Discurso durante a 95ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao ex-Senador Luiz Henrique da Silveira.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Homenagem ao ex-Senador Luiz Henrique da Silveira.
Publicação
Publicação no DSF de 12/06/2015 - Página 251
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA, EX SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO, POLITICA.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senadora Vanessa Grazziotin, vou fazer um apelo a V. Exª: que este meu pronunciamento conste também da sessão de homenagem ao nosso querido Senador Luiz Henrique.

            Senadora, neste momento, o plenário já está com as cadeiras vazias. Mas o importante para mim não são as cadeiras vazias ou não, é a homenagem que quero fazer aqui ao nosso inesquecível Senador Luiz Henrique.

            Srª Presidenta, a sessão de hoje marca a história dos grandes políticos que passaram por esta Casa.

            Começo dizendo: quando a política perde alguns de seus mais sagrados nomes, de seus faróis, de suas luzes, de seus mirantes, claro que o peito de todos nós, que vivemos neste universo, que respiramos este ar, dói, arde, queima, transborda como um vulcão que explode, que chora, que perde o rumo naquele momento.

            Ainda mais quando esses nomes não passaram despercebidos. Nomes que marcaram nossas vidas. Nomes de que temos orgulho de dizer: eram nossos amigos.

            Perdemos, sim, o Senador de Santa Catarina, o Senador do Brasil Luiz Henrique da Silveira, um alto quilate da política brasileira, exatamente no Dia das Mães.

            Quando eu recebi a noticia da viagem do amigo Luiz Henrique, eu estava no meu canto, aqui em Brasília, quieto, apegado a mim mesmo, a pensamentos; acarinhando, talvez, naquele momento, os meus olhos mal dormidos; construindo ideias, traçando rumos, sonhos, pois, sem isso, o que seria das nossas vidas? O que seria de nossos dias? Luiz Henrique era tudo isso. Era um homem que sonhava - sonhava com um País, com um mundo melhor para todos.

            Conheci Luiz Henrique durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte. Ele, competente como sempre, lutando por um Brasil Nação, por melhores dias para os brasileiros.

            Atuou na Constituinte na Comissão de Organização dos Poderes e Sistema de Governo, mas estava comigo também lá, na Comissão do Trabalho e Legislação Social. Ali, na Constituinte, senhores e senhoras, percebi que estava diante de um grande homem. Passei ali a admirá-lo mais ainda aqui no Senado. O político, o Senador, o brasileiro, o colega, o amigo, o pai, o esposo, o avô. Assim, assim era Luiz Henrique. Ele foi imprescindível.

            Quando aqui discutimos a renegociação da dívida dos Estados, foi o Relator, um trabalho belíssimo que as gerações futuras, não só de Santa Catarina, mas também do meu Estado do Rio Grande do Sul, ainda aplaudirão.

            O Senador Luiz Henrique era um extraordinário homem público, democrata e humanista. Um brasileiro apaixonado pelo que fazia. A sua marca e o seu atavismo eram notados por todos. Estavam lá nas pequenas coisas cotidianas aos acalorados embates e combates em defesa do povo brasileiro, aqui, no Congresso Nacional, no seu Estado, ou por onde ele andava.

            Luiz Henrique, um líder nato, que compreendia que a força do diálogo é a base da boa política. O Brasil, sem sombra da dúvida, até hoje, chora a sua morte. 

            Na noite do seu passamento, o céu de Brasília, olhei, olhei, olhei, estava diferente. O céu do Brasil estava mais iluminado porque uma grande estrela estava chegando ao céu, uma grande estrela. D. Ivete, à senhora, que está saindo agora, eu disse-lhe que falaria, não importava que e o plenário estivesse vazio, e repito: o céu se iluminou, quando ele ali chegou. Confesso mais que a sua volta é que me prende a emoção neste momento, D. Ivete.

            Chorei. Sim. Chorei, e não tenho vergonha de dizê-lo, de tristeza por um lado, mas também de alegria, porque a mim foi dado o direito de conhecer o homem, o político, o líder Luiz Henrique, ainda na Assembleia Nacional Constituinte.

            Confesso que me lembrei, então, de uma canção de que ele gostava muito e que faz parte de um CD que ele me deu de presente. Diz a letra do CD:

Vai tua vida, teu caminho é de paz e amor

A tua vida é uma linda canção de amor

Abre os teus braços e canta a última esperança

Esperança divina de amar em paz

(...)

Existiria verdade,

Verdade que ninguém vê

Se todos fossem no mundo iguais a você

            Senador Luiz Henrique da Silveira, tomara que todos no mundo fossem iguais a você.

