Discurso durante a 86ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque à necessidade de investigação das causas de homicídios de jovens no Brasil, especialmente, no Estado de Roraima; e outros assuntos.

Autor
Telmário Mota (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RR)
Nome completo: Telmário Mota de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA. EDUCAÇÃO. CULTURA. ELEIÇÕES, PARTIDO POLITICO.:
  • Destaque à necessidade de investigação das causas de homicídios de jovens no Brasil, especialmente, no Estado de Roraima; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 30/05/2015 - Página 8
Assunto
Outros > SEGURANÇA. EDUCAÇÃO. CULTURA. ELEIÇÕES, PARTIDO POLITICO.
Indexação
  • DEFESA, NECESSIDADE, AUMENTO, INVESTIGAÇÃO, HOMICIDIO, VITIMA, JUVENTUDE, BRASIL, COMENTARIO, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), ASSUNTO, ENFASE, SITUAÇÃO, RORAIMA (RR).
  • DEFESA, NECESSIDADE, VALORIZAÇÃO, PROFESSOR.
  • CRITICA, CLUBE, FUTEBOL, MOTIVO, FALTA, RESPONSABILIDADE, CONTRATAÇÃO, CRIANÇA.
  • DEFESA, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, DEBATE, REFORMA POLITICA, COMENTARIO, AUSENCIA, CHEFE, SENADO, CAMARA DOS DEPUTADOS, ENFASE, INDEPENDENCIA, CONGRESSISTA.

            O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Cristovam Buarque, do meu partido e que muito honra o PDT e o Senado brasileiro, senhores telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, venho hoje ocupar esta tribuna para a gente abordar um assunto da maior relevância que, às vezes, passa-nos de forma despercebida. É sobre assassinatos de jovens brasileiros.

            Sr. Presidente, hoje, no Brasil, temos uma guerra silenciosa, guerra silenciosa para os olhos da autoridade, guerra silenciosa para os olhos talvez da mídia, guerra silenciosa para as ações públicas. E pior, Sr. Presidente: uma guerra silenciosa sem causa - sem causa, sem causa.

            Hoje, morrem, de forma violenta, principalmente assassinados, no Brasil, 56 mil pessoas por ano - 56 mil pessoas por ano! Dessas pessoas, 53% são jovens e, desses jovens, Sr. Presidente, 77% são negros e, desses 53% jovens, 93% são do sexo masculino. Essa guerra tem vítima e tem causa - causa da morte, e não da guerra. As vítimas são os pobres, os negros, os desassistidos de políticas públicas. A causa dessas mortes, dessa violência, é a ausência das políticas públicas: falta escola, que V. Exª tanto bem defende; falta geração de renda e emprego; políticas dirigidas para inserir os jovens no mercado de trabalho; falta habitação para essas famílias, que são famílias desagregadas. E aí eu quero, inclusive, fazer um estudo com V. Exª, porque a turma sempre diz que aqui dentro ou em algum lugar alguém tem uma causa nobre. E V. Exª tem a melhor causa, que é salvar este País - inclusive o slogan do novo Governo é Pátria Educadora. E, quando se quer falar em educação, tem que se falar em Cristovam. Se não falar, não se está discutindo educação no Brasil, porque isso é uma causa que V. Exª defende desde os primórdios da sua vida pública, do seu mandato político.

            Então, eu estou querendo debater com V. Exª a posição do educador social, que é importante dentro desse contexto, e nós vamos, depois, beber da sabedoria de V. Exª, para montarmos um contexto no sentido de aprimorar essas ideias.

            Nós estamos falando aqui, hoje, do assassinato dos jovens brasileiros, de uma guerra silenciosa que acontece no Brasil, em que muitas vidas são ceifadas: a cada 10 minutos, morre um jovem - a cada 10 minutos, morre um jovem no Brasil!

            Sabe como nós poderíamos avaliar o que isso representa? A cada 10 minutos, você para e fica silencioso por um minuto. Aí você vai dizer: morreu um jovem. Você imagina: em uma hora, você vai parar seis vezes - seis vezes!

