Discurso durante a 83ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Lembrança do Dia Nacional da Indústria e do Dia do Trabalhador Rural, comemorados em 25 de maio, com destaque para a necessidade de retomada do crescimento industrial e de valorização dos que trabalham no campo.

Autor
Blairo Maggi (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Blairo Borges Maggi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Lembrança do Dia Nacional da Indústria e do Dia do Trabalhador Rural, comemorados em 25 de maio, com destaque para a necessidade de retomada do crescimento industrial e de valorização dos que trabalham no campo.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2015 - Página 663
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, INDUSTRIA, TRABALHADOR RURAL, DEFESA, NECESSIDADE, RETOMADA, CRESCIMENTO, SETOR, AUMENTO, VALORIZAÇÃO, TRABALHADOR, CAMPO.

            O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT. Sem apanhamento taquigráfico) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, neste 25 de maio, temos duas datas muito significativas para o nosso desenvolvimento econômico e social e - por que não dizer? - para a própria noção de bem-estar dos brasileiros, para a esperança de um futuro melhor: trata-se do Dia da Indústria e do Dia do Trabalhador Rural. Esse contraste aparente de celebrações nada tem de oposição de interesses. Pelo contrário, a manutenção da boa saúde financeira e tecnológica da indústria nacional está intimamente relacionada com a melhoria das condições de vida das pessoas que vivem e trabalham no campo.

            Entretanto, esta dupla celebração nos leva, igualmente, a uma preocupação dobrada: por um lado, a necessidade de que voltem a crescer a indústria e a empregabilidade; por outro, que as famílias dos trabalhadores rurais -- sejam eles proprietários ou não - recebam os benefícios que a sociedade brasileira tanto lhes deve.

            Do ponto de vista do papel estratégico da indústria em nosso País, talvez seja chover no molhado repetir essa verdade. Mas parece que, de vez em quando, alguém se esquece disso. Para mencionar a relevância desse setor entre nós, basta nos lembrarmos de que o grande fator das transformações econômicas no Brasil no pós-guerra foi o setor industrial, que cresceu em média 9% ao ano entre 1945 e 1978. Um índice como esse superou por ampla margem o observado nas maiores economias da América Latina.

            A expansão da indústria - todos sabem - acabou por transformar a face de nosso País, que, de uma nação agropastoril, passou a ter um peso industrial significativo no continente. No pós-guerra, houve uma rápida diversificação industrial no Brasil: além da quantidade de novas indústrias, houve ganhos expressivos em termos de eficiência nos processos produtivos. Estes, por sua vez, redundaram em mais produtividade do trabalho.

            Entretanto, passada aquela primeira e heróica fase, o País começou a sofrer as conseqüências da falta de equilíbrio nas políticas públicas. Por um lado, houve ganhos para todos: nos últimos 30 anos, a classe baixa diminuiu 21 pontos percentuais e a classe média subiu 14 pontos percentuais. E por que é importante relembrar isso no dia em que se celebra a indústria? Simplesmente porque ela foi, em grande parte, a responsável pela mudança dessa face do Brasil: hoje, a classe média corresponde a mais da metade da população brasileira. Comparativamente, se essa população, tomada isoladamente, constituísse um país, este seria o 12° mais populoso do mundo, com mais de 100 milhões de habitantes, e o 18° maior mercado consumidor do planeta.

            E o melhor dessa constatação é que, distintamente do que se pode pensar, o surgimento dessa nova classe média se deveu principalmente ao trabalho, e não a políticas de transferência de renda. Um estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) constatou que cerca de 60% do crescimento da renda per capita da classe média atual resultam dos aumentos na remuneração do trabalho.

            Mas, apesar - ou justamente por causa desse sucesso, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) alerta para um grave risco que estamos correndo: nos últimos 30 anos, nossa produtividade caiu. Ciente e consciente de que precisa dar um salto qualitativo para manter taxas de crescimento sustentáveis, o Brasil precisa se esforçar para aumentar a produtividade. Isso quer dizer que, mesmo tendo reduzido as desigualdades de renda entre os 10% mais pobres e os 10% mais ricos, esse avanço não poderá continuar, se não houver aumento de produtividade.

