Pronunciamento de Blairo Maggi em 09/06/2015
Discurso durante a 92ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Críticas ao excesso de burocracia no País e apoio à criação de grupo de trabalho para estudar e propor o aperfeiçoamento das leis que regem a Administração Pública brasileira.
- Autor
- Blairo Maggi (PR - Partido Liberal/MT)
- Nome completo: Blairo Borges Maggi
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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ADMINISTRAÇÃO PUBLICA:
- Críticas ao excesso de burocracia no País e apoio à criação de grupo de trabalho para estudar e propor o aperfeiçoamento das leis que regem a Administração Pública brasileira.
- Publicação
- Publicação no DSF de 10/06/2015 - Página 191
- Assunto
- Outros > ADMINISTRAÇÃO PUBLICA
- Indexação
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- REGISTRO, PROBLEMA, EXCESSO, BUROCRACIA, BRASIL, PERDA, CIDADÃO, CONFIANÇA, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, PREJUIZO, POSIÇÃO, PAIS, AVALIAÇÃO, BANCO MUNDIAL, COMENTARIO, PROPOSTA, ORADOR, CRIAÇÃO, GRUPO, ESTUDO, DIREÇÃO, MINISTRO, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ), OBJETIVO, DIALOGO, CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDUSTRIA (CNI), CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUARIA DO BRASIL (CNA), APERFEIÇOAMENTO, LEGISLAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, SERVIÇO PUBLICO, SUGESTÃO, PROJETO, DESBUROCRATIZAÇÃO.
O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Presidente Jorge Viana.
Srªs e Srs. Senadores, eu venho à tribuna, nesta tarde, para fazer um pronunciamento sobre um assunto que acho extremamente importante para o nosso País. Tenho alertado, por diversas vezes, que o Brasil está perdendo a guerra dos papéis. Tenho sido questionado sobre essa minha visão, diga-se de passagem, bastante realista do País e não poderia me furtar a propor mudanças, mudanças ousadas, mas necessárias, sem as quais jamais seremos um País forte e desenvolvido, cujo maior patrimônio deve ser o bem-estar do cidadão. Quando me refiro à guerra dos papéis, uso esse termo para chamar a atenção para um sério problema nacional: o excesso de burocracia.
O Brasil ainda não entendeu o novo conceito de Administração Pública, cuja sistemática deve ser clara e transparente, mas, acima de tudo, focada nos resultados e não nos processos. Estamos presos a um modelo completamente ultrapassado, em que impera a desconfiança total na relação administração e administrado, que precisa, urgentemente, ser substituída pela confiança relativa, como ocorre em países mais desenvolvidos. E o mais grave, colegas Senadores, é que a cultura da desconfiança tem se alastrado, encontrando guarida inclusive nas relações privadas.
Processos administrativos, governamentais ou empresariais... Além de exigir a presença do cidadão para reconhecer a sua própria assinatura, muitas vezes, um cartório ainda precisa ter a sua própria firma reconhecida por outro cartório, quando o documento a ser utilizado, vem de uma outra cidade. Mas o reconhecimento de firma ou de assinatura é apenas um dos absurdos engendrados pela burocracia brasileira, é apenas um ícone da babel burocrática do nosso País.
Vivemos numa estrutura arcaica na qual quem deseja empreender, produzir e realizar está submetido às exigências, por vezes absurdas, da burocracia estatal, e o que é pior, nas três esferas diferentes da Administração Pública: federal, estadual e municipal.
Como os burocratas do Estado não pensam na solução dos problemas do cidadão contribuinte, mas, sim, na sua própria segurança e comodidade, criou-se uma teia de aranha em que nos debatemos todos, na qual, quanto mais nos debatemos, mais nos enredamos nessa situação. É como um câncer com células defeituosas que se multiplicam, invadindo e destruindo tecidos adjacentes, corroendo a máquina estatal e tolhendo a capacidade de produzir e investir do cidadão e do povo.
A cada dia útil são editadas, no Brasil, 46 normas tributárias para as empresas e para os cidadãos. Por ano, portanto, são 12 mil novas leis sobre impostos e taxas, segundo estudo divulgado, em 2013, pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário. Esse absurdo precisa ser estancado.
Srªs e Srs. Senadores, o mais impressionante é como a burocracia se reinventa todos os dias. São normas contrapostas, exigências estatais que não se justificam, sem contar com a disputa de órgãos governamentais que se antagonizam e disputam uma reserva de atuação, sem compartilhar informações, mais preocupados com a Instituição do que com quem deveria servir.
As conseqüências do excesso de burocracia para o País são terríveis. Uma delas reflete a situação do Brasil, que ocupa a vergonhosa posição de número 120 no ranking do Banco Mundial que avalia o ambiente de negócios em nosso País. Estamos muito atrás de países como Peru, Colômbia ou México. Essa posição é incompatível com o tamanho de nossa economia. Ambiente desfavorável significa desestimulo à industrialização, à produção e ao crescimento econômico, desencorajando a criação de novos empregos, agravando o ciclo vicioso da recessão econômica que vivemos.
