Discurso durante a 83ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Crítica ao pronunciamento do ex-Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em que teria ofendido os evangélicos.

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO:
  • Crítica ao pronunciamento do ex-Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em que teria ofendido os evangélicos.
Aparteantes
José Medeiros, Magno Malta.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2015 - Página 638
Assunto
Outros > RELIGIÃO
Indexação
  • CRITICA, PRONUNCIAMENTO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ASSUNTO, COMENTARIO, IGREJA EVANGELICA, SOLICITAÇÃO, RETRATAÇÃO, EX PRESIDENTE.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco União e Força/PRB - RJ. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, terminada a votação, Sr. Presidente, venho tratar de um outro assunto.

            Semana passada, S. Exª o ex-Presidente se pronunciou sobre um assunto que julga conhecer: os evangélicos. S. Exª disse que os pastores nas Igrejas ensinam ao povo que todas as vicissitudes, todas as tragédias, todas as misérias que acometem o quotidiano do povo vêm do diabo e que todas as conquistas vêm de Deus, desde que se pague o dízimo. Eis aí o domínio do fato, ironizou o Presidente. Nada mais distante da realidade!

            Dizer que o povo evangélico, de maneira indolente, espera que caia do céu os seus proventos, Sr. Presidente, é algo que nós não podemos, absolutamente, aceitar. Como estudantes da Bíblia, todos eles sabem - aprendem desde a escola dominical - o valor do trabalho, da educação. Basta ver no mundo os países construídos pela ética protestante evangélica. São os mais desenvolvidos.

            Os evangélicos estudam e trabalham a vida inteira. Muitos trabalham de dia e estudam à noite. Sr. Presidente, se quiser encontrar os evangélicos, basta ir nas fábricas, nas empresas, nas escolas, nas universidades ou construindo suas igrejas, suas creches, hospitais, asilos. Difícil é encontrá-los nas prisões, encarcerados, nos presídios, nas drogas, nos vícios, na violência, na corrupção.

            Por outro lado, o diabo também não faz nada sozinho, desde as violências, as calúnias, que põem em guerra os povos, ou até as pequenas palavras envenenadas de ódio que dividem os homens, precisa de um incauto, de um desavisado, de alguém que fale o que vem à cabeça sem medir consequências.

            Sr. Presidente, é assim comparando com um pequeno leme, que dá o rumo de uma nau no oceano, que a língua, um dos menores órgãos do corpo, acaba se tornando um instrumento da discórdia, da injustiça, do preconceito e da discriminação, como uma fagulha que põe abaixo, pelo fogo, uma floresta. Esse não é o papel melancólico de S. Exª, esse não é o papel de um líder que há bem pouco tempo nos conduziu, conduziu esta Nação a momentos memoráveis, e nos redimiu da vergonha extrema de termos milhões de brasileiros na miséria. Esse não é o papel que cabe ao presidente. Quero lamentar desta tribuna a maneira desonrosa, injuriosa com que V. Exª se referiu aos evangélicos. Faço aqui um apelo não por mim, que sou apenas um modesto e obscuro servidor do povo, mas pelos mais de 40 milhões de evangélicos deste País, espalhados na vastidão do nosso Território, nossa gente humilde e valente, que sob chuva, sol e poeira trabalha a vida inteira pelo bem do Brasil e que merece respeito, que S. Exª dirija a eles uma palavra da sua alma para se redimir da vergonhosa injustiça que cometeu contra o povo evangélico do Brasil.

            O Sr. Magno Malta (Bloco União e Força/PR - ES) - Concede-me um aparte, Senador?

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco União e Força/PRB - RJ) - Ouço V. Exª, com muito prazer.

