Discurso durante a 99ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do centenário do Município de Três Lagoas/MS.

Autor
Simone Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Simone Nassar Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro do centenário do Município de Três Lagoas/MS.
Publicação
Publicação no DSF de 17/06/2015 - Página 137
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, TRES LAGOAS (MS), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, ORADOR, ASSUNTO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, CIDADE.

            A SRª SIMONE TEBET (Bloco Maioria/PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão da oradora.) -Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, e demais Senadoras e Senadores que se fazem aqui presentes, nossos telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, é com muita emoção que começo a minha fala dizendo que, ontem, Três Lagoas, minha cidade natal, comemorou um século de existência. Antes distrito de Paranaíba, foi emancipado e elevado à condição de Município em 15 de junho de 1915.

            De lá para cá, temos cem anos de História. De uma História similar à de muitos municípios do interior deste País - um País tão vasto, tão diferente, mas, ao mesmo tempo, tão unificado em valores, em princípios, em necessidades e também em anseios.

            Três Lagoas tem uma posição geográfica privilegiada: nasceu às margens do Rio Paraná e está sobre um dos maiores mananciais de água doce do planeta, o Aquífero Guarani, o que lhe deu o título de Cidade das Águas. Faz divisa com o Estado de São Paulo e é também a porta de entrada do meu querido Estado de Mato Grosso do Sul.

            Essa localização estratégica logo chamou a atenção dos governos brasileiros, a começar pela construção, em 1914, 15, 16 em diante, da nossa Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Foi o primeiro impulso de desenvolvimento da nossa cidade, ligando o Centro-Oeste brasileiro, o Mato Grosso do Sul, Três Lagoas, ao Porto de Santos e daí à travessia do Atlântico.

            Geografia e história sempre caminharam juntas na nossa cidade. Da era Vargas, num estímulo oficial à ocupação do Oeste, passando pelos cinquenta anos em cinco de Juscelino, que desbravou caminhos, interiorizou o Brasil com grandes obras de infraestrutura, passando pelos 25 anos de ditadura militar, também com grandes investimentos no setor energético, Três Lagoas recebeu nesse período não só a estrada de ferro, mas também investimentos na malha viária e fluvial.

            Em 1961, quando se deu a construção do complexo hidrelétrico de Urubupungá - na época, o maior complexo energético do mundo -, ali também foi construída, às margens do Município, a usina de Jupiá, inaugurada em 1974. Foi o segundo impulso de crescimento da nossa cidade.

            Além dessa posição privilegiada, ao lado da disposição de água, de matéria-prima, de população, inclusive contando com energia em abundância, com a construção de uma termelétrica, Três Lagoas, no final dos anos 90 e no início deste século XXI, começou a sua transição econômica da pecuária para a industrialização.

            Hoje, Três Lagoas é o terceiro maior Município do nosso Estado e um dos municípios mais dinâmicos do Centro-Oeste brasileiro. A cidade cresceu, nos últimos dez anos, acima da média nacional. De 85 mil habitantes, em 2004, para 111 mil habitantes nos dias de hoje, de acordo com dados do IBGE.

            Porém, mais do que crescimento, houve, Senador Paim, desenvolvimento. O PIB per capita saltou de R$11.614 mil, em 2004, para algo em torno de R$35 mil reais, estimativa para 2014. Estamos falando de um crescimento da ordem de 300%. Isso tudo, graças à industrialização.

            São mais de 400 indústrias hoje instaladas em nosso Município, nos mais diversos setores. Das maiores fábricas do mundo de celulose, passando pela metalmecânica, confecção, alimento, esmagadoras de soja, nós temos hoje uma média salarial de R$2.592, quando a média salarial dos trabalhadores brasileiros é da ordem de 2.100.

            Hoje a indústria, no nosso Município, é responsável por 48% dos salários pagos para os trabalhadores e por 37% dos empregos formais, ao lado dos serviços, com 25%; do comércio, com 17%; da administração pública, com 12%; e agropecuária, com 9% dos empregos formais.

            Só neste ano, em um momento de crise, Três Lagoas estará ajudando o Mato Grosso do Sul e o Brasil, porque lá serão investidos valores da ordem de R$16 bilhões, apenas com a ampliação de duas fábricas de celulose e de uma esmagadora de soja.

            Por tudo isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de, neste momento, pedir permissão a esta Casa e aqui fazer uma homenagem singela, como forma de agradecer a esse pequeno imenso pedaço de terra em que nasci, lendo um texto que fiz publicar nos jornais da nossa cidade, com isso, compartilhando com os colegas e também com todos os brasileiros de hoje, e para que fique registrado nos anais desta Casa para que os três-lagoenses e brasileiros do amanhã também possam tomar conhecimento da história da nossa cidade.

            Denominei o meu artigo “Três Lagoas: meu mundo, meu quintal”, e passo agora a lê-lo. Abro aspas:

“Nasci em Três Lagoas. Enquanto viver, serei grata por isso. Naquele tempo, Três Lagoas era muito menor do que hoje, mas, para meus olhos e coração de criança, era maior do que o mundo inteiro, maior do que as grandes cidades de que falavam os adultos, maior do que qualquer um daqueles reinos, reais ou imaginários, que povoavam nossos livros coloridos.

Foi o primeiro lugar que meus olhos viram, e serviria de modelo para tudo o mais que viesse a ver e conhecer no mundo, que sempre avaliei e medi pelas réguas e compassos que me deram as ruas, as praças e os quintais de minha terra.

