Discurso durante a 94ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a homenagear o Sr. Luiz Henrique da Silveira, Senador da República, falecido no dia 10 de maio último, nos termos do Requerimento nº 499/2015.

Autor
Randolfe Rodrigues (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AP)
Nome completo: Randolph Frederich Rodrigues Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a homenagear o Sr. Luiz Henrique da Silveira, Senador da República, falecido no dia 10 de maio último, nos termos do Requerimento nº 499/2015.
Publicação
Publicação no DSF de 12/06/2015 - Página 23
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA, EX SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO, POLITICA, COMENTARIO, HISTORIA, INSTALAÇÃO, MUNICIPIO, JOINVILLE (SC), ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), FILIAL, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, BALE, PAIS ESTRANGEIRO, RUSSIA, ENFASE, IMPORTANCIA, DESENVOLVIMENTO CULTURAL, DANÇA, INCLUSÃO SOCIAL, PAIS.

            O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Socialismo e Democracia/PSOL - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Jorge Viana, nosso Presidente desta sessão; Senador Renan Calheiros, que ainda há pouco a presidia; quero estender os cumprimentos ao Governador do Estado de Santa Catarina, Dr. Raimundo Colombo; ao ex-Governador do Estado de Santa Catarina e ex-Senador Jorge Bornhausen; ao Prefeito do Município de Joinville, Udo Döhler; à minha querida Ivete Silveira; aos familiares de Luiz Henrique; aos filhos de Luiz Henrique; e às Srªs e aos Srs. Senadores.

            Em russo, a palavra bolshoi significa grande. Fundada em 1776, o grande Teatro Bolshoi, em Moscou, se transformou no sinônimo mundial de arte, beleza e cultura. Nesse palco, onde funciona a mais tradicional escola de balé e ópera do Planeta, desfilaram grandes, também, como: Tchaikovsky, Rachmaninov, Prokofiev, só para falar em alguns dos gênios da mãe Rússia.

            O Teatro Bolshoi, hoje considerado pela Unesco Patrimônio Cultural da humanidade, possui cerca de mil funcionários e realiza 300 espetáculos ao ano. Espero ter acertado nos dados, meu querido Valdir, diretor do Bolshoi em Santa Catarina. O Teatro em Moscou conta com três brasileiros em seu corpo de balé: Swolkin e Bruna Gaglianone, Erick Mariana Gomes.

            Nem precisa dizer o que tudo isso tem a ver com Luiz Henrique.

            O Senador Cristovam, ainda há pouco, disse a relação da visão estratégica do companheiro Luiz Henrique em trazer o Teatro Bolshoi para o Brasil. Isso tem tudo a ver com Luiz Henrique.

            Os três brasileiros que integram o maior grupo de balé do mundo foram formados na única escola do teatro que existe fora de Moscou. É a escola que funciona na belíssima Joinville, Prefeito. Tem tudo a ver com a sensibilidade, a visão, a grandeza de um homem público do tamanho de Luiz Henrique.

            Ele era Prefeito de Joinville, em 1996, quando o Bolshoi Mosckowitz fez uma turnê pelo Brasil. Joinville tinha um tradicional festival de danças. Naquela época, os russos ficaram impressionados com a identificação do povo da cidade com a arte, especificamente com o balé. O Bolshoi tomou a iniciativa de plantar sua primeira escola fora da Rússia, exatamente naquela cidade tão receptiva e tão identificada.

            Em 2000, o sonho de Luiz Henrique se tornou realidade, com a abertura de uma escola de balé cujo principal objetivo era a inclusão social, selecionando crianças, jovens da periferia pobre das grandes cidades - inclusive, conta hoje com um amapaense - e jovens do Brasil todo. O Bolshoi de Joinville, de Santa Catarina, me permita o governador e o prefeito, do Acre também - não é, Senador Jorge Viana? -, não é somente o Bolshoi de Santa Catarina e de Joinville. É o Bolshoi de todo o Brasil. Obra de Luiz Henrique.