            Como, normalmente, você passa acordado - para aqueles que dormem muito, Tancredo Neves já dizia que, para dormir, há a eternidade, então tem que se aproveitar o máximo para ficar acordado - quatorze horas por dia, imagina: multiplica essas horas por seis. Quantos minutos você vai ficar acordado, porque você está dando referência a um jovem que teve sua vida cerceada?

            Então, Sr. Presidente, preocupado com essa situação, foi criada a CPI que vai agora investigar esses assassinatos no Brasil. E nós aprovamos, ontem, oito requerimentos para andarmos, Brasil afora, por onde estão ocorrendo essas maiores violências. Infelizmente, em Alagoas, que é o Estado do Presidente desta Casa, Senador Renan, o índice é altíssimo, chega a 72% - um índice que assusta.

            Então, esta Casa precisa dar andamento a esta CPI de forma muito responsável, ouvindo o que está acontecendo com o jovem brasileiro, para fazer, no final da CPI, uma proposição proativa, no sentido de trazer para dentro da discussão da coisa pública uma solução para esse grave problema que está hoje atingindo a juventude brasileira, que está atingindo a população brasileira.

            E isso nós estamos falando, Sr. Presidente, só referente aos jovens. Se incluirmos aí a população adulta, vamos atingir índices muito preocupantes.

            Portanto, hoje, nossa vinda a esta tribuna é exatamente nesse sentido.

            Houve um tsunami que destruiu, há um tempo desse, aquela nação, e no meu Estado, em Roraima, passou o tsunami da corrupção. Um grupo de corruptos se apossou do Governo do Estado de Roraima e roubou o Estado, roubou até os seus sonhos: roubou a saúde, a educação, as estradas, as pontes, a geração de renda e emprego e deixou o Estado na pior crise da sua história, um Estado promissor, de um povo honesto, trabalhador, que faz fronteira com dois países, que poderia ser um grande abastecedor das necessidades daqueles dois países.

            Mas, de repente, o Estado de Roraima passou por uma gestão desastrosa e está agora sofrendo as consequências, porque o índice de violência está crescendo no meu Estado, e muitos são jovens. Estamos com índices preocupantes: 55,5% desses jovens morrem por causa da violência. Temos aí uma base de 21% de assassinatos; 21,8% de homicídios; 12,6% de suicídios; e 21%, que é o transporte. Então, é preciso políticas públicas corretas para ver o que está levando esse jovem a entrar nessa depressão, o que está levando o jovem a se suicidar, a tirar a sua vida, o seu maior bem.

            Então, não é possível que um jovem, que nasce cheio de sonho e de esperança e que naturalmente não está encarregado de tanta responsabilidade, porque, às vezes, são solteiros e a família às vezes assume maior responsabilidade, que, de repente, esse jovem esteja praticando suicídio. Doze por cento é um índice alto. E por que é alto?

            Porque é um índice com o qual não dá para conviver, que não se explica.

            Como um jovem, que está na pujança das suas energias, que tem toda uma carga de energia positiva, que quer viver, a quem tudo agrada, a quem tudo é motivo de festa, de repente está talvez se deprimindo, sem sonhos, sem esperança, sem teto, buscando o caminho mais dolorido, mais incompreensível, que é o do suicídio?

            Por outro lado, nós temos um índice alto também, que é a violência no transporte. É verdade que Roraima, Sr. Presidente, tem uma cultura de transporte de moto - sempre teve. Quando não tinha essa avalanche de moto no Brasil, em Roraima já havia, porque as motos entravam via Guiana Inglesa e vinham do Japão, da Inglaterra, por ali. Então, sempre a moto foi muito cultural. Toda casa tem moto, quase toda família tem moto. Outra coisa impressionante: as ruas são largas, bem sinalizadas, mas, talvez, a falta de fluxo, ou esse volume seja a causa, falta um trabalho mais educativo.

            Nós estamos buscando esses números junto ao Presidente do Detran, Dr. Juscelino, e vamos também acionar a Prefeitura municipal, que tem responsabilidade, e o DMTRAN. Nós temos que ver, urgentemente, a causa de tanta violência no trânsito, de tanto jovem perdendo a vida - o índice é de 21%.

