Pela Liderança durante a 113ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa do Governo Dilma Rousseff e discordância quanto ao cenário de crise econômica veiculado pelos meios de comunicação; e outro assunto.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Defesa do Governo Dilma Rousseff e discordância quanto ao cenário de crise econômica veiculado pelos meios de comunicação; e outro assunto.
AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO:
IMPRENSA:
Aparteantes
Aloysio Nunes Ferreira, Ataídes Oliveira, Valdir Raupp.
Publicação
Publicação no DSF de 07/07/2015 - Página 278
Assuntos
Outros > ECONOMIA
Outros > AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO
Outros > IMPRENSA
Indexação
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, POLITICA NACIONAL, DISCORDANCIA, DIVULGAÇÃO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, CRITICA, OPOSIÇÃO, ENFASE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), MOTIVO, CONTESTAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, AGROPECUARIA, CONTINUAÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ASSUNTO, APREENSÃO, GOLPE DE ESTADO, OBJETIVO, RETIRADA, MANDATO ELETIVO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - RS. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Obrigada. Seja muito bem-vinda, Simone!

            Obrigada, Senadora Ana Amélia, nossa Presidenta. Quero saudar aqui todos os Senadores e Senadoras, quem nos ouve pela Rádio Senado e nos assiste pela TV Senado.

            Eu estava ouvindo aqui, com atenção, os pronunciamentos que me antecederam, inclusive o de V. Exª, sobre o momento que nós vivemos. E quero me permitir, Senadora Ana Amélia, começar aqui com uma divergência em relação a uma colocação que V. Exª fez. Vou ter uma convergência e vou ter uma divergência, e vou começar pela divergência para depois ir para a convergência.

            V. Exª disse que nós vivemos um momento de crise econômica e de grande dificuldade, e que isso tem agora feito com que nós tenhamos uma elevação também da crise política. Eu concordo com a segunda parte, que nós estamos com uma elevação da crise política no País, mas não concordo que nós tenhamos um momento de crise econômica. Eu acho que nós estamos com uma dificuldade econômica forte no Brasil.

            É verdade que nós tivemos aumento das taxas de juros, que nós temos um aumento do desemprego, que nós temos uma pressão inflacionária, mas nem de perto chega ao que vivenciam países que realmente estão em crise, como os países europeus ou como a própria Grécia. Nós, mesmo com taxas e aumento de desemprego, estamos conseguindo segurar grande parte da empregabilidade brasileira e da renda dos trabalhadores. Mesmo com uma pressão inflacionária, estamos conseguindo resistir a essa pressão inflacionária; podemos ter um pico, mas vamos voltar, com certeza, a ter baixa inflação.

            O que eu quero dizer com isso? Que nós temos as condições de controle da economia brasileira e da macroeconomia. Nós temos reservas internacionais grandes, nós temos instituições sólidas e nós temos investimento estrangeiro crescente no Brasil. Apesar de muitos dizerem que o nosso País não é olhado pelo lado de fora, ele é olhado sim, existe muito interesse. Aliás, a visita que a Presidenta Dilma fez aos Estados Unidos demonstrou isso. Os próprios empresários e empreendedores quiseram conversar com ela porque têm interesse em fazer investimentos aqui.

            Hoje, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o Dr. Rubens Ometto, da Cosan, que afirma ser capitalista convicto - sei que é -, diz que acha que estamos no rumo certo, primeiro, do ajuste fiscal e, depois, dos investimentos que estão sendo direcionados no País. Também uma manchete do Valor Econômico, se não me engano do dia 22 de junho, falava do interesse de investidores estrangeiros no Brasil, que tem aumentado.

            Eu quero dizer com isso é que não podemos achar que tudo está ruim, que nós estamos em uma crise sem precedentes, que nós não vamos conseguir sair dela e que isso está originando uma crise política. Eu acho que nós estamos com dificuldades econômicas, sim, mas crise política nós já vivemos no passado. Era crise política de desestruturação inclusive das relações sociais, por falta de emprego, por falta de renda, por não haver programas sociais que ajudassem a maioria do povo pobre brasileiro.

            Eu gosto muito de assistir a um programa da Rede Globo que considero o mais sério deles, porque não é tendencioso, que é o Globo Rural. V. Exª deve assistir também. Quando eu consigo acordar mais cedo aos domingos, eu sempre ligo a TV para assistir. O meu avô era da roça, a minha família é da área de agricultura, então ele sempre gostava e acompanhava esses programas, inclusive mandava cartas, às vezes fazendo perguntas.

            Ontem, eu assisti ao Globo Rural. Preparei o meu chimarrão e fui assistir ao Globo Rural. Eu estava assistindo ao programa e pensei: “Mas será que eles estão falando do Brasil? Não é possível, eu ligo a televisão, assisto aos jornais e programas de comentários e é tudo uma catástrofe, não tem nada de bom. Nós estamos no fundo do poço, é uma crise total, um horror”.

            As pessoas falam mal e falam da crise, muitas vezes até sem viver uma situação de crise. Mas, ontem, o Globo Rural mostrava, por exemplo, a expansão na criação de frangos. E eu posso dizer isso porque sou de um Estado que cria muito frango. Nós aumentamos muito a exportação de frango. Eles estavam entrevistando os produtores. Muitos praticam a produção integrada, e o produtor entrevistado dizia: “Olha, melhorou muito. Estou produzindo mais, estou vendendo mais. Inclusive estão exigindo outros tipos de corte, porque estamos aumentando a nossa exportação”.