            O Sr. Magno Malta (Bloco União e Força/PR - ES) - Senador Crivella, V. Exª vem a essa tribuna e, de bom tom... Aliás, os cristãos do País não esperavam outra coisa de V. Exª, eles esperavam essa reação de V. Exª. A alguns eu disse: ele, certamente, se pronunciará. Quando V. Exª se refere aos evangélicos, eu estenderia aos cristãos deste País, porque, ao final da fala dele, quando os sindicalistas começaram a rir, ele se sentiu num stand up e continuou a piada dele. Ele foi além do deboche, de colocar tudo na conta do diabo, como fazem os pastores evangélicos, ensinando os sindicalistas a colocarem o malfeito do Governo na conta de alguém. Aí ele vai e diz: “Depois eles mandam dar o dízimo para serem salvos.” Quem é Lula para falar de dízimo? O dízimo é um princípio no qual cremos, na nossa regra de fé e prática, que é a Bíblia, Bíblia que ele não conhece, mas que o povo conhece, até porque, quando ele foi levantado Presidente da República, essa Bíblia em que nós cremos, que diz que “Toda autoridade é ungida por Deus”, esse povo nunca badernou neste País, esse povo nunca incendiou um carro, nunca incendiou um ônibus. Aliás, para que Lula saiba, os motéis deste País não nos pertencem, as gráficas que produzem material pornográfico e até cartilhas para o MEC hoje e para o Ministério da Saúde, ensinando crianças de 12 anos de idade a se bolinarem, o que começou no governo dele, não pertencem a nós. Para que Lula saiba que as bocas de fumo não são nossas, que os tráficos de droga também não são nossos, para que Lula saiba que os alambiques deste País não são nossos - coisa de que ele gosta muito -, que não nos pertence. Olha só, Senador Marcelo Crivella, nos processos eleitorais do Lula, eu vi V. Exª empenhado, cruzamos em alguns lugares por aí e, acreditando num segundo momento, a sua Igreja, a sua denominação ajudou a dessatanizá-lo, como no processo da Dilma. E a Dilma o que fez? Assinou um compromisso conosco de pontos que são caros para os cristãos deste País, que chegam a mais de 90%. Não estou falando só de nós. E um ponto importante que ela dizia é que no Governo dela não tocaria em aborto, colocou lá no documento e assinou. A primeira coisa que fez foi colocar a Menicucci, a Srª Menicucci como Ministra. E ela disse que assumiu o Ministério para poder legalizar o aborto, e contou que já fez um aborto e a técnica para poder abortar. Para que Lula saiba que nós, mesmo sabendo - não sei se ele tem confissão de fé, hoje eu já não sei mais - mesmo sabendo dos seus gostos pela bebida, pelo cigarro, entendíamos o momento dele. Ele não é da nossa confissão de fé, e o apoiamos. Eu e V. Exª defendíamos porque entendíamos o momento necessário deste País de fazer inclusão social. E nem eu nem V. Exª somos cegos para poder apagar as coisas que nós entendemos que foram boas, que foram feitas. Eu me envergonho muito desse deboche que ele fez. O deboche que ele fez foi como que zombar de mim, foi zombar de V. Exª, foi zombar de um povo que tem confissão cristã neste País. A Igreja Católica prega dízimo, a Igreja Católica prega oferta, todas as confissões de fé. Então Lula não pense que você atingiu só a mim, ao bispo Marcelo Crivella, hoje Senador, você atingiu às confissões de fé deste País. E falo em nome de todos. E a todos eu peço desculpas, e àqueles a que eu me reuni, porque da eleição de Zeca do PT, para Governador, da eleição de Maria no Paraná, da eleição de Tarso Genro, da eleição de Jaques Wagner... Três eleições eu participei com Wagner, perdi três e na que ele ganhou eu estava também, a pedido de Pinheiro. A todos os lugares eu fui, a todos os lugares eu fui e em alguns deles cruzei com V. Exa para, depois, o Lula estar se comportando como alguém que um dia foi rico. Ganhou na Loto, depois não soube administrar. Perdeu tudo, voltou a morar em casa de aluguel, mas sobrou um smoking.

            E ele entrou de tapete vermelho pensando que ainda era aquele cara, só não percebeu que a calça estava rasgada atrás. “Lula, sua calça está rasgada atrás. Respeita a gente, que é a melhor coisa que você faz”. Muito obrigado, Senador Marcelo Crivella...

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco União e Força/PRB - RJ) - Eu que agradeço o aparte de V. Exa.

            O Sr. Magno Malta (Bloco União e Força/PR - ES) - ... pela sua palavra, pela sua defesa. A sua palavra ponderada, mas forte, forte, forte, porque V. Exa não tem nada para poder passar a mão na cabeça do Lula. Muito pelo contrário, V. Exa foi muito mais útil a ele para chegar ao poder do que ele foi a esse povo que ele acabou de atacar.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco União e Força/PRB - RJ) - Muito obrigado, Senador Magno Malta, pelas sábias palavras de V. Exa. Senador José Medeiros.