            E 21,8% são homicídios. Por quê? Por que, Sr. Presidente, esses homicídios? Hoje, aproximadamente setenta e pouco por cento da população vive do dinheiro público, do contracheque: os aposentados, os pensionistas, o servidor temporário, comissionado, efetivo do Governo do Estado - em torno de 23 mil -, ou seja, aquele povo mais carente que precisa de uma cesta, de assistência. Então, quase 70% da população dependem dos recursos públicos. A que isso leva? Leva o jovem a buscar uma alternativa, que não é a melhor recomendada.

            Nós fazemos fronteira com a Guiana Inglesa e com a Venezuela. A Polícia Federal reconhece que, há muito tempo, existe um corredor de tráfico, que, agora, está servindo à própria cidade. Muitos jovens estão aparecendo assassinados de forma violenta.

            É preciso que a gente busque uma solução para isso; solução para ver do que precisam. A gente precisa ouvir a juventude. A gente precisa fazer um estudo com profundidade para chegar a essa causa, que necessita de correção. E isso, essa CPI, a presença dessa CPI lá no Estado de Roraima... Nós conseguimos, pedimos, fizemos uma solicitação na comissão; somos membros da CPI. Só estou esperando agora a Senadora Lídice da Mata sentar - ela vai fazer uma viagem, ela é a Presidenta - e nós vamos ver a data para fazer essa audiência pública na Assembleia Legislativa.

            Já conversamos com a Governadora, com o Secretário de Segurança, com o Ministério Público, com a Justiça local, com a sociedade civil organizada de forma geral, para fazermos uma grande mobilização - que não seja uma casa de acusação, mas uma sessão da verdade, Senador Cristovam, uma sessão onde precisamos ouvir com clareza, sem medo, sem subterfúgios, as pessoas. Que elas tragam... A sociedade, principalmente a sociedade civil organizada, os líderes comunitários, as mães que são vítimas, pode dar uma grande contribuição.

            Nós vamos fazer uma peregrinação nos meios de comunicação, tentando sensibilizar a população de um modo geral. Às vezes, quando se trata desses atos, Presidente Cristovam, Senadores e Senadoras, a gente... O ser humano é egoísta por si só. Então, às vezes, aquilo que não o atingiu praticamente não diz nada para ele. Praticamente não diz nada para ele.

            Às vezes, aquele que ocupa cargos importantes e cuja família está bem encaminhada, bem-sucedida - o filho estuda numa boa escola, frequenta bons clubes, frequenta uma área sem risco -, acha que aquela causa não é dele, aquela situação não é dele. Ele pode viver tranquilamente, está vivendo tranquilamente - às vezes a família entende assim -, porque aquilo não o atinge.

            Mas aquele que está lá na periferia, aonde a polícia chega achando que é dona do mundo - que pode bater, pode espancar, pode gritar, pode rasgar a Constituição brasileira porque ali ela é a lei, ela é a justiça, ela é o poder - ali, no final dos bairros, onde moram cinco num quarto só, onde, para dormir, três têm que ficar acordados, enquanto dois dormem, fazem o revezamento...

            Sabe, Senador Cristovam, é muito fácil estar aqui, na tribuna do Senado, com toda esta infraestrutura que o Senado oferece aos Senadores, agora, quer conhecer a dor, a realidade... É fácil daqui fazer leis, sem, empiricamente, ir ao local, não extrair lá, onde realmente está ocorrendo essa gravidade. Agora, larga tudo isso, vai ao local, chega àquela casa onde a mãe passa o arroz duas, três vezes para servir só o caldo, só aquela água com sabor de arroz, para os filhos, três, quatro, cinco filhos. Como essa criança vai ser criada? Não tem um fogão, é fogão à lenha, a comida é repetida, superdividida. É muito fácil chegar aqui e fazer leis, mais leis, mais leis, mais leis, mas não se domina, não se resolve uma questão social grave, não se substitui políticas públicas com normas rígidas, não substitui, Senador Cristovam, não substitui. É preciso sentir a dor: ver uma pessoa que não tem uma casa para morar, não tem R$1,00 para comprar o pão, não tem dinheiro para o transporte. A mãe ou a família olha para os seus filhos, um, com cara de pena, outro, com cara de pidão.