            Parou o frango, veio a produção de suínos. E eles contaram como está a demanda por carne suína fora do Brasil e como estão tendo que investir, tanto as empresas que compram dos suinocultores, como os próprios suinocultores, e que o preço está melhorando também, porque há demanda.

            E houve um corte para uma matéria que falava que os Estados Unidos abrem agora a compra da carne brasileira in natura. Isso quer dizer que vai aumentar muito. A Rússia tem também interesse em ampliar a compra da nossa carne. Então, eram só matérias positivas.

            Aí veio a produção de cevada, no meu Estado do Paraná, na região de Guarapuava, que está colhendo, e muito. Vieram as plantações de trigo, no meu Estado e também no Estado de V. Exª, o Rio Grande do Sul, que estão muito bonitas. Assim como a melhora na produtividade de soja. Mesmo com os problemas no plano internacional, com as commodities, a soja não está perdendo valor.

            Dizia-me um produtor de soja que o preço está bom: “Não estou perdendo dinheiro. Há quase o dobro do custo de produção”, Quase o dobro do custo de produção, vejam o que estamos falando. Estamos falando de um produto que é a base da exportação deste País.

            Depois vieram, no Globo Rural também, as abelhas, a ampliação de criação de abelhas que está havendo na área rural. Era uma reportagem sobre um apicultor de Minas. Na realidade, ele não retira o mel das abelhas, mas a própolis, aquela própolis preta, a própolis verde, como chamam, que é cara. Eu não me lembro se ele falou que um quilograma custava R$50 mil, algo assim. Ele disse: “Nós não retiramos o mel. O mel fica para que as abelhas possam consumi-lo. Nós retiramos a própolis. E nós estamos desenvolvendo, em parceria com laboratórios internacionais, remédios para a cura do câncer”. O Brasil está fazendo isso através da própolis.

            Aí fiquei pensando: “Será que tudo é uma tragédia? Será que temos de ser pessimistas em tudo? Será que sempre temos de reclamar?”. Não é possível. Há uma parte do Brasil que está dando certo, que está indo bem. E essa parte do Brasil, Senadora Ana Amélia, sustenta grande parte da economia do meu Estado. Se meu Estado tem comércio e serviços, se meu Estado tem prosperidade, deve isso à agricultura, à agricultura empresarial e à agricultura familiar.

            E quero aqui reconhecer o empreendedorismo dos nossos agricultores, a forma como trabalham, a seriedade, o desempenho. E é dura a vida de agricultor, principalmente do agricultor familiar. Minha família é de agricultores, eu sei que é assim. Mas sei também que houve uma parceria forte com o Governo.

            Os dois últimos Planos Safra que a Presidenta Dilma lançou, o Plano Safra para a agricultura empresarial e o Plano Safra da Agricultura Familiar juntos têm crédito de mais de R$218 bilhões, e grande parte desses créditos são créditos incentivados, ou seja, os juros são subsidiados.

            Na agricultura familiar, não passam de 5,5%. Aliás, não passam de 5%. Na agricultura empresarial, não passam de 7,5%, quando a Selic está a quase 14%. Nós temos crédito e investimento para maquinário. Isso, sim, mostra como dá certo o Brasil que está lutando junto, em que o Governo está se empenhando, assim como o produtor, o agricultor, que é empreendedor, e em que há pesquisa científica, e aí a Embrapa tem uma responsabilidade grande.

            Então, eu fiquei muito feliz de ver o Globo Rural desse domingo, porque mostra um Brasil de que poucos falam. Não há problema apontar os erros. Eu acho que é importante, até porque precisamos que os erros sejam apontados, para que possamos corrigi-los. O que não pode é achar que só há erros, que o Brasil está quebrado, que o Brasil é um país sem rumo, que é um país desgovernado. Nenhum país sem rumo, nenhum país desgovernado tem a balança comercial da agricultura como tem o Brasil. Nenhum país sem rumo, nenhum país desgovernado tem o resultado da agricultura brasileira, tem o resultado que nós vimos.

            Aliás, quero até sair um pouco da agricultura brasileira, ou vão dizer que estou puxando muito a sardinha para o meu lado, porque é uma área em que realmente eu tenho muita atuação, como V. Exª.

            Quero falar aqui também da Flip, a Feira Literária de Paraty. Eu estava também assistindo a outro programa televisivo, pois ontem estava muito frio na minha cidade, Curitiba, Senadora Ana Amélia. Eu tinha uma agenda, mas foi cancelada em razão do frio. Fiquei em casa, aproveitando o frio, e fui assistir a um pouco de TV, ver o que estava passando. Havia uma matéria sobre a Flip, que dizia que, embora menos pessoas tenham ido à Feira Literária, ela foi um sucesso, como no ano passado. Vendeu a mesma quantidade de livros que em 2014. Aliás, dizem que vendeu até mais.

            Perguntaram ao coordenador da Feira: “O senhor não acha que a crise brasileira atrapalhou a Feira?”. Havia um esforço, inclusive, para falar da crise. Ele respondeu: “Olha, eu não posso dizer, porque não senti a crise aqui. Nós vendemos muitos livros, fizemos muitos debates, tenho encomendas e, graças a Deus, nós nos saímos muito bem nesta Feira Literária”.

            Por que essas coisas também não são comentadas? Por que essas coisas não são faladas?

            Fico muito triste, Senadora Ana Amélia, quando fazemos um debate pela metade. Eu acho que nós temos que reconhecer que há dificuldades e problemas no Brasil, como sempre houve, e como um país em crescimento, um país continental como o nosso vai continuar tendo. Espero que sejam sempre problemas do mais alto nível, porque isso mostra que nós estamos evoluindo em termos de posicionamento no plano internacional.