Aqui estavam as primeiras pessoas que amei e que me ensinaram a amar: meus avós, meu pai, minha mãe, irmãos, primos, parentes, amigos, que compartilhavam comigo as descobertas e encantamentos que Três Lagoas tão generosamente nos oferecia.

Com o passar dos anos, deixei Três Lagoas, e mergulhei no mundo dos livros. Neles, aprendi que o mundo era maior do que o meu mundo; estudei os sonhos e as necessidades de outros povos, em outros tempos e lugares, construí um campo de estudos e ingressei numa profissão. Casei, tive filhas, plantei árvores.

Mas Três Lagoas sempre foi um chamamento para mim, e voltei. Voltei para reencontrar o território da minha infância, e também para devolver um pouco do muito que recebi da minha terra. Foi então que Três Lagoas me propiciou sair dos livros que havia lido e dos muitos que sonhava ler, e reaprender que as melhores histórias são aquelas que nós mesmos fazemos.

O povo três-lagoense me acolheu com generosidade nas minhas primeiras campanhas e me permitiu exercer, por duas vezes, o honroso posto de Prefeita Municipal.

Da primeira campanha, nunca me esquecerei dos meus colaboradores mais entusiasmados, quando ainda era uma candidata sem chances de vitória. Foram as crianças de Três Lagoas que, vestindo, literalmente, a minha camiseta, primeiro me abraçaram nas praças e nos comícios, que me cercaram pedindo autógrafos, mas que, principalmente, abriram para mim as portas de suas casas e o coração de seus pais.

Elas me fizeram ver que, na verdade, o mundo não era maior do que o meu quintal, como dizia o poeta de todos nós,o mato-grossense Manoel de Barros. É no quintal que cultivamos as "lembranças que vão e vêm", o que a nossa professora, escritora e poetisa três-lagoense Flora Thomé chamou de "chão da memória".

            Ao assumir a Prefeitura, muitos foram os problemas e desafios que encontrei, mas o que me movia era a certeza que jamais me abandonou: Três Lagoas possuía todas as condições - naturais, geográficas e humanas - para trilhar o caminho do desenvolvimento. Todas essas condições estavam ali. Faltava apenas saber utilizá-las. Três Lagoas era um diamante bruto. Cabia a nós lapidá-lo.

            Michelangelo, artista maior do Renascimento, quando perguntado de onde vinha a sua arte, não tinha nenhum problema em responder todas as vezes que, na verdade, a arte já estava pronta dentro do mármore, que cabia ao artista tirar-lhe os excessos e expô-la à luz.

            O futuro promissor de Três Lagoas também sempre esteve entre nós, e a construção desse futuro deve ser realizada como a obra do artista: respeitando a natureza do material que trabalha, para que a obra final não contradiga o espírito profundo que nele habita e o desejo do Criador, que o arquitetou.

            Quando perguntada a respeito da minha administração enquanto Prefeita, eu poderia citar que duplicamos o número de creches e escolas; que triplicamos a malha asfaltada; poderíamos falar da biblioteca municipal que construímos, da revitalização do balneário público, das clínicas especializadas de saúde, da Clínica da Mulher, da Criança, da Clínica de Saúde de Pequenas Cirurgias, do Trabalhador e de Ortopedia; poderia falar das indústrias que levamos e dos milhares de empregos gerados no nosso Município; poderia, igualmente, falar da construção de um projeto que me é muito querido e muito caro, o projeto chamado Coração de Mãe, um espaço que hoje tem capacidade de abrigar até cinco mil crianças e jovens, entre nove e dezessete anos, que oferece educação e atividades sociais e esportivas.

            Mas, apesar de todas essas obras, o que eu sempre digo é que a minha maior realização como Prefeita foi ter resgatado, no coração das pessoas, o orgulho de viver em Três Lagoas.

            Hoje, ao comemorar seus primeiros cem anos de existência, Três Lagoas tem recebido numerosos títulos, alguns grandiosos, como “capital mundial da celulose”, “polo industrial do Centro-Oeste”, “cidade líder do desenvolvimento”, entre outros.

            Esse reconhecimento é muito bom. Crescer é muito bom, mas meu coração de criança, que nunca morreu, lembra-me que o crescimento não é um valor em si. É preciso saber crescer.

            Para uma cidade, o crescimento que interessa é aquele que atende às necessidades e aos anseios de sua gente, que respeita os seus valores e valoriza a sua qualidade de vida.

            Dito de outra forma: mais do que crescimento, devemos buscar o desenvolvimento, que inclua todos os três-lagoenses, aproveitando tudo aquilo que já fizemos e preparando um solo acolhedor para aqueles que virão depois de nós.

            Muitas outras crianças, abrirão ainda os olhos em Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul e no Brasil. Que elas também possam se maravilhar e descobrir o mundo, mas sem perder o orgulho pelos seus quintais- pois são eles, na verdade, que compõem e constroem o mundo.”

            Encerro aqui as minhas palavras numa prece, numa oração: que todas as crianças que abrirão no futuro os olhos na minha cidade, no meu Estado e no nosso querido Brasil, possam abrir os olhos para um mundo que garanta efetivamente igual oportunidade de emprego, de renda, de saúde pública, de educação, de lazer. E que cidadania não seja apenas mais uma palavra bonita.

            Parabéns a Três Lagoas, nosso pedacinho de mundo, neste primeiro centenário e em todos os outros que virão.

            Era o que eu tinha a dizer, até onde a minha emoção me permite alcançar.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/06/2015 - Página 137