            Olha, é isso que é preciso fazer, é isso que nós, políticos, temos que fazer, e é nesse sentido que vamos fazer essa audiência pública no meu Estado de Roraima, para apurar esses assassinatos da juventude, ouvindo, chamando essas pessoas. Onde mais está acontecendo? Quais são os bairros? Quais são os Municípios? Quais são as zonas rurais ou a área que mais têm frequência desses acontecimentos? É ali que vamos estar, ouvindo essas pessoas, ouvindo aquela verdade, ouvindo aquelas posições.

            A partir daí, Senador Cristovam, nós vamos poder definir nessa CPI uma proposição que não pode terminar só no relatório.

            Acho que essa é a grande questão. As palavras se perdem e, às vezes, um relatório é muito frio, ele acaba não retratando aquela realidade que a gente encontra ao ir fazer essas apurações.

            Portanto, quero aqui falar com o meu povo de Roraima, que está nos ouvindo. Estamos definindo uma data, estamos levando o Senado brasileiro para ouvir a população do meu Estado, o Estado de Roraima, para ajudar a Governadora, ajudar os prefeitos para fazermos uma política de correção da violência no meu Estado e nos demais Estados brasileiros.

            Então, eu vou estar muito atento a essa situação. Estaremos cumprindo o papel da natureza, ouvindo mais - por isso temos dois ouvidos -, com muita atenção, para, a partir daí, fazermos um trabalho à altura da realidade. Procurar levar pelo menos um relatório que retrate o máximo da realidade daquilo que vamos poder ouvir nos depoimentos Brasil afora.

            Sem nenhuma dúvida, V. Exª deve estar dizendo aí dos altos do seu juízo, do seu conhecimento. É verdade, Telmário, vocês vão pegar um avião, vão viajar, vão ouvir muitas reclamações, muitos fatos, muitos relatos tristes, muita dor. Só sabe a dor de quem perdeu uma família, só sabe a dor de um filho perdido quem realmente viveu isso. E V. Exª deve estar dizendo: “Pois é, mas se nós tivéssemos mais escola que prisão, se tivéssemos mais professor que policial e delegado, nós estaríamos no caminho de uma Pátria educadora.”

            Eu não consigo, às vezes, entender, e é isso que acho que este Congresso não tem coragem de fazer, e o Senado também não tem, de dar uma mexida, mas uma mexida responsável. Você vê que o salário hoje de um promotor, de um delegado, de um juiz, de um desembargador, de um Senador, de um Deputado, é um salário alto, mas o salário do professor é muito baixo, é desmotivador.

            Eu até estou me arriscando a falar isso aqui, mas estou falando para o Brasil, mas V. Exª sabe muito bem, por isso que V. Exª tem feito proposições contundentemente, frequentemente, insistentemente, no sentido de acordar esta Nação. Acordar esta Nação para reconstruir esta Nação. Uma Nação nova, de prosperidade, in continenti, de um povo bem concebido, um povo ordeiro.

            O povo brasileiro é ordeiro, eu acho que quem criou o futebol no Brasil, foi para evitar guerra. Foi para evitar guerra. Senador Cristovam, o senhor já foi a um estádio de futebol? Você chega a um estádio de futebol, as torcidas ficam se xingando, elas nem assistem ao jogo. É como, na minha terra chama-se “camaleão”, é um olho para cá e outro para acolá, não sei como ele consegue.

            De ordem que eles ficam de xingando, gritando, xingam mãe de juiz, o juiz, todo mundo. O jogador que fez o gol, que errou a bola. Ele vem dali relaxado. Nos Estados Unidos, eles criaram tipo este plenário aqui, onde a pessoa que está estressada vai lá grita, grita, grita, até que ela extravasa e vem toda zen de lá.

            E o futebol brasileiro é o zen do brasileiro. Aliás, passa a semana trabalhando, com as mãos calejadas para conseguir o dinheiro do ingresso do ônibus, da pipoca, do refrigerante, no campo de futebol, e ele vai para lá, com a camisa no pescoço, aquela charanga já dentro do ônibus, já vai com a adrenalina alta, e chega lá ele extravasa. Ele volta, pacificamente, para trabalhar mais uma semana.

            E o assim, o Brasil vai vivendo, os cartolas roubando os sonhos, os clubes e tudo mais.

            É um mercado violento. O mercado do futebol é violento. Agora, eles inventaram ir atrás de revelações. É outro engodo que existe aí, um golpe. Já há golpistas nessa área.