            Aliás, o Presidente Barack Obama disse isto mesmo, que o Brasil não é uma potência regional, o Brasil é uma potência global. Nenhum país desgovernado, nenhum país descontrolado, nenhum país em crise profunda é uma potência global reconhecida pelo presidente de um dos países mais fortes, economicamente, de nosso Planeta.

            O que me deixa chateada, o que me deixa triste é exatamente o debate pela metade, quando se aponta o dedo para as mazelas e os problemas, sem ver a pujança do outro lado. Porque o Brasil que está crescendo, que está dando certo, que está dando resultados à nossa população e ao nosso povo é o Brasil que está nos ajudando a passar por este momento de crise. E nós vamos superá-la, como superamos todas as outras. Este País é muito grande, este País é muito forte, este País tem um povo muito trabalhador.

            Acho que estamos diante de um evidente momento de elevação da crise política. Quanto a isso, concordo em gênero, número e grau com V. Exª. E, muitas vezes, uma crise política incentivada por uma situação que não faz parte da realidade brasileira.

            Eu fiquei muito assustada com a convenção da oposição, do partido de oposição, no último final de semana. O PSDB fez um esforço muito grande para continuar na mesma toada da disputa eleitoral, de fazer um chamado à população brasileira a fim de contestar a legitimidade da Presidenta Dilma. Mas o PSDB sabia que havia um limite. O tempo todo, nos discursos que ouvimos nessa convenção, as expressões “desfecho institucional” e “apoio do povo” estavam juntas. Por quê? Porque esse partido sabe que, qualquer outro movimento que ele queira fazer, vai ser acusado de golpista.

            Nós não podemos fazer uma disputa eleitoral de terceiro turno. Não é possível isso. Não é possível que tenha crescido, no último final de semana, tanto o desejo da oposição e de alguns setores da política brasileira de querer fazer o impeachment e o afastamento da Presidenta Dilma. Qual é a razão para isso? Eu gostaria de saber, concretamente, qual é a razão, senão o puro interesse de fazer a discussão política.

            Nós tivemos uma eleição acirrada, sim, um processo eleitoral tenso, agressivo. A vitória foi estreita, mas foi por efetiva margem. Foi estreita, mas foi por efetiva margem. Desde então, cabe aos vencedores governar o País, e aos perdedores fazer a oposição. É legítima a crítica, é legítimo o debate. Aliás, é o que tenho ouvido nesta Casa, com bastante fervor, inclusive de nossos líderes oposicionistas. O que não é legítimo é o golpe. O golpe não é legítimo, dizer que tem de afastar uma Presidenta da República sem mostrar o motivo. Qual é o motivo?

            Qual é o motivo? O motivo são as denúncias da Lava Jato? Quais são as denúncias efetivas que maculam a campanha da Presidenta Dilma?

            Aliás, tentaram fazer isso. Vamos fazer um retrospecto das tentativas da oposição em relação ao questionamento da legalidade do processo eleitoral e pós-eleitoral no País.

            Em primeiro lugar, fizeram uma grande discussão e um grande questionamento sobre a qualidade do voto da Presidenta. Nós passamos um momento das eleições em que a oposição tentava discutir o voto de nordestinos e pobres à Presidenta, dizendo que esses votos não eram votos conscientes e, portanto, manipulados, e, portanto, não eram merecedores de respeito.

            Em segundo, uma tentativa preconceituosa de deslegitimar a instituição democrática fundamental do voto popular. Na última semana antes do pleito, ainda tentaram um golpe, que foi com a capa da revista Veja, dizendo que o Presidente Lula e a Presidenta Dilma estavam envolvidos na Operação Lava Jato. Depois, ficou provado que não estavam. A revista Veja mentiu. Mesmo assim, sabendo que era mentira, a população votou, na sua maioria, na continuidade desse projeto. Votou na Presidenta Dilma Rousseff para continuar governando o Brasil.

            Não contentes, logo depois da eleição, começou-se um movimento nas redes sociais, que, depois, foi prontamente repelido pelo Tribunal Superior Eleitoral, de recontagem dos votos. Começou-se a pôr em dúvida o processo eleitoral e a votação na urna eletrônica. Depois, queriam, de novo, impedir a diplomação da Presidenta, porque diziam que havia problemas em suas despesas de campanha, mas o TSE, logo em seguida, também aprovou suas contas.

            Agora, continuam com outros movimentos. Quando isso dá uma acalmada, prendem-se ao fato de um depoimento, a dita delação, de que ninguém tem o conteúdo, apenas a imprensa ou parte da imprensa e um setor da oposição, para dizer que a Presidenta foi eleita de modo não legítimo, porque o financiamento da sua campanha era ilegal.

            É interessante, porque o financiamento da sua campanha, inclusive dito por esse empresário e noticiado no jornal - portanto, estou me baseando no que foi noticiado no jornal, eu não tenho o relato dele à mão, ninguém tem -, ele mesmo disse que financiou várias campanhas. Financiou a campanha da Presidenta Dilma e financiou a campanha da oposição, do candidato Aécio Neves, aliás, com mais recursos que para a Presidenta Dilma. Aí, querem dizer que o dinheiro que financiou a Presidenta Dilma era um dinheiro comprometido. O dinheiro que financiou o candidato Aécio Neves não era um dinheiro comprometido.

            Em cima disso, quer se questionar a legitimidade do pleito. Não bastavam todas as iniciativas e todas as tentativas que a oposição fez desde antes da eleição, uma eleição dura, desrespeitosa, ainda se vem de novo querer fazer um terceiro turno...

