Discurso durante a 85ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alegria pela obtenção de assinaturas requeridas para a criação de CPI destinada a apurar corrupção em entidades do futebol nacional.

Autor
Romário (PSB - Partido Socialista Brasileiro/RJ)
Nome completo: Romario de Souza Faria
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESPORTO E LAZER:
  • Alegria pela obtenção de assinaturas requeridas para a criação de CPI destinada a apurar corrupção em entidades do futebol nacional.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 29/05/2015 - Página 138
Assunto
Outros > DESPORTO E LAZER
Indexação
  • REGISTRO, PRISÃO, VICE-PRESIDENTE, CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL (CBF), MOTIVO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, ENFASE, ALCANCE, COLETA, ASSINATURA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, CONFEDERAÇÃO, REGULAMENTAÇÃO, FUTEBOL, BRASIL.

            O SR. ROMÁRIO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Perfeito, Presidente. Muito obrigado pelas palavras.

            Boa tarde a todos!

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos aqueles que nos ouvem neste momento, lutar contra a corrupção no futebol é muito difícil. Às vezes, chega a ser desestimulador, tamanha a dificuldade de conseguir provas para provar crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, evasão de divisas, propinas e extorsão. Mas, ontem, logo cedo, recebemos uma notícia que foi um alento para todos os que amam o esporte, principalmente o futebol. O Vice-Presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin, foi preso na Suíça em uma operação da polícia local em conjunto com o FBI, dos Estados Unidos.

            Várias outras autoridades do futebol mundial, Srª Presidente, também foram presas, acusadas de participar de um esquema de corrupção que já dura 20 anos e movimentou cerca de US$150 milhões. Todos eles foram detidos e serão extraditados para o país americano. Podemos dizer que as autoridades suíças deram uma batida em um ninho de ratos.

            Todas as sete pessoas presas estavam no congresso anual da FIFA, que culminará, na próxima sexta-feira, na reeleição do Presidente da entidade. Como sabemos todos, por este ser um jogo de cartas marcadas, o atual Presidente da FIFA, Joseph Blatter, deve ser reconduzido ao cargo: ele completará, nada mais, nada menos, que 20 anos no poder, e serão cinco mandatos seguidos. Particularmente, eu espero que ele seja preso, antes mesmo de assumir esse novo mandato.

            Os concorrentes de Blatter foram desistindo aos poucos, alegaram não ter condições de lutar contra as táticas do cartola. Um dos candidatos, o ex-jogador Figo, português, desistiu. Figo afirmava que a FIFA não deve ser apenas máquina de fazer dinheiro.

            Concordo com esse argumento. O objetivo da FIFA, Srª Presidente, assim como o da CBF, não deve ser o lucro a qualquer preço e a qualquer custo. O futebol tem uma missão muito maior: incluir socialmente, gerar renda, derrubar preconceitos, unir nações, etc.

            O nome do Brasil, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, está hoje ligado a tudo que há de pior em termos de corrupção esportiva, graças a um dos ratos que venho denunciando há muito tempo, a mesma pessoa que, ao lado da Presidente Dilma Rousseff, recebeu chefes de Estado em plena Copa do Mundo de Futebol, José Maria Marin. No caso da CBF, especificamente, as investigações do FBI citam acordos de direitos da Copa do Brasil com uma empresa de material esportivo americana, assim como suborno pago por executivos de marketing esportivo relacionado à comercialização de direitos de mídia e marketing de diversas partidas da seleção brasileira e torneios organizados pela entidade.

            Há, ainda, suspeitas de que o suborno envolva contratos assinados para a realização Copa das Confederações FIFA 2013 e da Copa do Mundo FIFA 2014. Essa operação poderia ter sido realizada aqui, já no ano passado, porque assim emendaríamos a vergonha dos campos com a vergonha da corrupção, mas, certamente, o aparato de segurança aqui deve ter sido muito grande. Na Suíça, um país de primeiro mundo, em um hotel com vista para os Alpes Suíços, eles deveriam estar confortáveis e despreocupados, quando foram surpreendidos pelas autoridades.

            Infelizmente não foi a nossa polícia que prendeu, mas alguém tinha que fazer um dia. Então, parabéns ao FBI e a polícia Suíça.

            Mas vamos focar no Brasil, Srª Presidente. O Marin está preso e esse é o momento oportuno para fazermos uma verdadeira devassa na CBF, a Casa Bandida do Futebol. Assim como o Marin - comprovadamente um ladrão -, ainda temos que tirar outro câncer do futebol, o atual Presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. De ontem para hoje, mais e mais informações não deixam de chegar.