            Lá no meu Estado, há muita frequência de jovens, de menores que vêm para São Paulo, para o Rio, para os grandes centros a título de buscar um espaço num grande time de futebol. São incentivados e trazidos, na maioria, por grandes irresponsáveis. Eu recebo constantemente ligações de pais: “Telmário, ajude-me. Eu quero trazer meu filho de volta. Eu quero dar manutenção. Ele está lá. Ele vai jogar no Flamengo. Ele vai jogar não sei onde.”

            Quer dizer, é um sonho. Mexem com o sonho. Mexem com o sentimento das pessoas. Brincam com o sonho do menino pobre, até porque, muitas vezes, os grandes jogadores brasileiros vieram de famílias humildes, vieram de bairros periféricos. Isso não deixa de ser uma grande referência para o jovem que tem talento no futebol. Nesses mesmos bairros, quantos deles não sonham em ser um Romário, um Ronaldo, um Pelé, um Garrincha, outro craque brasileiro, um Rivelino, um Ademir da Guia? Eita, nós somos antigos, Senador Cristovam! Então, estamos fazendo essa análise de que precisamos balançar.

            Às vezes, eu vejo aqui, dentro deste plenário, político usando recurso e mais recurso para tentar travar o andamento de um processo, de outro e tal. Eu acho que precisava... V. Exª, um dia desses, dizia-me: “Eu estou para fazer uma proposição em que o Senado trabalhe tantos dias corridos e dispense tantos dias para que cada um volte a sua base, para buscar a sua demanda e voltar ao trabalho”. V. Exª tem que aprofundar mais esse estudo, porque eu o acho muito pertinente. Não adianta você trabalhar com demagogia, por dois, três dias, aqui e não andar. É travado. Parece aquele redutor da Previdência que derrubamos: travado. Travam os serviços. É preciso as pessoas serem mais proativas, mais objetivas.

            É preciso tomarmos mais atitude, andarmos: o Brasil tem pressa, ele quer resposta!

            Tenho dito isso, e o Senador tem sido cobrado, e ontem, eu vi Senadores cobrando uma série de coisas. Às vezes, reclamam da interferência do Executivo no Legislativo - através dessas medidas provisórias, o Executivo acaba governando sem o Legislativo. Mas e a morosidade existente aqui dentro? É preciso tirar essa burocracia, é preciso dar celeridade ao serviço.

            Nós precisamos responder à sociedade. Responder à sociedade com um trabalho de qualidade, responder à sociedade com políticas que sejam vivas, atuais. Essa é a dinâmica, essa é a importância da política.

            Se não fosse a política, apesar da falta de credibilidade dos nossos políticos... Eu sempre digo que não é a política que faz o cara ficar ladrão, não; é votar no ladrão e colocá-lo aqui na política. Vota-se no ladrão lá, quando se sabe que o cara é ladrão, vota-se no desgraçado, e ele vem para cá cheio de poder.

            Pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto. O cara vem para cá ladrão, e ele vai mudar aqui? Não, ele não vem fazer políticas boas aqui, ele vai continuar roubando, ele vai continuar tentando, pelo menos, roubar.

            Então, a sociedade tem que começar a filtrar - filtrar! Política é coisa séria. Se não fosse a política, as decisões seriam tomadas de forma arbitrária, pela força, pelos mais poderosos.

            Ela é que faz o sistema ficar flexível. É aquela borracha que faz a flexibilidade da coisa andar. Se você chegar a uma ponte, Senador Cristovam, de concreto armado, a cada vão você vai encontrar uma borracha no meio, e aquilo é exatamente para ela dilatar, para ela ser flexível, porque, do contrário, um simples carro, uma freada de um carro, tora ela, racha ela toda - ela precisa ter isso.

            Isso é em toda a vida, no casamento: se você for levar o casamento, uma vida conjugal, de forma rígida, ele quebra no primeiro momento. Você tem que ir ou tem que vir, reconhecer o seu erro, buscar, pois a vida é dessa forma. Então, é preciso a gente ter esses devidos cuidados.

            E a sociedade... Pode-se ver essa reforma política que está aí: vai ser mais uma pizza grande! O Senado tira a coligação; a Câmara devolve a coligação; um bota tal de "distritão", para eleger os ricos, e outros tiram.