            O Sr. José Medeiros (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Senador Marcelo Crivella, agradeço pelo aparte. Senador Marcelo Crivella, eu fui um desses que, desde 1989, pedi voto para o Presidente Lula. Fui às ruas, paguei dízimo para o PT porque havia dízimo. A gente ajudava, o Partido era pequeno. Mandávamos dinheiro para ajudar, o Partido não tinha, a gente mandava. E aí, o que acontece? O Presidente Lula vem agora falar desse povo. O Brasil é um País cristão e as igrejas precisam se manter e elas têm o seu dízimo. E o dízimo paga quem? Quem lhe aprouver. É uma deliberalidade, a pessoa paga. Se eu vou a um clube e aquele clube precisa de manutenção, eu pago uma taxa de manutenção ao clube. E por aí vai. Mas isso é a opinião dele e a gente respeita. Agora, eu só não entendo é que ele é um homem inteligente, senão não tinha chegado à Presidência da República, não tinha feito o governo que fez. E, neste momento, eu não consigo entender esse escarnecimento. Existe bem um versículo que diz, lá no Salmo: “Bem-aventurado aquele que não se assenta na roda dos escarnecedores.” Que pena! Eu só tenho a lamentar que esse povo tanto ajudou, tanto orou para que ele tivesse esse sucesso, para que ele fosse honrado, e ele tenha feito isso. Mas a gente fica também com aquele outro versículo que diz: Mais vale a repreensão do justo, de um sábio, do que a canção do insensato. Mais vale a repreensão de um sábio do que a canção do insensato. E, se ele optou por fazer assim... Não é de agora que o Presidente vem se comportando dessa forma. Há pouco tempo, ele falou em lançar o exército de Stédile nas ruas. Ele falou, provavelmente, brincando, e os caras levaram a sério e começaram a quebrar empresas de pesquisas. Então, isso é muito preocupante. Há poucos dias, no Twitter, vi alguém dizendo o seguinte: tinha que haver uma lei para ex-Presidente não se pronunciar. Eu fico preocupado, porque vejo assim: ele perdeu o primeiro amor. Essa é a grande verdade. Uma pessoa respeitadíssima, com currículo. E digo o seguinte: quem crê, quem acredita em Deus sabe que o Lula foi um milagre. Foi uma benção, uma graça que ele ganhou. Ele foi uma pessoa humilhada que foi exaltada. Ele foi o maior mandatário, em determinado momento, desta Nação. Deus o colocou ali, para quem acredita assim. E ele vem, agora, dizer todas essas coisas. O que podemos fazer? Lamentar, só lamentar. E orar por ele. Quem acredita deve orar. Quem reza deve rezar, porque eu penso que ele deve estar muito atribulado, porque viu toda a sua obra no chão, mas os culpados por isso não foram os evangélicos. Cada um constrói o seu próprio caminho. Assim foi com outros que já o antecederam. Quem conhece a história sabe. Quem é cristão sabe o que aconteceu com alguns reis de Israel também. O próprio Salomão, em determinado momento, se desviou do seu caminho. Davi também. Agora, ele enveredou de uma forma que não consigo entender, talvez seja a angústia de ver o seu projeto de retorno, que era para ter sido agora... Sabemos muito bem que, por divergências internas, ele foi tolhido de ser o candidato. Agora, ele vem numa escalada, e, com certeza, o caminho para ele voltar ao poder não vai ser chutando esses que o ajudaram. Então, da minha parte, só me cabe lamentar, porque sempre tive um grande respeito por ele. Aliás, o povo brasileiro sempre teve carinho e respeito por Lula. O povo evangélico sempre teve carinho, amor, muito respeito e, inclusive, intercedia por ele, mas ele teve esse momento de muita fraqueza - essa é a palavra. Muito obrigado pelo aparte.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco União e Força/PRB - RJ) - Eu que agradeço o aparte de V. Exªs, Senador Magno Malta e Senador José Medeiros - peço que seja acrescentado ao meu pronunciamento.

            E, aqui, reafirmo o pedido de que o Presidente da República, da sua alma, dirija uma palavra, não a mim, mas a 40 milhões de brasileiros, que o redima dessa frase infeliz, dessa comparação imprópria.

            Senador Paim, eu não iria e não irei comparar o Presidente da República ao mau ladrão no cenário do Calvário. Não iria e não irei, mas o discurso, na sua forma e no seu conteúdo, esse discurso preconceituoso faz lembrar o mau ladrão, que não se arrependeu e acrescentou a sua tragédia a derradeira injustiça de ofender quem não tinha culpa nenhuma no seu infortúnio.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2015 - Página 638