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... e querer ganhar no tapetão uma oportunidade para governar o Brasil. Vamos esperar 2018, vamos disputar a eleição, vamos fazer o debate sobre o que o País realmente está precisando, sobre as necessidades que nós temos de retomar o crescimento - e vamos retomar -, mas não fazer isso.

            Um partido não pode se prestar a esse papel: querer que o Tribunal Superior Eleitoral casse a Presidenta por conta disso ou querer preparar, no Tribunal de Contas da União, uma situação de não aprovação de suas contas de Governo, para levá-la a um impeachment? Aliás, essa questão das pedaladas e de contas de Governo começou - e não é nem esse método que nós temos de contabilidade - no governo do Presidente Fernando Henrique. Aliás, foi dito isso, foi esclarecido isso.

            Eu acho que nós temos que parar. Não dá para este País viver numa situação como esta. Essa balbúrdia política de querer ganhar a qualquer custo, de querer tirar a Presidenta Dilma da Presidência da República não serve ao desenvolvimento...

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... do País, não serve à sua estabilidade, não serve ao fortalecimento das suas instituições. Nós estamos num País democrático. Dispute-se a eleição, ganhe-se na eleição. Se é isso que se tem certeza de que o País quer, faça-se isso, mas não o golpe; o golpe nós não podemos aceitar; o golpe não serve à nossa democracia; o golpe não serve ao fortalecimento do nosso processo.

            E eu quero, para terminar, Srª Presidenta e Srs. Senadores, dizer que há instituições que funcionam neste País de forma independente e sem interferência do Governo. Há uma Polícia Federal que, na sua própria concepção, não atende a ninguém, sendo livre, portanto, para investigar quem quer que seja - e está fazendo isso. E eu desafio alguém neste plenário, neste Senado, neste Parlamento, a dizer o contrário.

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Há um Ministério Público independente. Há instituições que estão fazendo todas as averiguações necessárias quando há uma denúncia. Neste Governo, ninguém engaveta nada, ninguém coloca nada para debaixo do tapete; as coisas são apuradas.

            Assim, para quem, por que e atendendo a quais interesses se deflagra uma campanha sem qualquer razoabilidade, sem qualquer fato concreto para que uma Presidenta que foi eleita pela maioria absoluta dos brasileiros há menos de oito meses seja removida de sua missão? É porque sua aprovação está baixa? É isso? Onde está na Constituição Federal o dispositivo que determina a retirada de um mandatário por conta de sua popularidade?

            Precisamos de mais cautela e responsabilidade neste momento. O País avançou muito desde a redemocratização, com o sofrimento de muita gente.

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - E temos que continuar avançando. Por isso, as suas instituições merecem respeito, assim como o seu processo democrático.

            Eu dou um aparte ao Senador Aloysio.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP. Com revisão do aparteante.) - Senadora Gleisi Hoffmann, penso que a senhora está falando em nome da Liderança. Eu estava aqui angustiado para apartear V. Exª, mas quero, assim que a senhora terminar, subir à tribuna, porque há tantas coisas que a senhora está dizendo que merecem uma...

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Apoio Governo/PP - RS) - Senador Aloysio.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Pois não.

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Apoio Governo/PP - RS) - Senador Aloysio, sempre que presido a sessão, em uma sessão como esta, eu acho que Regimento Interno fica menor, quando o tema tem esta importância e esta relevância. Então, V. Exª esteja à vontade para fazer o aparte à Senadora Gleisi Hoffmann, se ela aceitar o seu aparte...

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - É tanta coisa, a começar por própolis, passando pela mandioca, que eu acho melhor eu ir à tribuna e dar o aparte à Senadora Gleisi Hoffmann, porque o que eu tenho é um rosário para desfiar.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Eu vou ficar interessada em saber o que V. Exª vai falar de própolis, assim como da mandioca. Aliás, eu quero dizer que o Paraná...

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - A mandioca a Presidente já exaltou suficientemente - eu não tenho mais nada a acrescentar.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Que bom. Os produtores de mandioca do Paraná, que é o maior Estado produtor de mandioca deste País, vão fazer um agradecimento a V. Exª. Aliás, é uma cultura que emprega muita gente, que traz desenvolvimento para uma região do meu Estado e que dá condições econômicas para as pessoas sobreviveram. Eu não vejo demérito nenhum na mandioca.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Eu também não. Ela emprega muitos homens e mulheres sapiens.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Eu gostaria, Senador Aloysio, depois, que o senhor pudesse falar e pudesse falar com respeito, porque eu acho que o debate neste Senado... Era uma Casa de respeito...