            Aí vira a música do crioulo doido - vira a música do crioulo doido! Ninguém sabe o que vai fazer. É bater zabumba para doido dançar.

            Então, nós temos que parar com isso. O Congresso tem que parar com isso e tem que fazer uma agenda de forma positiva, mas real, sem querer estrelismo. Não pode aqui nem o Presidente do Senado nem o Presidente da Câmara querer tirar proveito deste momento.

            O trabalho parlamentar é um trabalho de grupo, são decisões coletivas. O Presidente é apenas o gestor, ele não é chefe de nenhum Senador. Ele é o gestor do órgão.

            Senador não tem patrão, o patrão do Senador é o povo. Para uns, para outros são os empresários corruptos, que tem que trabalhar para eles, e há muitos aqui dentro. Aqui e em todo canto do Parlamento mundial e brasileiro.

            Por isso que essa questão de financiamento e essa questão de gasto com as candidaturas têm que ser mais bem disciplinadas, porque há muita injustiça. E, um dia desses, eu vi um delator da Petrobras dizendo isso, que, se o cara oferece almoço, alguém tem que pagar esse almoço; se o cara recebe um grande patrocínio, ele tem que devolver isso. Isso, porque o dinheiro, Sr. Presidente, do empresário é um dinheiro fêmea: ele tem que parir, ele tem que devolver resultado, porque empresário vive de resultado, é o ramo dele, são as proposições dele, e, às vezes, o político é um meio, o que importa para ele é o fim, e o fim é o lucro - o fim é o lucro!

            Então, esta Casa deveria entrar nessa reflexão, sem estarmos aqui atirando pedra no Executivo, em A, ou em B. Um dia desses, eu vi um depoimento nessas redes sociais de um desembargador em que ele brinca com a inteligência das pessoas. Banaliza-se a coisa.

            Parece que nós temos várias camadas sociais oficiais. “Não, eu, porque sou Senador, tenho que usar terno todo dia, gravata não sei de onde.” O que é isso? Nós temos que diminuir essa diferença demagoga e nos aproximar da pura e cruel realidade brasileira.

            Nessa pirâmide, poucos estão lá na cabeça. A grande maioria, Senador Cristovam, está aqui na base dessa pirâmide, desassistida, de um modo geral. Ninguém é ladrão, porque quer ser ladrão, são poucos os que têm essa índole; ninguém busca o caminho da criminalidade, porque quer; ninguém pega em uma arma, para tirar uma vida, porque isso é bonito; não!

            Isso são consequências de políticas erradas. O homem é produto do meio. Se você nasce na violência, você morre na violência.

            Havia uma música nordestina que dizia: “Eu nasci foi na fofoca, na fofoca eu me criei. Pelo jeito que estou vendo, na fofoca eu morrerei!” Ou seja, se você nasceu no ruim; no ruim, você vai ficar. Se você nasceu no bom; no bom, você vai caminhar.

            É isso, Senador Cristovam, é para isso que nós temos que acordar. E V. Exa não se cansa, nem vai se cansar, porque este é o papel de um estadista, este é o papel de um homem público republicano, de procedimentos republicanos: é insistir! Nós temos que ser, Senador Cristovam, água mole na pedra dura, para a gente combater essa ferrugem, esse câncer que toma conta da coisa pública, que é a corrupção.

            Nós não estamos aqui, acreditando em papai-noel, achando que nós vamos erradicar a corrupção, mas temos que trazer para um termo suportável. Infelizmente, o roubo acontece, desde os primórdios da vida, mas nós podemos trazer para a proximidade do suportável, com transparência nas ações. O gestor público não é dono da coisa pública, é um gestor, e, às vezes, muito bem pago, para fazer essa coisa acontecer.

            Então, eu não tenho nenhuma dúvida de que a gente precisa fazer uma grande reflexão nesse sentido. Eu acho que o Brasil, do jeito que está aí: “Partido A, eu vou tirar, eu vou tirar!” A cada gestão, parece haver um culpado; não!