            Srª Ivete, quero mais dizer, sei do seu momento de emoção, e talvez o meu em chamá-la, com essa liberdade, somente de Ivete. Uma geração vai, outra geração vem. Porém a terra para sempre permanece. E nasce o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar de onde nasceu. O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo seus círculos.

            Quero que esses ventos nos tragam outros homens e outras mulheres que defendam os ideais de Luiz Henrique.

            Os homens do sul amam uma cavalgada, seus pingos. Muitos estão nas pradarias do céu, nas invernadas, na boa tropeada.

            Estão nos galpões campeiros se aquecendo junto a um fogo de chão. Estão cantando, proseando, quem sabe, refletindo sobre o momento atual do Brasil. Quem sabe ele está lá, o Luiz Henrique, agora ao lado de Getúlio Vargas, de João Goulart, de Tancredo Neves, do seu grande amigo na Constituinte Ulysses Guimarães, de Leonel Brizola, de Florenciano Paixão, de Marcos Freire, de Mário Covas - Líder do PMDB na Constituinte -, de Cristina Tavares, de Ruth Cardoso, de Florestan Fernandes, de Plínio de Arruda Sampaio, de João Herrmann, de Paulo Brossard, de Rodolpho Tourinho - nosso Senador que faleceu recentemente.

            Eles estão lá, pode saber, em uma roda de chimarrão. Na roda de chimarrão estão um passando para o outro numa fraterna comunhão. São homens que já lapidaram a pedra bruta e, em vida, ofereceram as suas vidas para o bem do povo brasileiro.

            Assim foi e é a imagem de Luiz Henrique.

            A eternidade a esses homens pertence. Eles são sujeitos da história. Ninguém vai apagar essa história. Cada um do seu jeito. Sim, eu repito, vida longa aos ideais de Luiz Henrique da Silveira.

            Esses ideais estarão sempre nos permeando. Nós, que continuamos aqui, temos exemplos como o de Luiz Henrique. Agora depende de nós.

            Nós, brasileiros, temos direito à boa luta, ao bom combate, de seguir os passos largos dos nossos avós, de encontrar a teimosia, que Luiz Henrique tinha, de fazer o bem, fazer o bem sem olhar a quem, como se fôssemos rebeldes ainda e jovens meninos.

            Temos direito de receber o vento na cara, a lua e o sol, temos direito de pisar na areia e de abraçar o azul do mar, temos direito de cantar, dançar, acariciar, como ele gostava, eu sei, de cantar e dançar. Ele era um poeta, e eu o admirava. Assim era, eu creio, o personagem que entra para a história, mais do que nunca, chamado Senador Luiz Henrique.

            Temos direito de fazer planos na juventude e na velhice, podemos lembrar, e eu sei que ele jamais esqueceu, Dona Ivete, o primeiro beijo, a imensidão do amor que ele tinha pela senhora.

            Temos que acreditar na vida, nas pessoas, buscar a realização dos nossos sonhos. Eles são parte das nossas vidas, da nossa energia. Assim era e é a imagem de Luiz Henrique.

            Tristes aqueles que não sonham, que são pássaros cativos, que só olham o horizonte sem perceber que felizes são aqueles que buscam mudar a realidade, que sabem que a rosa dos ventos está ao alcance da mão.

            Assim, Dona Ivete, era Luiz Henrique.

            Luiz Henrique e os seus ideais, as suas causas, as suas palavras trazidas pelos ventos lá do nosso Sul estão agora a nortear as vidas de todo o povo brasileiro.

            Vida longa sim, vida longa aos ventos do Sul que nos mantêm próximos a ele, ao inesquecível Luiz Henrique da Silveira.

            Assim era ele, assim são as suas ideias, assim será para sempre, porque ele entra para a história.

            Viva, viva, eternamente, Luiz Henrique da Silveira.

            Muito obrigado a todos.

            Dona Ivete, eu fiquei, pode saber, muito acariciado por ver que a senhora voltou. Eu havia dito para a senhora: quando abrir a sessão, eu farei a minha homenagem ao meu querido amigo Luiz Henrique.

            Dona Ivete e filhos, retornem para o seu Estado com orgulho, o orgulho de que vocês fazem parte de uma história que todo brasileiro gostaria de fazer.

            A história que vocês construíram juntos, a história de Luiz Henrique é também a história de todos vocês.

            Uma salva de palmas à família. (Palmas.)

            Presidente, assim concluo esta minha fala.

            Sei que V. Exª quer iniciar a Ordem do Dia.

            Se V. Exª permitir, depois da Ordem do Dia, eu queria falar da importância da votação de ontem, liderada por V. Exª, do Estatuto da Pessoa com Deficiência.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/06/2015 - Página 251