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Faltando com respeito à oposição. O que a senhora está falando é uma barbaridade; simplesmente uma barbaridade. A senhora está faltando com respeito às instituições deste País. Quando a senhora fala de uma ação, que parte do pressuposto de que o Tribunal Superior Eleitoral pode e deve analisar qualquer demanda que seja legítima, quando a senhora equipara isso a um golpe, a senhora está insultando uma instituição que é o Poder Judiciário. Se fosse um golpe, o Tribunal Superior Eleitoral teria considerado inepta a petição na qual o Partido da Social Democracia Brasileira pede a decretação da impugnação do mandato eletivo por abuso de poder econômico. O Tribunal Superior Eleitoral, que é integrado, entre outras pessoas, por três Ministros do Supremo Tribunal Federal, considerou que aquela petição tinha cabimento e que merecia seguir o seu curso - e é um processo que está em instrução. Quanto ao Tribunal de Contas da União, que identificou, claramente, no parecer de um dos seus ministros, o Ministro José Múcio, a prática de crime contra a responsabilidade fiscal, as chamadas pedaladas fiscais, o Tribunal de Contas da União não foi acionado pela oposição; ele está agindo dentro das suas competências constitucionais. E o Tribunal de Contas da União abriu agora, depois de um parecer devastador do ministro encarregado de relatar as contas de 2014, um prazo, numa atitude inédita e correta, para que a Presidente Dilma se defendesse. Então, não há golpe nenhum, Srª Senadora! Como é que a senhora nos acusa de golpistas? Como é possível a senhora dizer uma coisa dessas, uma barbaridade dessas? Isso é um insulto a um Partido político brasileiro, o Partido da Social Democracia Brasileira, cujas credenciais democráticas não podem ser contestadas pelo Partido dos Trabalhadores. Então, estou aqui impaciente, fervendo, por causa disso. Eu penso que a senhora está abusando do direito de nos atacar, porque a senhora está partindo realmente para um tipo de discurso que extrapola qualquer parâmetro de realidade e que é insultuoso. Por isso, estou aqui muito, muito impaciente por ir à tribuna também. Quanto à própolis, à mandioca, aos frangos, tudo isso é muito positivo, não há dúvida nenhuma, mas, se a senhora for com esse discurso da mandioca, da própolis e do frango para a população brasileira, a senhora não vai ouvir um elogio a algo que merece ser efetivamente elogiado, que é a pujança da nossa agricultura, da agricultura brasileira, a qual, aliás, alguns setores do seu Partido e de movimentos sociais ligados ao seu Partido elegeram como inimigo jurado. O MST, grande amigo do seu Partido - eu diria até que, em muitos casos, correia de transmissão do seu Partido -, faz do grande negócio agrícola brasileiro o seu inimigo jurado. Quanto à agricultura, é incontestável que ela é pujante, apesar dos pesares, apesar de a infraestrutura brasileira estar em frangalhos, apesar de todas as iniciativas do seu Governo para dinamizar essa estrutura tenham redundado em fracasso. Estou me referindo a outras coisas. Eu estou me referindo ao fato de que a participação da indústria brasileira hoje no Produto Interno Bruto, Senadora Gleisi Hoffmann, está no mesmo nível que atingiu em 1946, há 69 anos. É um processo dramático e criminoso de desmantelamento da indústria nacional, que talvez seja, de todas as heranças que os governos petistas vão deixar, a mais trágica, a mais perversa, a mais nefasta. Então, isso não cabe num aparte. Eu apenas estava impaciente, porque, num determinado momento, a senhora invadiu o caminho do insulto. Eu me senti insultado por V. Exª quando fui chamado de golpista. Eu não tenho, na minha vida política passada e atual, por que ser acoimado de inimigo da democracia ou das instituições.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Senador Aloysio, com todo o respeito que tenho por V. Exª - e sabe que tenho muito respeito -, eu não o chamei de golpista.

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - V. Exª vestiu a carapuça e V. Exª se sentiu muito agredido.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Eu sou um Senador da oposição. A senhora chamou a oposição de golpista.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Eu falei...

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Sim, senhora.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... que o PSDB, que a oposição estava, sim, com atitudes golpistas.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Pois é. A senhora me chamou...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Eu estou contestando a senhora. Estou dizendo que o PSDB age no limite estrito da institucionalidade, que o Tribunal Superior Eleitoral foi feito para isto: para analisar a lisura das contas de todos os candidatos...

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Então, vamos por partes...

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - De candidato a vereador, a prefeito, a Deputado Estadual, a Deputado Federal, a Senador, a Governador e a Presidente da República. E muitos prefeitos deste País já foram cassados por terem cometido abusos de poder político e econômico, que, perto desses que foram cometidos, na nossa visão, pela Presidente Dilma, são pecados veniais. E muitos já foram cassados. Quanto ao Tribunal de Contas, ele não foi provocado por nós. Ele está agindo dentro das suas competências institucionais, que é analisar a cada ano as contas do Presidente da República.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Eu não me referi aqui, Senador Aloysio, nem ao TSE nem ao Tribunal de Contas da União como golpistas. São instituições que respeitamos. Aliás, o TSE, já por duas vezes, deu causa à Presidenta Dilma, deu razão à Presidenta Dilma na questão das suas contas e também no pedido de recontagem de voto que V. Exªs fizeram, que o TSE não deferiu. Então, eu acho que é importante, Senador...

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Senadora, desculpe. Há uma inverdade.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Eu tenho que terminar o meu pronunciamento.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Não, não, não, mas não é verdade.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - E aí o senhor sobe aqui para fazer o seu pronunciamento.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Nós não pedimos recontagem coisa nenhuma. O que nós pedimos é algo que está em curso, que é uma auditoria sobre o sistema de contagem de voto eletrônico, que é algo que foi objeto de muitas controvérsias e ainda é, tanto que há projetos que preveem - se não estou enganado, da Senadora Ana Amélia - uma mudança nas máquinas eletrônicas para que haja impressão do voto. O que nós pedimos foi uma auditoria nesse sistema para eliminar qualquer tipo de dúvida quanto à sua lisura e, eventualmente, para acrescentar mudanças que possam dar maior segurança. Isso está em curso, não foi indeferido coisa alguma.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - É da democracia, não é? Sempre quando se faz uma disputa acirrada e se perde, parte-se também para um requerimento como esse, de recontagem. Eu só quero dizer que eu não estou...