            Para você combater a corrupção, primeiro, você não pode furar a fila; não tem que dar a propina. Você tem que se comportar, dentro da sua vida, da sua rotina, com dignidade, sem aquele jeitinho brasileiro. Isso, porque quem rouba no pequeno rouba no grande; quem trai no pequeno trai no grande; e quem pratica pequenos atos vai praticar grandes atos.

            Então, não reclame se, ontem, alguém roubou a Petrobras, se você furou uma fila, para receber o documento na frente de outra pessoa. É preciso fazermos uma reflexão de conduta, Senador Cristovam, de procedimentos sociais e familiares. O Congresso é um reflexo da sociedade e, se a sociedade mudar o seu conceito de vida, de concepção, teremos um Congresso de acordo com a sociedade: com os mesmos sentimentos, com os mesmos procedimentos, com as mesmas maneiras, com os mesmos costumes e hábitos.

            É disso, Senador Cristovam, que o Brasil está precisando. Não podemos aqui personalizar, afirmando que A ou B é culpado pelo fracasso da Nação. Quem leva ao fracasso esta Nação somos nós, escolhendo de forma errada. Ninguém é tão bobo, ninguém é tão tolo: “Ah!, me enganaram! Ah!, houve uma fraude eleitoral!” Duvido que, se a Dilma mandasse alguém pular, sem paraquedas, de um prédio, alguém iria.

            Tudo na vida tem um indício, basta você querer olhar esse indício. A Senadora Sandra, que vem do Amazonas e que honra aquele Estado, está também presente nesta Casa, prestigiando. Tudo tem um indício, Senador Cristovam, tudo tem um indício, e a gente, às vezes, não quer ver esses indícios.

            As pessoas sabem: todo mundo é psicólogo, todo mundo é assistente social. Os brasileiros são milhões de médicos e milhões de técnicos de futebol. E, como o brasileiro tem essa aptidão, essa vocação para querer ser um técnico de futebol ou para ser um médico, um advogado, entender de tudo, ele também deveria entender e selecionar melhor os seus políticos, os seus governantes.

            Portanto, Senador Cristovam, era isto o que eu queria hoje, na tribuna desta Casa: aproveitar este momento um pouco mais disponível, agradecer pela atenção de V. Exª, agradecer aos telespectadores da TV Senado, aos ouvintes da Rádio Senado. Reflita! Você mesmo faça a sua reflexão.

            E, às vezes, eu custo a entender, Senadora Sandra, como uma família, pela manhã, toma o café, no dia da votação, que é um dia cívico, um dia patriótico. Senta-se a família e, ali, surge uma curiosidade: “Você vai votar em quem? Votar em quem?” E o pai de família diz: “Eu vou votar em fulano.” E, se você pegar a ficha corrida do camarada, nem esses aviões de carreira têm capacidade de carregá-la, de tanta corrupção que há ou malfeito, e o cara fala isso no seio da família dele!

            Qual é o paradigma? Qual é o paradigma, Senador Cristovam, de um pai de família que declina seu voto para um político corrupto? Qual é o paradigma? Qual é o efeito moral? O que você vai esperar disso?

            Um dia desses, eu fui visitar uma cadeia pública, lá no Município de São Luís, no meu Estado, e, na saída, estavam vários presos. Eu fui ouvi-los, havia superlotação. E, na saída, um preso disse: “Senador, trabalhe por nós, lute por nós! Eu prometo que vou roubar menos.”

            Eu falei: “Roubar menos, não. Não roubar!” Ele disse: “Como, se fulano de tal rouba?” E citou um político do meu Estado.

            É impressionante como ele faz referência! Ele citou um político, que é de cunho nacional, como ladrão! Disse: “Fulano rouba!”

            Quer dizer, um preso baliza a vida dele naquele político ladrão, como quem diz para mim: “Eu não posso, e ele pode?” Então, nós somos referência - nós somos referência!

            Esta Casa tem que deixar de passar a mão na cabeça... No dia em que eu errar aqui, podem me cassar. Não quero clemência de ninguém. Eu não vim para cá para roubar, eu vim para cá para trabalhar! Trabalhar e levar políticas públicas para o meu Estado. Não quero e não vou aqui bater à porta de ninguém. Agora, quem cometer seu delito pode me ter como um Senador duro, porque eu vou cobrar isso! Porque um Senador já ganha bem e tem uma infraestrutura muito boa, então, tem que fazer política com resultado.

