Discurso durante a 94ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a homenagear o Sr. Luiz Henrique da Silveira, Senador da República, falecido no dia 10 de maio último, nos termos do Requerimento nº 499/2015.

Autor
Paulo Bauer (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SC)
Nome completo: Paulo Roberto Bauer
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a homenagear o Sr. Luiz Henrique da Silveira, Senador da República, falecido no dia 10 de maio último, nos termos do Requerimento nº 499/2015.
Publicação
Publicação no DSF de 12/06/2015 - Página 14
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA, EX SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO, POLITICA, ANUNCIO, PROTOCOLO, MESA DIRETORA, SENADO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, ASSUNTO, NOMEAÇÃO, CAMPUS UNIVERSITARIO, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC), HOMENAGEM, EX GOVERNADOR.

            O SR. PAULO BAUER (Bloco Oposição/PSDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Excelentíssimo Sr. Presidente do Senado Federal, Senador Renan Calheiros; Excelentíssimo Sr. Vice-Presidente desta Casa, Senador Jorge Viana; Excelentíssimo Sr. Governador do Estado de Santa Catarina, Raimundo Colombo; Excelentíssima Srª Ministra de Estado do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; prezado amigo e Prefeito Municipal de Joinville, Sr. Udo Döhler; Srª ex-Ministra de Estado e Senadora Ideli Salvatti; Sr. ex-Senador e ex-Governador de Santa Catarina, Jorge Bornhausen; também o ex-Governador e ex-Senador de Santa Catarina, Casildo Maldaner; igualmente, quero cumprimentar aqui, muito carinhosa e especialmente, a Srª Ivete Appel da Silveira, esposa do ex-Senador e Governador Luiz Henrique, e, em seu nome, todos os familiares que aqui se fazem presentes.

            A Bancada do PSDB nesta Casa, integrada pelos Senadores Cássio Cunha Lima, Aécio Neves, José Serra, Tasso Jereissati, Aloysio Nunes, que aqui já se manifestou, Alvaro Dias, Ataídes Oliveira, Flexa Ribeiro, Dalirio Beber, Antonio Anastasia e Lúcia Vânia, me conferiu a honrosa incumbência de trazer, neste momento, a mensagem do nosso Partido e da nossa Bancada nesta Casa.

            Por isso, cumprimentando todas as autoridades que aqui já nominei e as demais que se fazem presentes, principalmente cumprimentando os amigos de Santa Catarina, que se deslocaram do nosso Estado para aqui participar desta sessão solene, bem como cumprimentando todos os ouvintes da Rádio Senado e telespectadores da TV Senado, com grande emoção ocupo esta tribuna, para trazer aqui uma mensagem e saudar a memória do meu conterrâneo e amigo, o Senador Luiz Henrique da Silveira.

            Antes de iniciar o meu singelo pronunciamento, eu gostaria de transmitir-lhes uma breve informação: mesmo ciente de que todas as homenagens a Luiz Henrique da Silveira serão sempre insuficientes, protocolei, na manhã de hoje, junto à Mesa do Senado Federal, projeto de lei para batizar o campus da Universidade Federal de Santa Catarina em Joinville com o nome de Governador Luiz Henrique da Silveira. (Palmas.)

            Acredito ser uma merecida e pertinente homenagem.

            Aqui mesmo, em Brasília, o campus da Universidade de Brasília leva o nome do ex-Senador Darcy Ribeiro, e nada mais justo, em Santa Catarina, atribuir a Luiz Henrique o nome e a homenagem, porque uma universidade é um centro de excelência, de saber, de aquisição de conhecimento, e nada mais representativo do que uma universidade para falar e ver o que queremos do nosso futuro. Luiz Henrique era um homem do presente, mas que sempre estava pensando no futuro.

            Por isso, creio, Presidente Renan Calheiros, que essa providência haverá de tramitar rapidamente nesta Casa e também haverá de merecer a aprovação na Câmara dos Deputados, porque foi Luiz Henrique, como governador do Estado, que autorizou e viabilizou os recursos necessários, e o Prefeito Udo Döhler foi um grande entusiasta dessa grande obra, ainda à época em que presidia a Associação Empresarial de Joinville, para a aquisição de um terreno de mais de 1 milhão de metros quadrados destinado à obra, que lá se encontra em andamento e que, certamente, esperamos esteja concluída em breve e, aí, leve o nome do nosso querido e saudoso amigo.

            Luiz Henrique da Silveira é, certamente, um dos grandes nomes, senão o principal, da história política contemporânea catarinense.

            Ao longo de 50 anos de vida pública, construiu um currículo invejável, ocupando praticamente todos os cargos que um homem público teria ao seu alcance e, o mais importante, o fez sem qualquer mácula, sempre zelando pela probidade e pela dignidade no exercício da função.