(Intervenção fora do microfone.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) -É legítimo e democrático. Por isso, eu não estou chamando nem o TSE nem o TCU de golpistas. Eu estou falando que a oposição, sim, tem atitudes e ações golpistas, que os discursos que vocês fizeram neste final de semana na convenção do seu Partido foram discursos que chegaram não ao limite da legalidade, mas ao limite do golpe, cuidando para não parecer isso às pessoas. Senão, por que falar sempre, em todas as falas, recorrentemente, “desfecho institucional, com o apoio do povo”...

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Claro.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - ... como querendo chamar o povo, chamar as instituições para fazer um desfecho desses?

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Nós não chamamos as instituições, Senadora. As instituições funcionam por conta própria.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - É legítimo disputar. Agora, um terceiro turno não cabe, Senador Aloysio. Um terceiro turno não cabe, Senador Aloysio.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Não, claro que não.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Não cabe.

            E aí quero dizer a V. Exª e a quem nos ouve que realmente é impossível discutir questões que são positivas neste País quando a enxurrada de notícias é negativa. Ela é tendenciosa, ela é estimulada, e sentimos que ela é voltada para os aspectos que têm problemas. É difícil isso.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Eu acabo de reconhecer que a notícia sobre própolis é positiva, sobre o frango é positiva. Eu estou reclamando da indústria.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Eu sei que V. Exª está reconhecendo que é positivo isso. E é bom reconhecer, porque é positivo mesmo. Senão, nós estaríamos desconhecendo um setor importante deste País...

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Não! Eu sou produtor agrícola. Inclusive na minha produção, que eu produzo látex, estou sentindo o drama acarretado para esse setor pela desindustrialização no Brasil. O látex, como a senhora sabe, é...

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Borracha.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - ... matéria-prima industrial para produzir borracha. E, dado o colapso...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - ... matéria-prima industrial para produzir borracha. E, dado o colapso da indústria brasileira, o quilo do látex, que eu vendia, há dois anos, por R$4, está sendo vendido por a R$1,90. Veja V. Exª.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Pois é. Mas não são todos os setores da indústria, não é, Senador Aloysio? Há vários setores da indústria que estão, sim, em situação de recuperação, que estão, sim, em situação de crescimento. E eu acho que nós precisamos ver isso também. E não é a primeira vez que a indústria brasileira tem problemas. No governo de V. Exªs, houve muitos problemas com a indústria - muitos problemas com a indústria! Houve aquela sobrevalorização do câmbio, aquela vez que vocês também, antes da reeleição do Presidente Fernando Henrique, disseram que não iam mexer na moeda, que também mentiram. Também houve um problema grave para a nossa indústria. Então, eu acho que nós temos que ter uma discussão aqui de bom nível, uma discussão sobre economia, sobre política, para melhorar as coisas do País, não apostando no quanto pior melhor, não querendo ganhar as coisas através de golpe.

            Concedo um aparte ao nosso Senador Presidente do PMDB.

            O Sr. Valdir Raupp (Bloco Maioria/PMDB - RO) - Nobre Senadora Gleisi Hoffmann, modéstia à parte, eu, como bom mediador, vou mediar este debate aqui entre V. Exª e o Senador Aloysio Nunes Ferreira. Nobre Presidente, Senadora Ana Amélia, a nossa torcida, a do PMDB, é para que o País volte a crescer. Não temos outro caminho, não temos outro objetivo, a não ser retomar o crescimento. Ainda bem que o desemprego está forte, mas ainda não chegou a níveis como os que tínhamos no passado. Hoje, se não me falha a memória, está em torno de 7%. Já ouvi economista dizer que um nível ótimo de desemprego é em torno de 10%. E há países com 26% ou com 30% de desemprego. O Brasil ainda é a sétima economia do mundo. É por isso que acredito no Brasil. Agora, o que não concordo, Senadora Gleisi Hoffmann, é que um ex-Presidente... Ele não é mais Presidente do TCU. Augusto Nardes ainda é o Presidente?

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Não.

            O Sr. Valdir Raupp (Bloco Maioria/PMDB - RO) - É ex-Presidente.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - É ex-Presidente.

            O Sr. Valdir Raupp (Bloco Maioria/PMDB - RO) - É o Relator, exatamente. É o ex-Presidente, o Relator. Não concordo que ele vá para as redes de televisão criticar o Governo e apresentar relatórios. Assisti a uma entrevista longuíssima dele na GloboNews. Foi entrevistado pelo jornalista do Jornal Nacional William Waack, não é?

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - William Waack.