Ainda, segundo o Banco Mundial, estamos na posição de número 174 na obtenção de alvarás de construção e na posição de número 138 no registro de propriedades. Estudo publicado em 2014, encomendado pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias, pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção e pelo Movimento Brasil Competitivo, concluiu que, dos cinco anos que um imóvel financiado pelo FGTS pode levar para sair do papel, ou seja, do projeto até a entrega, dois anos são consumidos apenas pelos processos burocráticos, apenas para ilustrar o peso de uma maquina burocrática e ineficaz.
Somente isso já nos seria suficiente para demandar soluções urgentes, mas vale ressaltar outra questão fundamental: a satisfação do cidadão com os serviços prestados. De acordo com pesquisa CNI-Ibope de 2011, existe o consenso na população brasileira de que, dado o valor dos impostos, a qualidade do serviço público é insatisfatória. Massiva maioria acredita que a arrecadação seja suficiente para o setor público prover serviços de qualidade, mas nada é feito.
Pouca coisa mudou nessa percepção de 2011 pra cá, ou melhor, podemos interpretar os movimentos populares ocorridos recentemente como termômetro de uma sociedade ainda mais insatisfeita com o atendimento dos órgãos estatais.
Não raro, o cidadão fica perdido em meio a tantos regramentos, leis, decretos, portarias, normas internas e um tratamento completamente desumanizado, que ressalta o total descaso no atendimento à principal razão de ser da Administração Pública: o cidadão.
São tantas idas e vindas, trabalhos sobrepostos, que o peso desmedido da burocracia nos leva a dois caminhos: sobrecarga do Poder Judiciário, visto como última alternativa ao cidadão que quer resultado satisfatório a sua demanda, ou a corrupção, pois, infelizmente, tomou-se comum criar dificuldades para vender facilidades, o que implica em disseminação da corrupção e de todas as mazelas a ela associadas, profundamente deletérias a nossa sociedade brasileira.
A burocracia, característica da Administração Pública, tornou-se sinônimo de algo nefasto devido a seus excessos. O excessivo foco nos processos de controle, que deveria prevenir a corrupção - vejam só o antagonismo -, acaba por promovê-lo.
Isso nos dá uma pálida ideia do quadro terrível em que vivemos, Sr. Presidente.
Não foi por outra razão que enviei ao Presidente Renan um memorando no qual propus, a exemplo de outras iniciativas desta Casa, que S. Exª criasse um grupo de especialistas para estudar e propor o aperfeiçoamento das leis que regem a Administração Pública brasileira...
(Interrupção do som)
O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - ... e ainda sugerir outras medidas necessárias à desburocratização de nosso País.
O grupo deverá se debruçar sobre o arcabouço jurídico nacional, buscar uma padronização e avaliar o melhor caminho para eliminar os gargalos legais, visando melhorar a competitividade do País e os serviços prestados ao cidadão. O grupo deve propor uma simplificação da legislação brasileira.
Com base em discussões preliminares com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e outros segmentos, sugerimos, a princípio, as seguintes áreas para estudo: a eficiência do Estado; inovação e produtividade; as relações de trabalho; a infraestrutura; a tributação; a segurança jurídica; e a segurança pública.
E tomei a liberdade, Sr. Presidente, de propor os nomes do Ministro Mauro Campbell Marques, que é do Superior Tribunal de Justiça, para dirigir esse grupo, e do Sr. Eumar Roberto Novacki, para auxiliá-lo na coordenação dos trabalhos. Sugeri ainda que fossem convidados a dar contribuição o Prof. João Geraldo Piquet Carneiro, o Dr. Mauro Roberto Gomes de Mattos e o Prof. Otavio Luiz Rodrigues Junior. Solicito ainda, Sr. Presidente, que determine ao Advogado-Geral do Senado, Dr. Alberto Cascais, e ao Consultor-Geral, Dr. Paulo Mohn, desta Casa que proporcionem o suporte técnico necessário que esse grupo precisar.
Neste primeiro momento, pensamos, por óbvio, em privilegiar as medidas e ações que não importem elevar custo fiscal nem atrapalhar o esforço fiscal, dando ênfase às medidas destinadas a aperfeiçoar o arcabouço existente...
(Soa a campainha.)
O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - ... no sentido de simplificá-lo, tornando a aplicação da legislação mais clara e mais eficiente.
Espero, Sr. Presidente, contar com o imprescindível apoio de V. Exª e dos nossos pares desta Casa a essa iniciativa, para que possamos dar uma contribuição efetiva e propor soluções concretas para que o Brasil se torne um lugar atrativo aos investimentos. Que possamos viver e trabalhar sem ter que perder horas preciosas das nossas vidas em exigências burocráticas absurdas, sem sentido, sem valor prático. Que possamos verdadeiramente receber atendimento digno dos órgãos públicos.
O momento exige atitude...
(Interrupção do som.)
O SR. BLAIRO MAGGI (Bloco União e Força/PR - MT) - Para finalizar, Presidente. (Fora do microfone.)
O momento exige atitude, ousadia e perseverança. Temos que acreditar em um País melhor e fazer com que isso se torne realidade.
Muito obrigado, Sr. Presidente. Obrigado pelo tempo que me excedi aqui.