            A grande paixão de Luiz Henrique não era o poder, era a democracia, e foi justamente por se ressentir da falta dela que ingressou na vida pública.

            Em 1965, recém-formado advogado pela USC (Universidade Federal de Santa Catarina), onde já se destacara como líder estudantil, mudou-se para Joinville, para cerrar fileiras como um dos fundadores do Movimento Democrático Brasileiro, o velho e conhecido MDB, onde iniciou sua trajetória de oposição altiva e pacífica ao regime militar.

            Em 1971, foi eleito presidente do diretório municipal do seu partido, em Joinville. Dois anos depois, assumiu seu primeiro mandato eletivo, o de Deputado Estadual, dando início à magnífica trajetória de vitórias em sua carreira política.

            Em 1975, elegeu-se Deputado Federal e rumou para Brasília, onde nos encontramos hoje, postando-se ao lado de nomes como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, na longa luta pela redemocratização do País.

            Em 1977, sagrou-se Prefeito de Joinville e, vencendo aquela eleição, converteu-se em uma grande referência política, porque, naquela época, prefeitos de capital e governador de Estado ainda eram eleitos pela via indireta, e Joinville, como a maior cidade de Santa Catarina, elegia Luiz Henrique seu prefeito, fazendo a sua vitória ser um destaque de grande expressão na política catarinense.

            Luiz Henrique elegeu-se, novamente, Deputado Federal em 1983, e foi um valoroso soldado na reta final da batalha pela redemocratização. Foi dele um dos 480 votos do Colégio Eleitoral que deram a vitória a Tancredo Neves, em 1985, pondo um ponto final no regime do governo militar.

            Em 1987, elegeu-se Deputado Federal Constituinte e foi Líder do PMDB na Câmara dos Deputados, de onde se ausentou, temporariamente, para exercer o cargo de Ministro da Ciência e Tecnologia, no Executivo Federal.

            De volta ao Congresso, deixou sua marca em nossa Constituição Cidadã, como titular da Comissão de Redação da Assembleia Nacional Constituinte. Estava lá, ao lado de Ulysses Guimarães no dia da promulgação de nossa Carta Magna.

            Luiz Henrique exerceu as importantes funções de Primeiro-Secretário da Câmara e do Congresso, reelegendo-se Deputado Federal até completar o quarto mandato consecutivo, quando acumulou a prestigiosa função de Presidente Nacional do PMDB.

            Eu lembro, Dona Ivete, que, em 1991, depois de ter sido eleito Deputado Federal na eleição de 1990, eleição que eu disputei diretamente com Luiz Henrique, na nossa cidade de Joinville - portanto, adversários de campanha - eu cheguei à Câmara dos Deputados e procurava identificar onde seria o meu gabinete, quais seriam as tarefas que eu deveria desenvolver, no exercício do mandato. E naquele pequeno espaço que divide o Salão Verde do corredor que dá acesso aos gabinetes eu encontrei, próximo do horário do almoço, o meu adversário, o meu concorrente, Luiz Henrique da Silveira, também eleito pra cumprir o mandato de Deputado Federal. E ele me vendo, olhou e disse: "Tudo bem, Paulo? O que você está fazendo? Estou procurando entender isto aqui, identificar as atividades e as tarefas que vou desenvolver." E ele me disse: "Onde você vai almoçar?" Digo: "Ainda não sei." Ele disse: "Você vai almoçar na minha casa, onde a Ivete está nos esperando."

            Assim era Luiz Henrique: ele tratava os adversários com respeito, ele via dignidade nos adversários, ele compreendia a política como uma coisa democrática que precisava e devia ser colocada a serviço do povo e da população. Eu tenho grandes e boas lembranças desse grande político, desse grande homem público que nos deixou.

            Até aquele momento, ele recebeu novamente um chamado e voltou a Joinville para se candidatar a prefeito. É bom dizer, naquele momento em que ele voltou à prefeitura, era considerado e visto como o futuro Presidente da Câmara dos Deputados, porque, no seu Partido, já havia entendimentos e ações que endereçavam todas as forças e todos os apoios em seu benefício. Mas ele não quis: voltou à sua cidade para lá fazer um grande governo.

            E foi vitorioso em duas eleições consecutivas, em 1996 e 2000, liderando Joinville rumo a um crescimento socioeconômico nunca visto, e consolidando Joinville como uma das mais prósperas cidades do Brasil

            Entre as principais obras das suas administrações em Joinville estão a Ponte do Trabalhador, o Arquivo Histórico, o Museu de Arte de Joinville, o Centreventos Cau Hansen, a Escola Bolshoi e os terminais de ônibus de integração. Esse trabalho o credenciou para voos mais altos, e, em 2002, elegeu-se Governador de Santa Catarina e estabeleceu como meta levar o desenvolvimento a todas as regiões do Estado, no bem-sucedido projeto que batizou com o nome de descentralização.