            O Sr. Valdir Raupp (Bloco Maioria/PMDB - RO) - Ele estava criticando o Governo, descendo o pau no Governo, fazendo até comparações, dizendo que daria para fazer isso, mais isso, mais isso e aquilo outro. Até derrubei o copo de água. Crise de água não vai haver. Mas acho que um ex-Presidente do TCU, Ministro do TCU, não pode, de maneira nenhuma, ocupar as redes de televisão para criticar o Governo, para apresentar relatórios e para fazer comparativos. Acho que o dever dele é fazer seu relatório, sim - ele está em seu papel -, e apresentá-lo ao Congresso Nacional. Agora, jamais pode ir para a televisão. Então, essa onda de críticas ao Governo e de querer derrubar o Governo realmente existe. De ontem para hoje, não deu outra coisa, a não ser isso. Houve até conjecturas do que aconteceria se Dilma caísse, do que aconteceria se Dilma fosse cassada, do que aconteceria, se o Temer assumiria ou não assumiria, se haveria ou não nova eleição, se o Congresso vai dar o impeachment, se ela vai ser afastada pelo TSE. Então, de ontem para hoje, o que se fala nas redes de comunicação é isso aí. Então, realmente, existe essa onda, e não vejo qual é o fato. Cadê o fato? Cadê o fato consumado para afastar a Presidente da República e o Vice-Presidente da República? Quer dizer, não há. Na hora em que houver o fato, se este tiver embasamento, é claro que os partidos de oposição vão pedir isso. Até o momento, o que se está fazendo é uma campanha - aí sim, com todo o respeito, Senador, não estou citando aqui o PSDB - até de setores da imprensa e de partidos, uma campanha deliberada para derrubar a Presidente. Disso não tenho dúvida. Inclusive, vem de setores do Tribunal de Contas da União. Fiquei completamente indignado, porque não é papel de um ex-Presidente do TCU e de um Ministro do TCU relatar as contas do Governo numa rede de televisão como a Rede Globo e criticar o Governo! Ele fez isso com dureza, com firmeza, e não é esse o seu papel.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Agradeço o aparte, Senador. V. Exª tem toda a razão. Aliás, o Tribunal de Contas da União é o órgão auxiliar do Poder Legislativo, desta Casa, do Congresso Nacional, e não tem autoridade política de fazer avaliações. Tem de fazer avaliações técnicas.

            Concedo um aparte ao Senador Ataídes.

            O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Muito obrigado, Senadora Gleisi. Meu querido amigo Senador Raupp, conheço um pouco o Regimento Interno do Tribunal de Contas da União e não vejo nada que coíba um Ministro do TCU ir à imprensa e delatar alguma coisa. No Regimento Interno, isso não existe. Então, temos de entrar com um projeto aqui proibindo que eles vão à imprensa. Senadora Gleisi, aqui, somos companheiros e colegas deste Parlamento e, com o passar do tempo, vamos admirando uns aos outros. Hoje, tenho admiração por V. Exª, como tenho admiração por todos os nossos Colegas. Mas, diante do quadro em que se encontra hoje o País economicamente, moralmente, eticamente e politicamente, acho uma coragem extraordinária dos senhores governistas e das senhoras governistas irem até a tribuna e dizerem ao povo brasileiro que o País está maravilhosamente bem, sendo que 80 milhões de brasileiros, hoje, no mínimo, pensam diferente de V. Exªs. A última pesquisa deu à Presidente Dilma uma aprovação de 9%. Como disse o grande estadista Fernando Henrique Cardoso ontem, perder popularidade é uma coisa, mas outra coisa é perder credibilidade. Neste País, uma pessoa física, uma pessoa jurídica ou a Nação jamais podem perder a credibilidade, a confiabilidade. O País perdeu isso, Senadora Gleisi Hoffmann. V. Exª falou que a oposição quer dar um golpe. Vi o Senador Aloysio inquieto diante de sua fala. Não! O PSDB não quer dar golpe! O PT deu um grande golpe no povo brasileiro. É diferente! O golpe foi dado pelo PT. Admiro V. Exª, com todo esse seu conhecimento, com essa desenvoltura, com esse conhecimento político, ainda defender...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) -...veementemente este Governo do PT, este governo que chamo de cadáver com data para ser sepultado. Você quer ver um golpe enorme que este Governo deu ao País? Com o seguro-defeso, foram gastos, em 2013, R$598 milhões e, em 2014, R$2,117 bilhões, Senador Aloysio. Ou seja, será que foi o Ministro da Pesca que estipulou que seriam gastos R$2 bilhões? Ou foi o marqueteiro da Presidente Dilma que estipulou que fosse dado seguro-defeso para todo mundo?

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP. Fora do microfone.) - É voto!

            O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - É voto, é compra de voto! Isso é crime. Com seguro-desemprego, foram gastos, em 2013, R$22 bilhões e, em 2014, R$32 bilhões! Com o Pronatec, com essa história de oito milhões de matrículas, foram gastos R$15,4 bilhões. Com o Fies, em 2013, gastaram pouco mais de R$6 bilhões, mas, em 2014, a Presidente Dilma falou: “Agora, vocês gastem o quanto quiserem!” Gastaram R$13,7 bilhões! Isso é compra de voto. E há mais: não é o cabo eleitoral, não! Nas minhas contas, só nessas compras de voto do seguro-defeso, do Fies, do Pronatec e do seguro-desemprego, houve um prejuízo à Nação de mais de R$70 bilhões. Isso, sim, é golpe! Isso, sim, é golpe! E isso está provado! Prova disso é que agora foram tirados todos esses direitos. Agora, não são mais gastos R$13 bilhões com o Fies; agora, só podemos gastar tantos milhões ou bilhões com o Fies. Então, fico indignado! V. Exª falou uma coisa que me chamou muito a atenção, disse que “nós também, do PSDB, mentimos”. Ou seja, V. Exª está dizendo que a Presidente Dilma mentiu, quando diz que “o PSDB também mentiu no seu Governo”. Então, vocês também mentiram! Na verdade, não há mentira. Fernando Henrique Cardoso deixou um legado extraordinário ao povo deste País! Lamentavelmente, o PT, com sua incompetência, com sua irresponsabilidade, não soube aproveitar o que esse grande estadista deixou em 31 de dezembro de 2002. Era o que eu queria colocar, sempre com meus respeitos a V. Exª, Senadora Gleisi.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Com certeza! Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Ataídes.

            Peço à Senadora Ana Amélia para terminar meu pronunciamento, para falar algumas coisas em razão daquilo que os Senadores que me apartearam falaram.