            Já sabemos, por exemplo, que Marin, Marco Polo Del Nero e o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, recebiam propinas pela exploração comercial do campeonato Copa do Brasil. Os cartolas, Senadores e Senadores, segundo a peça de acusação americana, recebiam R$2 milhões por ano. O valor era dividido entre os três ratos. As empresas de marketing Traffic e Klefer, ambas de marketing esportivo, rateavam o pagamento do suborno.

            Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, esse tipo de negociata criminosa é um modus operandi dos dirigentes da CBF. E eles já foram os responsáveis pela realização da Copa das Confederações e Copa do Mundo, o que coloca sob suspeita os contratos realizados para estas competições também.

            Os escândalos são sucessivos. Não podemos esquecer que, há poucos dias, fomos surpreendidos com notícias da venda da Seleção Brasileira de Futebol masculino: jogador que entra em campo por valor de marketing; escalação feita por empresários; tudo isso registrado em contrato, conforme divulgou o Jornal O Estado de S. Paulo. Essas matérias também deixavam claro e indicavam que, através da empresa ISL, que detém o direito dos amistosos da seleção, a CBF praticava os crimes de evasão de divisas e sonegação fiscal, ou seja, pratica, não é?

            Em 2012, como Deputado, tentei instalar uma CPI - e está aqui o Deputado, Senador Chiquinho Escórcio, que pode comprovar as minhas palavras -, através da Câmara, para descobrir contratos suspeitos da CBF com a empresa aérea TAM.

            Então, Srª Presidente, por tudo isso tenho tentado emplacar uma CPI para investigar esses criminosos. Sim, criminosos! Esse é o nome dessas pessoas.

            Transações milionárias com empresas de fachada, em paraísos fiscais - como mostra a imprensa -, longe dos olhos da Receita Federal, são crimes de evasão de divisa e sonegação fiscal. Uma quadrilha camuflada pelas cores da nossa bandeira, pelo nosso patrimônio cultural, solenemente festejada ao som do Hino Nacional. Não há alternativa: ou todos esses caras são presos, ou eles continuarão sugando o futebol brasileiro como sanguessugas, até a sua morte definitiva, o que já não está muito longe; talvez, com esse novo fato, tenhamos uma sobrevida.

            Para finalizar, Srª Presidente, estou muito animado com a chance que esta Casa está me dando de passar a limpo o futebol brasileiro. Ontem, coletei em tempo recorde assinaturas para a instalação da CPI do Futebol - foram exatamente 54, o dobro do necessário. O requerimento de instalação já foi lido neste plenário e, agora, precisamos que rapidamente os Líderes apontem os membros da CPI.

            Muito obrigado, Srª Presidente. Era isso que eu queria dizer.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador, o senhor me permite um aparte?

            O SR. ROMÁRIO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Romário, só para dizer da satisfação que eu tive de assinar esse pedido de CPI que o senhor liderou. Nós estamos devendo uma CPI como essa ao Brasil há muitos anos. Mas o destino, às vezes, faz as coisas certas. Valeu à pena esperar para tê-la sob sua coordenação, sob sua liderança. Ninguém aqui - nenhum de nós - tem a credibilidade para fazer isso como o senhor. E eu diria que nenhum aqui tem o conhecimento dos problemas envolvidos como o senhor. Por isso, eu creio que valeu à pena esperar esse tempo todo para termos essa CPI e passarmos a limpo o que acontece no futebol brasileiro. Eu lhe desejo muita sorte. É uma CPI histórica em função da importância que o futebol tem no Brasil. Muito obrigado por ter tomado essa iniciativa e pelo privilégio que eu tive de ficar como um dos 54 que subscreveram a sua CPI.

            O SR. ROMÁRIO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) - Senador, primeiramente quero dizer que sou um dos grandes fãs que V. Exª tem pelo Brasil.

            É uma honra para mim, realmente, poder liderar esta CPI. Todos sabem que eu venho tentando encontrar meios legais, desde a época de Deputado, ou seja, praticamente há quatro anos, mas, até este momento, infelizmente, sempre batendo nas portas, e as portas fechadas.

            Acredito que, com a possibilidade de abertura dessa CPI nesta Casa, possamos fazer realmente um trabalho sério, um trabalho corajoso, um trabalho honesto e que o resultado seja um só: que, definitivamente, o futebol brasileiro seja moralizado. É o que nós estamos esperando. Para dizer a verdade, dois resultados: e que todos aqueles que praticaram crimes durante estes anos todos e que se enriqueceram ilicitamente, todos aqueles paguem pelos seus crimes, principalmente sendo presos.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/05/2015 - Página 138