            Hoje, o Bolshoi de Joinville educa 305 alunos, com jovens recrutados em 20 Estados brasileiros, e em países irmãos, como Argentina, Colômbia, Paraguai e Holanda. Todos os alunos recebem 100% de bolsas de estudo.

            Eu costumo dizer que tudo que acontece na vida tem seu momento e seu destino. Eu decidi abordar aqui essa faceta pouco citada de Luiz Henrique, que tem que ser destacada porque mostra a cultura, a delicadeza de um homem que também era aguerrido e combativo.

            A sua atuação no MDB insere o companheiro Luiz Henrique numa plêiade. E para poucos é possível a expressão “plêiade”. Plêiade, no dicionário, tem duas denominações: reunião de grandes nobres ou reunião de poetas. Luiz Henrique era de uma plêiade de guerreiros, poetas pela democracia, que consolidaram a democracia no Brasil. Temos ainda poucos deles. Uma plêiade de poetas - como ele dizia aqui neste plenário, em todos os debates - do MDB, meu querido Casildo. Uma plêiade que, tal qual ele, inseria Marcos Freire, Teotônio Vilela, Ulysses Guimarães e Pedro Simon, que até há pouco ocupava o plenário desta Casa, e que, com eles, com Pedro Simon e com Luiz Henrique, me permitam assim definir, nós, os Senadores mais jovens, eu, em especial, tínhamos uma relação de carinho e de aprendizado.

            Não à toa - como eu disse, como tudo que acontece na vida tem seu momento e seu destino -, ao vir para cá, tive o prazer de ser apresentado para o Valdir, Presidente do Teatro Bolshoi no Brasil, e ele me relatava uma passagem de carinho de Luiz Henrique comigo, que toda vez ele expressava, destacando a esperança que ele tinha na juventude e na renovação da política. Aliás, foi essa esperança que o fez ser candidato à Presidência do Senado este ano e que, a ele, eu, Cristovam e tantos outros, aqui se alinharam.

            Todos lembramos e reconhecemos o político Luiz Henrique, mas o Luiz Henrique demonstrou com essa ação - como a do Teatro Bolshoi - que, além de político, era um homem generoso, culto e carinhoso. Era alguém - e Ivete pode falar melhor do que ninguém - que o carinho que ele passava para família ele transmitia para os companheiros e para quem com ele trabalhava.

            No seu discurso de fevereiro passado à Presidência do Senado, Luiz Henrique cutucou nossas consciências com a frase de um poeta gaúcho, Érico Veríssimo: “Quando os ventos da mudança sopram, algumas pessoas levantam barreiras, outras erguem moinhos de vento”.

            Luiz, o homem que nos legou o Bolshoi para sempre, é uma dessas pessoas grandiosas da espécie humana, que constroem moinhos, que derrubam as barreiras. Os moinhos de Luiz Henrique ficarão para sempre, girarão para sempre, na roda da história e naqueles que acreditam que a roda da história gira.

            Em uma sessão aqui de despedida, em um encontro de despedida, do Senador Pedro Simon, do Plenário da Casa, Luiz Henrique citou um trecho de uma das mais importantes poesias da música popular brasileira, de Sérgio Bittencourt, para dizer a falta que Simon faria aqui, no Plenário da Casa. Hoje, meu querido companheiro Luiz Henrique, eu que canto esse trecho para falar da saudade que nós sentimos com a tua ausência, e ao mesmo tempo do agradecimento que faço, em particular, por tudo que aprendi contigo:

Naquela mesa ele sentava sempre

E me dizia sempre o que é viver melhor

Naquela mesa ele contava histórias

Que hoje na memória eu as guardei de cor

Naquela mesa tá faltando ele

E a saudade dele tá batendo em mim (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/06/2015 - Página 23