            Em 2006, tornou-se o primeiro governador reeleito da história de Santa Catarina, em uma aliança política que fez jus à sua fama de político agregador e conciliador.

            Como já disse o Senador Dário Berger, seu Governo deixou como legado 16 centros de eventos por todo o Estado, o Hospital Regional de São Miguel D’oeste, serviços médicos de alta complexidade nas principais cidades do interior, construção, ampliação e reforma em todas as escolas estaduais, 200 obras em convênio com prefeituras e pavimentação de acesso a todos os Municípios catarinenses, obras que começou e quase concluiu, só não concluiu para deixar o Governador Colombo inaugurar algumas.

            Hoje, Santa Catarina, Srs. Senadores, é o único Estado do Brasil que tem todos os 295 Municípios com acesso asfaltado graças à inteligência e à determinação de um grande Governador que foi Luiz Henrique da Silveira.

            Luiz Henrique deu-me a honra de trabalhar sob seu comando ao me convidar para exercer o cargo de Secretário de Estado da Educação. Foi um aprendizado que levarei para toda a vida.

            Em 2010 formamos chapa para o Senado ao lado de Raimundo Colombo, que concorreu ao Governo. Agora, Governador Colombo, nós dois vamos preservar na memória os grandes momentos e as grandes ações que desenvolvemos naquela campanha. Inclusive um fato é curioso e me vem à lembrança: na campanha, tivemos a oportunidade de receber de um empresário, como doação de campanha, um pequeno avião, que servia para os deslocamentos durante a campanha eleitoral. Mas o avião, que havia permanecido estacionado no hangar por muito tempo, tão logo foi acionado começou a apresentar pequenos problemas, apesar da revisão cuidadosa que o empresário havia feito para que ele pudesse voar com segurança. Uma hora falhava o freio, outra hora falhava uma luz, outra hora falhava um botão, coisas simples, todas perfeitamente sanáveis.

            Luiz Henrique, com a sua brilhante criatividade e o seu gênio alegre, batizou o avião com um nome que ficou conhecido em todo o Estado. Eu e o Raimundo tivemos a oportunidade de vivenciar isso. Ele apelidou o avião de Beethoven. E ninguém entendeu por quê. E ele dizia: “A cada parada um conserto.” (Risos)

            Vencemos as eleições mesmo assim, com o Beethoven e com as paradas.

            Aqui estamos todos nós hoje homenageando um homem que tinha criatividade, que tinha espírito de alegria e, acima de tudo, grande responsabilidade.

            Pessoalmente, eu devo muito a Luiz Henrique. Valendo-se de seu favoritismo como candidato ao Senado, ele pedia votos em meu favor todo dia, para todos. Foi um exemplo de amizade e generosidade que jamais esquecerei.

            Em apenas quatro anos nesta Casa, muito pouco tempo perto do que ele ainda poderia contribuir e fazer, o Senador Luiz Henrique conseguiu deixar sua marca. O novo Código Florestal, base para o futuro desenvolvimento sustentável do nosso País, não existiria sem o trabalho dele.

            Luiz Henrique foi um Senador atuante, de excelente convívio parlamentar, querido e admirado por todos os membros desta Casa, tanto que se credenciou a concorrer, em fevereiro deste ano, à Presidência desta Casa. Obteve expressiva votação, mesmo sendo candidato independente. Como era da sua natureza, já se preparava para o futuro, como sempre fez. Ele não fazia nada sem ter um propósito, sem ter um objetivo, sem mirar e sem olhar para a frente. Por isso aceitou o resultado, mas, ao mesmo tempo, sabia ter plantado uma semente, porque ele acalentava o sonho de um dia poder estar no lugar que Renan Calheiros ocupa por decisão desta Casa.

            Essa capacidade de antevisão era uma das qualidades que eu mais admirava em Luiz Henrique. Em seu gabinete, aqui no Senado, ele conservava exposto um quadro que foi meu presente a ele no dia da nossa diplomação para o Senado, uma bela imagem que o meu fotógrafo de campanha captou dele, pelas costas, num local de pouca luz. E, naquela foto, ele aparecia com o seu habitual gesto político, apontando com o dedo para frente e para cima. Naquela foto, eu escrevi, de próprio punho, uma frase pela qual eu quero lembrar Luiz Henrique para sempre: “Um homem é grande pelos seus feitos, mas é maior pelos caminhos que indica”. E Luiz Henrique sempre indicava os caminhos.

            Luiz Henrique se foi, mas nos deixou a indicação do caminho que devemos continuar a seguir: a luta pelo fortalecimento da democracia, pelo bem-estar do povo, pelo desenvolvimento da Nação. Esse foi o sentido da iluminada vida do meu grande amigo.

            Que Deus o tenha, Luiz Henrique. Nunca o esqueceremos.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/06/2015 - Página 14