Mas a história é vasta. Já em 1914, Marechal Rondon recebeu a Medalha David Livingstone, da Socieda- de Geográfica de Nova Iorque, e, ao longo do século XX, seria honrado com inúmeras outras homenagens e distinções de instituições como universidades, sociedades geográficas e também entidades políticas.

Obteve o status de membro das Sociedades Geográficas de Paris, Lima, Bruxelas. Recebeu de Alberto I, rei da Bélgica, a Ordem de Leopoldo, pelos serviços prestados à humanidade. Foi agraciado com as medalhas da Ordem de Goiacá colombiana, da Legião de Honra francesa e da Ordem do Sol peruana.

Foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, em 1957, por iniciativa do Clube do Explorador de Nova York, e, pelas suas atividades em favor da instalação do telégrafo no Brasil, também tornou-se o Patrono das Comuni- cações do Exército Brasileiro.

Entre essas homenagens, constam as que, na minha opinião, são as mais bonitas: o nome de um Estado brasileiro, o Estado de Rondônia, e o nome também, como já disse, da minha cidade natal, Rondonópolis, que fica lá no meu Estado de Mato Grosso, a primeira cidade do interior de Mato Grosso. Isso diz muito sobre a im- portância de Rondon para a região amazônica e também, claro, para o meu Estado.

Vejo que temos em Rondon uma figura múltipla e una. Múltipla nos ramos de atuação, nas competên- cias, nos serviços que desempenhou ao País: como engenheiro, um profissional versátil e de espírito prático; como homem público, um servidor leal e eficaz; e, como militar, mais como homem de ação e ideais do que como homem de armas propriamente dito.

Mas, além de múltipla, a figura de Rondon também foi una. Una no objetivo: a Ordem e o Progresso do País, mas com o valor e a integridade do seu povo, único na pluralidade de origens.

Por isso, celebramos com a reverência desta Sessão Especial, companheiro Deputado Waldir Maranhão, os 150 anos de nascimento desse grande homem.

Para concluir, Sr. Presidente, gostaria de citar uma frase do próprio ex-Presidente Roosevelt, ao referir-se a Rondon. Disse ele: “Um povo que tem filhos desta ordem, há de vencer.”

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN de 06/05/2015 - Página 4