            Meu muito obrigado.

            V. Exª ia falar?

            O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador, quero fazer um comentário. Primeiro, da minha satisfação de ver um Senador do meu Partido fazendo um discurso, nesta sexta-feira de manhã, sobre assassinato de jovens - tema que tem passado, Senadora Sandra, fora desta Casa -, e poucos temas são tão importantes hoje.

            Eu me lembro de que, alguns anos atrás, conversando com um jovem americano, ele me perguntou qual era a vantagem de um jovem brasileiro sobre um jovem americano, já que os americanos têm tudo. E eu disse: aqui nós sabemos, o jovem sabe que vai viver e morrer sem ir a uma guerra. Nos Estados Unidos, não existe uma geração que não viveu uma guerra. Então, a chance de um jovem americano que nasça hoje de ter que ir para a guerra é muito grande. Eles foram para a Primeira Guerra Mundial - só para falar do século XX -; os filhos dos que lutaram na Primeira Guerra lutaram na Segunda; os filhos dos que lutaram na Segunda lutaram no Vietnã; os filhos dos que lutaram no Vietnã lutaram no Iraque; e os filhos dos que lutaram no Iraque, que são meninos ainda, vão ter alguma guerra para enfrentar.

            Aqui a gente não tinha. Só que agora existe uma: a rua - como o senhor colocou -, a violência, que está generalizada. Hoje o jovem brasileiro tem mais risco de ser assaltado do que um jovem americano de ir para a guerra, e de ser morto, assassinado, ou de ser preso, porque assassinou, ou de ser dependente de drogas, ou de não ter boas escolas, o que o condena a viver depois em condições ruins, ou de ser acidentado no trânsito. Isso a gente não está discutindo.

            Eu achei muito bom o senhor ter falado desse assunto, e uma frase sua merece destaque, quando o senhor disse que até os sonhos foram roubados dos jovens. Eles não têm sonhos. Nós aqui, políticos, não conseguimos ter seguidores; no máximo, eleitores. Mas o eleitor não é, necessariamente, um sonhador; o seguidor é. Eu não falo de seguidor de internet, não. Eu falo de seguidor das ideias, das propostas. A gente não está fazendo isso.

            Então, de fato, nós, no sentido genérico, roubamos até os sonhos dos jovens brasileiros. Por isso, eu queria lhe fazer uma proposta que está pronta, pronta, na sua fala: o senhor vai fazer uma audiência sobre isso em Roraima, e eu gostaria que o senhor sugerisse, como Vice-Líder do meu Partido, que o Senador Renan faça, aqui, uma sessão temática sobre a juventude - a gente pode até chamar de sessão “Telmática”, se o senhor quiser. (Risos.)

            Uma sessão temática sobre a juventude brasileira, discutindo a escola, o emprego, a Previdência. Porque a gente tende a votar para resolver a Previdência para nós, a partir dos seus 45 anos, o que está perto; a gente esquece que a aposentadoria que a gente montar agora vai repercutir para quem tem menos de 30 anos e para quem não nasceu ainda. O que os jovens estão pensando da reforma previdenciária?

            Eu sugiro que o senhor leve ao Senador Renan, que tem feito belos encontros temáticos aqui, um sobre a juventude brasileira e seu futuro. Além do que vai fazer em Roraima sobre o aspecto específico do assassinato, fazer um mais amplo, sobre violência, emprego, educação, sonhos, tudo isso; e chamando os jovens para que venham falar para nós e para que nós sentemos aí, ouvindo o que eles têm para nos dizer, o que eles gostariam de ter da gente.

            É isso o que eu tenho para dizer.

            Fico muito satisfeito de ter presidido esta sessão com o seu discurso, e gostaria de pedir que venha presidir, ou a Senadora Sandra, para que eu faça uma fala que vai ser muito rápida, até porque vocês, provavelmente, devem viajar - eu, não, porque a minha base é aqui.

            O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Muito obrigado, Senador Cristovam.

            Eu não vou ser autor exclusivo dessa proposição, porque V. Exª teve a brilhante ideia. Então, eu convido as nossas assessorias a que já façam essa proposição ao Presidente.

            Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/05/2015 - Página 8