            Tomando um segmento especializado - o da indústria da transformação - o Ipea constatou que, nos últimos 30 anos, a produtividade dos trabalhadores caiu 15%. No mesmo período, os chineses viram sua competitividade subir 808%. Mas se essa comparação com a China for muito distante para nossa compreensão, basta vermos que, no Chile, a produtividade aumentou 82,11% no mesmo período.

            Na última década do século passado e na primeira deste, o desempenho setorial tem variado muito: por um lado, a agropecuária e a indústria extrativa tiveram taxas médias anuais de crescimento da produtividade do trabalho de 3,8% e 2%, respectivamente; contudo, por outro lado, a produtividade na indústria de transformação caiu 0,8%, revelando as dificuldades que têm atingido este setor no País nas últimas décadas. Fica mais do que evidente que precisamos retomar um grau de equilíbrio.

            Além dessa perda de produtividade, a indústria nacional, desde alguns anos, passou a sofrer as conseqüências negativas tanto da conjuntura internacional desfavorável quanto das políticas nacionais equivocadas. E é sobre esse quadro de desaceleração industrial que devemos nos debruçar neste 25 de maio.

            E uma das razões centrais de nossa preocupação diz respeito justamente à empregabilidade: quando se compara dezembro de 2014 com dezembro de 2013, o emprego na indústria recuou 4%, como informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso representa o pior resultado em cinco anos. No período de um ano, só a indústria de São Paulo demitiu quase 100 mil pessoas na região metropolitana, igualmente de acordo com o IBGE, em sua Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Seja para São Paulo, seja para Mato Grosso ou Pernambuco, o mais preocupante nessa história são os efeitos colaterais, pois, segundo o Dieese, cada posto na indústria equivale a outros cinco na área de serviços à indústria.

            Passemos, agora, a lidar com a outra data a ser lembrada neste 25 de maio: os trabalhadores rurais. Quanto a estes, precisamos cuidar de sua valorização, o que se faz reconhecendo que apesar de ser outra a sua relação com o mercado e com o acesso a bens comumente socializados no meio urbano, também se faz primordial a garantia de direitos e condições para o progresso da atividade. Um exemplo é o acesso à informação tecnológica, para a melhoria da produção.

            E do conhecimento de todos que o vínculo maior do trabalhador rural é com uma área para cultivo ou de criação - em geral, as duas associadas. Com a devida orientação, é possível dinamizar a escala de produtividade numa mesma área.

            Está em Mato Grosso, maior estado produtor de grão do país, uma imensa parte da produção rural do Brasil. E o progresso só foi possível através de muita pesquisa e tecnologia, que vai do preparo e manejo do solo à rotação de cultura e investimento em biotecnologia.

            Já na questão social, é importante frisar que distintamente de outros países, em que educação, saúde e saneamento obrigatoriamente chegam ao morador do campo, no Brasil isso ainda é uma exceção.

            Se a luz elétrica já chegou à maioria dos domicílios rurais, o mesmo não se pode dizer de água tratada. Os serviços de educação não chegam nem na quantidade, nem na qualidade esperadas. E o que dizer da saúde? Sempre a depender muito mais de um transporte do que da assistência próxima às moradias.

            E importante dar ao trabalhador rural as condições de ter uma atividade digna, mas não sem antes priorizar a qualidade de vida desse profissional que suporta as gigantescas demandas da atividade primária desse Brasil.

            Para concluir, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de relembrar o quanto essas duas dimensões hoje celebradas -- o trabalhador rural e a indústria - estão intimamente conectados por vínculos cada vez mais estreitos. E que a sustentabilidade em todos os aspectos depende da harmonia com que os tratarmos.

            Era o que tinha a dizer. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2015 - Página 663