            Primeiro, quando falei que também mentem, falei que, além do golpe, também há mentira, também mentem. Ou seja, estão querendo dar um golpe ou estimular um. O Senador Raupp foi muito feliz quando fez essa análise. Querem criar um clima no País para dar condições institucionais para afastar a Presidente da República. É isto o que se quer, criar um clima no País, um clima de que tudo está ruim, um clima de que há desgoverno, um clima de que as coisas não funcionam, um clima de que a Presidenta não tem mais credibilidade, de que o País não tem mais Governo e de que, portanto, a saída seria a cassação da Presidenta e do seu Vice ou o impeachment da Presidenta, com a colocação do seu Vice. Aliás, o que o Senador Raupp falou foi isto: já estão discutindo as formas, o que se fazer depois do afastamento da Presidente, dependendo do tipo de afastamento.

(Soa a campainha.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Só posso chamar isso de golpe. Para mim, não há outra forma de avaliar. Desculpem-me! Sinto muito se isso ofende V. Exªs, se ofende o PSDB, mas o que ouvi na convenção do PSDB foi exatamente isso.

            Não estou aqui dizendo que o País está uma beleza. V. Exª nunca me viu subir a esta tribuna para dizer que o País está uma beleza. Subo a esta tribuna para dizer que o País não é a feiúra que V. Exªs pintam.

            O País tem problemas. Eu já disse várias vezes que temos de desafiá-los. Estamos fazendo um ajuste fiscal, estamos fazendo contenção, fizemos medidas, sim, para reajustar várias situações, inclusive no seguro-defeso, do qual quero falar um pouco aqui. Agora, dizer que está uma catástrofe geral? Isso não! Não posso concordar com isso, porque não está!

            Vim aqui mostrar alguns setores do País que estão indo muito bem. Falei da agricultura, falei da Feira do Livro, de setores da indústria. Então, como a gente pode achar que tudo está errado?

(Interrupção do som.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Já estou terminando, Sr. Presidente.

            Dizem que tudo está ruim e que nada pode ser melhorado. Nós estamos fazendo um ajuste fiscal que já está melhorando a credibilidade do País no exterior, sim. Não sou eu que estou falando isso, mas o Valor Econômico do dia 22 de junho:

Quase seis meses depois do início das mudanças na política econômica no segundo mandato de Dilma Rousseff, observadores estrangeiros começam a deixar de lado a imagem de que a economia brasileira está com problema. Apesar de o nível de confiança dentro do Brasil ainda não ter se alterado de forma significativa e de os índices divulgados neste ano serem preocupantes, acadêmicos e analistas de mercado dizem que o mundo já começou a ver com [bem] menos pessimismo o cenário para o futuro do País.

            Não sou eu que estou falando isso. É o jornal Valor Econômico que está falando isso.

            Assim também, agora, no dia 1º de julho, veio da Reuters também uma notícia: “Brasil tem melhor superávit comercial para junho em seis anos. A balança comercial brasileira teve superávit de US$4,527 bilhões em junho, acumulando no ano um saldo positivo de US$2,222 bilhões [...]”.

            O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - A senhora sabe qual é o nosso rombo da balança comercial, Senadora Gleisi? A senhora poderia contar qual é o valor em dólares do rombo da nossa balança comercial desde 1947? A senhora sabe o valor?

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - O senhor pode nos dizer.

            O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Vou dizer: US$104 bilhões.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Desde quando? Desde 1947?

            O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Desde 1947. Esse é o maior rombo da balança comercial desde 1947.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Pensei que o senhor estava dizendo rombo histórico. Quero só dizer ao senhor que tivemos, sim, problemas com a balança. Não estou negando isso. Só estou dizendo que ela está se recuperando. É isso que estou dizendo. V. Exas não podem vir aqui dizer que tudo está uma catástrofe, que não vamos recuperar. Não é a realidade dos fatos, por favor! Não pode ser a teoria do “quanto pior, melhor”.

            O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Nós não estamos torcendo por isso, Senadora. Não!

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Já vou aqui caminhar para o encerramento do meu pronunciamento.

            Acho que existe um clima, sim, no País. Querem criar um clima no País para desestabilizar o Governo da Presidenta Dilma, querem criar um clima em cima da medição de sua popularidade, que nada tem a ver com questões constitucionais e com retirada de mandato, para tentar desestabilizar e tentar forçar situações institucionais para afastar a Presidenta. Não posso fazer outra avaliação sobre essa situação a não ser a avaliação de que isso é um golpe. É a minha opinião, é o que acho.

            Nós estamos em uma democracia. Ela ganhou a eleição, que foi apertada, é verdade - foi uma eleição difícil, é verdade, mas com uma margem efetiva de votos que a maioria do povo brasileiro lhe deu -, e precisa ser respeitada. Ela está conduzindo a economia deste País e as políticas sociais.

            Portanto, Sr. Presidente, eu queria deixar isso registrado aqui, como quero deixar registrada, nos Anais da Casa, a entrevista do empresário Rubens Ometto, como quero deixar registrada, nos Anais da Casa também, a análise de hoje do articulista Ricardo Melo, na Folha de S.Paulo, “O golpe está em marcha”.

            Muito obrigada, Sr. Presidente.

 

DOCUMENTOS A QUE SE REFERE A SRª SENADORA GLEISI HOFFMANN EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I, §2º, do Regimento Interno.)

Matérias referidas:

- entrevista do empresário Rubens Ometto;

- análise do articulista Ricardo Melo, Folha de S.Paulo, “O golpe está em marcha”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/07/2015 - Página 278